domingo, 8 de dezembro de 2024

Vereda da Poesia = 173


Trova de
VERLAINE TERRES
Gravataí/RS

Euforia, minha gente,
faz inveja ao coração...
pois sempre que alguém a sente,
vem logo a desilusão.
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Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

Como posso eu sentir-te?

Como posso sentir a tua falta,
se nem a tua presença senti?
Como posso ter saudades de alguém,
que nunca realmente conheci?
Como posso querer o teu amor,
se nunca o recebi?
Como posso lembrar-me de uma pessoa,
que na verdade nunca vi?
Como posso dar tudo por ti,
se me tiraste tudo a mim?
Como posso ter lágrimas para chorar,
se já há muito as perdi?
Como posso ainda viver,
se em ti acabei por morrer?
Como posso escrever para ti,
se me tiraste as palavras que aprendi?
Como posso perdoar-te,
se até pena de prisão cumpri?
Como posso ainda pensar em ti,
se para ti há muito que morri?
Como posso ter-te no meu coração,
se o destruíste por não o querer?
Como posso eu sentir-te,
se me arrancaste da tua vida?
Resta-me o silêncio e a solidão…
E esta saudade que me habita a alma
sem qualquer condição.
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Trova de
GÉRSON CÉSAR SOUZA
São Leopoldo/ RS

Não julgue alguém pela imagem,
pois muitos fazem de tudo
para esconder na “embalagem”
a falta de conteúdo.
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Poema de
CRIS ANVAGO
Lisboa/ Portugal

Prende as palavras que se soltam
Junta-as e tenta decifrá-las
Coloca-as no teu peito
Faz delas o teu estado de espírito
Livre, simples e colorido
Espalha a luz do teu sorriso
Num amar sem limites
Ama e sente
As ondas que não são iguais
O sol que nem sempre é perfeito
A lua sempre muda, não é igual
Não te conformes com o que te dão
Luta pelo que queres
Ama-te e revela-te ao mundo
És uma pessoa única!
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Trova de
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

Merece este amor perfeito
desvelos de passarinho,
que arranca as penas do peito
para aquecer o seu ninho.
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Poema de
JOSEFA DE MALTEZINHO
Aveiro/Portugal

Mar de rosas

Pergunto-me que mar de rosas existe
nesta coisa esférica de ceifar o riso pela raiz;
neste logro que dá pérolas a porcos
como fósforos a velas sem pavio

Há quem diga que nenhum.
Mar? só o céu infinito na saia de pregas
em chama por estrear;
rosas? só o canteiro na blusa
muito antes do amor lhe desbotar os verdes

Eu digo que a pele das rosas tem o hábito
de trazer espinhos por parir no ventre,
e que a vida é como um pano de boa estirpe:

no melhor dela cai a nódoa.
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Em seu vai-e-vem bonito,
a lua em seu caminhar...
Enche de luz o infinito,
de prata, as ondas do mar!
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Poema de
RAUL FERRÃO
Lisboa/ Portugal

Por vezes sou pássaro 

Pergunto-me quem sou.
Não tenho definição.
Eu, o titular do Bilhete de Identidade
número xis.
O Contribuinte tal.
O Cidadão ou Não.
Por vezes sou pássaro.
Mais um pássaro de gaiola
a quem não lhe é permitido 
voar em plena liberdade.
Vou ser criativo por necessidade 
e inventar uma porta aberta
nesta gaiola em que vivo.
E não cantarei mais
no chilreio que me impõem 
de melodias programadas.
Vou grasnar gritos de revolta
e incomodar as ilustres e sensíveis orelhas.
Certo de que o resultado será simples 
por ser tão incômodo.
Ou me fritam ou me libertam.
Qualquer das soluções 
será uma libertação.
E tu?
Pergunta-te quem és.
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Trova Humorística de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Na feira de antiguidade,
ao ancião combalido
perguntam, não sem maldade:
-Vem comprar ou ser vendido?
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Poema de 
SUSANA NUNES
Amadora/Portugal

Lê-me como se não me conhecesses,
como se não soubesses do meu ser,
e reserva para ti
apenas o passar dos meus versos
nessa palavra, que eu te peço,
... devagar...
Então agora
cruza primeiro os braços,
e aspira esse ar desses instantes,
que a minha poesia, essa, pode esperar
Depois, podes cruzar a perna
nesse teu ar belo de eternidade,
e sentires apenas o teu corpo leve
que a minha poesia, essa, pode esperar
Daqui a pouco,
quando sentires a falta das minhas palavras,
e souberes que tens em ti o coração todo,
aí sim,
lê os meus versos nas minhas páginas
mas por favor,
faz aquilo que eu te peço,
e folheia-os devagar
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Desperta a minha cidade,
a praça, o sonho, os pardais...
que saudade da saudade
que agora não sinto mais!
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Hino de
CORUMBÁ/ MS

Corumbá destes meus sonhos
E dos meus primeiros dias
Ainda sinto o calor
Como raio de saudade
Dentro do meu coração.
Os teus dias tão risonhos
Tem pra mim tanta alegria
Até a lua com fulgor
Parece não ter vontade
De deixar este torrão

Corumbá, eu quero ter
Corumbá, eu quero ter
Sob o teu céu tão brilhante
Feliz viver

Vejo encantos primorosos
Nas tuas verdes colinas
Em tuas águas tão serenas
No teu céu onde o cruzeiro
Cintilante sempre está
Em teus prados tão mimosos
Marchetados de boninas
Em tuas noites tão amenas
Em teu luar tão fagueiro
Tens encantos Corumbá!

Corumbá, eu quero ter
Corumbá, eu quero ter
Sob o teu seu céu tão brilhante
Feliz viver

E quando teus horizontes
A frouxa luz do poente
Se matizam de mil cores
De saudade fica presa
Nossa alma juvenil
Rendilhada de altos montes
Tendo aos pés águas silentes
Bela terra dos amores
Corumbá, és a princesa
Do ocidente do Brasil!

Corumbá, eu quero ter
Corumbá, eu quero ter
Sob o teu seu céu tão brilhante
Feliz viver
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/ SP

Minha saudade é concreta,
tem nome, tem residência,
foi luz que me fez poeta
mas hoje se faz ausência.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/ Portugal

Abracei-te
com os meus olhos
absorvi o teu brilho
o teu sorriso
a doçura desse menear

bebi e saboreei
cada palavra
cada gesto
cada contorno sedutor
na volúpia do poema
que alimenta os sentidos

embriagado de ti
sorrio para mim
num sorriso que se alinha
com um rasto imaginário
um rasgo de inspiração
que dá mais sentido à vida.
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Trova de
ADAMO PASQUARELLI
São José dos Campos/SP

Esse é o trem de minha vida!
Passou rápido e fugaz
na tresloucada corrida
dos meus tempos de rapaz.
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Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Corredor polonês”

Todos aprendemos na escola ― às vezes, da pior maneira ― que “CORREDOR POLONÊS” é o nome dado a um castigo em que um indivíduo é forçado a passar por duas fileiras de pessoas que o agridem fisicamente. Todavia, embora essa prática violenta seja conhecida em todo o mundo, a menção aos poloneses só existe em nosso idioma.

Em inglês o castigo é chamado “running the gauntlet” (“correndo a manopla”). Em espanhol (“pena de baquetas”), em francês (“châtiment des baguettes”) faz referência às baquetas usadas pelos percussionistas das bandas marciais, usadas para aplicar bastonadas aos infelizes submetidos à punição. Na mesma pegada, e ainda mais diretos, os alemães dizem “Spieβrutenlaufen” (“corrida sob varas pontiagudas”) e os chineses usam a expressão (jiādào biānda) que significa, literalmente, “corredor de chicotadas”. Em italiano se diz “passare sotto le Forche Caudine”, em lembrança à humilhante rendição dos exércitos romanos na Batalha de Forcas Caudinas, um estreito passo de montanha na região da Campânia, em 321 a.C. Curiosamente, não houve mortos ou feridos nesse evento. Por sua vez, os poloneses conhecem esse suplício como “Praszczęta” e atribuem sua origem a uma punição militar aplicada, até o século XIX, pelo exército russo! Por que então a língua portuguesa faz referência à Polônia? 

