LAURÉIS
“Quanta razão há de te amar."
(Ct. 1.4)
Tua face é formosa,
É quente a tua mão,
Porém, muito mais
É o teu coração.
Teus lábios vermelhos
Só trazem saudade,
Porém, mais ainda
Traz tua bondade.
Teu timbre de voz,
Por si, tem alento,
Mas nada supera
Teu temperamento.
Cabelos em pluma
Qual véu de inocência,
Mas nada ao valor
Da tua consciência.
Teus olhos são virgens?
Teus seios - candura,
Mas quanto é maior
A tua alma pura.
Tua boca é preciosa
Como ouro de lavra,
E não se compara
Com tua palavra.
Teu ser é perfume
De mil manacás,
Mas é superior
O amor que me dás.
Teu ser, por inteiro,
É bela canção;
És letra de um hino,
És minha oração.
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PERDOA-ME
"Volta, volta, ó Sulamita.”
(Ct.7.1)
Perdoa-me, Amor,
A intransigência;
Olha pra mim
Dá-me clemência;
Não vai deixar-me
Aqui sozinho;
Preciso muito
Do teu carinho!
Não me olhes mais
Com duros olhos!
- Olhos de águia
Nos meus escolhos!
No rosto lindo
Eu vi rancor,
Dilacerando
O meu amor.
Eu sou deserto
Perdido ao longe,
Que na oração
Medita o monge;
Eu sinto a brisa
Beijando a areia,
Teu doce hálito,
Linda Sereia!
Canta pra mim!
Sibila ao vento!
Ó Serenata,
És acalento!
Tens o amor
Que me inebria!
És meu manjar
- Minha ambrosia.
Oh, triste vida!
Oh, vida agreste!
Naquela escarpa
Há flor silvestre...
O sonho meu
É ter meu céu,
Quando provar
Teu doce mel...
Perdoa-me logo,
Se te feri,
Dá-me um presente:
Reza pra mim!
Fica comigo,
Se teu eu for!
Dá-me um sorriso!
- Eu quero amor.
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PERMUTA DE AMOR
"Tua voz é doce, e delicado o teu rosto”
(Ct. 2.14)
Permutarei contigo um bem precioso,
Façamos, em cartório, um bom negócio;
Que o digam a razão e o sentimento,
Porque serei de ti bem mais que sócio.
Que o poderoso cérebro, qual juiz,
Testemunhe também o nosso engenho;
Se me deres pra sempre o teu amor,
Dar-te-ei eternamente o amor que tenho.
Para não acontecer alguma dúvida,
Com tintas arteriais fiquem gravados
Os termos do contrato, ultra* "sui generis"**,
Em duas almas gêmeas registrados;
"Com ternura exclusiva visceral,
Quero que o teu amor sempre me ame;
E o véu da tua sombra bem me cubra,
Com puro pensamento, por mim, clame.
Irei viver - viver por teu amor,
Vencerei este mundo em torvelinho;
Serei gigante à frente das procelas,
Farei do leão um mero cordeirinho.
Quão milagrosa a força deste amor,
Que vai lançar o mal na sepultura;
Fará do vingador mundo perverso
Parnaso*** colorido de aventura.
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* Ultra: Além.
** Sui generis: Locução adjetiva latina: Aquilo que não apresenta analogia com nenhuma outra (pessoa ou coisa). Inédito.
*** Parnaso: Fig. - Lugar de delícias.
Fonte:
Enviado pelo poeta. Disponível em Lairton Trovão de Andrade. Madrigais: poesias românticas. Londrina/PR: Ed. Altha Print, 2005.
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