quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Octaviano Joba (Poemas Avulsos)


A DOR DA SAUDADE

Ontem, visitei um jardim que fora meu
E  o encontrei tristemente desbotado...
A cor de alegria que tinha desvaneceu
E a tristeza se instalou por todo o lado.

Mas entre folhas secas, paus e cacos
Resistem duas flores lindas em pranto
Diante de tanta imundice, aridez e buracos
Que consumiu todo o verde manto...

E desejei que essas flores fossemos nós:
Eu e tu abraçados doce e eternamente...
Mas sinto que nem alcanço ouvir a sua voz
E o seu último olhar foi mui deprimente…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

LEMBRANÇAS

Vivemos um Paraíso enquanto nos amamos
E tudo na vida tinha algo de belo e doce
Mas, aos poucos, o Paraíso acabou-se 
E o que seria eterno, num instante, injuriamos.

Se de almas gémeas tornamos rivais
E vemo-nos pela rua como gato e rato,
Quem lembrará e será tão grato
Por esse tempo que vivemos como casais?

Eu guardo comigo grandes lições de vida,
Também guardo comigo grandes momentos...
Faça revisão dos seus antigos sentimentos...
Quem sorria pra mim, toda florida?!

Saiba que, enquanto eu viver e tu víveres,
Haverá sempre algo que nos torne semelhantes: 
(não olhe pro lado das coisas humilhantes)
- Lembraremos os mesmos beijos...os mesmos prazeres.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

RETRATO DE UM SONHADOR

Sou o que sempre fui, — eu mesmo.
E para sempre serei único e igual.
Não sou guiado pelo vento, não vivo à esmo. 
Serei igual ao que sou e fui: natural. 

Transformo-me na melhor versão de mim
Passando de geração em geração. . . 
Para tudo há Começo, Meio e Fim;
Também seguirá esta ordem o meu coração. 

Quem disser que sou mau que o diga:
Até Jesus foi entregue pelos seus. . . 
A amizade é uma semente, uma espiga, 
A da parábola que Jesus aprendeu de Deus. 

Valorizo a beleza e simplicidade da Natureza: 
Sou tão igual à qualquer indígena . 
Sobre o futuro, evito ter absoluta certeza 
Como esse que se expressa como alienígena. 

Tento ser humano, e o sou. . . Sou honesto:
Só engano a mim mesmo nas horas vagas. 
Uns dizem que valho, outros, que não presto, 
E é por isso que me lançam pragas.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

POEMA DA CONSTERNAÇÃO

De repente fez-se caco, o que era diamante
Fez-se cacto, o que era flor
Fez-se indiferença, o que era amor
De repente fez-se pálido, o que era brilhante.

De repente fez-se deserto, o que era mar 
Tornou-se inferno, o que paraíso
Tornou-se rugoso o que era liso
De repente fez-se selva, o que era pomar.

De repente fez-se inverno, o que era verão
Fez-se outono, o que era primavera
Fez-se pano, o que era bandeira
De repente fez-se crocodilo, o que era leão.

De repente fez-se calvário, o que era jardim
Fez-se desespero, o que era esperança
Fez-se tempestade, o que era bonança
De repente fez-se tristeza, o que era festim.

De repente fez-se mendigo, quem era patrão
Fez-se promessa do que seria o presente
Fez-se presente está dor insolente
De repente fez-se migalha, o que era pão. 

De repente fez-se Diabo, quem era Santo
Fez-se pagão, quem era Jesus
Fez-se apagão, o que era luz 
De repente tornou-se repulsa, o que era encanto. 

De repente fez-se agitação, do que era a paz
Fez-se paz, do que era agitação
Fez-se o que se faz numa "sã nação"(...)
De repente tornou-se cinza, o que era lilás.

De repente fez-se pimenta, o que era refresco
Fez-se burlesco, o que era sério 
Fez-se por emoção, o que seria por  critério
De repente fez-se pó, o que era gigantesco. 

De repente tornou-se velho, o "Homem-novo"
Tornou-se de um, o que seria comum
Enfim, tornou-se espinho o nosso "atum"
De repente separou-se a clara da gema (do antigo ovo).

Sempre de pedra a pedra, levando pedrada
De sol em sol, nos golpes das mãos em punho ...
Haverá uma luz que brilhe, sim, um outro Junho
Mais pomposo e glorioso que qualquer fada. 

De repente..."não mais que de repente"
"A mão armada" fez-se  "a mão amada"
"A mão amada" fez-se "a  mão armada"...
Vivemos feito relâmpagos(...) sempre de repente!

Quem olhar dentro de nós e ver algo, assim, eterno, 
Será em sonho, ou numa simples imaginação...
Eu, por exemplo, veterano da reincidente desilusão,
Só acredito em mim sonhando-me sempiterno.

e facebook Poetas amigos de Isabel Furini

Nenhum comentário: