segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Arthur Thomaz (Futebol no Olimpo)

Zeus organizou um evento para resgatar o glamour do esporte, visto que estava bastante abalado pelo comportamento dos atuais jogadores. 

O meu estimado leitor poderá verificar no livro Mirabolantes, em minha última viagem com Pegasus para visitar as mulheres mais esplendorosas do mundo, na qual ele me confidenciou que Zeus, o deus máximo do Olimpo, era apaixonado pelo futebol soccer jogado em várias partes do planeta.

Surgiu, então, a ideia de um jogo épico entre deuses, semideuses, monstros mitológicos e outras personagens contra jogadores brasileiros de outras épocas. Enviei uma anacrônica carta solicitando hospedagem para nossa delegação e um campo para treinamento. 

Na resposta, zombeteiro, escreveu que o Olimpo não era para simples mortais, mas como os brasileiros eram considerados os “deuses” do futebol, ele abriria uma exceção e os hospedaria com prazer.

Tratamos cada um de elencar os jogadores dos dois times. Zeus convocou Hércules, que demorou a ser convencido. Em razão dos 12 trabalhos, queria ocupar as 12 posições no time. Ficou esclarecido que só existiam 11 posições e que cada jogador poderia ocupar uma delas.

Uma das cláusulas pétreas do contrato firmado para o evento era que os jogadores não poderiam olhar para a torcida organizada feminina do Olimpo F.C, pois lá estariam as mulheres mais lindas do universo, vestidas de Cheerleaders.

Chronos queria jogar e controlar o tempo da partida simultaneamente. Éolo foi convencido a não se agitar para a bola rolar. Pegasus não participou, pois teria que usar quatro chuteiras.

Netuno também não aderiu ao jogo porque inundaria o gramado, transformando-o em polo aquático. Hermes revelou-se um bom entregador de bola, ocupando o meio de campo. Zeus, sem questionamentos, escalou-se titular absoluto, capitão do time e sem posição definida.

Aquiles foi escalado na ponta-direita, por ser forte e guerreiro. Zeus exclamou ao ver a composição do time canarinho que isto não é uma escalação, e sim uma oração:

Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos.

Zito e Didi. Garrincha, Pelé, Vavá e Zagalo.

Pressentindo o desastre esportivo, Zeus argumentou que nós iríamos escalar monstros sagrados do futebol, portanto, ele também escalaria monstros mitológicos para substituir alguns deuses que estavam em missões pelo cosmo.

Na falta de um deus para ficar no gol, transformou temporariamente Octopus em um ser mitológico. Recrutou Golias para centroavante cabeceador. Um coro de bacantes entoava com emoção o hino do clube Olímpio FC.

No vestiário brasileiro, antes da peleja, o sistema tático foi o de cada um pegar a sua camisa e jogar o que sabe. 

Garrincha e Baco, já no corredor de entrada ao gramado, estabeleceram cordiais relações, graças ao néctar dos deuses bebido pelos dois. Nereidas e ninfas atuavam como gandulas.

Iniciado no horário exato, o jogo transcorreu magnificamente com Garrincha e Pelé infernizando a defesa adversária, colocando bolas entre os tentáculos de Octopus, quase causando um nó entre eles.

Aquiles corria pela ponta-direita com a marcação do elegantérrimo Nilton Santos, quando Éolo soprou em suas costas, dando-lhe uma velocidade maior. Ao perceber que não o alcançaria correndo, Nilton tentou com um carrinho tirar a bola de Aquiles, acertando-o no tendão . Eis aí a verdadeira origem da lenda do calcanhar de Aquiles.

Diferentemente do que a história relata, Nilton Santos não deu um passo para fora da grande área, o que ensejou a marcação do pênalti.

Zeus dirigiu-se até a marca da penalidade e mostrou que, como cobrador de pênaltis, ele era um excelente deus, chutando a bola no topo da montanha vizinha, o Everest.

Gilmar, Djalma Santos, Bellini e Orlando jogavam animadamente uma partida de truco na pequena área. 

No único lance de perigo ao gol canarinho, David colocou uma bola na testa de Golias, que atordoado cabeceou sobre o travessão. Octopus reservou dois de seus tentáculos para pegar as bolas no fundo de suas redes. O marcador eletrônico não possuía dois dígitos, portanto, o placar final foi 9 X 0, mas testemunhas dizem que beirou os 50 gols brasileiros.

Para o alívio do time local, soaram as sete trombetas, anunciando o fim da peleja.

Garrincha e Baco trocaram as camisas e saíram abraçados diretamente para a noitada.

Zeus reverenciou Pelé e até hoje são amigos, tendo ordenado a construção de um trono ao lado do seu, mostrando ao Universo que o Deus do futebol só houve e só haverá um, e que seu nome é Pelé.

PS: Nove meses depois do evento, três nereidas deram à luz três bebês com as perninhas tortas.

Fonte> Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 

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