quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Estante de Livros (“Yerma”, de Federico Garcia Lorca)

Yerma é uma peça em três atos, escrita em 1934 pelo poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca (1898-1936). Apresentada pela primeira vez em 1934, Yerma faz parte da chamada “trilogia rural”, ou “trilogia dos dramas folclóricos” do autor, que inclui também as obras “Bodas de Sangue” e “A Casa de Bernarda Alba”.

A peça é ambientada na Andaluzia e conta a história de Yerma, uma mulher que vive num mundo rural e fecundo, mas que ainda não conseguiu gerar uma vida em seu ventre. Ela é casada com Juan e sofre com o fato de o casal ainda não ter filhos. Yerma é uma das poucas mulheres casadas da vila que ainda não conheceu a maternidade. No entanto, Juan, apesar de ser um homem honesto e trabalhador, é indiferente à angústia de sua esposa, mantendo-a confinada num casamento sem amor, apenas como uma satisfação moral para a sociedade.

Enquanto isso, Yerma passa o tempo na janela, costurando o enxoval para o bebê de sua amiga Maria, ao mesmo tempo em que convive com Vítor, um amor do passado. Apesar da vigilância do marido e das duas cunhadas, que passam a morar na mesma casa que o casal, Yerma tenta, ao longo da narrativa, tudo o que pode para gerar uma vida, trilhando um caminho que a levará à tragédia.

A busca de Yerma pela maternidade é atravessada por coros de lavadeiras, de homens e de mulheres do povo, além de rituais de fertilidade. Desta forma, Lorca brilhantemente faz Yerma dialogar com as tragédias gregas, em especial aquelas escritas por Ésquilo e Sófocles. A diferença é que nas tragédias gregas dos dramaturgos citados o trágico vem de uma intervenção divina, como um castigo, enquanto que nas tragédias modernas, o trágico é algo intrínseco à alma humana.

Yerma é um belíssimo drama lírico, no qual Lorca aborda a questão da esterilidade de um casal, sob o ponto de vista feminino, desmascarando assim a opressão milenar que a sociedade patriarcal faz sobre as mulheres, em especial às estéreis, para cumprirem o “dever sagrado” da maternidade, quando sabemos que ser mãe é, ou pelo menos deveria ser, uma realização pessoal de cada mulher. E mais do que isso! Em Yerma, Lorca fala, de maneira poética e simbólica, da tragédia e da frustração de todos aqueles que não conseguem realizar seus sonhos, seja por medo do desconhecido, seja por ignorância ou, ainda, por causa das pressões sociais. Esta é uma das razões pelas quais Yerma tem-se eternizado nos palcos. Por colocar em cena uma angústia tão conhecida de todos nós, que é a dor de não termos conseguido realizar nossos sonhos e a frustração de termos que conviver com isto.

Em suma, Yerma é uma bela e tocante obra prima do teatro mundial, que vale muitíssimo a pena ser lida, assistida e encenada, para que não caiamos na esparrela de deixar nossos sonhos esquecidos numa gaveta qualquer da vida.

O livro está disponível em domínio público, em espanhol, no link:

Fonte: Leivison Silva, em Assisto porque gosto

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