domingo, 12 de maio de 2024

Mensagem na Garrafa = 120 =


Francisco José Pessoa
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

Quem sou eu?

Sou o que sou... triste, olhando os que me pisam na indecisão de aonde ir, esquecida pela mãe água, açoitada pelo pai vento, como num castigo de quem fez algo errado. Provação? No meu rego, antes para mim sagrado, agasalho um protótipo de homem que prometeu a fertilidade do meu solo. 

Ledo engano...

E, vendo-me hoje, sem o acalanto das noites antes bem dormidas, quando a lua na sua máxima circunferência com o seu ofuscante clarear, era a inspiração do artista que me cantava em prosa e verso, quedo-me faminta por um amor que deveria ter sido criado pelo nosso Grande Geômetra.

Orgulho-me em ser útero de pulmões, pois, dos meus filhos verdejantes, respira o homem o mais puro dos ares.

Às vezes, abraçada por cascalhos onde brotam vegetais teimosos, outras, afogada pela exagerada água que me asfixia, torno a viver, bendizendo ao meu Deus Sol, pronta, mais uma vez, a ser morada das raízes que alimentarão o corpo das ervas mesmo que daninhas.

E, no entrechocar de pás e enxadas que castigam, choro calada em oração pedinte para aqueles que lançam-me ao vento, dilacerando a minha epiderme mas, o meu interior, este sim, é protegido das agressões do homem que não pensa… E continuo a viver para protegê-lo.

Chamam-me TERRA, morada dos vermes, alimento dos homens.

(Francisco José Pessoa de Andrade Reis. Isso é coisa do Pessoa: em prosa e verso. Fortaleza/CE: Íris, 2013. Livro enviado pelo autor.)

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