sábado, 8 de setembro de 2012

Wagner Marques Lopes/MG (As Multifaces da Saudade)

Sol poente, tela de Tarsila do Amaral
A saudade é tão ladina
que se retrata a valer:
em mil imagens me ensina
a recordar o viver.

Seja de andrajos vestida
ou trajada de princesa,
saudade é sempre garrida,
um encanto, uma surpresa!...

A saudade pequenina
tem certo preciosismo:
é casinha na colina –
lá morar o quanto cismo.

A saudade é, em verdade,
ação do mar, por que não?
Rolam seixos de saudade
nas praias do coração.

Moroso... De quando em quando,
ele passa... Mal avança...
Saudade – um trem transportando
todo o peso da lembrança.

Minha família seguia
buscando terras além...
A saudade, hoje em dia,
é viajora de trem.

Contadora de meus casos
dos bons tempos que vivi!...
Saudade não marca prazos
para me ver por aqui.

Saudade é clarão, lampejo
de um paraíso distante –
quem dera eu tivesse o ensejo
de vivê-lo, a todo instante.

Fim de tarde... Um sol mortiço
a cair lá no poente...
Saudade – não mais que isso –
tênue luz dentro da gente.

Trovadores e poetas
são seus admiradores:
a saudade – atriz completa,
em seus papéis vencedores.

Ao escrever estes versos,
uma tristeza me invade:
com retratos tão diversos,
eu começo a ter saudade...

Fonte:
O Autor

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