Havia um rei que tinha uma filha em idade de casar e arranjou-lhe o casamento com o conde de Paris. O Rei convidou o conde um dia para jantar, e quando estavam à mesa, o rei, a princesa, o conde e a corte toda, começou o jantar que foi muito animado, falando-se muito do próximo casamento da princesa. À sobremesa deixou o conde cair um grão de romã na barba, o qual o apanhou com o garfo e o comeu.
Então a princesa disse que não queria ser sua esposa, pois ele, em vez de deixar cair o grão de romã na toalha, o comeu. O conde levantou-se da mesa e jurou vingar-se, dizendo à princesa que ela o desprezava por tão pouco, mas que ainda havia de comer pão de romeiro, beber água de um charqueiro e comer papas em palheiro.
Passados dias, foi oferecer-se ao rei um negro para jardineiro e logo foi aceito. Mas o negro tinha umas maneiras tão delicadas, fazia raminhos tão bonitos, que oferecia à princesa, e com tais artes buscou, que ela se enamorou dele e ambos fugiram. Pelo caminho, a princesa disse que tinha fome, e como ali não houvesse de comer, o negro disse-lhe que, se ela queria, ele iria pedir um bocado de pão a um romeiro que viram no caminho. Ela então comeu o pão e disse: "Ai, conde de Paris, conde de Paris!" O negro perguntou: "Porque o não quis?"
Foram mais adiante, e a princesa disse que tinha sede, e o negro respondeu que ali só havia água de um lameiro. A princesa bebeu e tornou a repetir: "Ai, conde de Paris!" E o negro perguntou: "Porque o não quis?"
Mais adiante, o negro disse à princesa que tencionava ir ver se o conde de Paris os admitiria a seu serviço, pelo menos na cavalhariça. Chegaram ao palácio do conde e mandaram-nos recolher em um palheiro. O negro deixou a princesa só e voltou muito tarde, trazendo uma taça grossa cheia de papas, e disse à princesa que com muito custo as arranjara. Então a princesa perguntou com o que ela as havia de comer e ele disse-lhe que com a mão, e como não podia esperar pela taça, que as colocava na palha, que as comesse ela de lá.
A princesa, como tinha muita fome, comeu como pôde. No outro dia, o negro foi dizer-lhe que, como era preciso que ela se empregasse em alguma coisa, fosse ajudar a amassar o pão, mas que visse, em todo o caso, se roubava alguma farinha, pois aquela gente não lhes dava comer que lhes saciasse a fome.
A princesa com muito custo roubou a farinha, mas não havia remédio, senão obedecer ao negro. Depois disto apareceu o conde de Paris, muito bem vestido e disse que era preciso revistar as mulheres para que não roubassem alguma farinha. Como encontraram a farinha com a princesa, a colocaram na rua, com grande vergonha dela e a mandaram outra vez para o palheiro.
O negro foi ao palheiro e ela contou-lhe o sucedido, e ele respondeu-lhe que ela não tinha jeito para nada. No dia seguinte, o negro disse à princesa que estava para se bordar um vestido para uma princesa que ia ser mulher do conde, e como ela sabia bordar, podia se encarregar disso, mas que visse sempre se roubava algum bocadinho de ouro.
Sucedeu-lhe porém o mesmo que lhe sucedera com a farinha. No outro dia, estava ela toda chorosa, apareceu-lhe o negro acompanhado de muitos criados e trazendo ricas toalhas e bacias de prata, disse-lhe que era preciso que ela se deixasse preparar, porque a mãe do conde desejava ver o vestido antes da noiva do conde o vestir, e como ela era possuía a estatura da dona do vestido, era necessário que o vestisse para ver se estava bom.
Enquanto a princesa se vestia, o negro desapareceu, aparecendo depois o conde, o qual disse à princesa que o negro na verdade era ele, e que tudo quanto tinha feito era pelo grande amor que lhe tinha.
Casaram e viveram sempre muito felizes.
Fonte:
Adolfo Coelho. Contos Populares Portugueses.
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