domingo, 8 de julho de 2018

Olivaldo Júnior (Três Microcontos sobre o Destino)


O TREVO DA SORTE 

Ganhara aquele trevo da sorte do primeiro namorado. Hoje, mulher de quarenta e poucos anos, balzaquiana, tinha naquela relíquia um verdadeiro tesouro. Dava-lhe sorte. Que sorte! 

O trevo, na verdade, morava num velho e amarelado livro que ninguém mais lia, perdido na estante, entre um e outro retrato de um parente morto, com sua história inútil, opaca, vã. 

Mariana, esse era o nome da pobre, ainda esperava que o vento da boa sorte lhe trouxesse um amor. Nunca lhe trouxe nenhum! Não era culpa do trevo. Ele só estava no livro "errado". 

A VELHA VIOLA 

Juquinha não sabia o quanto, mas havia uma cara que não tocava mais nada. Aposentara a viola e deixara para trás seu dom de Paulinho da Viola, que faz samba sem olhar para trás. 

Nos tempos de mocidade, quanta menina beijara só por causa do pedaço de pinho, seu anjo no caminho das velhas serenatas! Sentia-se um verdadeiro menestrel, trovador, poeta! 

Assim, no enterro do Juquinha, não sabiam o que fazer com a velha viola. Enterrá-la junto com ele? Não, não era o caso!... Deixaram-na. E há quem diga que ele vem tocá-la à noite. 

O AMIGO PERDIDO 

Hoje olhei as fotos e os vídeos de um amigo, do amigo perdido. Não o vejo mais, nem sei por onde anda. Sei que ficou perdido nosso encontro perfeito, repleto de música e versos. 

Tínhamos tanto em comum, mas de nada valeu. Não sei se ele se lembra de mim, se ele se deixa esquecer do poetinha que ouvia seu pinho tocar. Hoje é o amigo perdido, sem mais. 

Ao fim da noite, entre as letras que tenho, nasceram histórias sobre a ventura, o destino, essa espécie de deus que determina o caminho que se deve tomar. Tristeza, amigo, adeus. 

Fonte: textos enviados pelo autor

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