Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti
"Principe dos Trovadores Brasileiros"
(Recife/PE, 16 de fevereiro de 1888 – Rio de Janeiro/RJ, 20 de junho de 1963)
" PARA O MEU PERDÃO "
Eu que proclamo odiar-te, eu que proclamo
querer-te mal com fúria e com rancor,
mal sabes tu como, em segredo, te amo
o vulto pensativo e sofredor.
Quem vê o fel que em cólera derramo
no ódio que punge desesperador,
mal sabe que, se a sós me encontro,
chamo por teu amor com o mais profundo amor...
Mal sabes que se acaso, novamente,
buscasses o calor do velho ninho
de onde um capricho te fizera ausente,
eu, esquecendo a tua ingratidão,
juncaria de rosas o caminho
em que voltasses para o meu perdão . . .
" UMA RAINHA E UM POETA "
E todo o teu amor comedimento,
calma que raciocina bem segura.
E eu, - não sei se ventura, ou desventura
sofreguidão, sou arrebatamento.
Pesas os gestos, medes o momento
em que olhes com carinho, ou com secura
E eu, prisioneiro da paixão mais pura,
sou como a folha com que brinca o vento ...
Amas como as Rainhas, Soberanas,
que receiam da Corte as vis intrigas,
e o boquejar de indiscrições profanes,
e eu, desprezando cortes e traidores,
como as cigarras, abro-me em cantigas,
e clamo, aos céus e terras, meus amores …
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Afonso Felix de Souza
(Jaraguá/GO, 5 de julho de 1925 – Rio de Janeiro/RJ, 7 de setembro de 2002)
" SONETOS DO AMANTE II "
Eternizar o amor que fora eterno
embora só vivesse dois instantes:
um quando o céu me alcançou - a um céu sem antes;
depois, ao acender em mim o inferno;
banida do presente, em lago terno
voltes a me banhar e desencantes
o mar que clama em vão, de ondas cortantes
partindo do meu ser, banhado o eterno.
Eternizar o amor de um só momento
e quanto mais perde-lo, mais ganhá-lo.
e quanto mais ganhá-lo, mais alento
trazer no que recordo e no que falo,
para que possa, em febre e sem sentimento
em mármore e sem saudade, eternizá-lo.
" SONETOS ELEMENTARES "
Dentro de mim a música e da amada
olhos e gestos. O âmago da noite
esconde prantos, poderosos risos
inundam as paredes do invisível.
Sou eu - do mundo em roda enfim liberto,
as mãos sem tato, o espaço sem limites.
Anterior a mim, livre de sombras
das mulheres que amei, livre de mim.
E sinto que sou eu. Vejo no espelho
do meu passado os sonhos decepados,
coração e sentidos entre cárceres.
Livres no espaço sem manhãs e noites,
nossas almas se fundem no silêncio
onde do amor as músicas germinan-se.
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Afonso Lopes de Almeida
(Guanabara/RJ, 1888 – Rio de Janeiro/RJ, 1953)
" MALDIÇÃO "
Maldita sejas tu, mulher querida
Tu, que ao repouso antigo me tiraste
e a minha alma de ingênuo deslumbraste
com o falso brilho de uma nova vida!
Maldita seja a boca apetecida
onde a sede de amor me saciaste,
taça em que de teus beijos me ofertaste
a capitosa e pérfida bebida!
Maldito seja o amor em que me enlaço
consciente, abandonando o meu descanso
minha antiga ventura, e minha paz!
Malditas, as palavras que disseste!
Maldito, o longo beijo que me deste
e este pungente gozo que me dás!
Fonte:
J.G . de Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963
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