Sabe, moça, a vida é dura mesmo. É difícil, às vezes, penosa. Principalmente para quem não nasceu em berço de ouro ou, como diz o povão, “virado pra lua”. Por isso, não ouça os vendedores de ilusões que buzinam nos seus ouvidos conselhos fantasiosos.
Sabe aqueles que vivem dizendo para você, através da grande mídia, para “correr atrás do seu sonho”, mesmo que ele seja bem maior do que a agilidade e o tamanho dos passos que suas belas pernas podem dar? Esses são uns raros felizardos que tiveram sorte, bons padrinhos e certa dose de competência e talento. São poucos entre bilhões de terráqueos. Muitas pessoas boas e talentosas, moça, morrem correndo atrás dos seus sonhos, algumas de forma trágica. Algumas até devoradas por rotweillers.
Por isso, moça, sonhe sonhos possíveis. De preferência, sonhe junto com outras pessoas sonhos que vão trazer uma vida melhor para muitos. Que tal um mundo mais justo, onde as pessoas vivam com mais dignidade? Riqueza, fama e poder, moça, são coisas boas sim. Só que a competição desenfreada e o vale-tudo instituído na sociedade par se “chegar lá”, muitas vezes, não compensa o sacrifício. E, principalmente, não compensa os riscos. A chegada ao topo, às vezes, pede um preço que não vale a pena pagar. Quanta gente infeliz no mundo cheia de dinheiro, bens, depressão e drogas!
Sei que é duro, moça, chegar ao fim do mês e fazer e refazer as contas, cortar gastos, economizar nas coisas básicas para continuar a sobreviver. Sei que é duro morar num barraco caindo aos pedaços ou trabalhar para pagar o aluguel e não sobrar dinheiro para a gente se alimentar direito. Sei que a tentação é grande. E, quando o rico e famoso lhe bota seus olhos desejosos e lhe enche de presentes, você se ilude e acha que, um dia, ele vai lhe ajudar a “sair do buraco”.
Mas não é bem assim que as coisas acontecem, na maioria das vezes, moça. Desde tempos imemoriais, o homem usa seu prestigio, riqueza e poder para seduzir, usar e depois descartar as mulheres. Quanto mais bem sucedido o sujeito, mais canalha ele costuma ser. Essa é a lei da vida. Desde tempos imemoriais, prevaleceram os sistemas econômicos e políticos que privilegiaram o egoísmo e a busca do prazer individual a todo custo. Hoje, vivemos num mundo que incentiva o consumismo e a busca frenética do dinheiro. O “vencedor” é aquele que atropela seus concorrentes, acumula mais riquezas e defende seu patrimônio com unhas e dentes. E a mulher que tenta encurtar o caminho para uma vida farta, buscando, de alguma forma, colocar-se sob as asas de um rico e famoso, muitas vezes, corre um grande perigo.
Ah, mas eu sei me cuidar! Comigo essas coisas não acontecem, você diz. Não, moça, todo muito sabe se cuidar, mas contra bandido violento e psicopata endinheirado não existem formas de se precaver. E eles existem aos montes vivendo entre nós. São os “vencedores”, que impressionam as mulheres porque são capazes de tomar decisões rápidas e remover os obstáculos que os separam de suas metas. Não têm medo de nada. Nem de matar quem se colocar no seu caminho e ameaçar seu patrimônio. Eles se acham acima da lei. Aliás, eles se acham acima de tudo e de todos. Sempre acreditam na impunidade, no poder do prestígio e do dinheiro, e na competência de seus advogados também “vencedores” para cometer seus crimes sem prestar contas à justiça. Ah, moca, é muito triste dizer isso, mas dinheiro e bens, nas mãos de certos homens, só servem para facilitar a prática do mal.
Vai, moça, trabalha, estuda, rala pra valer. O mundo está mudando e as mulheres, a cada dia que passa, têm mais chances para conquistar um bom emprego e viver uma vida digna. Talvez essa vida não seja tão farta como a daquelas mulheres que vivem sob a proteção (e o jugo) de um sujeito rico e famoso, mas é uma vida digna. Vai à luta, moça! Não em busca de um sonho de princesa, mas em busca do sonho de se tornar uma pessoa digna. Procure sim, seu príncipe encantado. Muitos deles andam por aí, disfarçados de plebeus. São rapazes cheios de dignidade e amor pra dar. Não têm dinheiro, nem são famosos. Mas têm disposição para lutar por uma sobrevivência digna. Talvez sua história com um deles não dure, Mas a vida é assim mesmo. Se você souber escolher seu parceiro e fugir daqueles que passeiam entre as colunas sociais, os cadernos de esportes e as páginas policiais dos jornais, e se evitar, principalmente, qualquer homem que tenha o péssimo hábito de erguer a mão para agredir uma mulher, o máximo que você vai conseguir, após uma separação, será um divórcio. E aí, você recomeçará sua vida. Ao contrário de muitas outras que, desossadas e concretadas, não terão nova chance e nem o direito a um enterro digno.
Fonte:
http://www.joaquimevonio.com/espaco/luiz_lirio/luizlirio.htm
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