João Guimarães Rosa (Cordisburgo, 27.06.1908 - Rio, 19.11.1967)
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João, meu caro Escritor-Mor,
Broto fino do divino das Gerais.
Hoje você apagaria 105 velinhas,
Porém, as anteviu 59, não mais.
E como seria bom, João,
Se o que houve não tivesse sido.
Você por aqui, de entrevinda,
Anotando os seus encantos
Que sobrevivem tão lindos
Por todos esses nossos cantos.
Depois dos teus, João,
Nossos livros novos andam sem graça,
Falam pouco do imo, do d’dentro,
D’ homens, d’campos e d’animais.
E d’inocências então, nem se falam mais.
Só se pensam em frias capas,
Coisa que sei, Zé Olympio abominava.
E agora, também sem seu amigo Poty,
Os traços d’ilustração perderam em magia,
Restando os atuais miolos das obras
Feito enchimentos, coisa de pouca serventia.
As histórias andam muito urbanas, João,
Como esquecidas vão as suas veredas,
Onde a vida ainda teima tocar por si
A eterna melodia nas folhas do buriti,
Só ouvida pelos bichos e os capins-sedas
Mas o manuelzinho-da-croa inda passeia
Às margens do Urucuia, sobre a areia.
E em suas águas, João, as ariranhas
Estrinçam os cascudos com toda manha.
O lobo-guará, João, inda grita penitência
Bem do jeito que você escreveu,
Só que em verdade ele está mais triste,
Antevendo o fim final de sua existência.
João, caro Poeta-Mor de Cordisburgo,
Redigo-lhe por fim: nossos livros estão sem graça.
Feito você, demiurgo que escreva o belo no comum,
Não apareceu outro. Joãozito, não vi mais nenhum!
Arre!...
=============
Errata: Conforme observação do escritor, no mini-conto havia colocado que Balestra é jornalista, o correto é advogado em Maringá.
Fonte:
Blog do Autor
http://zerobertoballestra.blogspot.com.br
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João, meu caro Escritor-Mor,
Broto fino do divino das Gerais.
Hoje você apagaria 105 velinhas,
Porém, as anteviu 59, não mais.
E como seria bom, João,
Se o que houve não tivesse sido.
Você por aqui, de entrevinda,
Anotando os seus encantos
Que sobrevivem tão lindos
Por todos esses nossos cantos.
Depois dos teus, João,
Nossos livros novos andam sem graça,
Falam pouco do imo, do d’dentro,
D’ homens, d’campos e d’animais.
E d’inocências então, nem se falam mais.
Só se pensam em frias capas,
Coisa que sei, Zé Olympio abominava.
E agora, também sem seu amigo Poty,
Os traços d’ilustração perderam em magia,
Restando os atuais miolos das obras
Feito enchimentos, coisa de pouca serventia.
As histórias andam muito urbanas, João,
Como esquecidas vão as suas veredas,
Onde a vida ainda teima tocar por si
A eterna melodia nas folhas do buriti,
Só ouvida pelos bichos e os capins-sedas
Mas o manuelzinho-da-croa inda passeia
Às margens do Urucuia, sobre a areia.
E em suas águas, João, as ariranhas
Estrinçam os cascudos com toda manha.
O lobo-guará, João, inda grita penitência
Bem do jeito que você escreveu,
Só que em verdade ele está mais triste,
Antevendo o fim final de sua existência.
João, caro Poeta-Mor de Cordisburgo,
Redigo-lhe por fim: nossos livros estão sem graça.
Feito você, demiurgo que escreva o belo no comum,
Não apareceu outro. Joãozito, não vi mais nenhum!
Arre!...
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Errata: Conforme observação do escritor, no mini-conto havia colocado que Balestra é jornalista, o correto é advogado em Maringá.
Fonte:
Blog do Autor
http://zerobertoballestra.blogspot.com.br
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