segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Daladier da Silva Carlos (O Enigma do Sonhador)


Sonhar à tarde não parece agradável ao espírito,
O clarão do dia, ao penetrar o quarto, é perturbador,
Caso não ligue adormecer de qualquer modo,
Este hábito de gastar as horas mornas que passam
Ou de apagar da memória um sentimento negado,
Ainda que o desejo se guarde, triste e abandonado.

Sonhar à tarde desarruma as oportunidades noturnas,
Vez que o sonhador dispensa a presença da ternura,
Porque, à noite, insistirá nos cenários da vigília.
Com parcimônia, finge desinteresse pela aventura amorosa,
Tendo ainda o insuspeitado cuidado de não revelar emoções,
Porque o mal não está no amor, mas no próprio sonhador.

Sonhar à tarde é manter as relações decapitadas,
De modo que as cabeças e os olhares jamais se procuram,
A mão estranha o aperto da outra, até o menor roçar.
Parece não haver sede que sacie as bocas fechadas,
Com seus versos partidos e ecos espalhados pelos cantos,
Então, os momentos são breves, são cárceres de expressões.

Sonha à tarde reduz o significado da esperança,
Ora, as novidades clamam pelos melhores inventores,
Cuja coragem terá de rasgar os panos das mordaças.
Há certamente muito para ser dito na trama dos discursos,
Porém, difícil sempre será interpretar as íntimas diferenças,
Afinal, o lugar do sonhador é menos o sonho e mais o enigma.

Fonte:
Poema enviado pelo autor

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