REBELDIA
Para não repetir
o modelo
que me apresentaram,
escrevi roteiro contrário.
Fixação insana,
não ser igual.
Desperdício e cansaço.
Acordei.
Soltei balaios
de rebeldias e sofrimentos.
Moldes vazios,
insinuo passos que são só meus
e jeito próprio de andar,
para escrever
outro enredo,
nova história...
INTERROGAÇÃO
Quem és?...Quem sou?...O que será de nós
na árdua corrida em busca do infinito,
o passo exausto impulsionado empós
de uma presença que se estende ao mito?!
Quem és?! Quem sou?! Indício ou negação
do feito máximo de um Deus, ou sonho
do Criador que a Si pede perdão,
por ter plasmado um monstro assim medonho?!
O erro estende-se, a trama encobre a luz!
A treva expande-se, o desmando avança!
A fatuidade nega a voz da Cruz!
Falsos ideais afiam sua lança!
Momento amargo!... A Humanidade, enfim,
trêmula indaga e teme os maus destinos!
Definha a última flor do seu jardim,
espinhos vêm coroar-lhe os desatinos!
E sem saber quem sou... e, tu, quem és,
seguimos, de olhos fitos nas estrelas,
a empoeirar no solo os pobres pés
e a conter n´alma, o anseio de colhe-las!
OCEÂNICA
Na partida, um oceano de revolta
cala meu peito em descontentamento.
– Vais aonde? – eu pergunto – onda tão solta?
E ela me corta o coração por dentro.
Sou areia, sou rocha e, em meu tormento,
choro e declamo, e o fogo me devora;
qual vulcão que nos mostra o epicentro,
outro vulcão me nasce aqui por fora.
Na partida, eu prometo consolar-me
do vácuo que me tolhe. E, sem alarme,
no amor a Deus apenas me concentro.
Meu mundo é solidão, é só saudade
de quem levou minha tranquilidade,
de quem partiu meu coração por dentro.
EM FLOR
Circulo nesta alameda muito bela
e, por entre os bancos da praça,
existe em toda a parte, a graça
que aos olhos atentos se revela.
Não sei se minha - ou se é dela
a pureza de vista sem uma jaça
e essa doçura longe da desgraça,
no encanto desta árvore amarela.
Como se tudo fosse um colorido véu,
bem cortado contra o azulão do céu,
está um ipê (em flor) que contemplo.
E escassa é minha palavra, impotente,
para agradecer tal magnífico presente,
que embelezaria até o mais rico templo.
UMA LÁGRIMA DE AMOR
Sonho com uma lágrima de amor,
aquela que renova uma esperança,
que traga para mim, nova aliança
e me faça esquecer tamanha dor…
Sonho com uma lágrima de amor
que me inspire novo alento e confiança,
aquela que me encha de bonança
e expresse um sonho bom! Seja o que for.
Uma lágrima de amor que inspire versos,
rimas perfeitas, vendavais dispersos,
que ressuscite os sonhos que mataste.
Que leve os crepúsculos tristonhos,
saudade das saudades dos meus sonhos
e a névoa das lembranças que deixaste.
CESSAR FOGO
É minha livre e espontânea vontade
acionar o computador amigo
e no silêncio da criatividade,
eu digito a senha e, feliz, prossigo.
Com leveza, dou a palavra ao Sonho
que reage ante a Razão encrenqueira;
a briga antiga me torna tristonho,
ferido pela praxe rotineira.
O Sonho quer contar coisas de flores
sem reter sucata de desamores...
A Razão insiste em falar da vida,
dessa que, muitas vezes, é bandida.
E o Texto se zanga, se insurge e grita...
quer liberdade na palavra escrita!
MARÍLIA
Quisera ser, Dirceu, tua Marília,
a musa que inspira os versos teus,
saber que me dedicas tanto amor
que possa se juntar aos sonhos meus.
Tu e eu enlaçados, na campina
envolvidos, entregues ao afã.
Bucólica paisagem descortina
miragens, ao som das notas de Pã,
borboletas, pássaros e flores,
aromas, doces toques e sabores.
Cativa de teus braços tu me fazes!
Embevecido, Dirceu, te inclinas
e de meu corpo agora entorpecido
sorves todas as gotas cristalinas.
CAUSA MORTIS
Todo mundo que chegava
ao velório do Candinho,
penalizado, falava:
- Morreu como um passarinho.
Um bebum que ali se achava,
curioso, entre o burburinho,
a cada passo escutava:
- Morreu como um passarinho.
Chega alguém que, comovido,
pergunta-lhe ao pé do ouvido:
- De que a morte foi causada?
E o bebum, em tom de prece:
- Também não sei, mas parece
que foi de uma estilingada.
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