PARADOXO
Que mais posso escrever? perguntaria,
Se preciso fosse achar assunto...
Mas aquilo que nascer precisaria
Virá à luz sem aquilo que pergunto
Pois tão imperioso é o poema
Que tantas vezes temo o que virá,
E o suspense que antecede o tema
É prazer, sofrimento e... Deus dará.
Aquilo que surgiu é verdadeiro
Pelo fato de estar no mundo agora
Como filho de alguém que foi embora,
E que é melhor nem saber o paradeiro.
Mas qual a fonte mesma deste verso
Que falhou em refletir meu universo?
A MOIRA
Ser prudente, modesta, equilibrada,
São coisas que nunca consegui;
Aceitar a pequenez como jornada
No mundo real em que me vi,
Jamais pude acatar e me rebelo
Somente por ser Alma e ignorar
Tudo o que mesmo não for belo
Ou que em beleza não possa transformar.
Meu consolo é que pouco desta vida
Não se pode em arte e graça revelar
Em sua bela imagem refletida.
Só a Moira me é ainda estranha
Como uma estrangeira em nosso lar
Que há muito se hospedou e não se banha...
ANTI-SONETO
Hoje decidi não escrever.
Sinto muito, não haverá soneto.
Não se trata de inspiração não ter,
Mas me faltou este quarteto.
O segundo me parece duvidoso:
É este que só quer aparecer.
Sem ter realmente o que dizer
Poderá criar um círculo vicioso.
Então me reduzi a um terceto:
O próximo, se este me resvale
E seja só um prólogo ou moteto.
Mas pensando bem, é melhor não:
Esta montanha é apenas o seu vale,
Ou uma torre que é só o rés do chão...
AMOR E ARTE (II)
Francamente eu preferia a Morte
Se na vida não mais houvesse Arte.
Sei que é radical e muito forte
Proclamá-lo aqui e em qualquer parte.
Mas Amor é básico e irradiante
E faz rodar a Terra no seu eixo,
O sol e outras estrelas, disse Dante,
(para citar il Vate no seu fecho)...
Se é a Arte que a vida nos sublima
Com as cores mais belas da paleta,
O Amor é quem pinta e ilumina,
Faz obra-prima de simples garatuja,
Cria um Iris em pincelada preta,*
E torna lindo o filho da coruja...
UM ETERNO RETORNO
Os vikings, germanos e outros mais,
Morrer só desejavam com bravura,
Assim como os antigos samurais,
Pra voltar à mesma senda e vida dura.
Assim também est’Alma louca aqui,
Cedo tomada pela arte da Poesia,
Bem cedo irei morrer em nostalgia
Desta vida que, escrevendo, revivi.
Embora alguns bem cheios de revolta,
Acredito que os poetas são divinos...
Mas Deus com suficiente à sua volta
Relança sobre a terra os mais sofridos
Pela saudade dos ventos e dos sinos.
E bá! Tome mais cantos e alaridos!
O MESMERISTA
Meu irmão convidou um jogador,
Seu colega aventureiro e “mesmerista”,
Que dizia anular qualquer pudor
Até de antiga freira ou normalista.
E que usara esse poder para vencer
No pôquer, o que quase lhe custara
A vida e mais um olho de sua cara
Retirado a canivete, sem tremer.
Mas a pedido dele em reservado,
Deixei caolho-rei dos fascinantes
Exercer o seu dom em pleno prado...
E voltei com o olhar esgazeado
Com passos abertos, claudicantes,
E o ar pleno e perdido das amantes...
A RISADA DA CAVEIRA
O estranho fato de existir a Morte
Só pode ser de Deus a brincadeira
De mau gosto, feia, um tanto forte.
Senão, vejam a risada da caveira:
Seu riso alvar, sarcástico, grotesco,
E o corpo estilizado de fantoche
Do mais puro estilo picaresco
De escultor chegado no deboche.
Também não dá pra gostar da fedentina
Do banquete dos vermes que outrora
Os poetas chamavam de vermina.
Perdoe-me o fiel que tanto reza,
Que acha tudo belo e tudo preza,
E não vê o absurdo sob a aurora...
DE POETAS E POESIA
Poetas somos poucos, não adianta
Dizerem que é qual serviço público
Ou que poeta almoça mas não janta,
Que hoje o leitor é tão abúlico...
A poesia não morreu, está presente
Nas letras das canções que o povo canta
E deixa n’alma a tal rara semente
Que morre, germina e logo encanta.
A Poesia está em tudo, é parceira
Do homem do povo no seu dia,
Que sem ela ninguém suportaria
Vir ao Hotel Mundo em dura estada
Ou nascer de cruel parto sem parteira,
Se não temos mais Queen Mab, nossa fada...
