sábado, 19 de dezembro de 2009

Rossyr Berny


Rossyr Berny nasceu em São Gabriel/RS e reside em Porto Alegre desde 1973. É jornalista formado pela PUCRS e Professor pela “Faculdade de Formação de Professores São Judas Tadeu. Também pela PUCRS é mestrado em Teoria da Literatura.

Associado à Federação Nacional de Jornalistas, International Federation of Journalists, Associação Riograndense de Imprensa, Casa do Poeta Riograndense, Associação Gaúcha de Escritores.

De 1976 a 2002 publicou 15 livros de poemas e o romance-histórico “Entreguem o matador à família do morto – Brasil 500 D’anos”. Neste 2006 comemorará 30 anos de Literatura com a publicação de sua antologia poética “Construtores de precipícios”, traduzida ao Francês e ao Espanhol, com lançamentos na Europa e Mercosul, além dos novos “Amor tsunami” e “Vê-las à luz de velas – e alguns cantos escuros”.

Traduziu do Espanhol ao Português livros de poemas e contos de Carlos Pereira Higgie (2), Rubinstein Moreira e Néllida Marina H. Manfrú, todos uruguaios.

Como Editor, criou há 20 anos a Editora Alcance Ltda e há dois anos adquiriu a Editora Tchê!. Ambas somam dois mil títulos editados.

Divorciado, é pai do Rossano, Schariza e Dênis.

Neste mês de maio foi homenageado por seus 30 anos de Literatura pela "Associação de Escritores do Uruguai", em Montevidéu; e pela "Academia Portenha de Lunfardo" e "Sociedade de Escritores Argentinos", em Buenos Aires. Igualmente proferiu palestras e recitais nas entidades citadas.

Profissionalmente é Editor e proprietário das Editoras Alcance e Tchê!, ambas do Rio Grande do Sul. Atualmente edita vários livros de autores do Brasil e Mercosul para a Feira do Livro de Porto Alegre.

E com muita dedicação organiza com sua equipe o projeto CALENDÁRIO POÉTICO DE MESA para 2007, promovendo poetas de todo Mercosul. Informações de como participar em www.editoraalcance.com.br

Realizando Sonhos
(Gabriela Barquett)

"Rossyr Berny aporta em Porto Alegre no dia 13 de abril de 1973, vindo de São Gabriel/RS. Nada na bagagem, mas o coração abarrotado de sonhos.

As barreiras foram muitas, porém, menores que sua força interior. Passadas pouco mais de duas décadas e um rápido olhar para trás, o balanço positivo: três cursos superiores (Jornalismo, Mestrado em Literatura e Formação de Professores); 13 livros editados; cinco traduziu do Espanhol para o Português; sua obra traduzida e reunida Señales vitales , a ser publicada proximamente em Montevidéu, traduzida por Rubinstein Moreira

Seu primeiro livro Homem-autômato foi lançado m 24 de setembro de 1976, em Porto Alegre. A obra causa furor r revolta, por sua ousadia sendo acusado de comunista e subversivo. Não fora para menos. Na época da ferrenha ditadura militar, seus pares resguardavam-se nos poemas melosos e na boca calada. O livro foi proibido em sua própria terra natal. Daí para frente, mais uma dúzia de livros vieram enriquecer sua bibliografia, tornando-o conhecido poeta pelo arrojo, mas também com espaços para o canto da mulher amada. (Ten três filhos, e há uma década o amor definitivo: Nádia)

Abdicou da profissão de jornalista, bancário e professor para cuidar exclusivamente de sua editora, a Alcance, a qual tem sido porta e janela para autores de valor, mas que têm chance nenhuma no mundo das grandes editoras.

Tantas lutas, alguns esfolamentos e muitas conquistas. Lema? Uma batalha perdida é uma batalha a menos a perder. Uma convicção? Renascer é mais irreversível que parecer.

Agora está publicado mais do que um novo livro: sua antologia poética com aproveitamento para a agenda permanente. Por quê? Acredita que sua poesia (como a de tantos poetas de valor) deve ser consumida permanentemente. É um grande achado, uma descoberta genial. Livro/Agenda/Livro/Agenda. Só poderia ser idéia do Rossyr."

... A respeito de Rossyr Berny

Eu tenho medo que dia desses
o Rossyr Berny desapareça.
Que um disco voador, imenso, luminoso
desça devagarinho dos céus
e arrebate o Rossyr e leve de novo
para o lugar de onde ele veio.

Porque somente um tempo-nauta, um extra-terrestre
é capaz de fazer com a apalavra, a simples palavra
que nós usamos todo dia
o que o Rossyr faz;
primeiro adula, beija, acaricia
brinca, desnorteia,
joga para o alto, depois puxa, coloca bem embaixo
no meio da lama, do esgoto, suja,
para depois fazer com que apareça cristalina
e pura no murmúrio doce de um riacho.
chicoteia, usa, abusa dilacera
transforma em pomba da paz, depois em fera
rosnando e avançando contra o poder abusado
contra a face hipócrita dos que pensam
que a PALAVRA é coisa para ser ignorada
o Rossyr usa a palavra e faz dela uma arma
e são tantas e tão perigosas
que é quase um arsenal.

Então ele lapida, lubrifica e de repente
já não são mais perigosas
mas tão lindas, tão intensamente líricas,
enluaradas, românticas
uma declaração de amor
para quem quer ler, ou ouvir ou sentir na pele
como um arrepio.

Quanto mais eu leio o que o Rossyr escreve
mais eu tenho certeza
que toda essa beleza
selvagem
não pode ser daqui, do nosso planetinha
Tem que ter vindo de outras galáxias
de outras paragens mais iluminadas.

Sua Antologia Poética
Percursos do Feroz Cotidiano
Está sempre perto de mim, na cabeceira
E, se eu fosse a mulher aquela do BILHETE (janeiro/28)
eu choraria tanto ao ler a poesia
e seria tão pungente esse meu pranto
tão humilde meu pedido de perdão,
que ele de certo me perdoaria...

Ah! o giante que é
o homem que diz ser muitos homens
na agonia de multiplicidade
dos homens que ele é... (fevereiro/03)

Se vocês não acreditam em mim
verifiquem a agenda poética
exatamente em setembro 16 e leiam:

“Eu não nasci neste mundo
estou sempre surpreso com meus cotovelos
e as conquistas alheias (...)

cheguei à vida e galáxias erradas
vou embora pra casa
no próximo cometa que passar”

Viram?... eu estou avisando vocês
Eu tenho muito medo
que dia desses o Rossyr Berny desapareça
...e nos esqueça.

Livros publicados:

1. Homem-Autômato - Poesia - 1976
2. Desuniverso - Poesia - 1978
3. Exercício da lágrima - Poesia - 1979
4. Cativez de pólvora - Poesia - 1980
5. Não se suicidar é preciso - Poesia - 1980
6. Poemas de Veraneio - Poesia - 1980
7. Invernia - Poesia - 1982
8. Somos todos munição - Poesia - 1983
9. Antologia poética - Poesia - 1984 - (Obras de 1976 a 1983)
10. Carlinhos Hartlieb - Biografia - 1986
11. PaZtores de mísseis - Poesia - 1987
12. Revelação das sombras - Poesia - 1992
13. Percursos do feroz cotidiano - Poesia - 1997 - (Nova antologia, com obras de 1976 a 1997 e aproveitamento de agenda permanente)
14. Estações do Homem - Poesia - 2000
15. Entreguem o matador à família do morto - Brasil 500 Danos - Romance-histórico - 2000
16. Armas Amores - 25 anos de Poesia. Acompanha CD de poemas, com declamação do autor.

Fontes:
http://www.editoraalcance.net/rossyr/livros/rossir_livros_4.htm
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/rossyrberny/

Lygia Bojunga Nunes (1932)


Lygia Bojunga Nunes (Pelotas, RS, 26 de agosto de 1932), ou simplesmente Lygia Bojunga, é uma escritora brasileira.

Iniciou a sua vida profissional como atriz, tendo-se dedicado ao rádio e ao teatro, até voltar-se para a literatura. Com a obra Os colegas (1972) conquistou um público que se solidificou com Angélica (1975), A casa da madrinha (1978), Corda bamba (1979), O sofá estampado (1980) e A bolsa amarela (1981). Por estes livros recebeu, em 1982, recebeu o Prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio literário infantil, uma espécie de Prêmio Nobel da literatura infantil. O prêmio foi concedido pela International Board on Books for Young People, filiada à UNESCO. Os colegas já antes havia conquistado o primeiro lugar no Concurso de Literatura Infantil do Instituto Nacional do Livro (INL), em 1971, com ilustrações do desenhista Gian Calvi.

Ao completar 8 anos, sua família se mudou para o Rio de Janeiro, "... ao nos mudarmos para o Rio, fomos morar em Copacabana e eu logo me entreguei ao mar, à praia e à vida do bairro de tal maneira que parecia até que o planeta Terra tinha um só nome: Copacabana".

Logo após ser escolhida para estrelar a peça inicial do Teatro Duse, criado por Paschoal Carlos Magno (o fundador do Teatro do Estudante no Brasil), Lygia foi contratada para a companhia profissional Os Artistas Unidos.

Após abandonar sua carreira de atriz, Lygia passou 10 anos escrevendo para rádio e televisão. "... naquele tempo escrever/criar personagens era, pra mim, uma forma de sobreviver e de poder construir a casa que eu queria pra morar (a Boa Liga); só depois, quando eu abracei a literatura, é que eu me dei conta que escrever/criar personagens era muito mais que um jeito de sobreviver: era – e agora sim! – o jeito de viver que eu, realmente, queria pra mim.

Aos 33 anos Lygia foi morar "lá no fim de um vale, nas montanhas do Estado do Rio: tinha chegado a hora de viver agarrada com a natureza".

Tempos depois ela fundava, junto com seu segundo marido, "um inglês ótimo que o acaso fez bater naqueles verdes", uma pequena escola rural chamada TOCA, que os dois mantiveram durante 5 anos.

Em 1982 Lygia se mudou para a Inglaterra; "foi lá que eu compreendi por inteiro que o escritor é cidadão da sua língua; comecei então a alternar o meu tempo de Londres com o meu tempo de Rio; mas não ouvir a minha língua foi ficando uma penalidade cada vez maior, então fui esticando cada vez mais o meu tempo de Rio, e agora, com a casa que eu criei pros meus personagens, quer dizer, com a editora, o meu tempo lá em Londres ainda se reduziu muito mais.”

"Em 1988 eu tive uma coisa que, disseram, era uma recaída teatral": Lygia escreveu e apresentou o monólogo Livro em palcos de bibliotecas, universidades e espaços culturais do Brasil afora e também no exterior, iniciando então uma nova etapa de seu trabalho e uma nova maneira de aprofundar sua relação com o livro - um projeto que ela chamou de As Mambembadas.

Ao longo da década de 90 Lygia desenvolveu mais três trabalhos dentro do projeto d’As Mambembadas, onde buscou juntar seus dois eus: a atriz e a escritora. Levou para o palco o livro de sua autoria Fazendo Ana Paz, representando os sete personagens da história; depois, escreveu e encenou De cara com a Lygia e Depoimento, ambos voltados para a teatralização do fazer literário. E de novo mambembou com essas apresentações intermitentes – feitas da maneira mais artesanal possível – pelo Brasil afora.

Em junho de 2002, na ocasião do lançamento de Retratos de Carolina – o livro de estréia da editora Casa Lygia Bojunga – a autora apresentou para o público o seu mais recente trabalho teatral: A entrevista, onde, durante mais de um hora, "dialoga" com um entrevistador invisível. Mais um solo da autora, "... minha trilha no palco é tão solitária quanto o ato da escrita...”

Quando a Casa iniciou a produção de Retratos de Carolina, a câmera de Peter registrou Lygia junto ao mar – exatamente no local onde, no livro, Lygia se despede de Carolina.

Também em junho de 2002 a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) convidou Lygia para a representação teatral de Os colegas, comemorando os 30 anos de publicação daquele primeiro livro da autora. A câmera de Silvana Marques captou Lygia na platéia, com as flores comemorativas que a autora levou para sua casa acobertada por um livro: símbolo de uma pequena editora que se propõe guardiã dos personagens de Lygia Bojunga.

Em 26 de maio de 2004, Lygia Bojunga recebeu da Princesa Victoria, da Suécia, o prêmio ALMA (Astrid Lindgren Memorial Award), o maior prêmio internacional jamais instituído em prol da literatura para crianças e jovens.

Também em 2004 Lygia recebeu o prêmio FAZ DIFERENÇA (Personalidade Literária do ano)

A escritora e o estilo

Lygia Bojunga Nunes tem recebido reiterados elogios da crítica especializada, quer brasileira, quer estrangeira. No cenário brasileiro, com freqüência tem sido reportada como a herdeira ou sucessora de Monteiro Lobato, por estabelecer um espaço em que a criança tem — através da liberdade da imaginação — uma chave para a resolução de conflitos, o que Monteiro Lobato mostrou saber fazer com maestria. Algumas vezes, no cenário internacional, costuma-se compará-la a Saint-Exupéry e a Maurice Druon, pela notável sensibilização infantil destes através de O pequeno príncipe e O menino do dedo verde, respectivamente. Com efeito, misturando com habilidade o real e a fantasia, Lygia alcança, num estilo fluente, entre o coloquial e o monólogo interior, perfeita comunicação com seu leitor.

Consciente de que literatura é comunicação, a autora não recusa tratar de temas considerados problemáticos como suicídio, em 7 cartas e 2 sonhos (1983) e O meu amigo pintor (1987); assassinato, em Nós três (1987) e abandono dos filhos pela mãe, no conto Xau, no volume do mesmo nome (1985).

Com o livro Um encontro com Lygia Bojunga Nunes (1988), reuniu textos sobre sua relação com a literatura, apresentando, de forma dramatizada, o resultado de seu trabalho.

Esse é também o início de uma reflexão metaliterária, que se estende por Paisagem e Fazendo Ana Paz, ambos de 1992, onde refletiu sobre o que é fazer literatura, fazendo literatura, linha que tem em Feito à mão (1996), uma realização radical, pois o livro foi feito com papel reciclado e fotocopiado — uma alternativa à produção industrial.

Com Seis vezes Lucas e O abraço, também de 1996, retoma um tema instigante deste final de século: uma literatura dirigida a qualquer leitor, estando no objeto-livro a maneira de adequá-la às diversas etapas da vida humana.

É um dos maiores nomes da literatura infanto-juvenil brasileira e mundial, assim consagrada pela qualidade de sua obra e caracterização da problemática da criança, acuada dentro do núcleo familiar.

Sua obra já foi publicada em alemão, francês, espanhol, sueco, norueguês, islandês, holandês, dinamarquês, japonês, catalão, húngaro, búlgaro e finlandês.

Seus livros têm sido altamente recomendados pela crítica européia e estão sendo radiofonizados em vários países, sendo que um deles, Corda bamba, foi filmado na Suécia.

Casada com um inglês, vive parte de seu tempo em Londres e parte no Rio de Janeiro. A autora prepara uma transposição para o teatro de 7 cartas e 2 sonhos.

Prêmios

1971
Prêmio INL (Instituto Nacional do Livro) – Os colegas – Ed. José Olympio;

1973
Prêmio Jabuti – Os colegas – Ed. José Olympio;

1974
Lista de Honra – International Board on Books for Young People (IBBY) – Os colegas – Ed. José Olympio;

1975
O Melhor para a Criança – FNLIJ – Angélica – Ed. AGIR;

1976
O Melhor para a Criança – FNLIJ – Os colegas – Ed. AGIR;

1978
O Melhor para o Jovem – FNLIJ – A casa da madrinha – Ed. AGIR;

1978
Lista de Honra – IBBY – Os colegas – Ed. AGIR;

1980
Grande Prêmio APCA (Críticos Autorais) – O sofá estampado – Ed. José Olympio;

1980
O Melhor para o Jovem – FNLIJ – O sofá estampado – Ed. José Olympio;

1982
Prêmio HANS CHRISTIAN ANDERSEN – IBBY (pelo conjunto de sua obra) – o mais tradicional prêmio internacional de literatura para crianças e jovens;

1982
Prêmio Bienal Banco Noroeste de Literatura Infantil e Juvenil – O sofá estampado – Ed. José Olympio;

1985
Prêmio literário O Flautista de Hamelin – A casa da madrinha – Ed. AGIR – outorgado pela cidade de Hamelin, Alemanha;

1985
Prêmio Os Melhores para a Juventude – A casa da madrinha – Ed. AGIR – concedido pelo Senado de Berlim;

1985
Prêmio Molière (Teatro) – O Pintor – Ed. AGIR;

1985
O Melhor para o Jovem – FNLIJ – Tchau – Ed. AGIR;

1986
Prêmio Mambembe de Teatro: O Pintor – Ed. AGIR;

1987
Seleção dos melhores livros da Biblioteca Internacional da Juventude de Munique – Tchau – Ed. AGIR;

1993
Prêmio Jabuti – Câmara Brasileira do Livro (CBL) – Fazendo Ana Paz – Ed. AGIR;

1993
Prêmio White Ravens – Fazendo Ana Paz – Ed. AGIR;

1996
– Prêmio Orígenes Lessa – Hors Concours – FNLIJ – O abraço – Ed. AGIR;
– Prêmio Orígenes Lessa – Hors Concours – FNLIJ – Seis vezes Lucas – Ed. AGIR;

1997
– Prêmio Jabuti – Câmara Brasileira do Livro (CBL) – Seis vezes Lucas – Ed. AGIR;
– UBE (União Brasileira de Escritores) – Prêmio Adolfo Aizen – O abraço – Ed. AGIR;

1999
Prêmio Orígenes Lessa – Hors Concours – O Melhor para o Jovem – FNLIJ – A cama – Ed. AGIR;

2000
Prêmio Júlia Lopes de Almeida – Hors Concours – União Brasileira de Escritores – UBE – A cama – Ed. AGIR;

2004
– ALMA – Astrid Lindgren Memorial Award (pelo conjunto de sua obra) – o maior prêmio internacional jamais instituído em prol da literatura para crianças e jovens, criado pelo governo da Suécia;
– Prêmio FAZ DIFERENÇA ( personalidade literária do ano ) - O GLOBO

Obras

* Os Colegas - 1972
* Angélica - 1975
* A Bolsa Amarela - 1976
* A Casa da Madrinha - 1978
* Corda Bamba - 1979
* O Sofá Estampado - 1980
* Tchau - 1984
* O Meu Amigo Pintor - 1987
* Nós Três - 1987
* Livro, um Encontro - 1988
* Fazendo Ana Paz - 1991
* Paisagem - 1992
* Seis Vezes Lucas - 1995
* O Abraço - 1995
* Feito à Mão - 1996
* A Cama - 1999
* O Rio e Eu - 1999
* Retratos de Carolina - 2002
* A Bolsa Amarela - 2005
* Aula de Inglês - 2006
* Sapato de Salto - 2006
* Dos Vinte 1 - 2007

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://www.casalygiabojunga.com.br/

Nilto Maciel (A Paisagem e o Homem Cearense em Tigipió, de Herman Lima)


O primeiro livro de Herman Lima, Tigipió, é de 1924. Escreveu ainda o romance Garimpos, as histórias curtas de A Mãe-da-Água, impressões de viagens, memórias, uma História da Caricatura no Brasil e livros sobre a técnica do conto, como Variações Sobre o Conto. Para alguns críticos, depois de Gustavo Barroso, é o nome mais importante do conto cearense no início do século XX.

Nas 14 narrativas de Tigipió o leitor encontra um narrador voltado para a geografia que vai do litoral ao sertão cearense. Os dramas se desenrolam quase sempre em lugares abertos, amplos, devastados por secas. Aqui e ali aparece uma sala, um quarto. No mais das vezes, o leitor se vê diante de imensos espaços rurais, estradas, caminhos e praias. Os personagens são sertanejos endurecidos pela vida áspera, mulheres lindas, sensuais, sedutoras, pescadores igualmente embrutecidos. Vivem intrigas violentas, envoltas em amores frustrados, mistérios, vinganças, loucuras, traições, que terminam em tragédias pessoais ou familiares.

No entanto, a linguagem das narrativas é pomposa, recheada de vocábulos em desuso, mesmo na literatura escrita do século XX. Alguns não se encontram em dicionários: “Bandos de urubus, de vinte a trinta, frufrulejam (grifo nosso) as asas” (...). É até possível imaginar-se Herman Lima jovem diante dos livros de Coelho Neto, atento, maravilhado, a anotar esta e aquela frase: “O rancho negro desenvolveu-se em hemiciclo com os músicos ao centro zangarreando, as mulheres aos guinchos” (Coelho Neto, Rei Negro, p. 110, apud Novo Dicionário Aurélio). “E, aos primeiros compassos de um baião fogoso e estonteador zangarreado pelo vaqueiro” (...) (Herman Lima, “Sereias”).

Entretanto, numa história em primeira pessoa, “Coração”, cujo narrador é um caboclo, João, a linguagem é naturalmente simples. O uso de vocábulos como “sufragante”, “maginando”, pass’os (pássaros) e relamp’os (relâmpagos) não tornam ininteligível a leitura.

Permeiam as narrações, quase sempre espichadas, longos períodos de descrições de ambientes e aspectos físicos de personagens. Assim, muitas vezes os personagens desaparecem para dar lugar ao ambiente, isto é, o leitor se vê diante de largos murais, pinturas do espaço onde vivem os personagens.

No conto “Tigipió”, o mais longo do livro, há referências a diversas cidades e localidades do Ceará, em tempo de seca, “uma só terra devastada e morta, savanas nuas, ermos escalvos”. Os personagens principais são o velho Cesário, sua filha Matilde e Heitor. Viviam os dois primeiros do “fabrico de chapéus de palha”, numa casinha de “tacaniça sem reboco”, no sertão, proximidades do Rio Jaguaribe. O cenário sertanejo reaparece em “Choça Vazia”, embora a narrativa se aproxime mais do gênero crônica: “À margem da estrada, entre a mata reinante, fica, num claro, vazia e silente, uma choça antiga.

Em “Ventura Alheia” vê-se um “tabuleiro ermo”, onde os personagens “viviam do cultivo das terras, lindas vazantes que se estendiam ao fundo das casas, à beira do riacho de Russas.”

Um dos contos mais famosos de Herman Lima é “O Arrieiro”. O narrador, o engenheiro Norberto Sales, conta uma história vivida durante a seca de 1919, entre Aracati e Quixadá. Narra uma viagem do sertão a Fortaleza, assim como a volta. “Léguas e léguas sem fim,” (...) “o calor da fogueira universal esbraseando a paisagem de redor, o horizonte refervendo, e o céu e a terra, tudo envolto no mesmo turbilhão de labaredas invisíveis.” Como o título indica, em “Sertanejos” o drama se desenvolve também no sertão: a “várzea larga”, a “mata quieta”, estradas, veredas, cavalos, cangaceiros. No sertão de Quixeramobim vivia Juventina, de “Coração”. Que termina seus dias em Fortaleza, a mendigar. O início de “Os Caboclos” é uma descrição longa de um pedaço do sertão: várzeas imensas, cortadas de carnaubais.

A última história do livro, “A Mãe-d’água”, quase tão longa quanto a primeira, encerra esse ciclo sertanejo. Hugo, o protagonista, viaja de Fortaleza para Aracati e, em seguida, para o sertão, nas proximidades de Limoeiro, para viver uma história de amor.

O espaço praiano e marinho do Ceará está presente nos demais contos de Tigipió. O primeiro deles é “Sereias”, como não poderia deixar de ser. O drama se inicia na praia de Meireles, em Fortaleza. O pescador Bento Caiçara vai ao mar, para pescar. Termina diante de sereias: “O pobre alçou-se em desvario, bracejou, ofegante, exausto, os membros chumbados, impotentes, os ouvidos zoando, ele todo numa luta surda e titânica, a reagir contra o assombro.”

Em “Alma Bárbara” o drama se inicia num lugarejo praiano, próximo à cidade de Aracati, num “lagamar confronte”, e termina no mar. Em outra ação, no rio Salgado. Em “As Guabirabas” vêem-se dunas, coqueirais, a praia e “ondas abrindo mansamente, em leque, esfroladas de espumas, morros alvíssimos, onde passavam pescadores, mais ao fim o farol” (...). Fortaleza reaparece em “As Mulheres”. O velho Rufino, lenhador e camaroeiro, vivia “à margem do rio Cocó”. Em “Gata Borralheira” a protagonista Genoveva vivia com uma tia viúva e suas duas filhas, sempre a correr a praia, “sozinha, à cata de mariscos”. Mais tarde, já mocinha, enamorou-se de um desconhecido, com quem se encontrava “sob as árvores”, “entre os cajueiros”. Mais adiante se dá o afogamento do namorado. A moça enlouquece: “Quando era noite de lua, a louquinha abalava para a praia, e ficava sobre um penedo rasteiro às vagas, atenta ao marulhar constante da onda.” E finalmente, ao “avistar” o iate branco do seu príncipe, nada em busca dele. “A onda erguia-a, repuxava-a, trepava-lhe pelos ombros.” No desfecho, a moça “ainda pôde jogar-lhe um beijo, antes de afundar.

Outra tragédia marinha se mostra em “Ressaca”. O velho pescador Manuel Lucas vivia, com a filha Rosa, “num casebre abandonado, além de Mucuripe, quase ao pé do farol.” Certo dia, ao voltar para casa, não encontra a moça. Desesperado, sai em busca da filha, pela praia. “Mas, de repente, um vagalhão estupendo, alto e negro como a muralha de um forte, ergueu-se-lhe em frente, a poucos passos.” E dá-se a tragédia.

Os personagens dos contos de Herman Lima são sertanejos embrutecidos pela seca e pela violência, pescadores afeitos à solidão do mar, às vezes aventureiros fora de seu habitat. As personagens são mulheres lindas, voltadas exclusivamente para o amor. O sertanejo Cesário, de “Tigipió”, se vinga da vida, ao provocar a própria morte, assim como a da filha e seu namorado Heitor. Matilde, a filha de Cesário, era “uma cabocla linda e viva, de tentadores encantos”. O desfecho de “Alma Bárbara” é outra tragédia. Pedro e o irmão da “mulatinha” que o primeiro tentara possuir num rio se matam, a golpes de faca. Ritinha, da mesma narrativa, “era mesmo um mimozinho deveras”. A outra, a mulatinha, apresentava um “ocorpinho novo, macio e cheiroso, que nem uma fruta do mato”.

O engenheiro de “O Arrieiro” não é um sertanejo e vive momentos de angústia, ao se imaginar refém de perigoso assassino, Mariano, “feitor lombrosiano”. Viúvo, Rufino, de “As mulheres”, propõe casamento a Joana. Casados, conhece a mulher outro homem, João Vicente, o “paroara”. Inicia-se, então, a trama propriamente dita. Após uma briga, Vicente decide eliminar o rival e o mata. A mulher, no entanto, foge de casa só. Genoveva, de “Gata Borralheira”, ao se fazer púbere, é “trigueirinha e linda a valer”. Justino, de “Sertanejos”, é vingativo. Quando “rapazelho tímido”, a serviço do tio Zé Balaio, sofre deste duro castigo, ao “permitir” que uma égua se alarmasse “frente a um garrancho negro” e disso resultasse um rasgão num saco de farinha. Feito homem, se transforma em bandoleiro e ataca a tropa do tio. Juventina, de “Coração”, é pintada como a mais linda das mulheres: “Os olhos dela brilhavam, que nem duas estrelas Papaceia”. (...) “Os beiços eram duas fatias da fruta do mandacaru.

O apreço pelos naturalistas se pode perceber numa referência a Aluísio Azevedo no conto “Tigipió”. Como eles, Herman Lima também cultua a descrição de traços fisionômicos, físicos e psicológicos dos personagens. Justino, de “Ventura Alheia”, “era um caboclo airoso e vivo, muito fornido de corpo, de cara bonita e franca, de uma alegria sem par.” Damião, “pequenino, raquítico, o tronco abaulado, os ombros para cima, só tinha em proporção a cabeça, uma cabeçorra horrível, de olhos esbugalhados, vítreos e mansos, como olhos de peixe ou de sapo.” A beleza física estaria relacionada à beleza espiritual, assim como a feiúra corporal à deformação do caráter, da personalidade. Mariano, de “O Arrieiro”, tem “cara fosca e modos torvos, olhos injetados, trunfa caída sobre a testa, a dentuça vasta à mostra no prognatismo feroz, o corpanzil ereto e longo, com a musculatura enxuta do mestiço do Norte” (...).

Herman Lima não é apenas um dos melhores contistas cearenses do início do século XX. É também um dos mais autênticos narradores/descritores da paisagem e do homem cearenses.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: d’a Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza: Imprence, 2008.

Alex Giostri (Sobre as Palavras e suas Inflexões)

Imagem do filme A Hora do Rush
(Jackie Chan e Chris Tucker)

Um carro possui um motor. O motor é movido a combustível. Sem o combustível, o carro não anda. Ao ator é interessante pensar que o seu corpo físico é o motor e que a palavra é o alimento de seu corpo, isto é, o combustível. O indivíduo traz consigo sua identidade emocional e suas características psíquicas que o definem como um ser singular. Para que possa comunicar-se com alguém demonstrando parte do que é como pessoa, esse indivíduo utiliza-se das palavras, que são o seu combustível, que, por sua vez, é o que transforma as suas sensações abstratas em linguagem.

Pensando assim, ao ator não basta apenas utiliza-se dessa linguagem, das palavras, se não souber manejá-las, compreendê-las. Essa compreensão, esse manejo, é, ao ator, o que se classifica como inflexão. Como a boa maneira de expor a palavra ao seu espectador. É quando o ator, além de trabalhar a respiração no momento exato, dando as pausas necessárias na hora exata, dá à palavra, às letras, às sílabas, todo um tratamento minucioso no ato da fala, possibilitando assim que quem o assiste sinta-se impressionado com o que ouve. Impressionado no sentido de impressão.

A inflexão é a impostação da voz, é o conhecimento das palavras e de seu poder de alcance, é da relação íntima que o ator tem com o seu combustível. E essa relação entre o ator e a palavra se faz através da leitura, do entendimento das palavras (de seus significados) e dos exercícios que faz dia-a-dia. Há muitas maneiras de dizer a mesma palavra. E aí entra a respiração, o olhar, o tom da voz, a agilidade da fala, o trabalho corporal. É apenas mais um dos ingredientes para a construção do ator, mas é um dos fundamentais, pois é, a palavra, a via de acesso mais direta e rápida na maioria das vezes.

A falta de boa inflexão e, automaticamente, da boa fala, está ligada à falta de leitura e de intimidade com as palavras, mas também está ligada à ansiedade, que é capaz, se não for bem resolvida, de complicar a vida do ator. É na ansiedade que os batimentos cardíacos se desestabilizam (para mais ou para menos); é a ansiedade que aumenta a insegurança do ator, seja ela o tipo que for (tipo de insegurança – causa).

É válido lembrar que o espectador está na platéia para assistir ao que se oferece. Isso significa que o espectador está disposto a ouvir o que os atores têm a dizer. E sendo essa uma afirmação óbvia, ao ator cabe a compreensão de que a sua única obrigação é a de transmitir a mensagem daquilo que está em jogo na cena. E tal mensagem só chega ao entendimento do outro, que é o espectador, se for bem transmitido, de maneira delicada (mesmo que intensa). Um ótimo exercício é sempre o ator colocar-se na posição de quem ouve. É o trabalho do distanciamento.

A inflexão está ligada à técnica. Mesmo o ator visceral, aquele que age com o impulso, com a emoção à flor da pele, mesmo esse ator deve ter dentro de si um espaço racional para controlar o que sai de sua boca. E esse espaço se dá naturalmente. Não há técnica para alcançá-lo. O que o ator pode fazer é mergulhar dentro de si e aguardar que algo toque o coração. É ouvir as suas limitações e jogar com elas em prol de seu trabalho e de sua platéia.

O bom resultado é conseguido também através da leitura incansável do mesmo texto e do entendimento de cada pontuação do autor, de cada palavra posta no texto. O ator deve compreender que tudo que há no texto foi posto por alguém que pensou muito sobre aquele universo. E que cada palavra, ou falta de palavra, que cada pontuação, ou falta de pontuação, que cada concordância verbal, ou falta de concordância verbal, que todas elas foram postas propositalmente pelo autor (na maioria dos casos, mas pode haver um erro ortográfico) e que tudo isso passa a ser o seu guia de trabalho, o guia do ator.

Essa busca pela palavra, pelo aprimoramento técnico daquilo que sai da boca do ator, dessa busca pelo silêncio, pelo tom mais adequado, pelas pausas precisas, são e sempre serão a busca pela própria profissão, pela própria vida. O estar em cena sob os refletores, sob os aplausos, deve ser entendido como uma conseqüência e não como objetivo.

Fonte:
http://www.alexgiostri.com.br/artigos.html

Jerônimo Mendes (História da Poesia Universal – Breve Relato ) Parte III


2. A PROFISSÃO DE POETA

Os registros históricos consultados durante a evolução do trabalho não descartam o fato de a poesia ter sido a única fonte de ocupação e, possivelmente, de renda de muitos poetas ao longo da história humana. Na Grécia antiga, os poetas alcançavam fama e fortuna nas disputas promovidas em festivais religiosos, patrocinados freqüentemente pelo governo da época, principalmente em períodos de agitação política ou ameaça externa para distrair a população, conforme pude verificar.

Embora a poesia tenha sido mais valorizada como arte pelos primeiros literatos, nota-se que os grandes poetas da antigüidade - sem menosprezar os talentos de cada poeta em particular - buscavam a independência financeira e aliavam-na ao gosto pela literatura e dramaticidade interpretadas através do teatro, o que poderia servir, inclusive, como forma de entreter grande parte da população sempre descontente com os seus governantes, motivo pelo qual os próprios faziam questão de estimular a constante realização dos eventos e premiar os vencedores dos concursos.

Apesar da importância na antigüidade, a poesia nunca pôde ser reconhecida oficialmente em qualquer civilização ou cultura como profissão propriamente dita e sempre ficou rotulada por muitos como literatura, por outros como arte e por tantos outros como poesia mesmo, sendo esta última nem sempre classificada como arte.

Diferente dos primeiros tempos, a história registra que muitos poetas obrigaram-se a viver clandestinamente ou na solidão por conta de suas poesias ditas infames, impróprias ou mesmo como ato puro de rebeldia e afronta aos governantes, e assim acabaram por merecer o repúdio incondicional ao invés do reconhecimento.

Consta que o imperador romano Augusto foi um dos grandes incentivadores e patrocinadores oficiais aos escritores e poetas do seu tempo. Para assessorá-lo, recorria ao rico Caio Mecenas, um de seus amigos mais velhos e íntimos, que exercia o papel de caçador de talentos. Mecenas trouxe para o círculo imperial homens brilhantes de vários níveis da sociedade romana. Os poetas Ovídio e Propércio eram cavaleiros, o historiador Tito Lívio vinha de uma família da Gália Cisalpina, o grande poeta Virgílio era filho de um pequeno agricultor e Horácio nascera de uma família de libertos e todos eles gozavam de boa reputação e segurança financeira.

Para esses homens, o patrocínio do imperador significava status social e conforto, à custa de alguma liberdade intelectual. Augusto certamente gostava quando um de seus protegidos produzia um poema épico para maior glorificação de Roma. Virgílio estava trabalhando numa obra desse tipo quando morreu, em 19 a.C. O poeta deixara ordens para que queimassem o poema, caso não conseguisse completá-lo. O imperador discordou – e o mundo ganhou Eneida.

Os chineses presumiam que um cavalheiro seria capaz de se expressar em verso em qualquer ocasião. A composição poética fazia parte dos concursos para o serviço público no governo Tang e todos os burocratas utilizavam suas habilidade poéticas na celebração de excursões imperiais, eventos auspiciosos ou na partida de autoridades.

Tais ocasiões não encorajavam a originalidade : os chineses admiravam mais o equilíbrio e a capacidade técnica. Até os grandes poetas usavam o verso como outras culturas poderiam usar um diário para registrar as minúcias do dia-a-dia, bem como as epifanias de grande significado. E isso só tornou mais notável a audácia e o lirismo dos principais poetas Tang.

Vladimir Maiakovski foi um dos maiores poetas que a literatura já produziu. Foi membro do partido Socialista e, acusado de escrever manifestos, foi preso por várias vezes, julgado e condenado. Quando saiu da prisão, em 1910, julgava-se incapaz de escrever versos.

Maiakovski pertencia a um grupo denominado futurista. Depois da Revolução de Outubro sua atividade literária tornou-se muito mais intensa, abrangendo quer a poesia, quer o teatro, embora nunca tivesse ganho muito dinheiro com isso, mas sustentava-lhe o ego e a sobrevivência mais moral do que física.

Um dos aspectos mais interessantes desta nova fase na vida do escritor foram os inúmeros recitais de poesia feitos através de toda União Soviética.

Posteriormente, tendo retomado a opção pela literatura, mais precisa mente a poesia, declara :

Vou falar do meu ofício não como mestre, mas como aquele que faz versos. O meu artigo não tem nenhum significado teórico. Falo do meu trabalho, que, no fundo, segundo minhas observações e minha convicção, pouco se distingue do trabalho de outros poetas profissionais ” .

Aliada ao exemplo acima, por muito tempo e ainda hoje a poesia carrega o estigma de ter sido associada ao prazer da bebida, da solidão, das doenças e do sofrimento geral em razão de que muitos poetas desafogavam toda sua mágoa e tristeza nos poemas, o que poder ser comprovado nas mais diferentes correntes e escolas poéticas surgidas a partir da Antigüidade, Idade Média e Contemporânea.

Apesar da dificuldade do reconhecimento da profissão, encontramos muitos autores que se declararam verdadeiros poetas profissionais. Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, mesmo tendo ganhado a vida como funcionário público e jornalista, e alegando ter se dedicado à literatura por prazer, não hesitou em afirmar no prefácio de sua Antologia Poética (1962) :

Hoje estou aposentado nas duas atividades que exerci a vida toda, mas posso considerar-me escritor profissional, pois a fonte do meu principal sustento resulta do fato de escrever e publicar livros, que o público tem recebido com simpatia

Contudo, amargando algumas derrotas na carreira literária que influíram profundamente no estilo de compor sua poesia, desabafa toda sua dificuldade em lidar com as palavras e talvez delas prover o seu sustento, facilmente identificado em parte do poema descrito abaixo (1962 : 182 ) :

O LUTADOR

Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
. . .
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não tem carne e sangue
Entretanto, luto.
. . .
Luto corpo a corpo,
luto todo o tempo,
sem maior proveito
que o da caça ao vento.

Apesar de muito criticado e ridicularizado quando jovem, por conta do seu poema No meio do caminho, julgado escandaloso pela crítica da época, Drummond conseguiu recuperar-se do trauma e seu poema acabou traduzido para 17 idiomas pelo mundo afora.

Para aqueles que rotularam-no idiota, o tempo foi o único capaz de corrigir a injustiça que pesou sobre seus ombros e suas retinas fatigadas porque, a despeito de todas as descomposturas praticadas contra ele, houveram também os elogios mais entusiásticos, segundo a antologia organizada de sua obra e por estímulos de companheiros de geração e pessoas mais velhas nas quais o poeta depositava inteira confiança.

Ainda no prefácio de sua Antologia Poética (1962), o poeta consolida toda sua intelectualidade e gosto pelo exercício da profissão: “Acho que a literatura, tal como as artes plásticas e a música, é uma das grandes consolações da vida, e um dos modos de elevação do ser humano sobre a precariedade de sua condição” .

A maioria dos grandes poetas, embora movidos pela paixão da arte de escrever, sempre estiveram divididos, haja vista que a profissão de poeta nunca foi capaz de se manter como meio de sustento e alimentar a esperança de ninguém, ao contrário do que ocorreu nos primeiros tempos.

Um exemplo infeliz da tentativa de sobrevivência por meio da poesia foi o caso de Augusto dos Anjos, um dos maiores poetas brasileiros do início do século XX. Apesar de ter morrido à míngua, o poeta foi reconhecido postumamente após um árduo trabalho de seus amigos e irmão para divulgar sua obra.

Em vida, Augusto dos Anjos amargou todas as incertezas que a profissão de poeta e o desprezo pela sua arte acabaram lhe proporcionando – poesia muito diferente das demais que ganhavam o início do século com o fim do Simbolismo, Parnasianismo e o advento do Modernismo em 1922.

Até os 24 anos, o poeta viveu no Engenho do Pau-d´Arco na Paraíba do Norte, de onde se afastava periodicamente para breves estadas na Paraíba ou no Recife, mas sonhava com a fama e o reconhecimento literário, o que, por conseqüência, poderiam elevar o seu padrão de vida e amenizar os prejuízos financeiros da família.

O Poeta Raquítico ou Doutor Tristeza, como era julgado e conhecido na Paraíba por conta de seus versos fúnebres e amargos, sempre almejou o sucesso através da poesia, embora sustentasse o casamento pelo exercício da profissão paralela de professor. Era advogado também, mas optou pelas letras. Insatisfeito com os proventos ganhos como professor do Liceu Paraibano e pouco valorizado pela imprensa, Augusto dos Anjos resolveu deixar a Paraíba rumo ao Rio de Janeiro onde, supostamente, gozaria de todo prestígio e compensação financeira pelo seu reconhecido mérito, como ele próprio pensou :

No Rio de Janeiro as coisas seriam diferentes. Publicaria, logo à chegada, o seu livro, afirmação de sua personalidade independente, o Eu. Levava algum dinheiro. Não precisaria do auxílio de ninguém nem dependeria de parentes. Faria relações com poetas, escritores e jornalistas, que lhe reconheceriam o talento, e tudo facilitariam ao novo companheiro de letras. Conquistaria, em suma, pelo próprio mérito, todas as posições que almejasse, na imprensa e no magistério”.

Decorrido quase um ano, pouco se havia alterado na vida de Augusto dos Anjos. Conseguiu, apenas, a nomeação de professor substituto de Geografia, Cosmografia e Corografia do Brasil no Ginásio Nacional. A situação do poeta era mais do que precária e os vencimentos insuficientes para cobrir as despesas da família. Perdera o primeiro filho e o parto prematuro indicava todas as dificuldades por que passou. A esperança de sobreviver pela poesia foi morrendo aos poucos e junto com ela o ímpeto do poeta em prosseguir com seus objetivos.

Em carta datada de 11 de setembro de 1991, declara à irmã na Paraíba :

Desempregado, com responsabilidades pesadas a me abarrotarem a alma, vítima de uma desilusão de minha própria terra, tudo isto, como um amálgama negro, engendrou esse silêncio malsinado, que não corresponde absolutamente a uma depressão quantitativa dos afetos à família, tanto por mim estimada. Agora, a nomeação que acabo de receber veio sanear um pouco o meu abalado território cerebral ” .

Para completar a receita do orçamento doméstico, tinha de desdobrar-se em aulas particulares, em bairros diferentes e tornou-se posteriormente agente de companhia de seguros, sem êxito, porém. Era total e absoluta sua incapacidade para ganhar dinheiro.
Teve que se resignar ao ganha-pão de professor. Nenhum editor quisera publicar seus manuscritos poéticos. Acabou por financiar a edição, de parceria com o seu irmão, Odilon.

Um outro poderia acreditar na obra, como um negócio capaz de proporcionar lucros, pelo menos é o que transparece nas cláusulas do contrato firmado por ambos, em reprodução ipisis litteris conforme abaixo :

Cláusula II - “ Fica considerada como despesa de impressão a quantia de cinqüenta mil contos de réis, dispendida com a fotografia de Augusto dos Anjos, a fim da mesma figurar no livro”, e ainda, “Fica considerada como despesa à parte tudo que for gasto com a venda e colocação do livro, cabendo a quem houver feito dita despesa reavê-la, oportunamente ” .

A grande verdade é que, apesar de todo seu talento, cultura e excepcionalidade, Augusto dos Anjos morreu frustrado, pobre e não pôde ver seu grande sonho realizado, a arte da sobrevivência pelo suor da sua poesia. O poeta voou alto, tinha asas possantes, mas era frágil e impotente, sem forças para vencer a realidade da vida, o que lhe causou profundo desânimo com o Rio de Janeiro, ao contrário do que almejava ao sair da Paraíba.

Em 1914 mudou-se para Leopoldina, em Minas Gerais, tendo aceito o cargo de Diretor do Grupo Escolar da cidade com a ajuda de seu cunhado Rômulo Pacheco, ligado à política local. Agarrou-se ao cargo como um náufrago à espera da salvação.

