HERIBALDO GERBASI
Pombas-da-paz prometidas
pelos países mais ricos,
não portam ramas floridas
e sim ogivas nos bicos.
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Poema Pernambucano
MAURO MOTA
Mauro Ramos da Mota e Albuquerque
Nazaré da Mata/PE (1911-1984) Recife/PE
Chuva de vento
De que distância
chega essa chuva
de asas, tangida
pela ventania?
Vem de que tempo?
Noturna agora
a chuva morta
bate na porta.
(As biqueiras da infância, as lavadeiras
correm, tiram as roupas do varal,
relinchos do cavalo na campina,
tangerinas e banhos no quintal,
potes gorgolejando, tanajuras,
os gansos, a lagoa, o milharal.)
De onde vem essa
chuva trazida
na ventania?
Que rosas fez abrir?
Que cabelos molhou?
Estendo-lhe a mão: a chuva fria.
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Trova de Balneário Camboriú/SC
ARI SANTOS DE CAMPOS
Com um abraço agradeço
as letras do meu saber;
contudo, não desmereço
as que deixei de aprender.
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Soneto de Uberlândia/MG
RAQUEL ORDONES
Quero fugir com as flores
Ao passar pelo jardim, que as flores me acompanhasse
Que todas elas sorrissem e que juntas fugissem comigo
Fizessem em volta de mim uma roda, que eu a olhasse
No fundo da pétala onde o perfume se deita em abrigo!
Que todas as flores dançassem ao vento ao meu redor
Que exalassem por toda minha alma a sua fragrância
Fizessem com que eu degustasse um toque de amor
E deliciar-me nesse momento de abissal importância!
Que as flores fujam comigo, quero fugir com as flores
E as borboletas não ficam fora da minha imaginação
E essa imagem está tatuada em cores no meu coração.
Quero flores; do jardim do lado e do jardim da frente
Quero as flores da alma dos seres em nuança de amor
Quero fugir com as flores no outono, inverno e calor!
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Trova Premiada em Curitiba/PR, 2015
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
Gralha Azul, qual fazendeiro
semeando o seu pinhão.
faz nascer mais um pinheiro,
construindo esta nação!
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Poema de Portugal
CASIMIRO DE BRITO
Casimiro Cavaco Correia de Brito
Loulé, 1928 – 2024, Braga
O nascimento
Nasces no instante em que tomo
consciência de estar só
Nasces no deserto das minhas mãos
no espaço que separa as coisas
umas das outras nasces renasces
no mar que se visita ó sabor do sol
de olhos abertos
Nasces no instante em que tomo
nas mãos o peso da morte o peso
deste pobre movimento que nos vem
do centro da terra ó vinho ó repouso
Infinito
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Trova Popular
Se onde se mata um homem,
por uma cruz é preceito,
tu deves trazer, Maria,
um cemitério no peito.
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Soneto de São Paulo/SP
ANDERSON C. D. DE OLIVEIRA
Anderson Carmona Domingues de Oliveira
Casa...
Aluguei uma casa,
O fogo em brasa,
Por timbres atalaia,
A essência arraia.
O coração geme,
A Deus tudo teme,
Um bom sentimento,
Aprendi o mandamento.
Chove pela tempestade,
Creio ser uma verdade,
Pelo coração contexto.
Um grande arvoredo,
O rochedo do texto,
Foi quando senti medo.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ
LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros
Deus abençoa o artista
que invista no sentimento.
Quem faz parte desta lista,
transforma dons em talento.
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Poema de Florianópolis/SC
SONIA RÉGIS
Um cais chamado saudade
havia um porto
antes
ao alcance da vista
um ponto
onde as naus
suspendiam viagem
as velas arfavam
desenfurnadas
e sonhavam
a lua sobre o mar
era um sabre
aparando a água
havia um porto
antes
ao alcance do corpo
(um ponto
onde hoje atraco a saudade
e mais nada)
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Trova Humorística de São Paulo/SP
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
"0 que faz dentro do armário ?!"
Nu, no aperto, ele se poupa:
- "tem traças!... e o esposo otário:
- "Xi !!! comeram sua roupa!?
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Poema do Rio de Janeiro/RJ
GUILHERME BAPTISTA FADDA
A cigana
Olhou meus olhos, segurou minha mão,
por instante baixou a cabeça e murmurou,:
"sozinho está seu coração",
mas parece-me que um novo amor encontrou.
Intrigado com aquela ponderação
afinal, nunca ninguém me falou
a respeito de amor, de paixão,
nem sei como isso começou.
Era uma cigana graciosa e inteligente,
por coincidência, encontrou-me
e mexeu com meu coração...de repente.
Hoje, vivo num acampamento com ela
ouvindo o trinar de seu violão
debruçado numa tosca e improvisada janela.
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Trova de Bandeirantes/PR
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI
Torna-se longo o momento
da mais breve despedida,
se atormenta o pensamento
no decorrer de uma vida.
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Spina de João Pessoa/PB
MARI ANE ARAÚJO
O sentir do coração
Relembro com saudade
tremendo de emoções,
ausente coração sente.
No amor, quero: Plenitude absoluta;
Versos lindos, caprichados de amor
pra minha alma dançar suavemente
Corpos colados, numa só proporção
queira-me como sua dama presente!
