terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Hergé (As Aventuras de Tintim)


 As Aventuras de Tintim (Les aventures de Tintin, em francês) é o título de uma série de histórias em quadrinhos (banda desenhada, em Portugal) criada pelo autor belga Georges Prosper Remi, mais conhecido como Hergé. Localizadas em um mundo meticulosamente examinado que muito tem em comum com o nosso, As Aventuras de Tintim apresentam vários personagens em cenários distintos. As séries foram as favoritas dos leitores e também dos críticos por mais de 70 anos.

O herói das séries é o personagem epônimo Tintim, um jovem repórter e viajante belga. Ele é auxiliado em suas aventuras desde o começo por seu fiel cão Milu (Milou, em francês). Os dois apareceram pela primeira vez em 10 de janeiro de 1929, no Le Petit Vingtième, um suplemento do jornal Le Vingtième Siècle destinado aos jovens. Mais tarde, o elenco foi expandido com a adição do Capitão Haddock e outros personagens pitorescos.

Esta série de sucesso era publicada em semanários e, ao término de cada história, os quadrinhos eram reunidos em livros (23 no total, em 2008). Ela ganhou uma revista própria de grande tiragem (Le Journal de Tintin) e foi adaptada para versões animadas, para o teatro e para o cinema. As séries são uma das histórias em quadrinhos europeias mais populares do século XX, sendo traduzidas para mais de 50 línguas e tendo mais de 200 milhões de cópias vendidas.

As séries de histórias em quadrinhos são há muito admiradas pelos desenhos claros e expressivos, com o estilo “ligne claire”, típico de Hergé. O autor emprega enredos bem elaborados de gêneros variados: aventuras com elementos de fantasia; mistério; espionagem; e ficção científica. As histórias nas séries de Tintim caracterizam-se tradicionalmente pelo humor em cenas de atividade, o que equivale em álbuns posteriores à sofisticada sátira e comentários político-culturais.

Descrição

Tintim é apresentado como um repórter: Hergé usa tal artifício para apresentar o personagem numa série de aventuras ambientadas em períodos contemporâneos àquele em que ele estava trabalhando (mais notavelmente, a insurreição bolchevique na Rússia e na Segunda Guerra Mundial e a alunissagem). Hergé criou também um mundo de Tintim, que conseguiu reduzir a um simples detalhe, mas reconhecível e com representação realista, um efeito que Hergé foi capaz de alcançar com referência a um bem mantido arquivo de imagens.

Apesar de as Aventuras de Tintim serem padronizadas – apresentando um mistério, que é, então, logicamente resolvido – Hergé encheu-as com o seu próprio senso de humor, e criou personagens de apoio que, embora sejam previsíveis, apresentaram-se com um certo encanto que permitiu ao leitor se engajar com eles. Esta fórmula de uma confortável e bem–humorada previsibilidade é semelhante a da apresentação do elenco na tira Peanuts ou em Three Stooges Hergé também teve um grande entendimento da mecânica dos quadrinhos, especialmente de seu andamento, uma habilidade demonstrada em As Joias de Castafiore, um trabalho que pretende ser envolvido com a tensão de que nada realmente acontece.

Hergé inicialmente improvisou na criação das aventuras de Tintim, exceto como Tintim iria escapar de qualquer situação que aparecia. Somente após a conclusão de Os Charutos do Faraó, Hergé foi incentivado a reformular e a planejar suas histórias. O impulso veio de Zhang Chongren, um estudante chinês que, sabendo que Hergé iria mandar Tintim à China na sua próxima aventura, instou–o a evitar que perpetuassem a visão que europeus tinham da China no momento. Hergé e Zhang trabalharam juntos na série seguinte, O Lótus Azul, que foi citado pelos críticos como a primeira obra-prima de Hergé.

Outras alterações à mecânica de Hergè criar as tiras se deram a partir de influências por parte de acontecimentos externos. A Segunda Guerra Mundial e a invasão da Bélgica pelos exércitos de Hitler determinaram o encerramento do jornal no qual Tintim era republicado. Os trabalhos foram interrompidos em Tintim no País do Ouro Negro, e os já publicados Tintim na América e A Ilha Negra foram proibidas pela censura nazista, que não concordou com sua apresentação da América e da Grã-Bretanha. No entanto, Hergé foi capaz de continuar com As Aventuras Tintim, publicando quatro livros e relançando mais duas aventuras no Le Soir, jornal licenciado pelos alemães.

Durante e após a ocupação alemã, Hergé foi acusado de ser um colaborador, por causa do controle nazista do jornal, sendo detido brevemente após a guerra. Alegou que estava simplesmente realizando um trabalho sob a ocupação, como um canalizador ou carpinteiro. Sua obra desse período, ao contrário do seu trabalho anterior e posterior, é politicamente neutra e resultou nas aventuras histórias clássicas, como O Segredo do Licorne e O Tesouro de Rackham o Terrível, mas a apocalíptica A Estrela Misteriosa reflete o sentimento de Hergé durante esse período político incerto.

A escassez do papel no pós-guerra exigiu mudanças no formato dos livros. Hergé geralmente desenvolvia suas histórias de forma que o tamanho fosse adequado à história, mas agora com o papel de dimensão reduzida, os editores Casterman pediram a Hergé para ele considerar a utilização de menores dimensões e adotar um tamanho estipulado de 62 páginas. Hergé continuou e aumentou sua equipe (os dez primeiros livros foram feitos por ele e sua esposa), surgindo assim os Studios Hergé.

A adoção de cor permitiu que Hergé expandisse o alcance das suas obras. Sua utilização da cor era mais avançada do que a dos quadrinhos norte-americanos da época, com valores que permitiam uma melhor combinação das quatro impressões tons e, consequentemente, uma abordagem cinematográfica em relação à iluminação e sombreamento. Hergé e seu estúdio permitiriam que as imagens enchessem meia página ou, mais simplesmente, mostrassem detalhadamente e acentuassem a cena, usando cores para realçar pontos importantes. Hergé cita este fato, declarando que “Considero minhas histórias como se fossem filmes. Sem narração, sem descrições, a ênfase é dada às imagens.” A vida pessoal de Hergé também afetou a série, com Tintim no Tibete sendo fortemente influenciada pelo seu colapso nervoso. Seus pesadelos, descritos por ele como sendo “todos em branco”, se refletem em paisagens cheias de neve. O enredo tem Tintim patinando em busca de Tchang Chong-Chen, previamente encontrado em O Lótus Azul, e a peça não tem vilões e uma pequena lição de moral, com Hergé até se recusando a se referir ao Homem das Neves do Himalaia como “abominável”.

A conclusão das aventuras de Tintim ficou incompleta. Hergé morreu em 3 de março de 1983 e deixou a 24ª aventura, Tintim e a Alph-Art, inacabada. O enredo viu Tintim embrenhar-se no mundo da arte moderna, e a história é interrompida no momento em que Tintim está aparentemente prestes a ser assassinado para ser transformado em uma estátua de acrílico a ser vendida.

Personagens:

Tintim
Tintim é um jovem repórter que se envolve em casos perigosos e realiza ações heroicas para salvar o dia. Quase todas as aventuras retratam Tintim trabalhando, empenhado em suas investigações jornalísticas. Ele é um jovem de atitudes mais ou menos neutras e é menos pitoresco que o elenco secundário.

Milu
Milu é um cão terrier branco, o companheiro de Tintim. Eles regularmente salvam um ao outro de situações perigosas. Milu frequentemente “fala” com o leitor por meio de seus pensamentos (muitas vezes mostrando um humor um tanto seco), que supostamente não são ouvidos pelos personagens da história.

Como o Capitão Haddock, Milu tem gosto pelo uísque Loch Lomond, e suas ocasionais “bebedeiras” tendem a colocá-lo em problemas, assim como sua intensa aracnofobia. O nome francês “Milou” foi largamente atribuído como uma referência indireta a uma namorada da juventude de Hergé, Marie-Louise Van Cutsem, que tinha o apelido de “Milou”.

Existe outra explicação para as origens dos dois personagens. Foi afirmado que Robert Sexé, um fotógrafo-repórter, cujas proezas eram recordadas na imprensa belga entre a metade e o fim da década de 1920, foi uma inspiração para o personagem Tintim. Sexé tinha notadamente uma aparência similar a de Tintim, e a Fundação Hergé na Bélgica admitiu que não é difícil imaginar como Hergé poderia ter sido influenciado pelas proezas de Sexé. Naquele tempo, Sexé estivera viajando pelo mundo em uma motocicleta feita por Gillet de Herstal.

René Milhoux era um campeão do Grand-Prix e detinha o recorde de motocicleta da época, e, em 1928, enquanto Sexé estava em Herstal falando com Leon Gillet sobre seus projetos futuros, o Sr. Gillet o colocou em contato com seu novo campeão, Milhoux, que acabara de deixar motocicletas prontas para Gillet de Herstal. Os dois rapidamente iniciaram uma amizade, e passavam horas falando sobre motocicletas e viagens; Sexé explicando suas dificuldades e Milhoux oferecendo seu conhecimento sobre mecânica e motocicletas pequenas trabalhando acima de seus limites. Graças a essa união de conhecimento e experiência, Sexé partiria em numerosas viagens por todo o mundo, escrevendo incontáveis relatos jornalísticos. O secretário geral da Fundação Hergé na Bélgica admitiu que não é difícil imaginar como o jovem George Rémi, mais conhecido como Hergé, poderia ter sido inspirado pelas bem publicadas proezas desses dois amigos, Sexé com suas viagens e documentários, e Milhoux com seus triunfantes registros, para criar os personagens de Tintim, o famoso repórter viajante, e seu fiel companheiro Milu.

Capitão Archibald Haddock
Capitão Archibald Haddock, um capitão navegador de origem discutível (pode ser de origem inglesa, francesa ou belga), é o melhor amigo de Tintim, e foi introduzido em O Caranguejo das Tenazes de Ouro. Haddock foi inicialmente descrito como um personagem fraco e alcoólatra, tendo mais tarde, porém, se tornado mais respeitável. Ele evoluiu para se tornar genuinamente heroico e até mesmo da alta sociedade, depois de encontrar um tesouro de seu ancestral Sir Francis Haddock (François de Hadoque em francês), no episódio O Tesouro de Rackham o Terrível. A natureza rude do capitão e seu sarcasmo representam uma contradição ao frequente e improvável heroísmo de Tintim; ele sempre rompe com um comentário seco ou satírico quando o repórter parece demasiado idealista. O Capitão Haddock vive em sua luxuosa mansão chamada Moulinsart.

Haddock usa uma série de pitorescos insultos e maldições para expressar seus sentimentos: “com mil milhões de mil macacos”, “com mil raios e trovões”, “trogloditas”, “cleptomaníaco”, “anacoluto”, “iconoclasta”, mas nada que seja realmente considerado uma grosseria. Haddock é um beberrão, particularmente chegado ao uísque Loch Lomond, e sua embriaguez é frequentemente usada para propósitos cômicos.

Hergé afirmou que o sobrenome de Haddock deriva-se de um “peixe inglês triste que bebe muito”. Haddock permaneceu sem um nome próprio até a última história completa, Tintim e os Tímpanos (1976), quando o nome Archibald foi sugerido.

Personagens secundários

Os personagens secundários de Hergé já foram mencionados como muito mais desenvolvidos que os principais, cada um imbuído de força de temperamento e personalidade que se comparam aos personagens de Charles Dickens. Hergé usava os personagens secundários para criar um mundo realista onde colocar os protagonistas das aventuras. Para mais realismo e continuidade, os personagens voltariam às séries. Foi conjeturado que a ocupação da Bélgica e as restrições impostas a Hergé forçaram-no a focar-se na caracterização para evitar o surgimento de situações políticas incômodas. A maior parte dos personagens secundários foi desenvolvida nesse período.

Dupond e Dupont
São dois detetives desajeitados que, mesmo não tendo nenhum parentesco, parecem ser gêmeos, tendo uma única diferença física: a forma de seus bigodes. Eles muito contribuem no humor da série, devido às suas antístrofes* e incompetência. Os detetives foram, em parte, baseados no pai e no tio de Hergé, gêmeos idênticos.

Trifólio Girassol
O Professor Trifólio Girassol é um cientista quase surdo, que entende e age diante de tudo de maneira equivocada como resultado de sua deficiência auditiva. É um personagem menor mas que aparece regularmente nas aventuras de Tintim. Estreou em O Tesouro de Rackham o Terrível, sendo baseado, parcialmente, em Auguste Piccard.

Bianca Castafiore
Bianca Castafiore é uma cantora de ópera, a quem o capitão Haddock absolutamente despreza. Contudo, ela constantemente aparece de súbito onde quer que eles estivessem, junto com sua criada Irma e o pianista Igor Wagner. Seu nome significa “flor branca e pura”, algo que o Professor Girassol entende quando oferece uma rosa branca à cantora pela qual é secretamente apaixonado em As Jóias de Castafiore. Ela foi baseada nas grandes cantoras de ópera em geral (de acordo com a percepção de Hergé), na tia de Hergé’s, Ninie, e, no pós-guerra, em Maria Callas.

Outros pesonagens secundários: o General Alcazar, um ditador sul-americano; Mohammed Ben Kalish Ezab, um emir, e seu filho Abdallah; Serafim Lampião, um vendedor de seguros; Tchang Chong-Chen, um menino chinês; o Doutor J.W. Müller, um maléfico médico alemão; Nestor, o mordomo; Roberto Rastapopoulos, o responsável pelos crimes; Oliveira da Figueira; o Coronel Sponsz; Piotr Szut; Allan Thompson; além do açougue Sanzot, que é um local recorrente na série.
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* Antístrofe = figura baseada nas diferenças de sentido que resultam da associação das mesmas palavras em um mesmo tipo de construção sintática, invertendo-se-lhes a ordem.
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Críticas

Muito se tem escrito sobre a ideologia da série. A obra é objeto de polêmica, em grande parte graças à contínua reedição das aventuras, que foram concebidas há muitos anos, em um contexto inteiramente diferente. Já se acusou Hergé de propagar em seus álbuns violência, crueldade para com os animais, pontos de vista colonialistas, racistas e até mesmo fascistas; foi acusado também de suposta misoginia, dado que quase não aparecem mulheres na série. Essas acusações se referem apenas a aspectos pontuais da série, não podendo-se dizer que sejam pontos de vista predominantes da série. Nesse sentido, há uma certa “lenda negra” de Tintim, devido ao fato de Hergé ter publicado algumas histórias em um jornal aprovado por nazistas, o Le Soir, durante a ocupação alemã na Bélgica.

Ainda que a Fundação Hergé tenha tomado tais acusações por ingenuidade do autor, e que certos pesquisadores como Harry Thompson afirmem que “Hergé fazia o que lhe dizia o abade Wallez (o diretor do jornal)”, o próprio quadrinista sentia que, visto suas origens sociais, não poderia escapar de preconceitos: “Ao conceber Tintim no Congo e Tintim no País dos Sovietes, estava sustentado por preconceitos do meio burguês no qual vivia. (…) Se tivesse de refazê-los, refazer-los-ia de outro modo, certamente.”

