terça-feira, 17 de julho de 2018

Olivaldo Júnior (Três Microcontos sobre Ausência)


O  DISCO 

Maria  era uma jovem senhora de cinquenta anos. Havia curtido sua juventude  com tudo a que tinha direito: música, festa e muitos amigos. Saudade!... 

Desse  tempo inesquecível, ficaram-lhe todos os discos de seu irmão, um mochileiro que não parava por mais de dois dias no mesmo lugar. Onde andará?... 

Um  dia, bateu-lhe uma vontade de escutar o compacto com a canção Vapor Barato. Por ironia, entre inúmeros “bolachões”,  foi o único que jamais encontrou. 

A  ESTRADA 

João  gostava mesmo era de estar na estrada. Homem de espírito livre, tinha cunhado suas asas à custa  de muito trabalho e, hoje, aos sessenta anos, voava. 

O  problema era a saudade que ia sentindo de tantas pessoas maravilhosas que conhecia pela estrada. Dizem que o mundo não tem fim. Pagaria para saber. 

Por  vezes, pedia carona, dormia em albergues, comia o que dava, não o que queria. Quem sai na estrada é pra caminhar! Morreu esta noite. Voou para o céu. 

O  CÉU 

São  Pedro tinha aberto a porta do céu, mas só o espírito de um cão sem dono que morrera atropelado entrou no Éden. É, o cão queria os ossos mais celestiais. 

O  céu ficou aberto, e isso causou um frio danado na Terra. “Será que ninguém quer vir para cá?” - pensou São Pedro, com seus botões. Seria preciso fazer algo. 

Assim,  pediu aos anjos que fizessem tabuletas, luminosos e um sem-número de cartazes indicando o caminho. Ninguém apareceu. Só mesmo o tal cachorro... 

Fonte: O Autor 

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