O VÍCIO DO SONETO
Sim, preciso afinal me confessar:
Estou mesma viciada no soneto,
E como em consultório não me meto,
Esse vício vai por certo me matar.
Pois já ando com lápis e bloquinho,
E até com o toco atrás da orelha,
Como o da padaria, lá, do Minho,
Pro verso que me dará na telha,
Pulando um riacho ou na campina,
A brincar com os infantes no jardim,
Até no leito, que não mais de menina,
Onde em ondas de múltiplos orgasmos
Me pego a ver tercetos dentro em mim,
E sílabas contar por entre espasmos...
A VIDA
A vida, meu amigo, é tão estranha
Que não fosse o risco de uma rima
Eu diria que é a teia de uma aranha
E no centro está aquela que dizima.
Ou então que a vida é uma aventura
Num trem fantasma de verdade
Em que os companheiros de tortura
Vão sumindo a cada feia novidade.
Ou ainda que a vida é uma trapaça
E que somos nós o trapaceiro
Vendedor de elixires de cachaça
Para nós e até para os amados
A quem amor juramos, verdadeiro,
Quando mal suportamos nossos Fados.
O SENTIDO DA VIDA
Viver é já por si um bom mistério
Sem resposta no plano da razão
E somente um suposto plano etéreo
Vem ainda alimentar nossa ilusão.
Pois se pensarmos muito no sentido
De estar aqui a comer e ver televisão,
Mesmo sendo um filme divertido,
Ou pior: americano e... de ação,
É pouco, muito pouco e fim de linha
Para uma caminhada tão sofrida,
Já que a humanidade assim caminha.
Mas ser poeta é encontrar o tempo todo
A beleza até na Morte, para a Vida,
A tal da flor a brotar em meio ao lodo...
O PACTO
A vida, meu amigo, não perdoa
O menor engano, erro ou deslize
E cobrará de modo que te doa
Seja aqui, em Paris ou em Belize.
Não poderás fugir pra Patagônia
Se na hora mesma da conquista
Trocares uma rosa por begônia,
E essa não for a flor bem quista.
E se pela atração de suas peles
Casares com um ser incompatível,
Acordo que nem sabes quando seles
E que o Tempo cobrará, embora lento,
Verás que os orgasmos de um momento
Se tornaram essa tua vida horrível…
Que mais posso escrever? perguntaria,
Se preciso fosse achar assunto...
Mas aquilo que nascer precisaria
Virá à luz sem aquilo que pergunto
Pois tão imperioso é o poema
Que tantas vezes temo o que virá,
E o suspense que antecede o tema
É prazer, sofrimento e... Deus dará.
Aquilo que surgiu é verdadeiro
Pelo fato de estar no mundo agora
Como filho de alguém que foi embora,
E que é melhor nem saber o paradeiro.
Mas qual a fonte mesma deste verso
Que falhou em refletir meu universo?
A MOIRA
Ser prudente, modesta, equilibrada,
São coisas que nunca consegui;
Aceitar a pequenez como jornada
No mundo real em que me vi,
Jamais pude acatar e me rebelo
Somente por ser Alma e ignorar
Tudo o que mesmo não for belo
Ou que em beleza não possa transformar.
Meu consolo é que pouco desta vida
Não se pode em arte e graça revelar
Em sua bela imagem refletida.
Só a Moira me é ainda estranha
Como uma estrangeira em nosso lar
Que há muito se hospedou e não se banha...
ANTI-SONETO
Hoje decidi não escrever.
Sinto muito, não haverá soneto.
Não se trata de inspiração não ter,
Mas me faltou este quarteto.
O segundo me parece duvidoso:
É este que só quer aparecer.
Sem ter realmente o que dizer
Poderá criar um círculo vicioso.
Então me reduzi a um terceto:
O próximo, se este me resvale
E seja só um prólogo ou moteto.
Mas pensando bem, é melhor não:
Esta montanha é apenas o seu vale,
Ou uma torre que é só o rés do chão...
AMOR E ARTE (II)
Francamente eu preferia a Morte
Se na vida não mais houvesse Arte.
Sei que é radical e muito forte
Proclamá-lo aqui e em qualquer parte.
Mas Amor é básico e irradiante
E faz rodar a Terra no seu eixo,
O sol e outras estrelas, disse Dante,
(para citar il Vate no seu fecho)...
Se é a Arte que a vida nos sublima
Com as cores mais belas da paleta,
O Amor é quem pinta e ilumina,
Faz obra-prima de simples garatuja,
Cria um Iris em pincelada preta,*
E torna lindo o filho da coruja...