Ao contrário do que alguns pensam, o corredor polonês não é o indivíduo que corre desesperado tentando se esquivar dos golpes infligidos. Tampouco são poloneses os algozes enfileirados. Essa expressão tem origem em uma estreita faixa de terra disputada por alemães e poloneses entre a Primeira e a Segunda Grande Guerra. Ao final da Primeira Grande Guerra, as nações vencedoras se reuniram em Versailles para decidir as penalidades que deveriam ser cobradas à derrotada Alemanha. Entre elas, incluíram a cessão de parte do território alemão à Polônia, para que essa nação tivesse uma saída para o mar.

Essa região, uma área longa e estreita que cortava em duas partes o território alemão, passou a ser chamado “CORREDOR POLONÊS”. Vigorou de 1919 a 1939, quando o exército nazista o atacou por ambos os flancos, na invasão à Polônia que marcou o início da Segunda Grande Guerra. Ao fim da guerra, em 1945, não apenas o Corredor Polonês, mas também as áreas subjacentes, foram entregues à Polônia, permanecendo assim até hoje. Porém, a memória do rápido e violento ataque alemão que encurralou as forças polonesas presas no “corredor” é lembrado até hoje nos países de língua portuguesa quando alguém é instado a passar, por punição ou trote, por entre duas filas de companheiros impiedoso. (Fonte: espaço2d.com.br).
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Estas expressões idiomáticas são publicadas na Terça da Cultura Popular em sites do Pará.
Nas palavras de Célio Simões “A TERÇA DA CULTURA POPULAR começou por acaso. Publiquei num dos sites em que escrevo, um texto explicando a origem de certas expressões idiomáticas, que usamos quase sem perceber nos diálogos do cotidiano. Cito, como exemplo, algumas já divulgadas: Chato de galocha, Mão de vaca, Casa da mãe Joana, Santinha de pau oco, Chegar de mãos abanando, Sem eira nem beira, Dor de cotovelo, etc. Outras virão, na medida do possível. Atualmente tais textos são divulgados por vários sites e blogs de Belém (1), Santarém (1), Óbidos (2), Manaus (1)”
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(*) O autor é advogado, escritor, palestrante, poeta e memorialista. É membro da Academia Paraense de Letras, da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Artística e Literária de Óbidos, da Confraria Brasileira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós.

Fontes: 

Aparecido Raimundo de Souza (A minha eterna prisão no cárcere de um tempo que nunca será meu)


 DESDE QUE me entendo por gente (e olha que isso faz bom tempo), vivo privado da minha liberdade de ir e vir, custodiado numa cadeia de edificação ciclópica, como se tivesse sido esquecido pelo destino no meio do Oceano Atlântico, e onde a minha cela, para piorar meu quadro diabólico se assemelhe a uma espécie de gaiola dos loucos e desvairados, como a das edificadas naquela antiga prisão do século dezenove, conhecida como a fortaleza de Boyard, erigida entre as ilhas de Aix e Oléron, no sudoeste da França. De uma dessas celas, tento, em vão virar fumaça em pleno ar, sem, no entanto, lograr êxito de pelo menos dar de cara com uma chaminé salvadora.  

Na verdade, esse cárcere não fica muito distanciado de se assemelhar — sem tirar nem pôr — a um daqueles cativeiros dos tempos da Roma antiga onde se confinavam os escravos rebeldes desobedientes de seus amos e senhores. Faço referência, obviamente, ao calabouço dos tempos — ou seja — registro a minha desdita como se morresse um pouco a cada dia num lugar ermo e ignominioso destituído das benesses de um céu mavioso e de um sol bonito e aconchegante incrustrado nos cafundós de meu “eu” interior. Em meu recôndito, os minutos se arrastam como correntes enferrujadas e as horas se amontoam sobre os ponteiros como pedras pesadas ao redor dos meus pés de passos calejados. 

O tempo — essa entidade implacável — construiu, para mim, um mundo de paredes invisíveis, tipo um labirinto que exala o tempo todo um estado de desespero e a noção de “passado presente-e-futuro” se entrelaça em uma espécie de música bestificada enlaçada numa dança lancinante e enganosa de vida perpétua. Cada dia, quando acordo, tenho a impressão de que o cubículo onde me encontro, mostra meu corpo acrescido de um novo grilhão. Com ele, igualmente acorrentado, a minha liberdade de voar, fugir, sumir, dar no pé, entra em parafuso torto. Enfim, o delírio de me escafeder para algum lugar menos desumano, vai na onda. Mingua, perde a textura. Com isso, as tentativas me parecem e se me afiguram como um registro do rascunho de uma lembrança distante, assim como uma promessa que nunca chegará. 

Sempre que desperto, a cada manhã, o mesmo ciclo de flagelos volta à carga. Retorna com força total, como se eu estivesse manietado em um loop interminável de rotinas e obrigações das quais não poderia, de nenhuma forma, abrir mão. Os minutos, por conta, parecem se esticar e encolher, brincando com a minha percepção, fazendo com que o tempo (o meu tempo) passe à revelia, e, para meu desassossego, se consuma de forma cruel e caprichosa. De contrapeso, o meu passado, com suas memórias e arrependimentos, se faz vivo como uma sombra constante. 

As sombras nos contornos de um rosto extremamente negro, como a destituição total da ausência de sol no Círculo Polar Antártico, ao sul do planeta Terra. Essa negritude, a bem da verdade, me persegue com suas imagens fragmentadas de sons e ruídos, barulhos e fuzarcas que não consigo esquecer. Tento, em vão, mas ao final, me desencorajo vencido e acuado. Cada escolha que faço errada, cada momento que já me chega perdido, se reflete nas paredes e nas grades de minha prisão. O que poderia ter sido e o que realmente foi, se unem, se misturam, se mesclam, se associam em um mosaico de nostalgias e arrependimentos.

O meu imediato, o meu hodierno, o meu agora, ou ainda, o meu espaço efêmero e fugaz —, em outras palavras de igual porte —, ou sintetizando, o profundo rés-do-chão onde vivo e vegeto a maior parte do tempo, não me deixa deslanchar, singrar novos ventos, ou reviver ainda que por um espaço ínfimo, o sonho de Ícaro. Mesmo aqui, alfinetado pelos percalços diurnos diários, a sensação malograda e frustrante de estar encadeado, chumbado, aferrado e submetido, não me larga, não me deixa, não me abandona, tampouco desgruda. O presente, o meu presente é ainda uma série de tarefas intermináveis repletas de responsabilidades esmagadoras. Cada uma delas se arrastando de volta à minha cela. 

As oportunidades surgidas, parecem escorregar entre os meus dedos, como areia fina que não possa de nenhuma forma humana segurar. O meu amanhã, por outro lado, ou o porvir dilatado das minhas quimeras, é um horizonte afastado, frio gélido e nebuloso. Parece uma promessa fria e fraca, tipo assim, um Nirvana que possivelmente nunca se materializará. Apesar desses prós e contras, não estou de braços cruzados, ou “A espera de um milagre,” como o calvário vivido por John Coffey, que morreu inocente na cadeira elétrica, por um bárbaro crime que não cometeu. Os fenômenos incomuns nunca foram meus parceiros. 

Sempre se fizeram distanciadamente elásticas. Espero e planejo. Entretanto, a incerteza, ao contrário, é a única certeza dentro do meu agora. A cada passo que empreendo em direção ao futuro, ou ao que presumo ser um trajeto de fisionomia próspera, porém, tal civilidade não se materializa. Em razão disso, me sinto um zero ao quadrado. Um “nada” obtuso puxado de volta para um buraco de profundidade sem via segura, de onde possa regressar, alvissareiro, sem as espessas correntes de um tempo magnânimo não me tolhendo o seguir adiante. Sempre que tento escapar desse inferno que me queima os ossos, apesar de todos os esforços.

A verdadeira liberdade (pelo menos o tênue sopro que às vezes me contempla), ou dito de forma mais esclarecedora, a que sonho vinte e quatro horas, surge em forma de um devaneio, ou um ponto equidistante. Uma quimera disparatada. Tudo me chega como uma visão distorcida, alterada, disparatada que se dissolve quando tento alcançá-la. As horas passam, os dias se tornam semanas, e as semanas se transformam em anos. O tempo, ou o meu tempo é o meu carcereiro implacável, e eu sou seu prisioneiro. No entanto, talvez a verdadeira chave para a minha liberdade esteja na aceitação do tempo como ele é, ou, de alguma forma ainda não aprendida, careça de escavar e a condicionar como previsível o imprevisível, e, infinitamente impersistente, o persistente. 

