Depois falaram da viagem de Dona Benta à Europa. A Rã acliou que ela não conseguiria nada porque os homens são errados de nascença. Emília discordou.
- Eu conheço as idéias de "vovó" - disse ela. - A primeira coisa que vai fazer na Conferência é transformar o mundo numa Confederação Universal. Todos os países ficarão fazendo parte dessa confederação, como os Estados dos Estados Unidos. E vai acabar com os exércitos e as marinhas, com os canhões e as metralhadoras.
A Rã, que entendia um pouco de política, achou que as grandes nações eram muito orgulhosas para se sujeitarem a ser simples Estados dum grande Estados Unidos.
- Pois se não se sujeitarem, pior para elas - declarou Emília. - Dona Benta acha que os homens devem formar no mundo uma coisa assim como as formigas. Elas são de muitas raças, ruivas, pretas, saúvas, sará-sarás, quenquéns, etc. mas vivem perfeitamente lado a lado umas das outras, sem se guerrearem, sem se destruírem. Se as formigas conseguem isso, porque os homens não conseguirão o mesmo - Mas acha que os grandes de lá - os reis, os ditadores, os homens importantes - vão seguir os conselhos de Dona Benta e tia Nastácia?
- E que remédio? - respondeu Emília. - Enquanto eles se guiaram pelas suas próprias cabeças só saiu piolho: desgraças e mais desgraças, destruições sem fim. Eles devem estar convencidos de que, apesar de toda a importância, não passam duns tremendos pedaços de asnos.
A Rã concordou.
À noite, quando foram dormir, ficaram as duas na mesma cama conversando até tarde da noite. O assunto era sempre o mesmo: reformas e mais reformas. Em certo momento uma pulga mordeu Emília. Ela acendeu a luz e pôs-se a caçá-la na brancura do lençol. Pegou-a, afinal. Enrolou-a bem enrolada entre os dedos e largou-a "para ver." E o que viu foi a pulga reviver e escapar aos pulos.
Emília danou.
- É sempre o que me acontece! Esfrego, enrolo as pulgas e elas se desesfregam, se desenrolam e saem pulando.
Tenho também de reformar as pulgas.
- Como?
- Poderei fazê-las molinhas como qualquer mosca. Já reparou que, para o tamanho que têm, as pulgas são a coisa mais rija que existe no mundo? Mais rijas que borracha... E também vou mudar a velocidade do pulo das pulgas. Paço pulos em câmara lenta, de modo que a gente possa pegá-las no ar com a maior facilidade, como se estivéssemos colhendo uma bolotinha.
A Rã lembrou um "melhoramento" ainda melhor.
- E se cortássemos o pulo das pulgas pelo meio? - disse ela.
Emília não entendeu.
- Cortar, como?
- A pulga pula. Quando chega no ponto mais alto do pulo, pára. Fica paradinha no ar, como um ponto final. E a gente, sossegadamente, a pega e a estala entre as unhas. Gosto muito de ouvir o estalinho das pulgas. É o único inseto que tem essa habilidade.
- As baratas também sabem estalar - lembrou Emília.
- Cada vez que Narizinho pisa numa, ela estala. É a linguagem das pulgas e das baratas. E também dos chicotes.
Pedrinho tem um chicote que é mestre em estalos.
––––––––––––––––
continua…
- Eu conheço as idéias de "vovó" - disse ela. - A primeira coisa que vai fazer na Conferência é transformar o mundo numa Confederação Universal. Todos os países ficarão fazendo parte dessa confederação, como os Estados dos Estados Unidos. E vai acabar com os exércitos e as marinhas, com os canhões e as metralhadoras.
A Rã, que entendia um pouco de política, achou que as grandes nações eram muito orgulhosas para se sujeitarem a ser simples Estados dum grande Estados Unidos.
- Pois se não se sujeitarem, pior para elas - declarou Emília. - Dona Benta acha que os homens devem formar no mundo uma coisa assim como as formigas. Elas são de muitas raças, ruivas, pretas, saúvas, sará-sarás, quenquéns, etc. mas vivem perfeitamente lado a lado umas das outras, sem se guerrearem, sem se destruírem. Se as formigas conseguem isso, porque os homens não conseguirão o mesmo - Mas acha que os grandes de lá - os reis, os ditadores, os homens importantes - vão seguir os conselhos de Dona Benta e tia Nastácia?
- E que remédio? - respondeu Emília. - Enquanto eles se guiaram pelas suas próprias cabeças só saiu piolho: desgraças e mais desgraças, destruições sem fim. Eles devem estar convencidos de que, apesar de toda a importância, não passam duns tremendos pedaços de asnos.
A Rã concordou.
À noite, quando foram dormir, ficaram as duas na mesma cama conversando até tarde da noite. O assunto era sempre o mesmo: reformas e mais reformas. Em certo momento uma pulga mordeu Emília. Ela acendeu a luz e pôs-se a caçá-la na brancura do lençol. Pegou-a, afinal. Enrolou-a bem enrolada entre os dedos e largou-a "para ver." E o que viu foi a pulga reviver e escapar aos pulos.
Emília danou.
- É sempre o que me acontece! Esfrego, enrolo as pulgas e elas se desesfregam, se desenrolam e saem pulando.
Tenho também de reformar as pulgas.
- Como?
- Poderei fazê-las molinhas como qualquer mosca. Já reparou que, para o tamanho que têm, as pulgas são a coisa mais rija que existe no mundo? Mais rijas que borracha... E também vou mudar a velocidade do pulo das pulgas. Paço pulos em câmara lenta, de modo que a gente possa pegá-las no ar com a maior facilidade, como se estivéssemos colhendo uma bolotinha.
A Rã lembrou um "melhoramento" ainda melhor.
- E se cortássemos o pulo das pulgas pelo meio? - disse ela.
Emília não entendeu.
- Cortar, como?
- A pulga pula. Quando chega no ponto mais alto do pulo, pára. Fica paradinha no ar, como um ponto final. E a gente, sossegadamente, a pega e a estala entre as unhas. Gosto muito de ouvir o estalinho das pulgas. É o único inseto que tem essa habilidade.
- As baratas também sabem estalar - lembrou Emília.
- Cada vez que Narizinho pisa numa, ela estala. É a linguagem das pulgas e das baratas. E também dos chicotes.
Pedrinho tem um chicote que é mestre em estalos.
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