Como era habitual às quintas-feiras, em casa do Sr. Coronel Ramalho (grande herói das campanhas do tempo em que os ventos lutavam contra os moinhos),reunia-se um grupo de amigos para um animado e silencioso serão a jogar às cartas.
O salão onde esses serões se realizavam era amplo, tendo ao centro uma mesa rectangular, e em sua volta, seis cadeiras também do estilo Luís XV, assim como o aparador e a cristaleira que a ladeavam. No tecto, um lustre de metal e vidro, do mesmo modelo dos quatro apliques situados em paredes diferentes, assim como várias molduras com fotografias de familiares, destacando-se entre elas, uma enorme fotografia do austero pai do Sr. Coronel Ramalho, conhecido na época como comerciante de vinhos a granel, com os seus grandes e torcidos bigodes, situada em frente onde habitualmente a Dona Augusta, a esposa do Sr. Coronel Ramalho, fazia a sua renda (ou malha), junto a uma das duas janelas do salão. Ao fundo colocado ao meio da parede, situava-se um enorme e barulhento relógio que marcava até os quartos de hora, ficando por baixo uma vitrina onde o Sr. Coronel conservava orgulhosamente as suas condecorações e algumas armas antigas, algumas das quais das guerra napoleónicas.
Este salão tinha três portas: uma com acesso às escadas que, descendo, davam para a rua; subindo, davam para o sótão onde a criada tinha o seu quarto, junto à sua casa de banho e despensa da casa; outra porta dava para um corredor que ligava à cozinha; e uma terceira para o quarto do casal.
Os convidados para o serão desse dia (que por sinal eram sempre os mesmos), ou seja, o Sr. Capitão Ribeiro, o Sr. Alferes Marques e o Sr. Sargento Humberto, ainda não tinham chegado.
Mais tarde apareceram dois encapuzados, completamente desconhecidos, nem se chegando a saber de onde vieram…
Entretanto, a criada, a Carmo (uma jovem lisboeta que dizia ter vinte cinco anos) aproximou- se da patroa, de nome Augusta...
Carmo: Minha senhora, por favor... Dona Augusta, dá-me licença?
Augusta: Levantando os olhos de um bordado que estava a fazer, por fim, respondeu para a criada: Entra, entra Carmo. Diz lá o que queres?
Carmo: Minha Senhora, tenho de ir ao supermercado fazer umas compras, pois, são quase vinte horas e depois eles fecham. A senhora quer que pague a dinheiro?
Augusta: Ai não!... pois… não tenho dinheiro trocado... Eles que assentem na minha conta, que depois pago. Mas, Carmo, não te demores, e não te esqueças que hoje é quinta-feira, e os convidados não tardam aí a chegar...
Carmo: Eu não vou demorar mesmo nada, Dona Augusta, fique tranquila.
Augusta: Então vai lá, pequena...
Pouco depois da criada ter saído, toca a campainha da porta...
Augusta: Quem será que está a tocar à porta? A Carmo não deve ser. Só se esqueceu alguma coisa…
A campainha volta a tocar, desta vez mais prolongadamente…
Augusta: - Não toque mais, pois eu vou já abrir...
Ao abrir a porta, a Dona Augusta teve uma grande surpresa, pois à sua frente estavam três homens encapuçados.
Augusta: Mas...mas quem são os senhores, o que me querem? Por favor não me empurrem, estou em minha casa. Não me empurrem...!
1º Encapuzado - Mulher, está caladinha, senão... olha esta faca. Deixa-nos passar e senta-te aí nessa cadeira, sossegadinha...
2º Encapuzado - Raio da mulher não está quieta. Rápido, amigo, amarra depressa esta "fera" aí a essa cadeira...
Augusta: Ah, mas quem são os senhores?!...
2º Encapuzado - Está quieta e cala-te! Tem muita calma, pois só queremos falar um pouco contigo. Está sossegada, mulher... Tem juizinho nessa cabeça, senão...
1º Encapuzado - Já te dissemos para estares quieta e deixares de chorar! Nós só queremos falar contigo... Olha que é um assunto que te interessa muito...
Augusta: Eu vou estar quietinha, mas por favor não me empurrem, nem me agarrem... Por favor...
2º Encapuzado - E ela não se cala nem está sossegada, hei... Ó mulher, ainda te mato. Ouviste bem? Ainda te mato!
Augusta: - Mas quem são vocês? Por favor, digam-me... O que é vocês querem de mim?!...
1º Encapuzado - Assim está bem. Continua calminha, pois, só queremos mostrar-te umas fotografiazinhas que temos aqui...
2º Encapuzado - E são fotografias de uma pessoa que tu deves conhecer muito bem... Vá lá, não vires a cara para o lado... Não te armes em pudica! Olha! Olha!...
1º Encapuzado - Abre, abre, não feches os olhinhos... Vê, vê... Por acaso, não conheces esta mulher que está toda nua... Deitada na cama com este homem?!... Não me digas que a não conheces? Vá lá, faz um esforçozinho de memória!...
Augusta: Mas... Mas eu não conheço essa mulher... juro por tudo que não a conheço ! Juro que a não conheço, mas larguem-me, larguem-me...
2º Encapuzado - Não nos tentes enganar, pois esta mulher é mesmo tu - tu, ouviste bem? Ou será que não te conheces a ti própria?!...
1º Encapuzado - Não te faças de tolinha, pois connosco, isso não pega - espertinha!
2º Encapuzado - Ó mulher, deixa-te de tretas, pois é melhor entrares em acordo connosco. Pensa bem e rapidamente, e não queiras fazer nenhuma asneira...
Augusta: Mas eu já vos disse que esta mulher que está nesta fotografia toda nua, não sou eu!... Volto a jurar por tudo, que não sou eu que, está aí toda nua!
2º Encapuzado - Ah, ah... És tu, és, não me consegues enganar, e por favor não me faças perder a paciência. Senão, daqui a pouco corto-te o pescoço... Assim...!!!
1º Encapuzado - Tem calma, amigo, pois deves ter uma certa paciência com esta mulher... E tu aí, mulher, para não ficares com o teu pescocinho cortado, é melhor resolveres entrares em acordo connosco. Senão, como deves calcular, o teu maridinho, o Sr. Coronel, vai saber tudo, tim-tim por tim-tim!!!...
2º Encapuzado - Como já deves calcular, a nós, não nos custa nada... Mas mesmo nada, fazer isso! Amigo, talvez seja melhor mostrar-lhe novamente as fotografias...
Augusta: Eu não sei como é que vos hei-de fazer crer que esta mulher que está aqui, nesta fotografia, não sou eu!!! Juro que não sou eu! Só se for... Só se for... A minha irmã - gémea, que se chama Liza. Já há muitos anos que a não vejo. Só se for ela.
2º Encapuzado - Já te disse que não venhas com essa mentira! És tu, tu, e só tu - e está tudo dito !!! Percebeste?
Augusta: Ai que vida a minha! Já vi que não adianta discutir com vocês... Mas, finalmente, o que é que vocês querem de mim? Mais uma vez vos digo que não sou eu...
1º Encapuzado - Já te disse para estares quieta e cala-te... Como já vimos que és boa mulher, vamos fazer umas continhas, e assim, por estas fotografias... sim, por estas fotografias só te vamos levar...
2º Encapuzado - Digamos... Dez mil e quinhentos euros!
1º Encapuzado - Como vês, é uma verdadeira pechincha: só dez mil e quinhentos euros. Até devia ser mais qualquer coisinha…
Augusta: Mas o que é que vocês estão p'ra aí a dizer? Dez mil e quinhentos euros, é pouco dinheiro? Olhem que eu nunca tive tanto dinheiro junto e em meu poder! Vocês são uns escroques, uns chantagistas...
2º Encapuzado - Toma mas é cuidadinho com essa língua, pois senão já sabes que te corto o teu lindo pescoço.
Augusta: Ai credo, homem!... Que aflição... Tire-me essa faca daqui do meu pescoço!... Ai o meu coração...
