Abgar de Castro Araújo Renault
(Barbacena MG, 15 de abril de 1901 – Rio de Janeiro RJ, 31 de dezembro 1995)
" ENCANTAMENTO "
Ante o deslumbramento do teu vulto,
sou ferido de atônita surpresa
e vejo que uma auréola de beleza
dissolve em luar a treva em que me oculto.
Estás em cada reza do meu culto,
sonhas na minha lânguida tristeza
e, disperso por toda a natureza,
paira o deslumbramento do teu vulto.
E' tua vida minha própria vida
e trago em mim tua alma adormecida . . .
mas, num mistério surdo que me assombra,
tu és, as minhas mãos, vaga, fugace,
como um sonho que nunca se sonhasse
ou como a sombra vã de uma outra sombra...
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Abílio Chrisóstomo de Carvalho
(Vitória, Espirito Santo. 22 de fevereiro de 1916 – Rio de Janeiro/RJ, 8 de outubro de 1977)
" TUAS MÃOS "
Mãos frágeis, mãos divinas, mãos pequenas,
leves, espirituais e perfumadas,
cujas unhas são pérolas morenas
nos escrínios dos dedos engastadas.
Mãos que são duas silabas amenas
no poema dos teus braços enfeixadas;
que, estando acima das visões terrenas,
jamais serão por outras igualadas.
Mãos que ostentam, nas formas delicadas
todo o encanto das noites enluaradas
na linda terra que te viu nascer...
E para eu ser feliz basta somente
beijar teus dedos demoradamente
e sob o afago dessas mãos morrer!
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Adaucto Gondim
(Pedra Branca, CE. 17 de janeiro de 1913 - Fortaleza, CE, 12 de setembro de 1980)
" INGENUIDADE "
Faz, hoje, vários dias que o correio
não traz noticias dela para mim.
Alice me esqueceu, por isso, eu creio
que o nosso amor vai terminar, enfim.
Suas cartas antigas eu releio.
O amor de uma mulher é sempre assim:
falsas promessas, juras de permeio,
e a gente espera até que chegue o fim.
O coração de Alice, eu já sabia
que, empedernido, é como a lousa fria:
não sente e nem palpita de emoção...
O culpado fui eu, fui eu somente,
que sabendo de tudo, ingenuamente,
amei uma mulher sem coração!
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Adelino Fontoura Chaves
(Axixá, Maranhão, 30 de março de 1859 - Lisboa, Portugal, 2 de maio de 1884.
" ATRAÇÃO E REPULSÃO "
- Eu nada mais sonhava nem queria
que de ti não viesse ou não falasse;
e como a ti te amei, que alguém me amasse
coisa incrível até me parecia.
Uma estrela mais lúcida eu não via
que nesta vida os passos me guiasse,
e tinha fé, cuidando que encontrasse
após tanta amargura, uma alegria.
Mas tão cedo extinguiste este risonho,
este encantado, deleitoso engano,
que o bem que achar supus já não suponho.
Vejo enfim, que és um peito desumano;
se fui, té junto a ti de sonho em sonho,
voltei de desengano em desengano.
" CELESTE "
É tão divina a angélica aparência
e a graça que ilumina o rosto dela,
que eu concebera o tipo da inocência
nessa criança imaculada e bela.
Peregrina do céu, pálida estrela
exilada da etérea transparência,
sua origem não pode ser aquela
da nossa triste e mísera existência.
Tem a celeste e ingênua formosura,
e a luminosa aureola sacrossanta
duma visão do céu, cândida e pura.
E quando os olhos para o céu levanta
inundados da mística doçura,
nem parece mulher - parece santa.
Fonte:
J.G . de Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou" - 1a ed. 1963
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