Nova Friburgo/RJ
A IMAGEM DO TEMPO
O olhar é opaco, a face contraída,
há flacidez nas pálpebras cansadas,
a boca é seca, a tez esmaecida,
encimada por mechas desgrenhadas...
Todo o peso das culpas desta vida
repousa sobre as costas encurvadas.
O farto ventre, a carga mais sentida,
castiga as frágeis pernas arqueadas...
De confidentes restam a bengala
e uma imagem sagrada, lá na sala:
- Fiéis acompanhantes da velhice!
Velhice de incertezas e mistério,
que o tempo vai legando a seu critério...
e a mim agora impôs... sem que eu pedisse!
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Edy Soares
Vila Velha/ES
FAZENDA VELHA
Há um silencio estranho no caminho
que nos leva ao monjolo, hoje envergado,
e o farto rego d’água, ora minguado,
nem roda mais a pedra do moinho.
Na trave do paiol abandonado,
dois enxadões, as foices e um ancinho;
os mourões da porteira em desalinho…
Tudo parece sombras do passado…
E qual um quadro torto e envelhecido,
a nossa velha casa há resistido
feito um guerreiro prestes a tombar...
São picumãs, fuligens de uma história,
um resto quase morto de memória
que o tempo não deu conta de apagar.
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Janete Sales
Campos do Jordão/SP
QUEM EU SOU
Eu sou simplicidade e cortesia
Essência de artesã e só sorriso
A fé no amor de Deus, a Luz me guia...
Assim, afirmo a paz no chão que piso
Adoro o amanhecer e amar o dia,
acordo poesia, o dom preciso...
Já fui arteira, fiz o que queria,
em Campos do Jordão, o paraíso!
E agora mais madura a mente sente...
O ser, melhor que ter, isso é verdade
E vou expor o impulso que me invade:
Retrato a confiança transcendente
Na cena, Santa Sara comparece...
Revela o quanto vale a minha prece!
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Luiz Antonio Cardoso
Taubaté/SP
NOVA ESTRELA
(In Memorian de Sâmara R. Miranda)
Sonhou toda uma vida de esplendor!
Amou e foi amada em demasia.
Manteve seus amigos com dulçor.
Alicerçou a fé que contagia!
Restavam gerações para compor,
Ah! Mas esse destino em rebeldia,
Roubou de nosso mundo a bela flor,
Mudando de endereço a sua magia!
Incrédulos, ficamos a pensar...
Revemos os conceitos... tudo em vão!
A vida nos parece uma ilusão.
Na mais tristonha noite há o cintilar
Dos astros que iluminam nossos breus...
A nova estrela brilha junto a Deus!
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Sérgio Bernardo
Rio de Janeiro/RJ
ÊXODO
Ir-me de mim, mas ir com desapego
de tudo quanto sou ou tenha sido
- eu, que imagem me fiz de um mito grego,
no espelho de outros olhos refletido.
Partir... Mas quando? Se ainda agora chego
de algum lugar onde vaguei perdido,
trazendo, para meu desassossego,
a inconsciência total de haver partido.
Ir louco, a deflorar os horizontes,
o espírito andarilho, a carne errante,
na fome, as árvores; na sede, as fontes.
Venha junto o que igual absurdo enfrente,
de partir para longe a cada instante
e ficar em si mesmo eternamente.
Fontes:
Boletins enviados por Luiz Antonio Cardoso
Taubaté Trova – Ano I – Número 4 – 21 de janeiro de 2022
Taubaté Trova – Ano I – Número 8 – 22 de janeiro de 2022
Taubaté Trova – Ano I – Número 59 – 7 de fevereiro de 2022
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