UM ETERNO RETORNO
Os vikings, germanos e outros mais,
Morrer só desejavam com bravura,
Assim como os antigos samurais,
Pra voltar à mesma senda e vida dura.
Assim também est’Alma louca aqui,
Cedo tomada pela arte da Poesia,
Bem cedo irei morrer em nostalgia
Desta vida que, escrevendo, revivi.
Embora alguns bem cheios de revolta,
Acredito que os poetas são divinos...
Mas Deus com suficiente à sua volta
Relança sobre a terra os mais sofridos
Pela saudade dos ventos e dos sinos.
E bá! Tome mais cantos e alaridos!
O MESMERISTA
Meu irmão convidou um jogador,
Seu colega aventureiro e “mesmerista”,
Que dizia anular qualquer pudor
Até de antiga freira ou normalista.
E que usara esse poder para vencer
No pôquer, o que quase lhe custara
A vida e mais um olho de sua cara
Retirado a canivete, sem tremer.
Mas a pedido dele em reservado,
Deixei caolho-rei dos fascinantes
Exercer o seu dom em pleno prado...
E voltei com o olhar esgazeado
Com passos abertos, claudicantes,
E o ar pleno e perdido das amantes...
A RISADA DA CAVEIRA
O estranho fato de existir a Morte
Só pode ser de Deus a brincadeira
De mau gosto, feia, um tanto forte.
Senão, vejam a risada da caveira:
Seu riso alvar, sarcástico, grotesco,
E o corpo estilizado de fantoche
Do mais puro estilo picaresco
De escultor chegado no deboche.
Também não dá pra gostar da fedentina
Do banquete dos vermes que outrora
Os poetas chamavam de vermina.
Perdoe-me o fiel que tanto reza,
Que acha tudo belo e tudo preza,
E não vê o absurdo sob a aurora...
DE POETAS E POESIA
Poetas somos poucos, não adianta
Dizerem que é qual serviço público
Ou que poeta almoça mas não janta,
Que hoje o leitor é tão abúlico...
A poesia não morreu, está presente
Nas letras das canções que o povo canta
E deixa n’alma a tal rara semente
Que morre, germina e logo encanta.
A Poesia está em tudo, é parceira
Do homem do povo no seu dia,
Que sem ela ninguém suportaria
Vir ao Hotel Mundo em dura estada
Ou nascer de cruel parto sem parteira,
Se não temos mais Queen Mab, nossa fada...
O VÍCIO DO SONETO
Sim, preciso afinal me confessar:
Estou mesma viciada no soneto,
E como em consultório não me meto,
Esse vício vai por certo me matar.
Pois já ando com lápis e bloquinho,
E até com o toco atrás da orelha,
Como o da padaria, lá, do Minho,
Pro verso que me dará na telha,
Pulando um riacho ou na campina,
A brincar com os infantes no jardim,
Até no leito, que não mais de menina,
Onde em ondas de múltiplos orgasmos
Me pego a ver tercetos dentro em mim,
E sílabas contar por entre espasmos...
A VIDA
A vida, meu amigo, é tão estranha
Que não fosse o risco de uma rima
Eu diria que é a teia de uma aranha
E no centro está aquela que dizima.
Ou então que a vida é uma aventura
Num trem fantasma de verdade
Em que os companheiros de tortura
Vão sumindo a cada feia novidade.
Ou ainda que a vida é uma trapaça
E que somos nós o trapaceiro
Vendedor de elixires de cachaça
Para nós e até para os amados
A quem amor juramos, verdadeiro,
Quando mal suportamos nossos Fados.
O SENTIDO DA VIDA
Viver é já por si um bom mistério
Sem resposta no plano da razão
E somente um suposto plano etéreo
Vem ainda alimentar nossa ilusão.
Pois se pensarmos muito no sentido
De estar aqui a comer e ver televisão,
Mesmo sendo um filme divertido,
Ou pior: americano e... de ação,
É pouco, muito pouco e fim de linha
Para uma caminhada tão sofrida,
Já que a humanidade assim caminha.
Mas ser poeta é encontrar o tempo todo
A beleza até na Morte, para a Vida,
A tal da flor a brotar em meio ao lodo...
O PACTO
A vida, meu amigo, não perdoa
O menor engano, erro ou deslize
E cobrará de modo que te doa
Seja aqui, em Paris ou em Belize.
Não poderás fugir pra Patagônia
Se na hora mesma da conquista
Trocares uma rosa por begônia,
E essa não for a flor bem quista.
E se pela atração de suas peles
Casares com um ser incompatível,
Acordo que nem sabes quando seles
E que o Tempo cobrará, embora lento,
Verás que os orgasmos de um momento
Se tornaram essa tua vida horrível…
Fonte:Overmundo
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