quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Wanda de Paula Mourthé (Canteiro de Trovas) 2


A gatona amalucada
tem amantes de montão...
Pode ser meio "pancada",
mas é mesmo um "pancadão!"
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A Raimunda chega ao baile,
e logo se esquenta o clima,
pois alguns "cegos" em braile,
querem só tocar na rima!
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"Colesterol sempre sobe
se bebo e como torresmo"
— Diz a mulher: "Não se afobe!
Só isso é que sobe mesmo..."
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Com tristeza e desencanto,
vejo um mundo injusto e louco;
Há tão poucos tendo tanto,
e há tantos tendo tão pouco!
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Em devaneio profundo,
esqueço os dias tristonhos
e, assim, transformo meu mundo
em universo de sonhos...
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Em teu amor não confio...
Já se acabou a ilusão,
pois ele é vento vadio:
sopra em qualquer direção.
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Esta angústia indefinida,
que à tarde sempre me invade,
são sombras próprias da vida
ou disfarce da saudade?
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Eu te espero noite afora...
Plange o som de um carrilhão,
fatalmente, de hora em hora,
compassando a solidão...
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Fujo em estrada penosa,
temendo um amor adverso,
mas a saudade, teimosa,
percorre o caminho inverso.
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Mesmo em flagrante apanhado,
o malandro finca o pé:
— Trambique? Foi, delegado...
mas com toda a boa fé...
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Minha alma se enleva ao vê-las
em seu fulgor que seduz;
piscapiscando as estrelas
parecem ilhas de luz!…
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Minha mulher é nanica,
mas na cama é colossal:
ronca mais do que cuíca
em bloco de carnaval!
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Na igreja, em rito divino,
nossa união faz supor
que as badaladas do sino
são de aplauso ao nosso amor.
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Não me importam a censura
e o louvor da sociedade:
procuro viver à altura
da minha própria verdade.
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Não receio o que vier,
pois já vislumbro a partida...
mas luto, enquanto eu tiver
uma fagulha de vida!
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Na vitória, é teu dever
respeitar o opositor;
mais difícil que vencer
é saber ser vencedor!
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— O que te disse o Doutor?
Te deu muita informação?
— Informação? Não, amor,
é bebê... "em formação!"
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Pode a vingança depressa
ter consequências fatais.
Sabe-se como começa,
como termina, jamais!
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Quando a mulher do mascate,
parte pro tapa e, na luta,
chama a outra de "biscate",
esta revida e... disputa!
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Se a solidão é um açoite,
mágoas... não quero retê-las,
pois, entre as sombras da noite,
sempre posso ver estrelas.
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Se é apanhado numa treta,
mineiro não se retrai:
quando vê a coisa preta,
vai logo dizendo "uai!"...
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Sem teu amor, meu fanal,
naufraguei entre os escolhos
na profundeza abissal
do mar azul dos teus olhos!
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Sozinha, na caminhada,
fugindo ao mundo enfadonho,
troco os atalhos do nada
pelas veredas do sonho…
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Vendo o noivo em dura lida,
num constante vem e vai,
a mineira, embevecida,
somente suspira... "uai"...
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— Vendo pipoca, que é o fraco
da criançada, no recreio,
e de tanto que encho saco,
já estou de saco cheio!

Fonte:
Wanda de Paula Mourthé. Com…passos de emoções. Belo Horizonte: Flux, 2013.
Enviado pela trovadora.

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