Viver atado às garras de um cubículo do tempo é um desafio constante. Talvez, acredito seja a mesma senda, ou uma oportunidade única para me encontrar em algum lugar seguro. Um espaço que não repita esse canto em que estou. Mas a pergunta é: encontrar exatamente o quê? Afinal, em que mundo vegeto? Sempre me questiono e não obtenho resposta. Seria o significado nas ínfimas bobagens não vistas, as coisas ou as brechas, ou entre os percalços e os grilhões perseguidos que me atormentam? Oxalá, no final, a verdadeira liberdade não seja a ausência de tempo. Por certo, a minha felicidade se coadune ao fetiche da capacidade de viver plenamente dentro de suas garras e literalmente envolto dos calcanhares à raiz dos cabelos, “titaniquiados” sei lá, no naufrágio inaudito das minhas próprias e severas limitações.

Fonte: Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

sábado, 7 de dezembro de 2024

Luiz Poeta (Nuvens de Sonhos) 03

 

José Feldman (Arauto do Amanhecer)

 Texto dedicado ao amigo A. A. de Assis 

 Ah, poeta, como é lindo
teu trabalho, e quão fecundo...
- Noite e dia produzindo
sonhos novos para o mundo!
A. A. de Assis (Maringá/PR)


Ah, poeta, como é lindo o teu trabalho, um ofício que floresce nas entrelinhas da vida. A cada verso, a cada rima, você dá vida a mundos invisíveis, onde a imaginação dança livre. É um dom fecundo, como um jardim repleto de flores que desabrocham em cada estação, trazendo cores e aromas que encantam a alma.

Noite e dia, você se entrega à criação, mergulhando nas profundezas do ser e das emoções. Em cada momento de solitude, transforma silêncios em palavras, como se o universo sussurrasse segredos que apenas você pode captar. Sua caneta é a extensão do coração, capturando a essência do que é humano, do que é belo e doloroso.

Produzindo incessantemente, você tece sonhos novos para o mundo. Cada poema é uma semente lançada ao solo fértil da esperança, um convite a sonhar, a refletir, a sentir. As páginas se enchem de histórias que ressoam em todos nós, despertando memórias adormecidas e anseios por um futuro melhor.

Assim, você se torna o arauto de um novo amanhecer, a voz que ecoa na eternidade, lembrando-nos de que a arte é um farol na escuridão. Ah, poeta, teu trabalho é uma ode à vida, um presente que nos inspira a olhar além, a buscar a beleza nas pequenas coisas e a acreditar que, mesmo em tempos difíceis, os sonhos ainda têm o poder de transformar o mundo.

Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Eduardo Martínez (Que nem hamster na roda)

Hoje acordei indisposto. E pensar que logo ontem estava que nem hamster dando voltas intermináveis naquelas rodas, ritmo frenético que nem... Que nem? Ah, que nem textos daquele escritor gaúcho... Melhor nem falar quem. Vá que alguém comece a me xingar? Nem sei se você já leu, mas vou logo avisando que o rojão é daqueles que provocam o maior estrondo. Emoção à flor da pele. Não nasci com aquela coragem toda que ele possuía de se expor. Covarde que sempre fui, prefiro me esconder atrás das minhas personagens. 

Do jeito que estou, que me venha um poema ou um conto do Daniel Marchi. Melhor poesia, que me transporta para algo que pinga fora da prosa. Ademais... De onde tirei esse ademais? Que seja ademais. Então, ademais, poesia me perturba a mente, que vaga toda vagabunda por ruelas tipo aquelas próximas ao Centro Cultural Banco do Brasil no Rio. Conhece? Pois deveria. 

Ando desgostoso, não da vida, mas da humanidade. Que lástima ter nascido preso ao corpo de uma espécie tragicamente fracassada. Que duraremos pouco, não tenho dúvida, só não calculo o estrago que ainda poderemos fazer. Enquanto isso não chega, e creio que ainda levará algumas gerações, estou aqui apreciando meu café gourmet, ao mesmo tempo em que ouço os vizinhos gritando gritos aos berros. 

Aliás, dia desses, lá estava no Uber, quando resolvi puxar assunto com o motorista. Quanta asneira em míseros quilômetros! É incrível a capacidade que um homem possui de juntar tantas e tantas bobices numa só mente. Somente numa! 

