O senhor Antônio se aproxima devagar, do corpo da mulher, acaricia seus cabelos e chora de maneira descompensada.
Juca e o padre pedem licença para acomodar a falecida no caixão ao centro da sala.
Empregados da fazenda e vizinhos, lamentam profundamente a perda de uma pessoa pacífica e amável como poucas.
- Onde tá Isadora? - pergunta o viúvo ao genro.
- Sumiu.
- Sumiu como?
- Quebrou a casa toda e fugiu.
- E não foi atrás dela, por quê?
- Não é hora de pedir ou dar satisfações. A guria deve estar desabando sua dor com alguém. Daqui a pouco estará de volta. Podemos começar o velório? – perguntou o padre.
O senhor Antônio fez sinal afirmativo.
- Que o Deus dos vivos e dos mortos, em sua infinita misericórdia, receba a alma desta mulher, que em vida, foi um magnífico exemplo de esposa e mãe...
Enquanto o padre Orestes seguia com suas preces à beira do caixão, alguns se deixaram desconcentrar pelo cenário da casa, arrasado pela fúria de Isadora. Havia porta-retratos atirados no chão... O vidro da janela que dava da sala para a varanda, estava quebrado, e panelas com comida derramada à porta da cozinha... Uma delas inundou o ambiente com aroma de feijão.
Fábio, constrangido, parecia colado à parede ao fundo do cômodo. Não sabia se chorava, se falava algo, se corria atrás da mulher ou se cavava um buraco no chão para desaparecer de vez.
O clima era de completo caos: uma morta, uma turbulenta tempestade lá fora... Tudo fora do lugar e Isadora sumida. Percebendo o clima desconfortável e os olhares, Amélia foi preparar um café.
Discretamente, Simão seguiu seus passos, e sozinhos ficaram a conversar na cozinha. Juca deu falta da esposa, e pela primeira vez sentiu o sangue ferver de ciúmes ao encontrar Amélia parecendo muito próxima e íntima do amigo. Recuou e ficou a imaginar uma suposta traição.
Em seguida o café foi servido. E cada um acomodou-se onde pode.
O Senhor Antônio andava de um lado ao outro, parecendo meio inconsciente do fato. E o padre, afetuoso, não saiu do lado caixão, observando tudo e a todos.
As horas foram passando. A tempestade foi embora. Um novo dia se anunciou cheio de sol e calor. E Isadora permaneceu sumida.
- “Arguém” tem que dá um jeito de achar minha “fia”. Como "vamo" pro cemitério sem ela?
Fábio e Juca não a encontraram... Nem dentro e nem fora da fazenda. E o enterro de dona Ana foi realizado sem a presença da filha.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
continua...
Fonte>Enviado pela autora
Nenhum comentário:
Postar um comentário