Em Tintim no País dos Sovietes, os bolcheviques são descritos como personagens maléficos. Hergé se inspirou num livro de Joseph Douillet, antigo cônsul da Bélgica na Rússia, Moscou sans voile, que era extremamente crítico ao regime soviético. Hergé inseriu isto no contexto afirmando que para a Bélgica da época, uma nação devota e católica, “tudo o que fosse bolchevique era ateu”. No álbum, os chefes bolcheviques são motivados apenas por interesses pessoais, e Tintim descobre, enterrado, “o tesouro escondido de Lênin e Trotsky”. Mais tarde, Hergé assimilou os defeitos desses primeiros álbuns a “um erro de minha mocidade”. Mas hoje, parte de sua maneira de representar a URSS da época pode ser considerada aceitável. Em 1999, o jornal The Economist publicou que “retrospectivamente, a terra da fome e da tirania desenhada por Hergé estavam estranhamente corretas”.

Tintim no Congo foi acusado de representar os africanos como seres ingênuos e primitivos. Na primeira versão do álbum, em preto-e-branco, vemos Tintim diante de uma lousa dando aula a crianças africanas. “Meus caros amigos”, diz ele, “hoje, vou lhes falar de sua pátria: a Bélgica”. Em 1946, Hergé redesenhou o álbum, transformando esta cena numa aula de matemática. “Sobre o Congo, eu conhecia apenas o que contavam na época: ‘os negros são como grandes crianças, sorte deles estarmos lá!’, etc. E desenhei os africanos de acordo com estes critérios, no mais puro espírito paternalista, que era o da época na Bélgica”, explicou-se Hergé.

Em 1988, no jornal britânico Mail on Sunday, Sue Buswell resumiu os problemas evidenciados nesse álbum: “lábios grossos e pilhas de animais mortos”, em referência à maneira como foram desenhados os africanos e aos animais que Tintim caça (atividade muito em voga na época em que o álbum foi feito). Todavia, Harry Thompson nota que tal citação pode ter sido tomada “fora de seu contexto”.

Transpondo uma cena de Les Silences du Colonel Bramble, livro de André Maurois, Hergé apresenta Tintim como um caçador, abatendo quinze antílopes, sendo que apenas um já seria o bastante para se alimentar. O grande número de animais mortos ao longo da história levou o editor dinamarquês dos álbuns Tintim a exigir algumas modificações. Hergé teve de substituir uma cena em que Tintim faz um furo no dorso de um rinoceronte para depositar uma dinamite e explodir o animal.

Em 2007, a Comissão pela Igualdade Racial (Commission for Racial Equality), órgão britânico, exigiu que o álbum fosse retirado das prateleiras de livrarias após uma reclamação, afirmando ser “triste saber que haja ainda hoje livreiros que aceitem vender e divulgar Tintim no Congo”. Em 23 de julho de 2007, um estudante congolês fez uma queixa em Bruxelas, capital da Bélgica, na qual considera a obra um insulto para o seu povo. O caso é investigado, mas o Centro para a Igualdade de Oportunidades e Combate ao Racismo (Centre pour l’égalité des chances et la lutte contre le racisme, instituição belga), advertiu que não se tome uma “atitude hiper-politicamente correta”.

Vários dos primeiros álbuns de Tintim foram alterados por Hergé em edições subsequentes, geralmente a pedido das editoras. Em Tintim na América, por exemplo, os traços caricatos dos personagens negros foram redesenhados como sendo brancos ou de etnia indefinida, incitado pelos editores americanos. Em a Estrela Misteriosa, um vilão americano tinha originalmente o sobrenome judeu Blumenstein. Isto era controverso, tanto que o personagem tinha exatamente o aspecto estereotipado de um judeu. Blumenstein foi alterado para Bohlwinkel, sobrenome menos etnicamente específico. Em edições posteriores, o personagem foi novamente alterado, desta vez para sul-americano, de um país ficcional chamado São Rico. Mais tarde, Hergé descobriria que Bohlwinkel também é um sobrenome judeu.

Outro álbum apontado como racista é Perdidos no Mar (também conhecido como Carvão no Porão), de 1958. Ainda que a história seja uma denúncia da escravidão, na qual Tintim e Haddock defendem claramente os mais fracos, um artigo publicado em 1962 na revista Jeune Afrique criticou duramente a representação dos africanos, especialmente a forma de falarem. Hergé rebateu as críticas e, em 1967, reescreveu alguns diálogos.

