Às vezes, se o poema está contente,
Eu toco a poesia em instrumentos,
Cantando doces versos para os ventos,
Recebo a poesia na nascente.
Às vezes, se o poema está doente,
Eu sofro a poesia nos tormentos,
Gemendo amargos versos em lamentos,
Oferto a poesia no poente.
Nas Rosas, eu encontro a poesia,
Nas cores e no aroma, em cada espinho,
Nos versos que, das pétalas, escorrem.
Diferem os poemas, todavia,
Das rosas, em seu rápido caminho,
Que brotam, desabrocham, depois morrem!
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A ROSA DO DESERTO
Quem dera se eu tivesse um coração
Que fosse feito a Rosa do Deserto,
Que emana formosura a céu aberto,
Na sua exuberante floração.
Quem dera se eu tivesse a proteção
Que tem seu sangue em seiva recoberto
Por caule resistente que, decerto,
Suporta gigantesca sequidão.
Assim meu coração palpitaria
Com toda a fortaleza dessa rosa
E por qualquer deserto eu passaria.
Por onde quer que eu fosse, espalharia,
Também sua beleza graciosa,
E rosa no deserto então seria!
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A SUPERLUA
A lua, cor de pérola, reluz,
Transforma o grande mar em seu espelho,
Expulsa sutilmente o sol vermelho
E a noite escura acolhe a sua luz.
A lua, assim gigante, me conduz
Por caminhos sem placa e sem conselho,
No silêncio, no qual eu me assemelho,
Beleza imensa que ninguém traduz.
A superlua, cheia e esplendorosa,
Derrama em mim um brilho sedutor,
Inspirando um soneto que a desposa.
A lua, em suas glórias, indiscreta,
Que faz da poesia o seu andor,
Se torna a grande musa do poeta!
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CEARENCÊS
Aqui no Ceará é “invocado”
O linguajar cantado e bem rasteiro.
Todo cabra matuto é “beradeiro”
E aquele que tem pressa é “avexado”.
Quem se mete a valente é “arrochado”,
Se cria muito caso é “bunequeiro”,
Se o cara é brincalhão, ele é “fuleiro”,
E se não “bate bem”, “abirobado”.
Quem gosta de mexer é “buliçoso”
E aquele que tem fome,“esgalamido”.
“Só o pitel” é algo bem gostoso.
Chamamos de “ariado” o distraído,
“Bichim” é tratamento carinhoso,
Cearencês é mesmo divertido!
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NORDESTE
O sol com sua força incomplacente
Abraça o chão sedento do sertão,
Clamores se derramam na oração
Do povo tão sofrido e renitente.
O sol com sua luz incandescente
Abraça as belas praias com paixão,
Gigante litoral em extensão
Com mares de água morna transparente.
A lua embala o frevo e a capoeira,
As dunas e falésias, cor dourada,
Cordel, literatura verdadeira.
Estrela que reluz na Pátria Amada,
Cultura que enriquece a terra inteira,
Nordeste, a minha terra abençoada!
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O MAR
O mar, com soberana majestade,
Impõe-nos a vontade que lhe emana
Com toda intensidade e não engana
A solidez tirana da maldade.
Com sua veterana autoridade,
Despreza a sociedade leviana,
Pois a salubridade é sua gana,
Não há ação insana que lhe agrade.
Esconde em seus rochedos um rosário,
Pois, mesmo autoritário, tem seus medos,
Encontra em nossos dedos seu calvário.
Espelho refratário de degredos,
Sepulcro de penedos, santuário,
O mar é relicário de segredos!
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