À MARIA AUGUSTA
Dantes o ondeado cabelo
Deixavas-me sempre vê-lo
Em longos anéis sombrios
Nos ombros teus a chover.
Pendia daqueles fios
Minha alma de amores presa;
E a vista, em volúpia acesa,
Não se cansava de ver.
Como é que agora oprimido,
Tão contrafeito e escondido,
A nativa formosura
Não lhe deixas expandir?
Não vês que em teu rosto a alvura,
Que os próprios lírios suplanta,
Ri mais viva, mais encanta,
Se o deixas solto cair.
Por que as lindas madeixas,
Desfeitas baixar não deixas,
De aroma inefável cheias
Ao colo cândido e nu?
Louquinha, que das cadeias,
Com que os olhos cativas,
Assim sem pena te privas!
Criança ingênua que és tu!...
Olha as rosas nas roseiras
Como se miram faceiras
Naquelas tranças viçosas
De que o estio as adornou:
Se, pois, inveja nas rosas,
Feiticeira linda, as passas,
Por que desprezas as graças
Com que Deus te avantajou?
Primores do céu não tolhas:
As madeixas mais não colhas!
Sedução tão graciosa
Não na queiras tu perder!
Em moldura caprichosa
Deixa a coma deslumbrante,
Livre, airosa, flutuante
Tuas faces envolver!
(*) Poema dedicado à noiva de Rui Barbosa, no ano do casamento
A XXX
Feiticeira Moreninha,
Casta flor da minha vida,
Quando cismas à tardinha
Nos teus sonhos embebida
Não sentes a aragem trêmula
Que em teus cabelos se enlaça,
E o murmúrio que perpassa
Como uma queixa perdida
Do dia que além se esvai?
Dize — sabes o segredo
Que essa linguagem te diz,
Quando a brisa oscula a medo
As tuas tranças gentis?...
Pois ouve... não fujas, não...
Escuta o gemer da brisa;
É minha alma que desliza
Nas asas da viração
Dantes o ondeado cabelo
Deixavas-me sempre vê-lo
Em longos anéis sombrios
Nos ombros teus a chover.
Pendia daqueles fios
Minha alma de amores presa;
E a vista, em volúpia acesa,
Não se cansava de ver.
Como é que agora oprimido,
Tão contrafeito e escondido,
A nativa formosura
Não lhe deixas expandir?
Não vês que em teu rosto a alvura,
Que os próprios lírios suplanta,
Ri mais viva, mais encanta,
Se o deixas solto cair.
Por que as lindas madeixas,
Desfeitas baixar não deixas,
De aroma inefável cheias
Ao colo cândido e nu?
Louquinha, que das cadeias,
Com que os olhos cativas,
Assim sem pena te privas!
Criança ingênua que és tu!...
Olha as rosas nas roseiras
Como se miram faceiras
Naquelas tranças viçosas
De que o estio as adornou:
Se, pois, inveja nas rosas,
Feiticeira linda, as passas,
Por que desprezas as graças
Com que Deus te avantajou?
Primores do céu não tolhas:
As madeixas mais não colhas!
Sedução tão graciosa
Não na queiras tu perder!
Em moldura caprichosa
Deixa a coma deslumbrante,
Livre, airosa, flutuante
Tuas faces envolver!
(*) Poema dedicado à noiva de Rui Barbosa, no ano do casamento
A XXX
Feiticeira Moreninha,
Casta flor da minha vida,
Quando cismas à tardinha
Nos teus sonhos embebida
Não sentes a aragem trêmula
Que em teus cabelos se enlaça,
E o murmúrio que perpassa
Como uma queixa perdida
Do dia que além se esvai?
Dize — sabes o segredo
Que essa linguagem te diz,
Quando a brisa oscula a medo
As tuas tranças gentis?...
Pois ouve... não fujas, não...
Escuta o gemer da brisa;
É minha alma que desliza
Nas asas da viração
Fonte:
"Obras completas de Rui Barbosa", prefácio de Américo Jacobina, vol. 1, MEC, 1971, RJ
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