1º Encapuzado - Não te enerves, mulher, olha o teu coração... Nós não desejamos que você morra, antes de nos dar o dinheiro...
Augusta: Ai, o meu pobre coração até parece que vai rebentar!... Ai...
1º Encapuzado - Deixa lá o coração e vamos lá ao que mais interessa: tens ou não os dez mil e quinhentos euros? Se não tens, vai ao cofre do teu marido, o Sr. Coronel, pois ele deve ter lá muito dinheiro...
Augusta: Mas não é possível, pois eu nunca roubei nada a ninguém, e muito menos ao meu marido. Vocês estão doidos...
2º Encapuzado - Não me venhas cá com esses argumentos, pois para nós não pega. Vai depressa ao cofre e traz rapidamente o dinheiro. Vá lá, rápido!...
1º Encapuzado - E para tua orientação, enquanto não nos entregares o dinheiro, ficaremos cá em casa a fazer distúrbios. E tu nem calculas os distúrbios que somos capazes de fazer...
Augusta: O que vocês estão p'ra aí a dizer? Que ficam cá em casa? Mas onde?...
1º Encapuzado - Onde não interessa. Mas podes ter a certeza que ficaremos cá até recebermos a massinha toda. Não faças essa cara de espantada e nem tentes brincar connosco...
2º Encapuzado - E toma bem atenção: se por acaso tentares denunciar-nos, já sabes o que te vai acontecer: pescoço fora!
Neste momento toca novamente a campainha da porta …
1º Encapuzado - Amigo, espreita aí pelo óculo da porta... O que é que vês?
2º Encapuzado - É a criada. Olha que a «mamífera» tem cá um "cabedal" de género avião... Ai que bom... bonzinho... Ai... Que gatinha! Estou a ficar cheio de comichões…
1º Encapuzado - Deixa-te de parvoíces. Vamos esconder-nos atrás daquele sofá... Rápido e sem barulho. Cuidado não tropeces nesse fio... Esconde-te... Rapidamente…
2º Encapuzado - E tu aí "menina"... Olha para aqui para mim... Assim... Se não colaborares connosco, já sabes o que te acontece aos teu lindo pescoço... Olha que não somos para brincadeiras...
1º Encapuzado - E toma atenção: diz à criada que faça qualquer coisa que se coma, pois estamos esfomeados! Ela que faça um bom petisco para nós... Não te esqueças!
2º Encapuzado - Agora “menina”, vai lá abrir a porta, mas com juizinho...
Augusta: É inacreditável o que me está a acontecer... Eu nem quero acreditar!... Deve ser um sonho mau...
Falando um pouco mais alto, prepara-se para abrir a porta...
Augusta: Quem é?... Quem é que está aí a bater à portaaa?...
Carmo: Sou eu, minha senhora, a Carmo.
Augusta: Até que enfim que chegaste! Sempre que vais fazer compras, até parece que levas uma cadeirinha atras de ti... Deves dar um grande desgaste à tua língua ao falares tanto com as vizinhas...
Carmo: Mas, a senhora deve de estar enganada, pois desta vez quase que não me demorei nada. Fui num pé e vim noutro.
Augusta: Olha que não me parece. A mim, pareceu que demoraste quase uma eternidade. Olha, vai para a cozinha e prepara... Deixa cá ver...talvez uns pastelitos de bacalhau e, bem fritinhos...
Carmo: Pastéis de bacalhau a esta hora?...
Augusta: Não compreendo a tua observação, pois, a qualquer hora, podemos ter vontade de comer pastéis de bacalhau!
Carmo: A senhora é que manda. Vou já preparar meia dúzia de pastéis...
Augusta: Só meia dúzia?! São poucos! Nem calculas a fome que eu tenho. Prepara pelo menos uma dúzia e meia ou mesmo duas dúzias, de pastelinhos e bem fritinhos, não te esqueças.
Carmo: Não sabia que a senhora tinha deixado de fazer dieta para o tal regime de emagrecimento, que tanto falava! Isto de ser criada, tem muito que se lhe diga!
Quando a criada já se encontrava na cozinha, toca novamente a campainha da porta.