Por sorte, na volta, peguei outro motorista, este esclarecido. Contei-lhe sobre a viagem anterior, o que o fez gargalhar, mas, logo em seguida, ficamos taciturnos. Pois é, taciturnos, macambúzios, quietos, olhando para o trânsito que ia e vinha, como se alguns carros quisessem fugir, enquanto outros talvez desejassem nos atingir em cheio. Isso é que dá ter consciência de que não temos mais jeito. 

Tudo está aqui dentro, mas nada acontece. Uma hora essa vida tosca acaba. Só desejo estar confortavelmente acomodado em uma rede preguiçosa na varanda, sonhando com a praia, que desejo estar logo em frente, o barulho das ondas quebrando. Se o tempo ajudar, arrisco até um tchibum.

Fonte: Blog do Menino Dudu. 19/11/2024
https://blogdomeninodudu.blogspot.com/2024/11/que-nem-hamster-na-roda.html

Vereda da Poesia = 172


Trova de
ARI SANTOS CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Nesse horizonte infinito, 
onde o clarão é profundo, 
raiam bênçãos, acredito, 
para ungir a paz do mundo.
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Quadra Infantil de
ALCIR NICOLAU PEREIRA
Porto Alegre/RS

Ex-Pirata 

Nem pirata, nem cara de mau
Sou coxo agora de fato
Usaram a minha perna de pau
Pra brincar no jogo de taco
 
Minha cara dantes bonita
Olho de vidro agora não tem
Pois virou pequena bolita
Nos jogos de gude de alguém
 
Perdi tudo que eu tinha de bom
Fiquei sem olho e sem minha nau
Perdi perna que fazia mau som
E acabei nunca mais sendo mau
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Trova de
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Couto/RJ

Dentro do peito, profundo,
meus sentimentos concentro...
Não há espelho no mundo
que me desnude por dentro!
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Poema de
MESSODY RAMIRO BENOLIEL
Rio de Janeiro/RJ

Amor virtual

De paixões entendo.
Incomodam muito mais que
injeção de óleo no braço.
E o porquê do fracasso
na relação a dois 

Serão preconceitos
meros   conceitos
ou vontade apenas de
fazer valer "verdades pessoais"?

Sou mais a inconsistência incoerência
demência, todas as "ências"
de um amor virtual.
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Trova de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

Ademar Macedo encerra
nesta vida o seu papel.
Um homem que deixa a Terra,
um anjo que chega ao céu!
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Soneto de
LUCIANO DÍDIMO
Fortaleza/CE

Vida nova

Vamos arar a terra para o plantio
Às vezes é nas trevas que se semeia
O amor na noite escura melhor permeia
Faz brotar a semente em cada vazio

O perdão sempre acaba com todo estio
Multiplicando paz como grão de areia
Já que a misericórdia desencadeia
Fazendo que o doente fique sadio

Do escuro se distingue melhor a luz
É preciso que a água seja fervida
É preciso que a prata seja fundida

O alívio é privilégio de quem tem cruz
Na fé a nossa dor será arrefecida
Da semente que morre é que nasce a vida
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Esta aliança que um dia,
já guardou nossos segredos;
hoje guarda a nostalgia
das digitais de outros dedos!
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/RJ

Teu perfume

Neste perfume que teu corpo exala,
Inebriando por completo o ambiente,
Invade os meus sentidos e me embala
se espalha em meu olfato docemente.

Vertiginosamente me aproximo
quase sem perceber sigo teu passo,
em teus abraços me enroscando arrimo
pelo aroma atraída  a teu regaço.

Com todos os sentidos extasiados
numa entrega completa aos teus carinhos
meus membros obedecem exaltados.

Anseios satisfeitos relaxados...
Permanece o perfume, teus cheirinhos,
sentimentos tranquilos saciados.
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Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Não importam a censura
e o louvor da sociedade:
procuro viver à altura
da minha própria verdade!
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Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Sol e lua

Hoje, no lusco-fusco da manhã,
a lua cheia fulgurante e bela
trocou seu branco pálido-maçã
por rara maquilagem amarela.

Buscou bem alto o céu, sempre no afã
de embelezar-se mais que uma aquarela,
e assim ficou na espera de seu fã,
que não tardou em vir buscar por ela!

Afobado, surgiu o sol bem rubro,
com os trajes próprios para o mês de outubro,
sem se lembrar de que ainda é só agosto!

