domingo, 24 de junho de 2018

Caldeirão Poético n. 10


REBELDIA

Para não repetir
o modelo
que me apresentaram,
escrevi roteiro contrário.
Fixação insana,
não ser igual.
Desperdício e cansaço.

Acordei.
Soltei balaios
de rebeldias e sofrimentos.

Moldes vazios,
insinuo passos que são só meus
e jeito próprio de andar,
para escrever
outro enredo,
nova história...


INTERROGAÇÃO
                         
     Quem és?...Quem sou?...O que será de nós
na árdua corrida em busca do infinito,
o passo exausto impulsionado empós
de uma presença que se estende ao mito?!

Quem és?! Quem sou?! Indício ou negação
do feito máximo de um Deus, ou sonho
do Criador  que a Si pede perdão,
por ter plasmado um monstro assim medonho?!

O erro estende-se, a trama encobre a luz!
A treva expande-se, o desmando avança!
A fatuidade nega a voz da Cruz!
Falsos  ideais afiam sua lança!

Momento amargo!... A Humanidade, enfim,
trêmula indaga e teme os maus destinos!
Definha a última flor do seu  jardim,
espinhos vêm coroar-lhe os desatinos!

E sem saber quem sou... e, tu, quem és,
seguimos, de olhos fitos nas estrelas,
a empoeirar no solo os pobres pés
e a conter n´alma,  o anseio de colhe-las!


OCEÂNICA

Na partida, um oceano de revolta
cala meu peito em descontentamento.
– Vais aonde? – eu pergunto – onda tão solta? 
E ela me corta o coração por dentro.

Sou areia, sou rocha e, em meu tormento,
choro e declamo, e o fogo me devora;
qual vulcão que nos mostra o epicentro,
outro vulcão me nasce aqui por fora.

Na partida, eu prometo consolar-me
do vácuo que me tolhe. E, sem alarme,
no amor a Deus apenas me concentro.

Meu mundo é solidão, é só saudade
de quem levou minha tranquilidade,
de quem partiu meu coração por dentro.



EM FLOR

Circulo nesta alameda muito bela
e, por entre os bancos da praça,
existe em toda a parte, a graça
que aos olhos atentos se revela.

Não sei se minha - ou se é dela
a pureza de vista sem uma jaça
e essa doçura longe da desgraça,
no encanto desta árvore amarela.

Como se tudo fosse um colorido véu,
bem cortado contra o azulão do céu,
está um ipê (em flor) que contemplo.

E escassa é minha palavra, impotente,
para agradecer tal magnífico presente,
que embelezaria até o mais rico templo.


UMA LÁGRIMA DE AMOR 

Sonho com uma lágrima de amor, 
aquela que renova uma esperança, 
que traga para mim, nova aliança 
e me faça esquecer tamanha dor… 

Sonho com uma lágrima de amor 
que me inspire novo alento e confiança, 
aquela que me encha de bonança 
e expresse um sonho bom! Seja o que for. 

Uma lágrima de amor que inspire versos, 
rimas perfeitas, vendavais dispersos, 
que ressuscite os sonhos que mataste. 

Que leve os crepúsculos tristonhos, 
saudade das saudades dos meus sonhos
e a névoa das lembranças que deixaste.


CESSAR FOGO 

É minha livre e espontânea vontade
acionar o computador amigo
e no silêncio da criatividade,
eu digito a senha e, feliz, prossigo.

Com leveza, dou a palavra ao Sonho
que reage ante a Razão encrenqueira;
a briga antiga me torna tristonho,
ferido pela praxe rotineira.

O Sonho quer contar coisas de flores
sem reter sucata de desamores...
A Razão insiste em falar da vida,

dessa que, muitas vezes, é bandida.
E o Texto se zanga, se insurge e grita...
quer liberdade na palavra escrita!


MARÍLIA

Quisera ser, Dirceu, tua Marília,
a musa que inspira os versos teus,
saber que me dedicas tanto amor
que possa se juntar aos sonhos meus.

Tu e eu enlaçados, na campina
envolvidos, entregues ao afã.
Bucólica paisagem descortina
miragens, ao som das notas de Pã,

borboletas, pássaros e flores,
aromas, doces toques e sabores.
Cativa de teus braços tu me fazes!

Embevecido, Dirceu, te inclinas
e de meu corpo agora entorpecido
sorves todas as gotas cristalinas.


CAUSA MORTIS

Todo mundo que chegava 
ao velório do Candinho, 
penalizado, falava: 
- Morreu como um passarinho. 

Um bebum que ali se achava, 
curioso, entre o burburinho, 
a cada passo escutava: 
- Morreu como um passarinho. 

Chega alguém que, comovido, 
pergunta-lhe ao pé do ouvido: 
- De que a morte foi causada? 

E o bebum, em tom de prece: 
- Também não sei, mas parece 
que foi de uma estilingada.

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