Augusta: Carmo, vai abrir a porta; ainda não ouviste a campainha?
====================
continua…
Fonte:
O Autor
O salão onde esses serões se realizavam era amplo, tendo ao centro uma mesa rectangular, e em sua volta, seis cadeiras também do estilo Luís XV, assim como o aparador e a cristaleira que a ladeavam. No tecto, um lustre de metal e vidro, do mesmo modelo dos quatro apliques situados em paredes diferentes, assim como várias molduras com fotografias de familiares, destacando-se entre elas, uma enorme fotografia do austero pai do Sr. Coronel Ramalho, conhecido na época como comerciante de vinhos a granel, com os seus grandes e torcidos bigodes, situada em frente onde habitualmente a Dona Augusta, a esposa do Sr. Coronel Ramalho, fazia a sua renda (ou malha), junto a uma das duas janelas do salão. Ao fundo colocado ao meio da parede, situava-se um enorme e barulhento relógio que marcava até os quartos de hora, ficando por baixo uma vitrina onde o Sr. Coronel conservava orgulhosamente as suas condecorações e algumas armas antigas, algumas das quais das guerra napoleónicas.
Este salão tinha três portas: uma com acesso às escadas que, descendo, davam para a rua; subindo, davam para o sótão onde a criada tinha o seu quarto, junto à sua casa de banho e despensa da casa; outra porta dava para um corredor que ligava à cozinha; e uma terceira para o quarto do casal.
Os convidados para o serão desse dia (que por sinal eram sempre os mesmos), ou seja, o Sr. Capitão Ribeiro, o Sr. Alferes Marques e o Sr. Sargento Humberto, ainda não tinham chegado.
Mais tarde apareceram dois encapuzados, completamente desconhecidos, nem se chegando a saber de onde vieram…
Entretanto, a criada, a Carmo (uma jovem lisboeta que dizia ter vinte cinco anos) aproximou- se da patroa, de nome Augusta...
Carmo: Minha senhora, por favor... Dona Augusta, dá-me licença?
Augusta: Levantando os olhos de um bordado que estava a fazer, por fim, respondeu para a criada: Entra, entra Carmo. Diz lá o que queres?
Carmo: Minha Senhora, tenho de ir ao supermercado fazer umas compras, pois, são quase vinte horas e depois eles fecham. A senhora quer que pague a dinheiro?
Augusta: Ai não!... pois… não tenho dinheiro trocado... Eles que assentem na minha conta, que depois pago. Mas, Carmo, não te demores, e não te esqueças que hoje é quinta-feira, e os convidados não tardam aí a chegar...
Carmo: Eu não vou demorar mesmo nada, Dona Augusta, fique tranquila.
Augusta: Então vai lá, pequena...
Pouco depois da criada ter saído, toca a campainha da porta...
Augusta: Quem será que está a tocar à porta? A Carmo não deve ser. Só se esqueceu alguma coisa…
A campainha volta a tocar, desta vez mais prolongadamente…
Augusta: - Não toque mais, pois eu vou já abrir...
Ao abrir a porta, a Dona Augusta teve uma grande surpresa, pois à sua frente estavam três homens encapuçados.
Augusta: Mas...mas quem são os senhores, o que me querem? Por favor não me empurrem, estou em minha casa. Não me empurrem...!
1º Encapuzado - Mulher, está caladinha, senão... olha esta faca. Deixa-nos passar e senta-te aí nessa cadeira, sossegadinha...
2º Encapuzado - Raio da mulher não está quieta. Rápido, amigo, amarra depressa esta "fera" aí a essa cadeira...
Augusta: Ah, mas quem são os senhores?!...
2º Encapuzado - Está quieta e cala-te! Tem muita calma, pois só queremos falar um pouco contigo. Está sossegada, mulher... Tem juizinho nessa cabeça, senão...
1º Encapuzado - Já te dissemos para estares quieta e deixares de chorar! Nós só queremos falar contigo... Olha que é um assunto que te interessa muito...
Augusta: Eu vou estar quietinha, mas por favor não me empurrem, nem me agarrem... Por favor...
