quinta-feira, 21 de junho de 2018

Petrarca Maranhão (Buquê de Trovas)


A glória é a ilusão de um bem...
nossa vida um simples ai...
o amor, um sonho que vem...
a morte, um sopro que vai...

As almas de certa gente
se parecem com um porão:
por fora, - que luz candente;
por dentro, - que escuridão!

A ventura é uma quimera
que estranhos caprichos tem,
pois vem quando não se espera,
quando se espera não vem...

Cômico é o mundo, não nego,
quando irônico insinua,
maldoso, que o amor é cego...
mordaz - que a verdade é nua...

Como vive tanta gente
de modo triste e inseguro
sem ver o bem do presente,
por só pensar no futuro! ...

Coração fonte da vida.
Coração fonte do amor.
E há tanta gente, querida,
que o torna fonte de dor.

Da vida que se renova
recolho a matéria prima
- com que faço minha trova...
- com que teço minha rima...

Eu pergunto, muito a medo,
quase a sentir-me um covarde:
- Nasceste por demais cedo,
ou fui eu que nasci tarde?

Felicidade... esperança
de um bem que custa a chegar:
e, afinal, quando se alcança,
se vê fugir... escapar...

Guarda escondido contigo
o amargor que te acabrunha:
não deixes teu inimigo
de teu mal ser testemunha.

Há muita gente infeliz,
por esta tolice imensa:
ou nunca pensa o que diz,
ou sempre diz o que pensa...

Minha trova canta o dia, 
canta a noite e canta o amor. 
Canta a tristeza e a alegria, 
- destino de trovador.

Muito boas as mulheres,
nos são sempre como amigas;
mas cuidado se as tiveres,
um dia, como inimigas...

Não dês a ninguém o gosto
de ver pela tua face,
na tristeza do teu rosto,
o que em tua alma se passe...

Não se deve valor dar
às grandes coisas apenas...
Saibamos valorizar
principalmente as "pequenas"...

Não te apresses. Que são danos
dentro da filosofia?
A vida, há milhares de anos,
recomeça todo dia...

Não te queixes desta vida.
Nunca sabes com razão,
se a de quem com a gente lida
resiste à comparação...

Ninguém é dono de nada.
E quem se conhece, quem?
Tudo é vaidade emproada
dos que se julgam alguém...

Nos recessos de minha alma
há dois seres bem diversos:
um que luta, sem ter calma,
outro, manso, que faz versos...

O amor é tal qual um rio
em caminho para o mar...
de repente faz desvio
para um rumo irregular...

O relógio bate as horas...
Na igreja, repica o sino...
E só tu, Amor, demoras
a surgir no meu Destino!...

Por entre mil embaraços,
luto contra anseios vãos:
quero cair em teus braços,
mas nunca nas tuas mãos...

Se ela, afinal, com delícia
te deu a boca a beijar,
com um pouco mais de malícia
tudo o mais hás de alcançar...

Se queres um bom conselho,
muito útil e bem pensado,
- nunca metas o bedelho
onde não fores chamado...

Sobre a montanha da vida ,
raro se pode saber
se ainda se está na subida,
ou já se vai a descer...

Um paradoxo qualquer,
sempre da vida nos vem:
- quando a gente tem, não quer...
- quando a gente quer, não tem...

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