Para sua escrita, porém, o poeta se utilizou de toda sua paixão e obedeceu exclusivamente ao temperamento que lhe coube por dádiva divina. Tal como inúmeros poetas de sua época e de outras, não conseguiu plena realização como poeta de profissão, mas nunca será esquecido, por toda grandeza de sua obra, reconhecida tardiamente nos meios literários. Morreu no mesmo ano em que se mudou para tentar a sorte em Leopoldina, acometido de uma congestão pulmonar, mas deixo aqui nossa homenagem ao grande Poeta Raquítico transcrevendo um de seus formidáveis sonetos, grande pela idéia predominante, pela verdade científica, pelo sentimento doloroso e pela estrutura 1 2 , como diria Órris Soares, amigo do poeta, em elogio feito no ano de 1919 :

LAMENTO DAS COISAS

Triste a escutar, pancada por pancada,
a sucessividade dos segundos,
ouço, em sons subterrâneos, do orbe oriundos,
o choro da Energia abandonada.
É a dor da força desaproveitada
- O cantochão dos dínamos profundos,
que, podendo mover milhões de mundos,
jazem ainda na estática do nada !
É o soluço da forma ainda imprecisa . . .
Da transcendência que não se realiza . . .
Da luz que não chegou a ser lampejo . . .
E é, em suma, o subconsciente aí formidando
da Natureza que parou chorando
no rudimentarismo do desejo !

Diferente do que poderia ser, nenhum poeta conseguiu manter-se financeiramente pela própria poesia. Ao exercício da arte de poetar, por necessidade desenfreada da sobrevivência, a grande maioria obrigou-se a associá-la a uma atividade paralela, incondicionalmente, o que não deixa de causar indignação e espanto, uma vez que a poesia sempre esteve presente na cultura de todos os povos e todos sempre fizeram questão de enaltecer seus poetas.

À exceção dos primeiros e de alguns da atualidade, dificilmente encontramos algum registro de poetas que tenham enriquecido ou simplesmente vivido bem por simples exercício de sua poesia.

Sófocles, Horácio, Píndaro, Shakespeare, Auden, João Cabral de Mello Neto, Manuel Bandeira ou mesmo Drummond, a despeito de toda a fama e herança cultural acumulada para o bem da humanidade, nunca puderam orgulhar-se da poesia como meio de sobrevivência.

Aos poetas sempre estiveram ligados as demais profissões como embaixador, general, professor, escritor ou mesmo cantor, motivo pelo qual podemos insinuar que a poesia não serve como referência profissional. Atualmente, poucos poetas se dizem felizes e contentes com o tímido reconhecimento do público, traduzido em números.

O exemplo de Augusto dos Anjos no início do século e Mário Quintana falecido há pouco tempo não deixam dúvidas de quanto a poesia é ingrata, mesmo sendo objeto de estudo e avaliação em qualquer escola ou universidade de renome.

Mário Quintana, poeta gaúcho, viveu os últimos dias de sua vida vivendo de favores alheios apesar de sua vasta produção poética. Orides Fontela, poetisa paulista reconhecida pelos críticos como uma das maiores da atualidade brasileira, sofre para pagar as despesas de aluguel e manutenção de um apartamento no centro de São Paulo.

Auden na Inglaterra, Eliot e Emerson nos Estados Unidos, Trakl na Polônia, Petrarca na Itália, Maiakovski na Rússia, Baudelaire e Rimbaud na França, todos eles foram vítimas do mesmo mal e em razão de toda indiferença em vida, gozam hoje de reconhecimento, respeito e consideração da crítica literária, dos estudiosos conscientes que acabaram concluindo a importância da poesia no mundo antigo, medieval e contemporâneo.

O objetivo principal no capítulo ao fazer uma analogia e tentar associar a atividade do poeta à profissão foi demonstrar a contradição que existe no fato do público louvar a poesia em todos os tempos e ao mesmo tempo não possuir o discernimento e a crítica necessária para reverter toda injustiça que os poetas conseguem, na maioria dos casos, postumamente. Assim sucedeu com Augusto dos Anjos, Gregório de Matos Guerra, Shakespeare, Cecília Meireles e Mário Quintana, e os textos consultados não indicam que haja tendência de reversão, para tristeza dos amantes da boa poesia.

Tudo o que constatei durante a execução deste capítulo levou-me a acreditar que a poesia não reconhecida como profissão é uma grande injustiça, difícil de ser corrigida, embora seja obrigação de todos reconhecê-la como arte pura e legítima, confiada somente aos iluminados que ousaram cultivá-la por gosto, paixão e até por necessidade de expor tudo aquilo que os mortais comuns não conseguem.

Talvez seja da natureza do poeta produzir palavras difíceis e dificultar o entendimento, guardar para si mesmo aquilo que apenas ele entende num primeiro piscar de olhos, razão pela qual sua obra seja motivo de estudo e não de riquezas materiais.

Emerson, em Ensaios (1994 : 228) sobre o intelecto, resume o trabalho do poeta e sua perfeita relação com a natureza :

O intelecto precisa ter a mesma perfeição naquilo que apreende e naquilo que produz. Por essa razão, um índice de mercúrio da eficiência intelectual é a percepção da identidade. Falamos com pessoas cultivadas que parecem ser estranhos na natureza. O poeta, cujos versos devem ser esféricos e completos, é alguém que não pode ser enganado pela natureza, não importa qual a máscara de estranheza que ela possa vestir . . . Hermes, Heráclito, Empédocles, Platão, Plotino, Olimpiodoro e o resto têm algo de tão vasto em sua lógica, tão primário em seu pensamento, que parece anteceder a todas as distinções ordinárias da retórica e da literatura, e ser ao mesmo tempo poesia, música, dança, astronomia e matemática ”.
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continua...
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Fonte:
Monografia feita pelo autor em Curitiba / PR , março de 2001

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Trova LXXXVIII - Tainara Chiossi Martins (Caixas do Sul – RS)


Fonte:
Escola Municipal Fermino Ferronatto – 5a. Série do Ensino Fundamental

Trova vencedora do Concurso da União Brasileira de Trovadores de Caxias do Sul, 2007.

I Encontro Nacional de Poesias de São Fidélis/RJ (Sonetos Vencedores)


1º LUGAR Edmar Japiassú Maia (Rio de Janeiro/RJ) MEU BERÇO

Pesa-me o tempo… mas, com galhardia
prossigo a caminhada e não me abato,
que um fidelense não se abate ao fato
de ter que exercitar a valentia…

Pesa-me o tempo… e cada vez mais grato
à Cidade Poema e à poesia,
unindo as duas numa simetria,
descrevo São Fidélis num retrato:

O Paraíba acolhes no teu seio,
e o carinho dos filhos é o esteio
que alavanca o progresso em teu avanço…

Pesa-me o tempo… e aguento os meus cansaços,
por saber que, na estafa dos meus passos,
São Fidélis é o berço em que descanso!

2º LUGAR Hegel Pontes (Juiz de Fora/MG) SÃO FIDÉLIS

De São Fidélis guardo a ressonância
De pássaros cantando nas capoeiras;
No olhar conservo as flores das primeiras
Primaveras perdidas na distância…

Toucou-me um dia a incontrolável ânsia
De procurar caminho e abrir porteiras,
Deixando para trás velhas mangueiras
Que encheram de doçura a minha infância.

Comércio, indústria, o campo verde, o açude…
Cidade Poema, te esquecer não pude,
Porque, mesmo partindo da cidade,

Como carro-de-boi que geme e chora,
Eu vou levando pela vida afora
A colheita indelével da saudade!

3º LUGAR Wanda de Paula Mourthé (Belo Horizonte/MG) ENCANTOS DA MATRIZ

Homens de fé, ao mesmo tempo artistas,
trazendo na alma o gênio italiano,
Frei Victório e Frei Ângelo, idealistas,
edificaram, em labor insano,

num mutirão de crenças sincretistas
de índios, escravos, brancos - mano a mano-
uma igreja, com traços vanguardistas,
por influência do padrão romano.

A seu redor, nasce a "Cidade Poema";
hoje é Matriz e da cidade emblema,
onde inspirados poetas tecem rima.

E em São Fidélis, plena de beleza,
completando as doações da natureza,
nasceu do gênio humano a obra-prima

MENÇÃO HONROSA Odir Milanez da Cunha (João Pessoa/PB) SÃO FIDÉLIS - CIDADE POEMA

Pertences dos Puris e Coroados,
contemplativa forma de estesia,
São Fidélis, dois séculos passados,
alenta a natureza de poesia.

Junto à Serra do Mar, nos encostados,
faz com montes e matas parceria
para o tanto dos cantos encantados,
em completa e total sinestesia.

Bicentenária igreja, rios, pontes,
florestas onde floram hamamélis,
onde a fauna fareja novas fontes.

Festiva gente, festejadas frontes
da Cidade Poema, São Fidélis!
Cedendo à Serra novos horizontes!

Hegel Pontes (Juiz de Fora/MG) SÃO FIDÉLIS

Cidade poema, tu não és somente
Um recanto de esplêndida beleza,
Fruto de tua rica natureza
E também do labor de tua gente.

Não é apenas a visão presente
De tudo que compõe tua grandeza:
Jardins e monumentos, e a surpresa
Que a cada passo o visitante sente…

São Fidélis, tu és a extraordinária
Imagem da Matriz bicentenária,
Testemunha de sua trajetória.

Ela é o ontem que acena ao amanhã
E que se eleva como guardiã
De tua longa e luminosa história.

José Antonio Jacob (Muriaé/MG) SÃO FIDÉLIS - CIDADE POEMA

No véu de luz que encobre nosso dia
O céu de São Fidélis se abre em cor,
Amanhecendo as ruas de alegria,
Recompensando o amor com mais amor.

No outeiro da Matriz a Ave-Maria
Comove o dia, e o sol que se vai pôr,
Qual poeta solitário e sonhador,
Curva-se ao poente e escreve uma elegia.

Eis a “Cidade Poema” esplendorosa,
Que em vesperais, de canto, verso e prosa,
Adianta um sorriso e uma mágoa adia...

Pois que esta terra, filha da Harmonia,
Que inspira ao poeta a lira primorosa,
É o Paraíso eterno da Poesia!

Rodolpho Abbud (Nova Friburgo/RJ) HISTÓRIA SACRA

Sobem frades capuchinhos o rio,
para encontrar os índios Coroados,
enfrentando um imenso desafio,
de conviver, em paz, sob seus cuidados…

Surge a cidade e, aos poucos, do vazio,
a igreja, a praça, as casas, os sobrados…
e no trabalho, dia e noite a fio,
os pelourinhos foram recusados!

O povo não aceita a escravidão
e antes mesmo da Lei da Abolição,
em São Fidélis é quebrada a algema!

Livre de escravos, a cidade cresce
e, desde então, celebra e canta em prece,
a história de uma "Cidade Poema"

Sérgio Bernardo (Nova Friburgo/RJ) TRANSMUTAÇÃO

Que cidade forjou a tez do povo
com vermelhas, com negras e alvas peles?
Que lugar honra o antigo e busca o novo?
Ao passar diz o vento - São Fidélis…

A que sítio com árvores me movo
buscando a orquídea, a folha da hamamélis?
Em que terra com versos me comovo?
Recita o Paraíba - São Fidélis…

No norte, em tempos de sumir nos longes,
que igreja foi erguida por três monges?
_ Foi São Fidélis!, Deus acusa.

São Fidélis… Mais lindo dos reinados
e o berço de puris e coroados,
De cidade Poema… virou musa!

Douglas Siviotti de Alcântara (Rio de Janeiro/RJ) POVO POETA

Cidade Poema na terra escrita
Traçada na serra de longa data
Por vale, por rios e até cascata
És tu, São Fidélis, a mais bonita

Cidade Poema quem te recita?
Serão os teus morros e tua mata?
Será essa gente que a ti é grata?
Talvez esse povo que te visita

Cidade Poema, quem te abençoa?
Quem faz os teus versos assim sutis?
Que leio nos ventos e na garoa

Transcritos nos montes e na Matriz
Cidade Serena na vida boa!
Tu és o poema que o povo diz.

Cristina Oliveira Chaves (Estados Unidos) BICENTENÁRIO
Duzentos anos fazem a grandeza,
da "Cidade Poema" em sua verdade
povo de bardos em preciosidade
puros de coração e de nobreza!

São Fidélis, um povo de beleza,
chegam poetas de qualquer idade,
celebram com amor essa cidade
exemplo de constância e de firmeza.

E os seus sinos repicam bem profundo,
seus duzentos anos de construção,
não só de sua Igreja Majestosa.

Também de muitos bardos, para o mundo,
que são dessa Cidade o coração
fazendo-a bem mais bela e mais Formosa!

Fonte:
Site Alma de Poeta. http://www.sardenbergpoesias.com.br/

Carlos Drummond de Andrade (Viagem a Paris)

Paris Antiga feita a mão em óleo sobre tela
- Ouvi dizer que vai a Paris.
- Exato.
- A negócio?
- Não.
- Turista?
- Não.
- Missão política reservada?
- Não.
- Tão secreta assim?
- Não.
- Se não sou indiscreto...transa de amor?
- Não.
- Está muito misterioso.
- Não.
- Como não? Saúde, talvez.
- Não.
- Compreendo que não queira alarmar...
- Não.
- Busca apenas repouso.
- Não
- Fugir do trabalho, então.
- Não.
- Capricho do momento.
- Não.
- Tantos não devem significar um sim.
- Não.
- Significam sim. Vou repetir as hipóteses.
- Não.
- Temos pela frente uma indústria nova, de vulto.
- Não.
- De qualquer maneira, é financiamento internacional.
- Não.
- Então a coisa está ficando preta.
- Não.
- Está preta, e há jogadas que só em Paris.
- Não.
- Percebe-se alguma coisa no ar.
- Não.
- Não dá para perceber, mas há.
- Não.
- Mas pode haver a qualquer momento.
- Não.
- Nem hipótese?
- Não.
- Nenhuma nuvem distante, muito distante mesmo?
- Não.
- No ano que vem?
- Não.
- Ouvi mal?
- Não.
- Sendo assim, é segredo pessoal?
- Não.
- O coração é quem dita a viagem... eu sei.
- Não.
- Sim, sim. Pode confessar.
- Não.
- Hoje em dia essas coisas são públicas. Dão até cartaz.
- Não.
- Sei que não precisa disso, mas...
- Não.
- Por que não? Está com medo da imprensa?
- Não.
- Receia perder a situação social?
- Não.
- A situação financeira?
- Não.
- Política?
- Não
- Pois olhe, melhor é preparar o ambiente.
- Não.
- Claro que sim. Insinuar mudança em sua vida.
- Não.
- Discretamente.
- Não.
- De leve, só uma pincelada. Deixe comigo.
- Não.
- Não abro manchete nem boto aquela foto em duas colunas, aquela bacana, lembra?
- Não.
- Só cinco linhas.
- Não.
- Duas.
- Não.
- Mas tenho de dizer alguma coisa.
- Não.
- O senhor é notícia.
- Não.
- Pode dizer que não, mas é sim.
- Não.
- Puxa vida, o senhor hoje está medonho. Resolveu responder não a tudo que é pergunta minha?
- Não.
- Ah, é? Então vamos recomeçar: o senhor vai a Paris?
- Vou.
- E que é que vai fazer em Paris?
- Ver.
- Ver o quê?
- O Último Tango em Paris.
- E por que é que não me disse isso logo, homem de Deus?
- Você não me perguntou, por que eu havia de responder?

Fonte:
- Pintura = http://www.lemarchand.com

Marici Bross (Album de Poesias de Poetas del Mundo)


CRESCER

Vê amor
Você é tudo o que quero
É a vida, que aos poucos
entra pela terra seca

Levando a colheita
Por que a vida
recolhe, farta, abundante
enchendo a alma

de puro néctar
fluído da vida
desenvolvida

Enche, os campos verdejantes
Com sua fartura extrema
A saciar, a fome
dos que dela, necessitam
E em sua, abundante fartura
Saciam, os campos da vida.
=================

CALMARIA

Sinto a suavidade da noite
Um querer muito calmo
Um querer de coisa boa
Um querer de você.

Olho as velas , acesas, cada qual.
Com seu significado.
Transmitem calma,
Transmitem amor,
Transmitem você,

Você que tanto amo
Você que tanto me quer

A calma invade o ambiente
Você chega de mansinho
Me abraça gostoso
E eu me encaixo todinha
Em teus braços de amor!
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AMAR, LEVITAR.

Amor, amar, voar...
Um levitar gostoso,
Um levitar de amor.
Tão bom quanto amar e viver.

Entre carícias e carinhos
É bom navegar
Em ondas de amor levitar
E em teu coração
Me abrigar

Com certeza, amor seguro
É amor de verdade
É amor que prevalece
Para toda uma vida.
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MULHER BRASILEIRA

Tal qual a flor
Tens o frescor das matas
Explosão de beleza

Teu viver é vida
Vida de amor
Vida de luz.
És o esplendor
Desta Terra Brasileira

Mulher de fibra
Mulher de todas as cores
Mulher de todas as raças
Mulher desta Terra Brasileira!

És a miscigenação de raças
És o resultado desta
Fusão, tão Brasileira
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RUMO AS ESTRELAS

Navegar, navegar.
Por espaços desconhecidos
Navegar com emoção
Nesta aventura desejada.

Estamos a navegar
Por este espaço sideral
Onde vislumbramos
Nossa terra que é azul...

Um azul intenso,
Toca nossa alma.
Nós possuindo.
Nós invadindo,
Com muita emoção.

Navegamos, rumo as estrelas.
Neste ir apaixonado
Onde nosso coração e nossa alma
Nós emociona, nos transporta
A este tão sonhado
Espaço Sideral!
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Sobre a Poetisa

Marici Bross (1942 – 2007)

Nasceu em São Paulo, Capital. Teve um simples e muito ligado a natureza onde se refugiava sempre que pudesse. Apaixonada por flores as cultivava em seu apto. de forma muito satisfatória. Hobbies: fotografia, música, leitura, suas poesias e suas esculturas. Adorava colecionar relógios de todos os tamanhos e formas. Divorciada com uma filha de nome Vivian que é solteira e morava consigo.

Foi diretora, administradora e implantadora de métodos e técnicas de ensino de colégios, bem como em tempo anterior secretaria de procuradoria jurídica.


Fontes:
http://www.locurapoetica.com/
http://www.poetasdelmundo.com
http://www.maricibross.com

Silas Correa Leite (O Piá que Entregava Trouxas de Roupas Lavadas)


"As lágrimas são as palavras da alma" Joaquin Setanti

Acharam o piá quase morto de frio. Estava com uma grave pneumonia. Olhos castanhos, murchos, fundos, tristes. Chorava, copiosamente, de ressentimento, talvez. E as lágrimas em sua face com amarelão, como se estavam - por um anjo! por um anjo! - de alguma estranha forma congeladas; dando ao seu rosto pueril a sofrência de uma paleta de amargura e dor terminal. O policial Dito Lima, num fusca que mais parecia uma imagem de garrafa de crush itinerante, tinha subido a rua 24 de Outubro, ali, na altura do Clube Atlético Fronteira, perto da hora do inicio Missa do Galo, e vira o menino com um vazio saco de farinha de trigo usado na mão direita, como se segurasse uma roseira de tristices. Vira, em passant, por acaso, de vereda mesmo. Depois, precisando atender a um chamado do Vereador Chico Preto para um forfé suspeito nas imediações da malha férrea da Estação Sorocabana de Itararé, passou novamente na esquina ali pertinho, e, de través, com o rabo do olho captou de novo o guri e talvez já passasse da meia noite. Encafifou. Será o impossível? Um alarme divinal tocou em seu instinto. Só por Deus. Parou o fusca da policia e foi ver o que estava acontecendo. Sacou o desboque: o menino pobrezinho ardia em febre, murcho, trêmulo, se não fosse socorrido a tempo certamente que iria morrer. Era Natal em Itararé, Cidade Poema. Dezembro de um tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça.

O piá era filho da Dona Lena. Levava e trazia rotineiramente as trouxas de roupas que a mãe lavava pra fora, precocemente ajudando como podia em casa. Trazia as pesadas trouxas de roupas sujas dos ricos, depois levava tudo de novo, roupa limpinha, fervida em água de bica (o chafariz do Bairro Velho), sabão de cinzas e anil, passada com os vincos certinhos, e que entregava direitinho, trazendo os minguados tostões pra suprir a familia grande e pobre, da carente periferia sociedade anônima de Itararé, pois o pai estava doente, os irmãos menores padecendo, por meses, mal-e-mal e sempre uma rotineira e rala sopa de fubá com couve rasgada. Havia carestia no Brasil, anos sessenta, os clientes ricos minguando, o já parco pagamento dos afazeres da mãe dedicada, entre o tanque e o quarador, entre o fogão de lenha e os filhos com amarelão. A Dona Lena confiava naquele primogênito, era o maior, dizia até que o bendito era abençoado por Deus. Gastava um minuto de prece com os outros filh
os, nas demoradas orações, mas, com aquele seu protegido era meia hora, precisava investir no menino, tinha fé nele.

Algo doente, Dona Lena, mesmo assim batalhou até de madrugada, fervendo as roupas no latão velho de óleo de algodão, sobre uma lajota com fogo no quintal de laranjeira pesteada. Depois, passou a ferro que era de brasas, com sacrifício, mas ela contava com mais aquele serviço, tinha planejado, ternura de mãe. A despensa estava vazia fazia tempo. Sopa de fubá com couve rasgada, polenta maleixa, aqui e ali, banana frita, uns ovos que mal davam prum bolo mixuruca de banana-caturra e olhe lá. O céu por testemunha. Se o Dr Aderaldo mandasse mais uma quantia de roupa, se apressaria em entregar depressinha o serviço, pra ter mais uns cobres que melhorassem a bóia de natal, talvez desse até para comprar algumas tubainas de limão do Vilela, ou mesmo algum doce de cidra pros filhos queridos, tão precisados. Instruiu o piá Thiago que, entregando as trouxas de roupas limpas, recebesse e passasse no Seu Vitorino, fizesse algumas compras, deu uma listinha, feijão-jalo, tomate, óleo, açúcar
cristal. E também trouxesse a nova renca de roupas sujas pra ela poder adiantar bem o serviço, varando a noite preciso fosse, talvez entregando no dia seguinte, mesmo tendo que ferver as roupas de madrugada, mas, ao final do dia de natal entregaria tudo pronto e receberia a paga costumeira para melhorar a bóia em casa. Coração de mãe. Capricharia nos torresmos, cuques, tortas de lágrimas. Confiava no guri. Bem instruído, ele foi levar as pesadas trouxas, como se carregasse o mundão sem porteiras sobre os ombros miúdos.

Entregou, recebeu, viu que era pouco o que pagavam pelo trabalho, mas atenderia à solicitação da querida Mãe. Mas, quando perguntou da nova porção de roupa suja da casa do Dr Aderaldo, foi informado de que não estavam mais interessados no serviço, contratariam empregada barata a preço melhor e que ainda faria tudo, depois, estavam para entrar de férias, iriam pra Iguape, litoral. O menino ficou estacado. Mal deram um tiau seco e sem graça que fosse, fecharam a porta da casa rica na cara azeda dele, e Thiago ficou ali, encostado na enorme porta de cedro e imbuia cheirosa, chorando suas lágrimas, quase beijando a parede, quase mesmo batendo de novo e pedindo pelo amor de Deus, mais uma leva de roupa suja, mais uma porção de serviço, a casa precisava, a mãe contava com aquilo, que fizessem uma caridade. Era Natal e ele estava detravessado. Sensível. Cismou. Reinou. Não voltaria pra casa. Não voltaria nunca mais. Não com as mãos vazias. Não ele. Não daquele jeito.

Ficaria ali. Estava mesmo com tosse de cachorro, a mãe disse, o peito chiara na madrugada fria do dia anterior, um dezembro chuvoso e friorento em Itararé. Se morresse ali, não daria desgosto de dizer pra mãe que não teria mais roupa pra lavar daquela ultima casa freguesa, ou que iria apertar mais a pobreza em sua casa humilde. Sim, ficaria ali, achariam o corpo, dariam o dinheiro pra mãe, ela o abençoaria, "vá com Deus meu curumim, vá morar no céu, piá". Ele não tinha coragem. A mãe pedira. A mãe contava com mais uma lavada pelo menos, naqueles tempos de carestia. Pelo menos morrendo, no jantar daquela noite sobraria mais da rala sopa de fubá com couve rasgada pros irmãos, para as adoradas irmãs, para a mãe adorável que andava dodói da angina, pro pai que estava de cama com úlcera varicosa e assim era impedido de trabalhar. Ali Thiago ficou entrevado, coração transido, alma aflita, mordido de dor. Só por Deus. Entardeceu, anoiteceu. Sobre a beirada da porta da frente da mansão do Dr Aderaldo Martins Mello, na Rua 24 de Outubro, um pacote de renúncias. Foi quando o policial Dito Lima o achou sem querer e salvou a sua vida, pois a morte já fora avisada que uma alma pura de Itararé estava para ser levada para muito além do vale da sombra da morte...

Na Santa Casa de Misericórdia de Itararé foi uma correria danada, um forfé sem igual, o menino coitadinho para morrer; cobraram doações de sangue, labutaram, uma enfermeira conhecia a familia, foram avisar Dona Lena, o filho achado em petição de desconsolo estava morrendo em frente a casa do doutor rico, a mãe preocupada pensava mesmo em chamar a policia, ia dar parte na cadeia, perguntaram então do porque o menino que entregava roupa não quisera mais voltar pra casa, como ele ainda em tratamento emergencial, talvez entre o pesadelo e o sonho, falara, repetira, suando, descorçoado, determinado, em febre-terçã, preferindo morrer do que não ter como ajudar a mãe prover o lar.

O Dr. Jonas de Alencar chorou muito depois que o pensou com presteza, mandou trazerem capado do sitio e que doassem pra família junto com farnel de milho verde e manta de charque, entre grãos e tulhas de frutas como laranja-pêra, abacate-manteiga, manga-sapatinho, alguns lambaris salgados também. O enfermeiro Nicanor correu no Armazém do Vereador Tico comprar fiado uma boa cesta básica pra doar como se fosse o seu abençoado presente de natal pra família. Todos no hospital, doadores, serviçais, visitantes, curiosos, gente de coração de ouro de Itararé, cavalheiros como os reis magos, foram acudir aquela família humilde em petição de miséria. Muito além de ouro, incenso e mirra, há o amor, pois o amor é a mão que balança o berço da humanidade, e a esperança é a inteligência da vida.

Nunca tiveram um mês tão farto naquela casa de tabuinhas, com todos finalmente comendo do bom e do melhor, até que a mãe arrumou freguesia nove e farta, o pai arrumou emprego de acendedor de lampiões de gás de Itararé, o menino Thiago ficou sendo respeitado pelos seus colegas do primário no Grupo Escolar Tomé Teixeira, e quando algum piá maroteiro de rua, com quem joga bola de capotão agora, de ki-chute encardido no pé, pergunta porque ele não quis voltar pra casa, ele enche os olhos de lágrimas, abaixa a cabeça, se assunta e não diz nada. Fica encruado.

Não, não se apruma numa conversa fiada que seja. Sabe só pra ele que dentro do seu coração, de alguma maneira que inventou de inventar, sentiu uma estrela amarela de Natal alumiando, e ele queria aquela bendita luz, aquele dourado celeste de esperança, para enfeitar a choupana humilde de sua morada na descalça periferia cor-de-rosa de Itararé.

Sentiu que, talvez porque fosse Natal, mesmo morrendo de frio, de alguma maneira seus familiares não morreriam de fome, pois, algum anjo de pertinho do Menino Jesus do presépio, em sua fé e defesa, operaria o que o pastor João Vera da igreja chamaria de um "Milagre".

Conto da Série "Eram os Itarareenses Astronautas?"

Fonte: http://www.paralerepensar.com.br

João Luiz do Couto (Lançamento do livro "O Elefante que não sabia escovar os dentes")

Fonte: Colaboração da Editora Giostri

Pablo Diego (Lançamento do Livro "Mamãe, o papai sumiu!")

Fonte: Colaboração da Editora Giostri

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

I Encontro Nacional de Poesias de São Fidélis/RJ (Trovas Vencedoras)

Igreja de São Fidélis
1º LUGAR

São Fidélis…Glória extrema…
Sempre linda aos olhos meus…
Se és a Cidade Poema,
por certo o poeta é Deus!
Sérgio Bernardo (Nova Friburgo)

2° LUGAR

Retornei, minha Cidade
Poema, que acolhe e abraça…
Vejo rostos de saudade
me sorrindo em cada praça…
José Valdez de Castro Moura (Pindamonhangaba/SP)

3º LUGAR
Do Senhor o diadema
tinha uma estrela faltante;
criou-se a Cidade Poema:
nele incrustou-se um brilhante.
Sérgio Amaral Silva (Guarujá/SP)

MENÇÃO HONROSA

Cidade Poema, eu queria,
já que a fonte não se esgota,
beber o encanto e a poesia
que até de seu nome brota.
Hegel Pontes (Juiz de Fora/MG)

Cidade Poema ensina
que em seu solo se cultua
um soneto em cada esquina…
uma trova em cada rua…
Arlindo Tadeu Hagen (Belo Horizonte/MG)

Cá, nos mares de Iracema,
eu me propus a cantar
esta Cidade Poema
que canta a Serra do Mar!
Francisco José Pessoa (Fortaleza/CE)

Deus, com perfeição suprema,
Criou e deu formosura
à tela "Cidade - Poema",
que o Paraíba emoldura.
Vanda Fagundes Queiroz (Curitiba/PR)

Voltei à minha Cidade
Poema dos sonhos meus,
porque a saudade me invade.
Volto para os braços teus…
José Moreira Monteiro (Bom Jardim/RJ)

Mesmo sem o "Engenho e Arte"
de um Camões, não fujo ao TEMA!
Pois quem me inspira…faz parte
desta "CIDADE POEMA"!!!
Maria Madalena Ferreira (Magé/RJ)

"Cidade Poema" tem,
em sua história, esplendor,
por "sempre" ninar alguém,
em berço de trovador!...
Roberto Tchepelentyky (São Paulo)
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Fonte:
Site Alma de Poeta. http://www.sardenbergpoesias.com.br/

Herman Lima (Alma Bárbara)


A Leão de Vasconcelos

Pois foi assim, meu amo. Nesse tempo, nós andávamos pelo sertão, a serviço do coronel Feitosa, do Iço, por via de uns negócios de política. O Pedro, o patrão deve estar lembrado dele. Negro famanaz, vivedor como trinta, baixo e grosso como um toro de aroeira, com uns beiços revirados, e umas ventas rombudas, como amassadas de murro. Contador de quantos casos de amor e de briga ouvi neste mundo, toda cabocla ele dizia que podia possuir, não achava homem que o fizesse voltar atrás. E, a propósito, deixe contar-lhe.

Uma noite de lua, num forró de casamento, lá na Barreira Preta, no Aracati, quando ainda era, a bem dizer, meninote, o Pedro, encontrando a Ritinha da Venância, uma morena de papoco, falou pra cabeça dela, e foram os dois passear de bote, escondidos, no lagamar confronte. No princípio, o negro ainda se lembrou dos remos, e remou até o meio do rio. O rio estava uma prata. No brejal escuro das margens, berrava a saparia do inverno, assim, zôôôm... Só de longe em longe, um vulto de pescador aparecia, tarrafeando nos baixios. E a cabocla, na proa, olhando o lume do luar tremer nas águas, cantava como uma sereia encantada, dessas que tentam os marinheiros no alto mar. Depois, o negro pegou a se queixar dos braços, descansou os remos atravessados na beirada do barco, e foi sentar-se mais a moça. E tantas coisas fez e achou, meu amo, que quando sentiu foram as pancadas do mar no casco da canoa. Num pulo, deixando a morena quase desmaiada no fundo do bote, o Pedro atirou-se para os remos. Mas, qual. Logo que o barco entrou nas ondas, os remos tinham rolado na água. De forma que o preto botou as mãos na cabeça, assuntando, porque o caso estava mesmo feio. Mirando o céu, ele viu, pelo Cruzeiro grande, que havia de ser meia-noite, pelo menos. Nessa hora, naquelas alturas, só Deus com um gancho lhe podia valer. Assim, não assuntou muito tempo, e tratou de espertar a mulata. Mandou que ela se despisse e fizesse uma trouxa da roupa, que ele amarrou nas costas. E, tomando a pobre nos braços, atirou-se ao mar, nadou até a praia. Como a moça não podia voltar pro baile, por via da distância e das roupas ensopadas de água, o negro achou melhor levá-la pra casa de uma tia, que morava ali perto, no Fortim. No dia seguinte, toda a gente sabia do acontecido. O Pedro mesmo não negou o passeio. E a Ritinha, assim, caiu na boca do mundo. Mas, daí a uns tempos, como a mulata era mesmo um mimozinho deveras, não tardou em acender uma paixão de louco no coração de um cabra fornido, passador de gado nos sertões do Limoeiro, que andava há coisa de três semanas por ali. Quando o Pedro viu o cabra todo derretido pela Ritinha, tratou de ajudar-lhe o xodó, enquanto preparava a pobrezinha, dando de um tudo a ela. Até umas bichas de ouro, em forma de meia lua, ele deu.

Mas, aí, como sempre, não faltou um malvado, que foi contar o passeio do rio ao boiadeiro. Mas o cabra, que estava mesmo de beiço pela morena, desprezou a conversa, ainda disse o diabo ao intrigante. Pra encurtar a história, o homem casou sempre com a Ritinha. Pois o Pedro, um dia, meteu na cabeça que devia contar-lhe tudo, e contou.

– E ele?

– Pra lhe falar verdade, meu amo, eu não acreditei muito no que o negro me disse a respeito. Mas ele jurou pela fé em Deus, fazendo cruz na boca, que o outro não fez coisíssima nenhuma. O certo é que uma feita, conversando muito distraído, o preto me falou numa sentença sofrida na cadeia do Aracati; e, num domingo, quando nos banhávamos no açude do João Lopes, na Fortaleza, descobri, lá nele, aqui, embaixo da pá, um risco de faca de dois palmos. Quando lhe mostrei aquilo, o Pedro fechou a cara, disse de mau modo que não era nada, tinha sido uma chifrada de marruá, no tempo dele menino. Deus me perdoe, patrão, mas ó me parece que ali andava obra do cabra da Ritinha, e ninguém me tira da idéia que o Pedro tenha feito alguma a ele.

Mas, bom. Como ia dizendo, o caso foi assim. Nós tínhamos chegado no Crato, numa quinta-feira, devendo voltar na outra semana. Quando foi no domingo, como não tivesse serviço, arreamos os cavalos de manhãzinha e nos atiramos no mundo, cada qual no seu rumo. Eu tombei pra venda do Zé Bacurau, onde fiquei até a boca da noite, mais uns freteiros de folga, numa partida de – vinte-e-um, que me limpou os cobres. Na volta, chegando em casa, já com a lua de fora, encontrei o Pedro estirado na tipóia, com uma ponta de mata-rato no queixo. Quando me viu, o preto fez ar de alegria, foi logo dizendo que tinha uma história pra contar. Aí, eu fui coar um gole de café com rapadura, e bebi pelo pires, soprando, danado, pra ouvir o negro. Porque o diabo do homem, patrão, sabia mesmo enrabichar a gente com as falas. Com pouco, eu estava outra vez junto dele, na minha rede, mascando minha felpa de mapinguim. E, metido na tipóia, com um pé no chão pra dar o balanço, o Pedro contou que tinha ido pras bandas do Salgado, chegando num ponto em que foi preciso romper o mato, pra alcançar o rio. A manhã estava bonita, não havia hora melhor para um banho. E já ele tinha desapeado, quando avistou, mais pra cima um pedaço, uma cabocla novinha, nuazinha, trepada numa pedra, mirando-se na água serena que passava. Vendo que a mulatinha não tinha dado por ele, o negro, muito de manso, prendeu o cavalo num buritizeiro, e foi rastejando, rastejando, pelo mato, num piso de sussuarana, até que topou com as roupas da moça escondidas numas moitas. O preto logo assentou um plano. Mais que depressa, agarrou nos vestidos e de repente apareceu à morena. A pobrezinha, como se tivesse visto o Maligno, soltou um grito tamanho, e mergulhou como pecapara assustada. O rio aí já era de nado. Com pouco mais, adiante, ela botou a cabecinha de fora, olhando muito agoniada, sem saber o que fazer. Enquanto o Pedro, muito bem sentado na ribanceira, mostrava-lhe as roupas, rindo para ela, e chamando-lhe quantos nomes de amor sabia. E disse que não tivesse medo, viesse buscar os paninhos, que ele não lhe fazia mal, queria só um beijo dela dado assim nua como estava. Isso ele dizia, meu amo, mas só dos dentes pra fora. Deus me perdoe. Pois alguém acredita que o negro não tivesse má tenção, armando aquele mundéu à coitadinha? No mais, o patrão faça de contas que era ele numa hora dessas, e veja lá se tinha coragem de resistir... Pois a verdade é que a mulatinha pareceu adivinhar os desejos do preto, e desatou a chorar, disposta a morrer, mais antes do que se apresentar despida a ele. Nessa idéia, fez o pelo-sinal, e se soltou no rio. Aí, o Pedro mediu toda a ruindade da ação que estava praticando, e sentiu os olhos cheios de água, com pena e dó da criança. Atirando as roupas no chão, despiu a camisa, e jogou-se na correnteza. A moça, nesse tempo, já ia longe, enrolada nos cabelos, arrastada pelo rio. O negro mergulhou, e nadando por baixo da água, como um peixe, foi tomar fôlego já nos calcanhares da cabocla. Com duas braçadas mais, emparelhou com ela, e, agarrando-a pela cintura, nadou com força pra terra, como tinha feito com a outra, lá no Aracati.

Garanto, meu amo, que o negro, me contando isso, ficava ainda com os olhos afogados de pranto, como quem atravessa a fumaça de um incêndio... Coisas do coração, moço, mas não é? Pois, quando vinha trazendo a moça pro seco, apertando contra o peito aquele corpinho novo, macio e cheiroso, que nem uma fruta do mato, o preto me disse que só sentia uma bondade tão grande, uma pena tão esquisita, como se fosse Nossa Senhora que ele tivesse salvado das águas. Acredite se quiser, meu patrão, mas o negro botou a caboclinha na beira do rio, com o mesmo amor de uma mãe, deitando o filhinho na rede. Quando viu que ele não lhe fazia maldade, a mulata descruzou os braços que escondiam o peito tentador, e num jeito de onça enrolou-se toda nas roupas. Aí, o Pedro enfiou a camisa, e foi-s’embora, sem mesmo olhar pra trás.

No fim da semana, estávamos de viagem. Tínhamos deixado o Crato de madrugada, no segundo canto do galo. Os cavalos eram bons, bralhadores famosos, de forma que às onze horas tínhamos tirado oito léguas. Aí, fizemos uma parada, pro almoço, na sombra de uma oiticica verde, que ficava mesmo cobrindo a picada. Os animais ali por perto babujavam o capinzinho da vereda. Acabando de comer meu bocado de paçoca e rapadura, fiz da carona travesseiro, e me deitei no chão, disposto a dormir um minutozinho. A mata, nessa hora, estava quieta, que nem capela vazia. Só se ouvia o chio-chio de uma cigarra cantadeira nas folhas e um ou outro sopro de venta dos cavalos cansados, roendo a erva. Ainda me lembro que estava dorme-não-dorme, quando o Pedro, que também tinha acabado de almoçar, levantou-se bocejando e se afastou pela estrada. Não sei dizer se tive tempo de dormir um cochilo, quando de repente um berro medonho encheu todo o mato. Num instante, me vi de pé, correndo como um doido, no rastro do negro, que fui achar pouco adiante, agarrado com um cabra moço e entroncado, como um mourão. Pelos modos, meu camarada tinha sido atacado de surpresa, nem teve tempo de se defender. E, antes de sair de meu assombro, o curiboca recuou num pulo, com os olhos relampeando, como uma onça acuada, e uma faca que era isto, encarnada de sangue, no punho. O Pedro se bambeou, com as mãos na barriga, como quem sofria uma grande dor. Aí, acudi com meu punhal desembainhado, e avistei uma coisa, patrão, que me tirou o sono muitas noites. O negro tinha levado uma estocada no vão do umbigo, que era mesmo uma barbaridade, as tripas tinham espocado, pois assim mesmo, quase de cócoras, procurando agüentar os bofes que escorriam para o chão, o preto arrancou a garrucha do quarto, e – ah! negro bom mesmo na hora! – levou um pé adiante, fazendo mira no assassino. Quando viu a arma alumiando, o cabra atirou-se pra cima dele, batendo o queixo que nem caititu furioso, mas já o tiro tinha estrondado por aquele sertão a fora. Aí, o homem deu um salto para o ar, como cabrito assustado, e caiu de bruços na estrada, sem bulir. Vendo-o derrubado, corri para o Pedro, que também tinha rolado na areia. Tomei a cabeça dele nas mãos, quis ver se ainda o levantava. Mas o pobre pegou a revirar os olhos, gemendo como doente de “puxado” no inverno. Só teve tempo de chegar a boca no meu ouvido, e disse, apontando o outro: – “É o irmão daquela diaba!”. – A cabeça pendeu pra trás, o corpo amoleceu nos meus braços. Estava morto, meu patrão!

Por causa disto, tive de andar no mato, fugido como cangaceiro, dois anos e tanto. Hoje, ninguém fala mais no caso, posso estar por aqui, sem medo. Mas, pra acabar a história direito, voltando uma vez no Crato, todo barbado e diferente, pra não me conhecerem, soube que o assassino do Pedro era um irmão da mulatinha do rio. Um comboieiro tinha encontrado os dois corpos na estrada, galopou como um doido até a cidade, e tudo se descobriu.

Já vê, meu amo, que não serviu de nada a boa ação do preto, não tocando num cabelo da morena. Se ele tivesse feito mal a ela, talvez que nem a descarada contasse o caso aos parentes. Como o pobre a tratou como uma santa do altar, achou bom vingar-se.

Mulheres?!... Pode crer, patrão. Uma tira pelas outras. E é tudo uma pouca vergonha.

(Extraído de Tigipió, 7ª ed. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1976)

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: d’a Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza: Imprence, 2008.

Herman Lima (1897 – 1981)



Herman Lima nasceu no dia 11 de maio de 1897, na cidade de Fortaleza (CE). Autodidata, fez apenas o curso primário. Ainda jovem interessa-se pelo desenho, tendo alguns deles publicados em “O Malho” e na revista “Fon-Fon”, e, também, três caricaturas em capas de “O Tico-Tico”.

Em 1915, começa a escrever contos, sendo que alguns foram publicados na citada “Fon-Fon” e na Revista do Brasil, em São Paulo.

Trabalhou na Fotografia 01 – sem, em Fortaleza, sendo mais tarde auxiliar da estrada de rodagem de Aracati a Morada Nova. De volta à capital do Estado, foi escriturário da Delegacia Fiscal, transferindo-se, em 1922, para repartição congênere em Salvador, Bahia, onde se diplomaria em Medicina.

Em 1924, publica “Tigipió”, de contos regionais do Ceará, tendo sido agraciado com o Prêmio Academia Brasileira de Letras.

Forma-se em medicina e vai clinicar no interior da Bahia, na região de Lavras Diamantinas, em Lençóis.

Vai morar no Rio de Janeiro, em 1931, e no ano seguinte publica o romance “Garimpos”, que posteriormente (1939) foi traduzido para o espanhol por Benjamin de Garay. Casa-se com Annette Cathalá Loureiro, com quem tem sete filhos, em 1933.

É nomeado auxiliar de gabinete do Presidente Getúlio Vargas, ocupando-se de sua correspondência particular. De 1933 a 37 foi auxiliar da Presidência da República.

Muda-se para Londres, Inglaterra, em 1937, após ter sido designado para a Delegacia do Tesouro Brasileiro, naquela cidade.

Em 1940, retorna ao Rio de Janeiro e, no ano seguinte, publica “Na Ilha de John Bull”, com impressões sobre aquele país.

“Outros céus, outros mares” é publicado em 1942, também ganhador do Prêmio Academia Brasileira de Letras.

Faz traduções de diversos textos de autores estrangeiros. Durante sua permanência na Europa voltara a se interessar pelas artes plásticas e, principalmente, pela caricatura, ao tomar contato com as revistas especializadas francesas e inglesas.

Voltando para o Brasil, em 1945 começa e estudar e pesquisar o desenho satírico no nosso país, publicando então inúmeros trabalhos sobre este assunto em jornais e revistas e três álbuns ilustrados: “Rui e a caricatura” (1949), “J. Carlos” (1950) e “Roteiro da Bahia” (1953).

Trabalha na Biblioteca Nacional, em 1954, na Divisão de Obras Raras, onde conhece o precioso acervo dos periódicos brasileiros ilustrados.

Em 1961, publica “Domingos Olímpio.

Em 1963, após 20 anos de trabalho exaustivo de pesquisa, publica “História da Caricatura no Brasil”, em 4 volumes, tendo recebido os prêmios Fernando Chinaglia (melhor livro do ano), Centro Cultural Brasil-Israel de S. Paulo (melhor ensaio do triênio 1960-1963), Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (melhor ensaio do ano).

Nos anos seguintes publica: “Poeira do Tempo” (1967); “Olegário Mariano” (1968), e “Afonso Arinos” (1970). É agraciado com a Medalha de Ouro José de Alencar, do Governo do Ceará, em 1974.

No ano seguinte, recebe o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra.

Morre, no Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1981.

Fonte:
http://contosbrasileiros.blogspot.com/
– “Outros céus, outros mares - Exposição comemorativa do centenário de Herman Lima”, RJ: Edições Casa de Rui Barbosa / Ministério da Cultura, 1997. (folheto),