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sábado, 30 de março de 2013

Roseline de Jesus Pedroso (Poemas Avulsos)

CANÇÃO

Quando a noite desce
e a escuridão se esconde
no brilho das estrelas;
a lagoa dorme em seu leito de prata
e, no breu da noite se arrepia
encrespando a superfície fria
onde a lua espia e sua luz resgata.

A dor desaparece
numa paz sem nome, rústica e tranqüila...
mesmo que não se possa vê-las,
com seus olhos brilhantes, sobre a mata
as estrelas esperam vir o novo dia
e o sol esparramar sua cascata
de luz para aquecer o homem.

E Deus, que lá da imensidão
dirige os astros e equilibra o mundo,
volta seus olhos, com amor profundo,
para a lagoa, sorri e então diz
ao vento pra compor uma canção
de paz e, ao mesmo tempo, uma lição
para ensinar o homem a ser mais feliz.

NAVEGAR  É  PRECISO...
No mar desta nossa vida
existem muitos revezes,
mil perigos, vagalhões
muitos piratas, ladrões
que querem nos afogar

Choramos, sim ,muitas vezes,
quantas for preciso chorar,
muitas batalhas perdemos,
mas outras iremos ganhar.
Nem tudo é como queremos,
mas temos que navegar.

O  porto ainda está distante,
“âncora é outro falar”...
tesouros, flores, diamantes,
vamos todos encontrar
quando enfim, como sonhamos,
a nossa hora chegar.

O nosso lugar na vida
é onde devemos estar,
hoje aqui: em outro momento
haveremos de mudar,
pois  nosso devir nos ensina
que, mesmo contra o vento,
``outras velas, outros remos`´ 

É preciso navegar1

VIDA NA ROÇA

Naquele tempo de infância,
lá no meio do sertão,
vivíamos tão felizes
brincando de pé no chão:
meu  pai plantava e colhia
a cana, o milho e o feijão,
moia a cana e fazia
rapadura de montão;
mamãe era professora
na escolinha da região.

E que escolinha tão boa,
foi nela que eu aprendi
os sábios ensinamentos
que nunca mais esqueci,
que é ser honesto e sincero
pra ter paz no coração;
ler e escrever direitinho
para ser bom cidadão.

Lembro a bulha do riacho,
correndo manso no chão
e o marulhar da cachoeira
cantando lá no grotão.
Eram uma festa pros olhos
os campos cheios de cores
e o pomar da minha casa
carregadinho de flores.
Os sonhos que então eu tinha
eram tão cheios de amor...
não tinha pressa nenhuma,
não tinha nenhuma dor...
De manhã, logo cedinho,
pra roça meu pai saía
e minha mãe me chamava
para ver nascer o dia.

Ela cuidava da casa,
da horta e dos animais
depois saía pra  escola
que era o que gostava mais.
À noitinha, todos juntos,
lá, em volta do fogão,
cantavam causos e lendas
e contos de assombração.

Meu pai falava de tudo
o que era sua vida então
e minha mãe estava sempre
às voltas com a correção
dos cadernos dos alunos
que eram sua paixão.

Todos os fins de semana
tinha muita diversão,
ia pousar lá no sítio
de meu avô Napoleão.
A minha avó me acarinhava
com bolinhos de polvilho,
tinha doce de caixeta
e deliciosos sequilhos,
um macarrão feito em casa
com  um pretinho feijão,
e, na chapa do fogão de lenha
era onde  assava o pinhão.

Ai. que saudades que tenho
daquele tempo de então,
do café, que a mãe torrava
e socava no pilão,
do leite tirado na hora
que eu  bebia no galpão
e, no inverno o que aquecia
era um bom fogo de chão.

A gente era muito pobre,
luz só tinha de lampião
e a cozinha lá de casa
de terra batida, o chão...
mas tenho muita saudade                 
daquela vida de então,
quando a gente era criança
e a vida era só canção
de passarinhos cantando
lá no meio do sertão.

CLASSIFICADOS

Procura-se:
O dia de ontem, o canto da  fonte,
o riso, a brisa, e a carroça velha
passando na ponte;
o chapéu de palha,
a botina gasta, a enxada,
a foice e  a capinada
e a paz perdida com o pó da estrada.

Procura-se:
O sonho, a saudade,
os causos e as modinhas
à luz do lampião;
a conversa mansa, o fogo de chão;
o prato de sopa
e a gente esperando assar o pinhão...
o som do riacho; o bater da roupa
e o frescor da água
escorrendo junto ao suor do rosto
e a paz, a paz que o cansaço traz.

O capim verdinho
e o cheiro da terra úmida de orvalho;
o feijão colhido, fruto do trabalho
sobre o assoalho de terra batida;
o fogão a lenha; o bolinho frito
na gordura quente
que juntava água na boca da gente...
E a paz, a paz, que o cansaço traz.

Procura-se:
A mão calejada no bater da enxada;
a chuva bendita renovando a vida
e o som do sino,
a reza do Divino
na velha capela na curva da estrada;
o caboclo magro fumando um palheiro
à sombra do galpão.

Procura-se:
a fonte da honestidade e da retidão;
o Norte, o horizonte guardando a esperança
e o fim da caminhada
e a paz, a paz que o cansaço traz.

PRECE  EM SONETO

Ascende aos céus a voz dos pobrezinhos
e a luz opaca, o pouco de esperança
que ainda nutre os olhos dos velhinhos
reflete-se nos olhos das crianças...

Em busca de poder, de glória e fama,
nem mesmo isso estamos conseguindo!
A insônia visitando a nossa cama,
não mostra rumo certo,  nem caminhos!

É urgente, no escuro onde hoje estamos,
que busquemos encontrar a luz perdida
para reacender aquela antiga chama...

e, nas páginas que ainda não viramos,
em um lugar qualquer de nossa vida
alguma história nova construamos..

PERENIDADE
Uma vida  só não me basta...
quero muito mais que isto:
quero ouvir velhas histórias
e encontrar velhos amigos
nas brancas casas de pedra
na beirada do horizonte.

Uma vida  só não me basta...
quero mil flores na estrada
para enfeitar o futuro.

Uma vida  é muito pouco;
preciso mais que uma vida
para subir às montanhas
nas asas das borboletas,
tomar banho de cascata;
para rir com as crianças
e falar tantas bobices
quantas me der na veneta.

Uma vida é muito pouco
para conhecer o mundo,
tão longe, infinito mundo...
Uma vida é muito pouco
para ouvir o mar batendo
na ardente franja da praia.
Para estar com quem eu amo
preciso da eternidade
e a paz do  sonho mais louco.

ABRAÇO

Não  te amei porque quis,
mas amei-te desde aquela noite
em que te vi pela primeira vez....
não te amei por seres belo
nem por seres forte...
Importa o motivo, se é que ele existe?
O que importa
é o abraço de tua presença
que me envolve sempre,
mesmo que não estejas comigo.
Teus passos ecoam
no silêncio da minha solidão.
Não te ouço a voz,
mas tua suave lembrança
é como um eco de paz em minha inspiração,

INCERTEZA

As estrelas existem  p’ra brilhar
e as flores para colorir os campos
os passarinhos vivem a cantar
e voar acima das ilusões humanas...
é o chão do homem que o prende e ancora,
o imã que o atrai à infelicidade.
É pena o homem não saber voar,
nem deixar que se espalhe sua luz
escondida sob a cama, atrás de portas fechadas...
onde as chaves?

Como abrir o coração à luz,
a essa luz perfeita que nos faz chorar?
como entender a paz que não chegou ainda;
uma promessa apenas de encontrar a luz?
Como sair à rua e gritar ao mundo,
se o mundo todo já gritando está
de dor tamanha e de tristeza tanta?

Onde a paz, onde a luz no coração humano?

