quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A. A. de Assis e Elisabeth Souza Cruz (Vaivém do Riso: trovas) Primeiro Volume


Ímpares – A. A. de Assis
Pares – Elisabeth Souza Cruz

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Conversa iniciada em 22-7-11
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1.
Quando moço, acesa a chama
despia-se ante a gatona,
agora veste o pijama
deita de lado... e ronrona.
2.
O meu vizinho se poupa
já que o cansaço é normal...
Quando fala: "Tira a roupa!",
tira a roupa do varal!
3.
Em que aperto o bom velhinho,
de assanhado, se enfiou:
chamou pra cama o brotinho,
e ela, malvada, aceitou...
4.
Brotinho assanhado inventa
mil jogadas para o amor
e o velhinho até que tenta,
mas sai sempre perdedor!!!
5.
Deu desespero no Adão
por ser um “ele” sem “ela”...
Ganhando a dita, o chorão
perdeu a paz... e a costela!
6.
Pode quem quiser falar
pois ninguém sabe o que diz,
tendo a mulher para amar
o homem ficou foi... feliz!
7.
Jamais se viu nesta vida
marido preso em gaiola...
A mulher é mais sabida:
põe-lhe no dedo uma argola!
8.
O homem de argola, também,
ao machismo não se furta:
– faz da mulher seu refém
e a mantém na rédea curta!
9.
De um homem para a mulher
que pede ajuda na pista:
– Desculpe... Se ajuda eu der,
vão me chamar de machista...
10.
A coisa é séria, querido,
tem mulher que é mulher macho...
quando manda no marido
faz dele gato e capacho!
11.
Porém chiar é bobeira...
Quem manda mesmo é a mulher;
tanto é que desde a primeira
faz do marido o que quer...
12.
Bobeira?!... Maior bobeira
é o salário do operário
que trabalha a vida inteira
e não fica milionário!
13.
Também na fauna a justiça
é às vezes discricionária:
dá mole ao bicho-preguiça,
explora a abelha operária...
14.
Falando em exploração,
nunca vi maior babado...
a mulher do capitão,
como explora o rebolado!!!
15.
Lá vai o siri-patola,
todo prosa, a rebolar...
Num puçá se enreda e enrola:
vira petisco de bar!
16.
Falando num bom petisco,
quem não se arrisca, não prova,
como é bom correr o risco
de preparar uma trova!!!
17.
Cinquentão já sou na trova;
na idade, quase oitentão...
Evito, pois, pôr-me à prova:
em museu não entro não!...
18.
Eu também tô quase nessa
e em loja de raridade,
se eu entro, saio depressa
pois pareço antiguidade!
19.
Essa tal de antiguidade
a mim me causa estranheza:
quando perde a utilidade,
é aí que vira riqueza...
20.
Estranheza, caro Assis,
é o que a gente vê "na praça"....
tem gente que pede bis
se uma injeção for de graça!!!
21.
“Ah, que surpresa gostosa!”,
diz a velhinha, feliz,
quando o velho, todo prosa,
dá no couro... e pede bis!...
22.
Buzinando o caminhão,
surpresa boa é a do otário
que dá tempo ao ricardão
para se esconder no armário!
23
Otário simples, legal;
nada faz que prejudique.
O duro é aguentar o tal
do otário metido a chique!...
24.
Com a trova vinte e quatro
me ocorreu agora a ideia:
– ninguém vai mais ao teatro,
pois perde o "acento" a plateia!
25.
Problemas há no momento
em que muda a acentuação.
– De tudo tirem o acento,
porém do “cágado” não!...
26.
O hífen de vice-prefeito,
por certo, não caiu, não,
pois logo depois do pleito
sempre dá separação!
27.
Se acaso se visse o vice
futricando o titular,
um baita disse-me-disse
logo iria se espalhar...
28.
Nunca vi maior tolice
futricar a vida alheia,
pois quem faz disse-me-disse
vai cair na própria teia!
29.
Você sabe o que é que é “teia”?
Não sabe?... Deixo explicado:
– E’ a casca de barro e areia
com que se cobre o “teiado”...
30.
Ra! Ra! Ra! Falando em barro
lembrei da antiga moringa...
água fresquinha! Eu me amarro
e a minha saudade vinga!!!
.
31.
Era uma era inocente,
e a vida era pitoresca:
– um tempo em que toda gente
mantinha a moringa fresca...
32.
Sem juntar alho e bugalho,
quando se fala em moringa,
já me lembrei do baralho,
pois és Assis... meu curinga!
33.
Curinga eu sei que não sou,
mas tenho uns truques sagazes...
– Em meu nome o pai botou
o “aaa”, isto é, três “ases”..
34.
Três "ases"... assim eu digo:
– Um "A" dizendo Alquimia;
O "A" seguinte que é de Amigo
e mais outro "A" de alegria!
35.
Chega manso, pede abrigo,
pede grana... e eu vejo claro:
esse é o tal de caro amigo
que em verdade é amigo caro!...
36.
O tipo acima descrito
custa caro e é um desacato...
Mas amigo "Assis", bendito
é simplesmente um barato!
37.
Certos tipos importantes
parecem Marte – um deserto:
vistos de longe, brilhantes;
cascalho apenas, de perto!...
38.
Brilhantes?!! - Pois sem trabalho,
sem ramo profissional,
a moça arranjou um galho
no "distrito" e... é federal!!
39.
Troca o sábio a esposa culta
pela moça apimentada...
– No instante em que a ardência avulta,
cultura não conta nada!
40.
Numa troca de "mulé",
o "mané" ficou na mão,
que a moça que dava "pé"
tinha um baita sapatão!
41.
Nervoso e agressivo quando
alguém lhe pisa no pé,
diz ele: – Estarás pensando
que eu não sou burro, ó mané?...
42.
Na trova há constatação:
- Assim como o português,
que traz muita inspiração,
o "mané" sempre tem vez!
43.
Súbito um rato matreiro
fungou no pé do Mané.
– Supôs ser de queijo o cheiro...
Quis provar... era chulé!
44.
Do teu queijo eu tiro um naco
pois a minha ideia logra...
mudo de pau pra cavaco,
que tal falarmos de... sogra?
45.
Na hora do desespero,
vale tudo, oh Deus, que horror...
Vale até, sem exagero,
chamar a sogra de “amor”!
46.
Sei também de um desespero,
pois o genro, de mutreta,
pôs pimenta no tempero
e a sogra ficou zureta!
47.
Faltam-lhe os “tchans” da “zelite”,
talvez escola e que-tais...
Mas no “tempero”, acredite,
a danadinha é demais!
48.
Tempero lembra cozinha
e a tua trova... "a penosa",
aquela da tal galinha
que no garfo era bem prosa!
49.
Diz ao garfo, humilde, a faca:
– Rema, rema, remarré...
Eu sou fraca, fraca, fraca,
mas corto mais que a cuié...
50.
Quando tem panela cheia
no fogão da cozinheira
sempre acaba em briga feia
que o patrão quer dar "rasteira" !!
51.
Felizardo é o cara esperto
que vai no mato morar.
Lá não tem patrão por perto
nem sogra no calcanhar...
52.
É verdade! Uma mamata
morar longe de patrão...
só não se pode é na mata
ficar na moita.... sem cão.
53.
Bem pior é um menestrel,
quando lhe apura a barriga,
na moitinha, sem papel,
ter que usar folha de urtiga...
54.
Querido.. eu não faço intriga,
mas veja a situação:
na moita, anda dando briga,
por dinheiro em cuecão!!
55.
Tudo o mais é mera intriga,
fabulazinha bizarra...
– O chato é ser a formiga
“cantada” pela cigarra!
56.
E por falar em cantada
quem canta seu mal espanta?
Eu sou tão desafinada
que nem galo se levanta!!!
57.
Quando o galo nega raça
e precoce o caldo entorna,
a frangona, por pirraça,
dá-lhe um ovo... de codorna!
58.
Eu falo e tenho respaldo,
pois em canja de galinha,
para aumentar mais o caldo,
pegue a sopa da vizinha!.
59.
Alarme no galinheiro.
– Será que há gambá na granja?...
– Bem mais grave: é o cozinheiro
que avisa: “Hoje vai ter canja!”...
60.
E foi tamanho o brigueiro,
pois dona "Gala" se zanga,
já que o galo, que é frangueiro,
logo quis salvar a "franga"!
61.
Fui à feira a fim de frango;
frango fresco ali faltava.
Fiquei fulo e ao fim meu rango
foi farofa, alfafa e fava.
62.
A minha ideia não míngua,
e eu lhe mando "plantar fava",
pois compondo um trava língua,
minha própria língua trava!
63.
Calma aí, não fique brava
com a minha brincadeira...
Se quiser, eu planto fava,
batatas, a horta inteira...
64.
Assis... eu não me detenho
e agora pego carreira:
– quero ver teu desempenho
se "plantares bananeira"!!!
65.
Nada há que mais atraia
a molecadinha arteira
que moça de minissaia
quando planta bananeira...
66.
Tu és um sujeito esperto,
(mas só peço que não caias)
quando estiveres bem perto
das moças perdendo as saias!!!
67.
Disse o esperto garotinho
na forçada confissão:
– Olhei pelo buraquinho...
mas não vi “o” da moça não!
68.
Por falar em confissão,
confessa a moça (e reclama):
- Tão pesado é o meu patrão
que quebrou a minha cama!
69.
O funcionário e a patroa
a um baile foram... “ficaram”.
O patrão soube: largou-a,
e os pôs na rua: “dançaram”!
70.
Com duplo sentido, a "dança"
é palavra que marcou:
– nem sempre quem dança, cansa...
mas quem se cansa... dançou!
71.
Até pra fazer pecados
é necessário ser jovem.
Adões e Evas cansados,
nem mesmo as maçãs os movem...
72.
As maçãs, "na velha idade",
lembram uvas, e o idoso,
olhando as "boas" (maldade!),
– Acançá-las?! É penoso!!!
73.
Conhaque no aperitivo,
conhaque na sobremesa...
– E’ assim que o velhinho, ativo,
mantém a velinha acesa!
74.
"Sopre a velinha , sem dó!"
e, na festinha animada,
sopraram tanto a vovó
que ela ficou resfriada!
75.
– Sopre o trombone sem DÓ,
diz a velhinha ao regente...
– Se mande pra LÁ, vovó,
e cuide de SI... SOL-mente!
76.
Assis, neste DÓ RÉ MI,
a trova pede uma pala:
– como é que eu estando aqui,
ouço tanto a sua fala?
77.
Se no dorré não faz sol,
nem também no lami si,
no remi lá do fá-rol
faz redó relá solmi...
78.
No dó ré que a gente inventa,
Antonio Augusto, tem dó!!!
Já vamos para as oitenta
numa brincadeira só!
79.
Enquanto você topar,
sigamos, então, sem medo.
Vamos brincar de brincar,
até cansar do brinquedo...
80.
O desafio me empolga,
eu topo qualquer parada....
E não preciso de folga
porque eu ando eletrizada!

Fonte:
Livro enviado por A. A. de Assis

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