terça-feira, 14 de agosto de 2012

Nilton Manoel (Didática da Trova) Parte 4

CAPITULO II

A ESTRUTURA POÉTICA DA TROVA


Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém;
-Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem”
.
(Luiz Otávio)

Nos dicionários, ainda, a antiga definição de trova:

1.Composição lírica ligeira e mais ou menos popular. 2. Quadra de tom popular.TROVADOR:-Designação dos poetas líricos dos séculos XII e XIII, do sul da França, especialmente da Provença.2. Designação dos poetas líricos portugueses que, nos últimos séculos da Idade Média, seguiam o estilo dos poetas provençais.3. Aquele que trova;poeta (1). 4. Poeta medieval; menestrel. (FERREIRA, 2001,p.690).

Como nas trovas apresentadas no capítulo I, todas têm a mesma forma, ou seja, a definição literária “composição poética de quatro versos com sete sílabas, rimando pelo menos o segundo com o quarto e tendo sentido completo”. A definição está em Meus Irmãos, os Trovadores, de Luiz Otávio, pág. 12, Vecchi,1956, considerado como o início do Movimento Literário de Trovadores. A trova é síntese; é um micro-poema que encanta tanto que, o trovador, com arte transforma célebres sonetos (dois quartetos e dois tercetos) em uma “quadrinha” apenas. Em Língua e Literatura-Luso Brasileira, Delson Gonçalves Ferreira, afirma;

“Djalma de Andrade escreve:
“Carlos Góis, grande professor de português que aqui viveu cerca de trinta anos,era, com muita razão,admirado e querido. (...) Quando colecionava cantigas populares para seu livro de mil trovas, acreditava que o “Mal Secreto” de Raimundo Correia fora inspirado na seguinte quadra sertaneja:

“De muita gente que existe
E que julgamos tão ditosa,
Toda ventura consiste
Em parecer venturosa”. (*)


Engano do mestre. A trova não é popular. Medeiros e Albuquerque a compôs, entre outras, quando quis sintetizar em poucos versos os sonetos de célebres poetas brasileiros.” ( Estado de Minas 5 - 6- 1959 ). (*) No rodapé da página, encontramos; 10 - C.Góis – Mil quadras populares brasileiras- RJ.1916.

Sonetos inesquecíveis são reduzidos a 28 sílabas de uma Trova.

Há quem me julgue perdido,
porque ando a ouvir estrelas...
Só quem ama tem ouvido
para ouvi-las e entendê-las.


Apresentamos aqui, o soneto XIII, de Olavo Bilac: Ouvir Estrelas, para que possamos verificar em cada verso, três sílabas a mais do que os setissilábicos da Trova. Este tipo de poema é composto de duas quadras e dois tercetos. Temos os sonetos heróicos com dez sílabas poéticas e os alexandrinos com doze sílabas poéticas. O soneto e a trova têm história secular. Na feitura, o poeta, precisa cuidar do entrelaçamento dos versos para fortalecer a oralidade da mensagem.

OUVIR ESTRELAS

Ora (direis)ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! ” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las. Muita vez desperto
Abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do Sol, saudoso e em pranto
inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora:” Tresloucado amigo
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?

E eu vos direi: Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”


Nos concursos literários em geral, exigem-se rimas ABAB, ao estilo deste feliz achado de Adelmar Tavares

Que linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer;
-Tão fácil depois de feita.
-Tão difícil de fazer!


Sentimos na mensagem que a produção literária requer cuidados especiais de “ corpo (forma) e alma (fundo)”. Isto lembra Olavo Bilac em “Profissão de Fé”:

Quero que a estrofe cristalina,
dobrada ao jeito
do ourives, saia da oficina
sem um defeito.


Alguns trovadores, por vezes, descontentes com o produto final de seus textos, como justificativa, usam da mensagem de Somerset Maughan: “ eu não escrevo como quero; escrevo como posso”. (LOUREIRO, p.17,1976)

continua

Fonte:
Nilton Manoel. A Didática da Trova. Batatais, 2008.

Nenhum comentário: