domingo, 14 de agosto de 2011

Laelson Moreira de Oliveira (Crônica para o Dia dos Pais)


(Parafraseando Rubem Braga)

Meu ideal seria escrever uma crônica que todos os pais pudessem ter acesso, até aqueles que não sabem ler, mas que, ao mandarem alguém soletrar as palavras, pudessem absorvê-las com toda sua ingenuidade e dissessem: “é isso que sou”; porque ali, estaria o retrato do pai que protege e que rir com nossos risos e que chora com nossas lágrimas e que se preocupa com nossas preocupações e que lutam pela nossa sobrevivência e que trabalharam para sermos o que somos.

Meu ideal seria escrever uma crônica que lembrasse de todos os pais; dos que se foram, porque, alguns, partiram sem ao menos terem tempo de se despedirem; dos que estão ausentes, porque precisaram sair para tentar a vida em outro lugar; dos presentes, porque consolam, lamentam, abraçam, reconfortam, aprovam, reprovam… mas ensinam.

Não seria uma crônica triste. Não. Meu ideal seria escrever uma crônica igual àquela em que se retrata o homem; o homem puro, fraterno, sem mágoa, sem manchas, sem sinal de ódio no coração, forte; um homem que mostra o caminho, que reza enquanto não chegamos em casa, que se preocupa por não saber aonde fomos ou estamos, que nos chama a atenção quando dizemos ou fazemos o que não é de direito.

E esse ideal seria a confirmação da nossa idiossincrasia, daquilo que nos foi ensinado, daquilo que representamos.

E esse ideal seria, também, não mais que a inveja boa que temos de querer ter sido ele, nosso pai, que – mesmo que já tenha ido -, não sai, não se apaga da nossa memória.

Meu ideal seria escrever essa crônica, porque sinto vontade de retratar meu pai – e por que não todos os pais? -, em palavras; de desenhar seus traços a nanquim, em formas de letras. Queria, nessa crônica, dizer que a palavra “Pai” representa futuro, que transmite ensinamento, que cheira a saudade, que significa amor. Mas não um amor que mostre, apenas, a cópia fiel do que somos hoje; não, mas um amor que signifique começo, meio e fim: começo de uma vida que o temos como professor; um meio onde o acolhemos como mediador, um mestre, e um fim que acalentamos como certeza de que possuímos um bom e verdadeiro velho pai.

Ah, como queria saber escrever essa crônica! Mas como é difícil! É difícil, porque desenhar em formas de palavras só foi possível no princípio do mundo. E hoje… Ora, hoje se os pais são desenhados em traços desconcertos por mãos de crianças, sabemos que é a pureza de ser representado assim; é, antes de tudo, uma mostra do nosso amor paterno desde o nascimento.

Meu ideal seria escrever essa crônica e, depois que todos os pais a lessem, ela tivesse a magia de aproximá-los mais dos filhos, das esposas, dos amigos, dos irmãos, dos vizinhos, dos genros, das noras, dos netos, dos amigos, dos inimigos… de Deus.

Meu ideal seria apenas querer saber escrever essa crônica.

Fonte:
O Jornal Alagoas

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