A lua se assustou, perdeu a cor
e sob as nuvens escondeu seu rosto...
Fazendo que nem viu seu grande amor!
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

O meu sonho é uma tapera
que nenhum caminho corta;
e assim mesmo ainda espera
que alguém bata à sua porta!
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Hino do
ARQUIPÉLAGO DE FERNANDO DE NORONHA/ PE

Entre ondas bravias, azuis
Sob um céu sempre cheio de luz,
Há um pedaço da minha terra,
Esta ilha, que a todos seduz.
Brancas praias, rochedos, luar
E o Pico, altaneiro, sem par,
Fernando de Noronha é um sonho
Do qual ninguém quer despertar.

Quem já viu qualquer coisa mais bela
Que os abismos do Sancho e Sapata,
Italcable, Cacimba do Padre
E o mar, espumando na Rata?
Atalaia, baía Sueste,
E, no mastro do forte, a bandeira,
São cenários que nunca se esquece,
São lembranças para a vida inteira!.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Meus retalhos de esperança,
juntei-os, pus no correio.
( Destino, velha criança,)
mas a resposta não veio.
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Recordando Velhas Canções
NA CADÊNCIA DO SAMBA 
(samba, 1962) 
Paulo Gesta e Ataulfo Alves

Sei que vou morrer, não sei o dia
Levarei saudades da Maria
Sei que vou morrer, não sei a hora
Levarei saudades da Aurora

Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita de um samba
Mas o meu nome ninguém vai jogar na lama
Diz o dito popular
Morre o homem fica a fama
Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita de um samba
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Trova de
GERSON CESAR SOUZA
São Leopoldo/RS

Dizem que eu sonho em excesso...
Mas insisto em voos altos!
E as pedras nas quais tropeço
impulsionam novos saltos!!!
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Sammis Reachers (A segunda vida de Gregor Samsa)

Não posso ver: tudo é sensação, para além ou de antes do visual, transcendência tátil: energias?

Não me lembro completamente quem sou. Lembro trechos. Pedaços de rostos, cadeias de palavras que já não entendo e são música boa ou ruim.

Estou nalguns braços. Alguém me move. Energias fluem, posso senti-las quase como odores. Atravessamos linhas de campos magnéticos. É magnífico este novo sentido, este meu único multisentido, seu caudal de silenciosa epifania.

Lembro-me de destruir o jardim. Apanhei o taco e destruí as roseiras de alguém que não me lembro, alguém muito importante, alguém que importava. Destruí todas aquelas plantas de nomes débeis e frescos que não sei, aqueles nomes inúteis que sempre mantive aquém de mim.

Espalhei as terras, derrubei as pequenas contenções, como meios-fios, que delimitavam aquele inferninho verde. Estranho como disso me lembro bem. Cada movimento acertado.

Parei de ser movimentado: sinto o vento, quentura. Ela é como uma canção. Suas ondas borrifam o que quer que sejam meus receptores, me deitam num torpor adocicado. Sou feliz.

A pulsação que me movimentou aproxima-se, sinto seu avanço pelas linhas do campo magnético, ela deita água em meu pés. Não posso movê-los, nem tento: não anseio o movimento, anseio os movimentos que me vêm: flutuações do campo, comunicações que ainda não decodifico – mas o farei – a viscosidade do calor solar que banha-me, e este furor, esta fome consumindo meus pés: este fausto manjar de águas. Água. Água. Como nunca percebi? Como ela pode ser tão doce, e ter me passado incógnita, obscurecida? Para cada nova sensação faltam-me as palavras, conceitos de perfeito encaixe, mas tal abismo se avoluma ao toque da água. Fruição, tepidez... uma quase promiscuidade, coquetel de psicotrópicos conflitando e equalizando-se, a um só tempo, em meu corpo possuído. Agora percebo que o céu é feito de água, e para ela e para a luz é o meu desejo.

Os campos magnéticos ondulam. O sol cintila. Meus pés alimentam-me. Dormi furioso ontem, não falei com Maria (agora me aflora tal nome), mal lavei as mãos sujas de terra, rolei como um diabo antes de conciliar o sono. Acordei dentro da paz.

Sou planta.

Fonte: Recanto das Letras. 02/10/2016