Os homens humilhados,
os jovens drogados
e as crianças famintas
serão capazes de encontrar a luz?
Os anjos sabem tudo...
e as lágrimas dos anjos se derramam
nas páginas do livro onde teimo em escrever a paz.

O TEMPO

O tempo vai passando...
com seu sorriso irônico,
esgueirando-se pelos cantos
da boca da vida.
O tempo vai cansando
de olhar o passado
na ânsia de voar no presente
e de chegar ao futuro,
de esvair-se sem jeito,
sem mudança, sem brilho nenhum.

E o futuro do tempo presente
é feito um sonho ausente.

Esgueira-se o tempo
Por entre as frestas do pensamento,
escorre o tempo
por entre os dedos do vento...

Voa  cantando, passa chorando,
sempre voando
e vai plantando
rugas na cara dos desatentos,
com desalento,
com estertores de grandes dores.

Como um cavalo de branca crina
passa trotando pela campina
ao sol poente...
lá vai o tempo
levando os sonhos
da gente.

Voa tempo!
Ainda há tempo para mudar
enquanto é tempo!

Fonte:
A Autora

Roseline de Jesus Pedroso

Roseline de Jesus Pedroso nasceu em Tibagi, filha de Anibal Pedroso e Leopoldina Bittencourt Pedroso.

1958 – Concluiu o ensino fundamental, em Tibagi.

Estudou o 1º ano do Curso de Magistério, em Ponta Grossa.

De 1961 a 1964, trabalhou como professora estadual.

Em 1987, concluiu o Curso de Magistério e no mesmo ano, foi contratada e começou a trabalhar na Rede Municipal de Ensino de Telêmaco Borba, como professora.

Em 1995 – concluiu o Curso de Pedagogia na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Foi docente e coordenadora do Curso de Pedagogia da FATEB e da Faculdade de Educação, Administração e Tecn Pedagoga com Especialização em Orientação Educacional e Alfabetização pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Desde 2005 –  coordenadora da Educação de Jovens e Adultos – Fase I - Secretaria Municipal de Educação de T. Borba

2012 –  Colégio Estadual Wolff  Klabin - pedagoga – tutora do Curso profuncionário

1995 - classificada em 1º lugar no Paraná e em 2º lugar no Brasil - Concurso 15 de outubro – Por uma Escola de Cidadãos com o relato de sua prática.
Título do trabalho premiado: Redimensionar a pratica pedagógica; um desafio e uma necessidade permanente.

Produções na área da Educação

O medo e as narrativas. In:  Medos, medinhos, Medonhos: como lidar com o medo infantil – vários autores. Publicado em 2004 - Editora Unijuí - R. G. do Sul.
Caderno Pedagógico da Educação de Jovens e Adultos. T. Borba: Secretaria Municipal de Educação, 2007
Histórias dentro da história : A história da educação em Telêmaco Borba – (ainda no prelo)
Questões pedagógicas que merecem ressignificação, Publicado em 2012

Desde 2006, vem desenvolvendo com os professores e os alunos da Educação de Jovens e Adultos um projeto de leitura intitulado Mala da Poesia, a partir do qual organiza e coordena os livros de textos e trabalhos dos alunos da EJA,  publicados pela Prefeitura Municipal, através da Secretaria Municipal de Educação.

Livros de poemas publicados :
2001: Vida
2006: Palavras de esperança 
2007: Nossas palavras
2008: Arte e vida: experiências significativas  (
livro de poemas e desenhos) 
2009: AçãoeducAção pela arte e a palavra (livro de poemas e desenhos)
2010: A leitura da palavra nas palavras da memória (livro de poemas e desenhos) 
2010: Poemas Escolhidos
2011: Memórias de um tempo passado sempre presente.
2012: Pensamentos poéticos.
2012: Alguns Poemas

Fontes:
A Autora
http://www.telemacoborba.pr.gov.br/noticias/noticia.php?noticia=2524#.UVc-QzdvA-U