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Trova de Vitória/ES
HUMBERTO DEL MAESTRO
Meus versos, extraio d’alma,
numa ternura de prece,
basta que os leiam com calma
que a devoção aparece.
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Soneto de Avaré/SP
SÁ DE FREITAS
Samuel Freitas de Oliveira
Nos braços da saudade
Olhando pelas frestas dos meus dias,
Que já se foram pela vida afora,
Apenas vejo a luz daquela aurora
Da juventude, em sombras fugidias.
E hoje ao enfrentar as noites frias,
Neste vazio em que minh' alma chora,
Busco momentos que já foram embora,
Mergulhando a memória em fantasias.
Ah! Tempo que se foi! Por que deixaste
Essas recordações? Por que guardaste
Tantas coisas da minha mocidade?
Resta-me agora, após tantas andanças,
Adormecer no leito das lembranças
E acordar nos braços da saudade.
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Trova Humorística do Rio de Janeiro/RJ
RENATO ALVES
Quando a feia se “embeleza”,
mas o resultado é trágico,
diz o espelho, que se preza:
– Ela pensa que sou mágico!…
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Poema de Feira de Santana/BA
ROBERVAL PEREYR
Galope
Meus pensamentos são meus camelos
Meus pensamentos são meus cavalos
(com uns cavalgo para o silêncio
com outros marcho para a saudade).
Meus pensamentos são meus cavalos
Meus pensamentos são meus camelos
(sou sertanejo, nasci nos matos,
ando a cavalo para mim mesmo).
Meus sentimentos são meus desejos
em que me vejo perdido, e calo.
Meus pensamentos são meus camelos
Meus pensamentos são meus cavalos
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Trova de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
Convido-os a partilhar
uma gostosa jantinha:
massa com frutos do mar,
ou seja, pão com sardinha...
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Glosa de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA
Nemésio Prata Crisóstomo
Mote
A cadeira sem balanço,
a rede em triste orfandade...
Uma se rende ao descanso,
a outra embala a saudade.
Dorothy Jansson Moretti
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Glosa
A cadeira sem balanço
com sua perna partida,
já não pode dar remanso
a quem lhe pede guarida!
Hoje, presa aos armadores,
a rede em triste orfandade,
cumpre sua pena, em dores;
numa cadeia sem grade!
A cigarra, no bem manso,
a formiga, na migalha...
Uma se rende ao descanso,
a outra, duro, trabalha.
A mocinha, no frescor,
a velhota, já de idade...
Uma a procura do amor,
a outra embala a saudade.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ
ALCY RIBEIRO SOUTO MAIOR
(1920 – 2006)
A casa ainda é aquela...
ainda é o mesmo portão...
na sala, a mesma aquarela
junto à mesma solidão!
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Hino de Campina da Lagoa/PR
Oh, Campina da Lagoa, teu progresso é real,
O teu nome longe soa em território nacional.
És menina e formosa que inspira confiança
Em teu futuro colocamos toda nossa esperança
Rico solo abençoado, rainha dos cereais,
És o orgulho do Estado, da terra dos pinheirais.
Tua gente hospitaleira vem mostrando seu valor,
Nesta terra brasileira todos cultivando amor
És a terra prometida deste povo varonil,
Trabalhando em ordem unida construindo o nosso Brasil
Rico solo abençoado, rainha dos cereais,
És o orgulho do Estado, da terra dos pinheirais.
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Trova de Maringá/PR
IRMÃ MÔNICA MARIA
Cirema do Carmo Corrêa
Quando vejo uma rolinha
fugindo pela amplidão,
imagino uma casinha
onde morreu a ilusão…
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Poema Mineiro
HENRIQUETA LISBOA
Lambari (1901-1985) Belo Horizonte
Os lírios
Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.
Quero saber como crescem
simples e belos — perfeitos! —
ao abandono dos campos.
Antes que o sol apareça
neblina rompe neblina
com vestes brancas, irei.
Irei no maior sigilo
para que ninguém perceba
contendo a respiração.
Sobre a terra muito fria
dobrando meus frios joelhos
farei perguntas à terra.
Depois de ouvir-lhe o segredo
deitada por entre os lírios
adormecerei tranquila.
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Trova Paulista
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP
Nesta noite prateada
minha sombra, junto à tua,
vai trilhando a mesma estrada,
tendo por cúmplice a lua.
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
A panela de ferro e a panela de barro
A panela de ferro, um certo dia,
Ao sair do esfregão da cozinheira
Mui fresca e luzidia,
Disse à de barro, sua companheira:
«Vamos dar um passeio,
Fazer uma viagem de recreio.
— Iria com prazer, disse a de barro;
Mas sou tão delicada,
Que se acaso num seixo ou tronco esbarro,
Lá fico esmigalhada!
Acho mais acertado aqui ficar,
Ao cantinho do lar.
Tu sim, que vais segura:
A pele tens mais dura.
— Se é só por isso, podes ir comigo;
É medo exagerado o teu — contudo,
Se houver qualquer perigo,
Serei o teu escudo».
A tal dedicação, a tal carinho
Não pôde a companheira replicar,
E as duas a caminho
Lá vão nos seus três pés a manquejar.
Mas, ai! não tinham dado quatro passos,
Numa vereda estreita,
Eis que se tocam — e a de barro é feita,
Coitada, em mil pedaços!
Para sócio não busques o mais forte,
Que te arriscas de certo à mesma sorte.
(tradução: Acácio Antunes)
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