ANTONIO FILGUEIRAS LIMA
Lavras da Mangabeira 1909 – 1965
SÍMBOLO DO FIM
Hão de viver-me sempre, na memória,
este crepúsculo e esta despedida.
A beleza da tarde é merencória...
A luz do teu olhar é dolorida...
O sol, num instante último de glória,
beija as rosas vermelhas da avenida.
E morre, entre suspiros, esta história,
que era todo o esplendor da nossa vida!
Tua trêmula voz, dói-me escutá-la.
Na tarde passa uma andorinha leve,
sozinha e triste, pelo céu de opala.
- Adeus, adeus! respondes-me chorando.
Vai-se a felicidade, que foi breve,
como a andorinha que fugiu do bando...
POEMA DA DISTÂNCIA
A Stênio Gomes
No coração do espaço
a noite acordou, com a sua mão de sombra,
as notas de ouro das estrelas.
E a imponderável música dos astros
veio descendo,
por uma escada trêmula de luz,
até o chão colorido do jardim.
Todas as rosas cantaram
pela voz ignota dos perfumes...
Foi aqui - eu me recordo ainda! -
que, numa noite assim,
à música sonâmbula das estrelas
recebi tuas últimas carícias!
Na penumbra
o repuxo, tristíssimo, chorava...
Depois
a poeira violácea da saudade
escreveu, entre nós, o poema da distância...
A CIGARRA E A FORMIGA
Passada a quadra invernosa,
de sofrimento e expiação,
a cigarra desditosa
vai gozar outro verão.
O ouro do sol espadana
pelos vales e campinas.
Toda a terra se engalana
de fulgurâncias divinas.
Que alegria, que algazarra,
aos resplendores do dia!
É que, de novo, a cigarra
fretine, canta, zizia. . .
A burguesa da formiga
vê então que a sorte é vária
Tem inveja da cantiga
da cigarra proletária.
Quem lhe dera aquele canto,
que todo mundo aprecia,
para encher o seu recanto
de música e de alegria!
E, à porta do formigueiro,
onde a fartura se abriga,
ela, passa o dia inteiro
bebendo aquela cantiga. . .
Fala à cigarra - a formiga,
que de vergonha se cobre:
- De nós duas, minha amiga,
eu sou, decerto, a mais pobre.
De que me serve o celeiro
em tempos fartos e bons?
Você, se não tem dinheiro,
é milionária de sons!
E eu negar - oh! que tristeza!
um simples naco de pão
a quem possui a beleza
sonora deste verão.
Que inveja ao vê-la, taful,
cantando, pelo arrebol,
na glória do céu azul,
dentro de um raio de sol!
A cigarra não responde
à vil formiga vulgar.
Porém, no verde da fronde,
põe-se, mais alto, a cantar!
RELÓGIO
Bates, de hora em hora,
e ouço no teu bater alguém que chora.
É o tempo que soluça em tuas cordas,
diante das horas que passam,
sinuosas, trêfegas, volúveis,
deixando um beijo em cada curva
e uma saudade em cada beijo...
Elas dançam
o bailado da ilusão:
rápidas chegam
e, rápidas, se vão,
como sombras que apenas deixam
outras sombras em nosso coração...
Quando te escuto,
ó meu velho relógio de parede,
conta-gotas de horas convencionais,
lamento a tua faina inglória e vã,
porque - bem sei - não poderás jamais,
embora andando e pelejando assim,
medir as horas infinitas
do Tempo que não tem fim.
Fonte:
Antonio Miranda
Lavras da Mangabeira 1909 – 1965
SÍMBOLO DO FIM
Hão de viver-me sempre, na memória,
este crepúsculo e esta despedida.
A beleza da tarde é merencória...
A luz do teu olhar é dolorida...
O sol, num instante último de glória,
beija as rosas vermelhas da avenida.
E morre, entre suspiros, esta história,
que era todo o esplendor da nossa vida!
Tua trêmula voz, dói-me escutá-la.
Na tarde passa uma andorinha leve,
sozinha e triste, pelo céu de opala.
- Adeus, adeus! respondes-me chorando.
Vai-se a felicidade, que foi breve,
como a andorinha que fugiu do bando...
POEMA DA DISTÂNCIA
A Stênio Gomes
No coração do espaço
a noite acordou, com a sua mão de sombra,
as notas de ouro das estrelas.
E a imponderável música dos astros
veio descendo,
por uma escada trêmula de luz,
até o chão colorido do jardim.
Todas as rosas cantaram
pela voz ignota dos perfumes...
Foi aqui - eu me recordo ainda! -
que, numa noite assim,
à música sonâmbula das estrelas
recebi tuas últimas carícias!
Na penumbra
o repuxo, tristíssimo, chorava...
Depois
a poeira violácea da saudade
escreveu, entre nós, o poema da distância...
A CIGARRA E A FORMIGA
Passada a quadra invernosa,
de sofrimento e expiação,
a cigarra desditosa
vai gozar outro verão.
O ouro do sol espadana
pelos vales e campinas.
Toda a terra se engalana
de fulgurâncias divinas.
Que alegria, que algazarra,
aos resplendores do dia!
É que, de novo, a cigarra
fretine, canta, zizia. . .
A burguesa da formiga
vê então que a sorte é vária
Tem inveja da cantiga
da cigarra proletária.
Quem lhe dera aquele canto,
que todo mundo aprecia,
para encher o seu recanto
de música e de alegria!
E, à porta do formigueiro,
onde a fartura se abriga,
ela, passa o dia inteiro
bebendo aquela cantiga. . .
Fala à cigarra - a formiga,
que de vergonha se cobre:
- De nós duas, minha amiga,
eu sou, decerto, a mais pobre.
De que me serve o celeiro
em tempos fartos e bons?
Você, se não tem dinheiro,
é milionária de sons!
E eu negar - oh! que tristeza!
um simples naco de pão
a quem possui a beleza
sonora deste verão.
Que inveja ao vê-la, taful,
cantando, pelo arrebol,
na glória do céu azul,
dentro de um raio de sol!
A cigarra não responde
à vil formiga vulgar.
Porém, no verde da fronde,
põe-se, mais alto, a cantar!
RELÓGIO
Bates, de hora em hora,
e ouço no teu bater alguém que chora.
É o tempo que soluça em tuas cordas,
diante das horas que passam,
sinuosas, trêfegas, volúveis,
deixando um beijo em cada curva
e uma saudade em cada beijo...
Elas dançam
o bailado da ilusão:
rápidas chegam
e, rápidas, se vão,
como sombras que apenas deixam
outras sombras em nosso coração...
Quando te escuto,
ó meu velho relógio de parede,
conta-gotas de horas convencionais,
lamento a tua faina inglória e vã,
porque - bem sei - não poderás jamais,
embora andando e pelejando assim,
medir as horas infinitas
do Tempo que não tem fim.
Fonte:
Antonio Miranda
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