2º Encapuzado - E ela não se cala nem está sossegada, hei... Ó mulher, ainda te mato. Ouviste bem? Ainda te mato!
Augusta: - Mas quem são vocês? Por favor, digam-me... O que é vocês querem de mim?!...
1º Encapuzado - Assim está bem. Continua calminha, pois, só queremos mostrar-te umas fotografiazinhas que temos aqui...
2º Encapuzado - E são fotografias de uma pessoa que tu deves conhecer muito bem... Vá lá, não vires a cara para o lado... Não te armes em pudica! Olha! Olha!...
1º Encapuzado - Abre, abre, não feches os olhinhos... Vê, vê... Por acaso, não conheces esta mulher que está toda nua... Deitada na cama com este homem?!... Não me digas que a não conheces? Vá lá, faz um esforçozinho de memória!...
Augusta: Mas... Mas eu não conheço essa mulher... juro por tudo que não a conheço ! Juro que a não conheço, mas larguem-me, larguem-me...
2º Encapuzado - Não nos tentes enganar, pois esta mulher é mesmo tu - tu, ouviste bem? Ou será que não te conheces a ti própria?!...
1º Encapuzado - Não te faças de tolinha, pois connosco, isso não pega - espertinha!
2º Encapuzado - Ó mulher, deixa-te de tretas, pois é melhor entrares em acordo connosco. Pensa bem e rapidamente, e não queiras fazer nenhuma asneira...
Augusta: Mas eu já vos disse que esta mulher que está nesta fotografia toda nua, não sou eu!... Volto a jurar por tudo, que não sou eu que, está aí toda nua!
2º Encapuzado - Ah, ah... És tu, és, não me consegues enganar, e por favor não me faças perder a paciência. Senão, daqui a pouco corto-te o pescoço... Assim...!!!
1º Encapuzado - Tem calma, amigo, pois deves ter uma certa paciência com esta mulher... E tu aí, mulher, para não ficares com o teu pescocinho cortado, é melhor resolveres entrares em acordo connosco. Senão, como deves calcular, o teu maridinho, o Sr. Coronel, vai saber tudo, tim-tim por tim-tim!!!...
2º Encapuzado - Como já deves calcular, a nós, não nos custa nada... Mas mesmo nada, fazer isso! Amigo, talvez seja melhor mostrar-lhe novamente as fotografias...
Augusta: Eu não sei como é que vos hei-de fazer crer que esta mulher que está aqui, nesta fotografia, não sou eu!!! Juro que não sou eu! Só se for... Só se for... A minha irmã - gémea, que se chama Liza. Já há muitos anos que a não vejo. Só se for ela.
2º Encapuzado - Já te disse que não venhas com essa mentira! És tu, tu, e só tu - e está tudo dito !!! Percebeste?
Augusta: Ai que vida a minha! Já vi que não adianta discutir com vocês... Mas, finalmente, o que é que vocês querem de mim? Mais uma vez vos digo que não sou eu...
1º Encapuzado - Já te disse para estares quieta e cala-te... Como já vimos que és boa mulher, vamos fazer umas continhas, e assim, por estas fotografias... sim, por estas fotografias só te vamos levar...
2º Encapuzado - Digamos... Dez mil e quinhentos euros!
1º Encapuzado - Como vês, é uma verdadeira pechincha: só dez mil e quinhentos euros. Até devia ser mais qualquer coisinha…
Augusta: Mas o que é que vocês estão p'ra aí a dizer? Dez mil e quinhentos euros, é pouco dinheiro? Olhem que eu nunca tive tanto dinheiro junto e em meu poder! Vocês são uns escroques, uns chantagistas...
2º Encapuzado - Toma mas é cuidadinho com essa língua, pois senão já sabes que te corto o teu lindo pescoço.
Augusta: Ai credo, homem!... Que aflição... Tire-me essa faca daqui do meu pescoço!... Ai o meu coração...
1º Encapuzado - Não te enerves, mulher, olha o teu coração... Nós não desejamos que você morra, antes de nos dar o dinheiro...
Augusta: Ai, o meu pobre coração até parece que vai rebentar!... Ai...
1º Encapuzado - Deixa lá o coração e vamos lá ao que mais interessa: tens ou não os dez mil e quinhentos euros? Se não tens, vai ao cofre do teu marido, o Sr. Coronel, pois ele deve ter lá muito dinheiro...
Augusta: Mas não é possível, pois eu nunca roubei nada a ninguém, e muito menos ao meu marido. Vocês estão doidos...
2º Encapuzado - Não me venhas cá com esses argumentos, pois para nós não pega. Vai depressa ao cofre e traz rapidamente o dinheiro. Vá lá, rápido!...
1º Encapuzado - E para tua orientação, enquanto não nos entregares o dinheiro, ficaremos cá em casa a fazer distúrbios. E tu nem calculas os distúrbios que somos capazes de fazer...
Augusta: O que vocês estão p'ra aí a dizer? Que ficam cá em casa? Mas onde?...
1º Encapuzado - Onde não interessa. Mas podes ter a certeza que ficaremos cá até recebermos a massinha toda. Não faças essa cara de espantada e nem tentes brincar connosco...
2º Encapuzado - E toma bem atenção: se por acaso tentares denunciar-nos, já sabes o que te vai acontecer: pescoço fora!
Neste momento toca novamente a campainha da porta …
1º Encapuzado - Amigo, espreita aí pelo óculo da porta... O que é que vês?
2º Encapuzado - É a criada. Olha que a «mamífera» tem cá um "cabedal" de género avião... Ai que bom... bonzinho... Ai... Que gatinha! Estou a ficar cheio de comichões…
1º Encapuzado - Deixa-te de parvoíces. Vamos esconder-nos atrás daquele sofá... Rápido e sem barulho. Cuidado não tropeces nesse fio... Esconde-te... Rapidamente…
2º Encapuzado - E tu aí "menina"... Olha para aqui para mim... Assim... Se não colaborares connosco, já sabes o que te acontece aos teu lindo pescoço... Olha que não somos para brincadeiras...
1º Encapuzado - E toma atenção: diz à criada que faça qualquer coisa que se coma, pois estamos esfomeados! Ela que faça um bom petisco para nós... Não te esqueças!
2º Encapuzado - Agora “menina”, vai lá abrir a porta, mas com juizinho...
Augusta: É inacreditável o que me está a acontecer... Eu nem quero acreditar!... Deve ser um sonho mau...
Falando um pouco mais alto, prepara-se para abrir a porta...
Augusta: Quem é?... Quem é que está aí a bater à portaaa?...
Carmo: Sou eu, minha senhora, a Carmo.
Augusta: Até que enfim que chegaste! Sempre que vais fazer compras, até parece que levas uma cadeirinha atras de ti... Deves dar um grande desgaste à tua língua ao falares tanto com as vizinhas...
Carmo: Mas, a senhora deve de estar enganada, pois desta vez quase que não me demorei nada. Fui num pé e vim noutro.
Augusta: Olha que não me parece. A mim, pareceu que demoraste quase uma eternidade. Olha, vai para a cozinha e prepara... Deixa cá ver...talvez uns pastelitos de bacalhau e, bem fritinhos...
Carmo: Pastéis de bacalhau a esta hora?...
Augusta: Não compreendo a tua observação, pois, a qualquer hora, podemos ter vontade de comer pastéis de bacalhau!
Carmo: A senhora é que manda. Vou já preparar meia dúzia de pastéis...
Augusta: Só meia dúzia?! São poucos! Nem calculas a fome que eu tenho. Prepara pelo menos uma dúzia e meia ou mesmo duas dúzias, de pastelinhos e bem fritinhos, não te esqueças.
Carmo: Não sabia que a senhora tinha deixado de fazer dieta para o tal regime de emagrecimento, que tanto falava! Isto de ser criada, tem muito que se lhe diga!
Quando a criada já se encontrava na cozinha, toca novamente a campainha da porta.
Augusta: Carmo, vai abrir a porta; ainda não ouviste a campainha?
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