A ideia do fascismo da série pode estar relacionada à atitude do autor na época da Segunda Guerra e ao seu vínculo inicial com o abade Norbert Wallez, homem de extrema-direita e anticomunista assumido. Vale notar que os álbuns publicados durante a guerra são histórias nas quais não há nenhuma alusão política.

Álbuns como O Cetro de Ottokar, de 1939, desmentem a suposta simpatia de Hergé pelo fascismo. Nessa história, há críticas evidentes à política expansionista de Hitler. “Creio que todos os totalitarismos são nefastos, sejam eles de direita ou de esquerda.” disse o autor.

Hergé jamais negou suas ideias conservadoras. Talvez por esse motivo, Tintim seja a favor da ordem estabelecida, o que não o impede de dar atenção aos menos favorecidos, e, em muitas ocasiões, tomar o partido destes. Ao longo de suas viagens, Tintim demonstra um verdadeiro interesse e respeito pelas culturas não europeias, o que se manifesta também na vontade de Hergé pesquisar meticulosamente para a realização dos álbuns.

Influências

Na sua juventude, Hergé era um grande admirador de Benjamin Rabier, e esta influência manifestou-se, principalmente, numa série de imagens em Tintim no País dos Sovietes, em particular as imagens dos animais, sugeridas por Hergé. René Vincent, o ilustrador art-deco, também influenciou no início das aventuras de Tintim: “A influência pode ser detectada no início dos soviéticos, onde meus desenhos são projetados ao longo de uma linha decorativa, como um ‘S’…”. Hergé admitiu que havia roubado uma parte do trabalho de George McManus, afirmando que estavam “tão divertidos, que utilizei-os, sem escrúpulos!”.

Durante a pesquisa extensiva que realizou para escrever O Lótus Azul, Hergé foi influenciado pelos estilos ilustrativos e xilogravura chineses e japoneses. Isso é especialmente notável na paisagem marítima, que é similar ao trabalhos de Katsushika Hokusai e de Hiroshige.

Hergé também afirmou que Mark Twain foi uma influência, embora sua admiração possa tê-lo levado a desviar-se quando representou os incas como não tendo nenhum conhecimento do eclipse vindouro em O Templo do Sol, um erro atribuído por T.F. Mills como uma tentativa para retratar “incas em pavor aos tempos modernos (Um Ianque na Corte do Rei Artur, de Mark Twain)”.

Selos

A imagem de Tintim foi usada em selos postais em numerosas ocasiões, o primeiro emitido pelo Belgian Post em 1979 para celebrar o dia da filatelia. Esta foi a primeira de uma série de selos com as imagens dos quadrinhos de heróis belgas, sendo o primeiro selo do mundo a ter um herói dos quadrinhos.

Em 1999, a Royal Dutch Post lançou dois selos, em 8 de outubro de 1999, baseados na aventura Rumo à Lua, com os selos vendidos totalmente poucas horas após o seu lançamento. Os correios franceses, em seguida, emitiram um selo de Tintim e Milu em 2001. Para marcar o fim do franco belga, e também para comemorar o aniversário da publicação Tintim no Congo, mais dois selos foram emitidos pelo Belgian Post em 31 de dezembro de 2001. Os selos também foram emitidos no Congo, ao mesmo tempo.

Prêmios

Em 1° de junho de 2006, o Dalai Lama condecorou com o prêmio Luz da Verdade o personagem, juntamente com o arcebispo sul-africano Desmond Tutu. O prêmio foi em reconhecimento ao trabalho de Hergé no livro Tintim no Tibete.

Em 2001, a Fundação Hergé exigiu a retirada da tradução chinesa da obra, que havia sido lançada com o título Tintim no Tibete Chinês. O trabalho foi publicado depois com a tradução correta.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/As_Aventuras_de_Tintim

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