Nasceu em Araripe, Ceará, no dia 6 de junho de 1914. Faleceu em Fortaleza (Ceará), em 1990. Escreveu com o pseudônimo Antônio Santos. Participou do Grupo Clã e de outras agremiações culturais. Criou revistas e jornais literários.
Bacharel em Ciências Jurídicas pela UFC com Doutorado em Direito pela mesma Universidade e Contabilista pela antiga Fênix Caixeiral. Professor da UFC (lecionou na Faculdade de Ciências Econômicas e na Faculdade de Direito); escritor, jornalista e poeta, autor de várias obras literárias, foi um dos fundadores do Grupo Clã, um dos mais importantes movimentos literários do Ceará em todos os tempos; membro da Academia Cearense de Letras, com vários livros de poesia publicados. Casou-se em 26.05.1945, na Igreja do Patrocínio com Alba Aragão Cavalcante Barroso, em Fortaleza. Professora formada no Curso Normal do Colégio da Imaculada Conceição, filha de Luiz Cavalcante, de Sobral e de Alda Aragão Cavalcante, de Ipu.
“Quando Antônio Girão Barroso nasceu, no antigo Brejo Seco, hoje Araripe, no Cariri do Ceará, o mundo estava em pé de guerra. Era o ano de 1944, e por estas andas o clima também se apresentava belicoso, com a jagunçada do Padre Cícero Romão Batista botando pra correr Franco Rabelo, o presidente da província (como então se chamavam os governadores de estado). Quando Antônio Girão Barroso começou a escrever poesia, a barra continuava pesada – pelo menos por este Brasil, sob a mão forte de Getulio Vargas, na década de 30. Eram poemas já influenciados pelos jovens que viveram a Semana de Arte Moderna de 22, que desbancou a musa parnasiana de Olavo Bilac para a entrada triunfal da poética sem métrica nem rima.
Mas Antônio Girão barroso não se conteve na poesia. Escreveu contos, foi crítico de artes e repórter (muitas vezes assinando as matérias como Antônio Santos). Formou-se advogado e foi doutor em Ciências Econômicas. Fez parte da Academia Cearense de Letras e, antes, nos idos de 40, ajudou a criar uma agremiação que fez história: o grupo Clã, que reuniu escritores, artistas, intelectuais. Do Clã – originalmente Clube e Literatura e Arte – fizeram parte o artista plástico Aloísio Medeiros; Antônio Martins Filho – o fundador da Universidade Federal do Ceará (UFC); o poeta Artur Eduardo Benevides; o literato Braga Montenegro; o dramaturgo Eduardo Campos; os cronistas Fran Martins e Milton Dias; os contistas João Clímaco Bezerra e Moreira Campos, entre muitos outros. O Clã produziu uma revista literária, encartada no jornal O POVO, Maracajá, ousada na forma e no conteúdo.
Em 1938, Girão Barroso publica o primeiro livro, Alguns Poemas. Participa, em 1965, da Antologia de poetas cearenses contemporâneos. Em parceria com Cláudio Martins e Otacílio Colares, publica, em 1968, Trinta poemas para ajudar. No início dos anos 70 sai outro livro de poemas, Universos, e em 78 escreve um volume de história e crítica literária, Modernismo e concretismo no Ceará. Na década de 80, sai o livro Dois tempos (Miscelânea em parceria com Inácio Almeida). Antônio Girão Barroso faleceu em Fortaleza, em 1990. Quatro anos depois sai o póstumo Poesias Incompletas, este indicado aos vestibulares de 2006, 2007 e 2008 da UFC.
Poesias Incompletas faz uma retrospectiva da produção literária de Antônio Girão Barroso, começando com Alguns poemas (de 1938). Estação do Trem é dedicado ao poeta Manoel Bandeira – que tem influência preponderante na poesia de Barroso. O poema sugere o trem em movimento, a partir do refrão “Paca-tu-bê-a-bá”, e pinta o cenário das paradas nos lugarejos, o magote de gente oferecendo produtos aos passageiros: “banana seca é o pau que rola”, diz um verso, de delicioso extrato corriqueiro e banal. Há leveza, nestes versos iniciais, e resquícios românticos, parnasianos e simbolistas – mas a escrita do poeta é, sim, moderna.
Ainda deste primeiro livro, um certo desencanto existencial (“a vida todinha/ eu passo dizendo/ me acudam me acudam”), e a consciência do tempo que passa (como no poema Inútil dizer), além de recordações da infância sertaneja – em Menino, o pedido na procissão para Nossa Senhora: “faça de mim um homem bem-bom”. E, claro, há o amor e suas inquietudes, num recorte pró-feminino: “todas as mulheres são iguais; e os homens também”. A influência de Bandeira e Drummond fica explícita em Canção do noivo aflito, um rondó para a noiva “raquitinha” que morreu – “minha noiva não vá não/ senão me jogo no mar”. E em versos de sutil densidade lírica, como no poema Imagem simples: “eu também espero pelo sol que é você”.
Vê-se ainda o poeta e sua consciência do mundo, um olhar sobre a cidade e os homens calados, que “espreitam o bonde das onze e cinco”. Em Único poema proletário, Antônio Girão Barroso dá forma estética ao “drama cotidiano da fábrica de tecidos”. E a uma cena praiana no Pirambu. Em Nihil, o poeta deseja não pensar em nada, “ser apenas um animal que pobremente se alimenta”. Mas, adiante, diz: “a vida me convida; a de novo mover minha imaginação”. A segunda parte do livro traz poemas de Os hóspedes, publicado em 1946. O que ressalta é o sentimento da solidão, a angústia derramando-se no papel branco, mas há o sonho de um mundo melhor.
Mas o poeta finca versos é na esquina de sua rua, espia os arrabaldes, a chuva (sinônimo da esperança), derrete-se de amor: “meu coração, bate devagar/ pode bater devagarinzinho”, diz em Poeta moderno arranja namorada. Mas a lírica não empana o drama real da vida, e por isso ele registra o sofrimento do sertanejo, em mais um momento de seca e retirada: “os pobres sofrem, Maria, porque às vezes/ falta-lhes a água e sobra-lhes o sol”. Em Novos poemas (1950), o poeta ainda louva o amor, mesmo sem rimas, o “que é difícil, mano!”, e canta loa à mulher latino-americana, “dançando rumba e valsa; num mundo de cinema pintura e organdis”. Há até, no Soneto de bodas, uma experiência de poema concreto com o nome da amada, Hermelinda.
Em Trinta poemas para ajudar, de 1964, nenhum deles tem título. O poeta Antônio Girão Barroso está em sua melhor forma. Há, aqui, ecos de surrealismo: “a eurritmia do verso/ e o fragor das batalhas/ o cardume de peixes/ e a donzela morta/ o moço suicida/ (num punho de rede)/ e o laço de fita”. Em Poesia (simultânea) com o sol e a lua, a mescla da quadrinha popular com o espírito jocoso cearense resulta num quase hai kai: “o sol é lindo/ como um limão/ A lua é uma grande traficante”. De Universos, publicado em 1972, a metalinguagem do poema Obrigado, poesia – “porque posso carregar fantasmas a tiracolo”. E mais experiências concretistas.
Em Os dias preguiçosos, um poema decantando a semana, o belo ócio e a leitura dos jornais: “as manchetes nos alimentam mais do que o pão; porém quando chega ao fim do dia/ vemos que havia muita coisa errada nas manchetes”. E arremata: “a filosofia é esta, conversar é bom e beber é melhor”. No Último poema, a profissão de fé do poeta, seu compromisso primordial – com “o homem e sua vida; sua sobrevida/ sua suada subvida”.
Obras:
Alguns poemas (poesia), 1938.
Os hóspedes (poesia), 1946.
Novos poemas (poesia), 1950.
30 poemas para ajudar (poesia, com Cláudio Martins e Otalício Colares), 1968.
Universos (poesia), 1972.
Modernismo e concretismo no Ceará (história e crítica), 1978.
Dois tempos (miscelânia com Inácio A. Almeida), 1981.
Poesia incompleta (poesia), 1994.
Participou de antologia e colaborou em periódico.
Fonte:
Eleuda de Carvalho, do Jornal O POVO. http://www.giraofamilia.com/biografia_39.html
Bacharel em Ciências Jurídicas pela UFC com Doutorado em Direito pela mesma Universidade e Contabilista pela antiga Fênix Caixeiral. Professor da UFC (lecionou na Faculdade de Ciências Econômicas e na Faculdade de Direito); escritor, jornalista e poeta, autor de várias obras literárias, foi um dos fundadores do Grupo Clã, um dos mais importantes movimentos literários do Ceará em todos os tempos; membro da Academia Cearense de Letras, com vários livros de poesia publicados. Casou-se em 26.05.1945, na Igreja do Patrocínio com Alba Aragão Cavalcante Barroso, em Fortaleza. Professora formada no Curso Normal do Colégio da Imaculada Conceição, filha de Luiz Cavalcante, de Sobral e de Alda Aragão Cavalcante, de Ipu.
“Quando Antônio Girão Barroso nasceu, no antigo Brejo Seco, hoje Araripe, no Cariri do Ceará, o mundo estava em pé de guerra. Era o ano de 1944, e por estas andas o clima também se apresentava belicoso, com a jagunçada do Padre Cícero Romão Batista botando pra correr Franco Rabelo, o presidente da província (como então se chamavam os governadores de estado). Quando Antônio Girão Barroso começou a escrever poesia, a barra continuava pesada – pelo menos por este Brasil, sob a mão forte de Getulio Vargas, na década de 30. Eram poemas já influenciados pelos jovens que viveram a Semana de Arte Moderna de 22, que desbancou a musa parnasiana de Olavo Bilac para a entrada triunfal da poética sem métrica nem rima.
Mas Antônio Girão barroso não se conteve na poesia. Escreveu contos, foi crítico de artes e repórter (muitas vezes assinando as matérias como Antônio Santos). Formou-se advogado e foi doutor em Ciências Econômicas. Fez parte da Academia Cearense de Letras e, antes, nos idos de 40, ajudou a criar uma agremiação que fez história: o grupo Clã, que reuniu escritores, artistas, intelectuais. Do Clã – originalmente Clube e Literatura e Arte – fizeram parte o artista plástico Aloísio Medeiros; Antônio Martins Filho – o fundador da Universidade Federal do Ceará (UFC); o poeta Artur Eduardo Benevides; o literato Braga Montenegro; o dramaturgo Eduardo Campos; os cronistas Fran Martins e Milton Dias; os contistas João Clímaco Bezerra e Moreira Campos, entre muitos outros. O Clã produziu uma revista literária, encartada no jornal O POVO, Maracajá, ousada na forma e no conteúdo.
Em 1938, Girão Barroso publica o primeiro livro, Alguns Poemas. Participa, em 1965, da Antologia de poetas cearenses contemporâneos. Em parceria com Cláudio Martins e Otacílio Colares, publica, em 1968, Trinta poemas para ajudar. No início dos anos 70 sai outro livro de poemas, Universos, e em 78 escreve um volume de história e crítica literária, Modernismo e concretismo no Ceará. Na década de 80, sai o livro Dois tempos (Miscelânea em parceria com Inácio Almeida). Antônio Girão Barroso faleceu em Fortaleza, em 1990. Quatro anos depois sai o póstumo Poesias Incompletas, este indicado aos vestibulares de 2006, 2007 e 2008 da UFC.
Poesias Incompletas faz uma retrospectiva da produção literária de Antônio Girão Barroso, começando com Alguns poemas (de 1938). Estação do Trem é dedicado ao poeta Manoel Bandeira – que tem influência preponderante na poesia de Barroso. O poema sugere o trem em movimento, a partir do refrão “Paca-tu-bê-a-bá”, e pinta o cenário das paradas nos lugarejos, o magote de gente oferecendo produtos aos passageiros: “banana seca é o pau que rola”, diz um verso, de delicioso extrato corriqueiro e banal. Há leveza, nestes versos iniciais, e resquícios românticos, parnasianos e simbolistas – mas a escrita do poeta é, sim, moderna.
Ainda deste primeiro livro, um certo desencanto existencial (“a vida todinha/ eu passo dizendo/ me acudam me acudam”), e a consciência do tempo que passa (como no poema Inútil dizer), além de recordações da infância sertaneja – em Menino, o pedido na procissão para Nossa Senhora: “faça de mim um homem bem-bom”. E, claro, há o amor e suas inquietudes, num recorte pró-feminino: “todas as mulheres são iguais; e os homens também”. A influência de Bandeira e Drummond fica explícita em Canção do noivo aflito, um rondó para a noiva “raquitinha” que morreu – “minha noiva não vá não/ senão me jogo no mar”. E em versos de sutil densidade lírica, como no poema Imagem simples: “eu também espero pelo sol que é você”.
Vê-se ainda o poeta e sua consciência do mundo, um olhar sobre a cidade e os homens calados, que “espreitam o bonde das onze e cinco”. Em Único poema proletário, Antônio Girão Barroso dá forma estética ao “drama cotidiano da fábrica de tecidos”. E a uma cena praiana no Pirambu. Em Nihil, o poeta deseja não pensar em nada, “ser apenas um animal que pobremente se alimenta”. Mas, adiante, diz: “a vida me convida; a de novo mover minha imaginação”. A segunda parte do livro traz poemas de Os hóspedes, publicado em 1946. O que ressalta é o sentimento da solidão, a angústia derramando-se no papel branco, mas há o sonho de um mundo melhor.
Mas o poeta finca versos é na esquina de sua rua, espia os arrabaldes, a chuva (sinônimo da esperança), derrete-se de amor: “meu coração, bate devagar/ pode bater devagarinzinho”, diz em Poeta moderno arranja namorada. Mas a lírica não empana o drama real da vida, e por isso ele registra o sofrimento do sertanejo, em mais um momento de seca e retirada: “os pobres sofrem, Maria, porque às vezes/ falta-lhes a água e sobra-lhes o sol”. Em Novos poemas (1950), o poeta ainda louva o amor, mesmo sem rimas, o “que é difícil, mano!”, e canta loa à mulher latino-americana, “dançando rumba e valsa; num mundo de cinema pintura e organdis”. Há até, no Soneto de bodas, uma experiência de poema concreto com o nome da amada, Hermelinda.
Em Trinta poemas para ajudar, de 1964, nenhum deles tem título. O poeta Antônio Girão Barroso está em sua melhor forma. Há, aqui, ecos de surrealismo: “a eurritmia do verso/ e o fragor das batalhas/ o cardume de peixes/ e a donzela morta/ o moço suicida/ (num punho de rede)/ e o laço de fita”. Em Poesia (simultânea) com o sol e a lua, a mescla da quadrinha popular com o espírito jocoso cearense resulta num quase hai kai: “o sol é lindo/ como um limão/ A lua é uma grande traficante”. De Universos, publicado em 1972, a metalinguagem do poema Obrigado, poesia – “porque posso carregar fantasmas a tiracolo”. E mais experiências concretistas.
Em Os dias preguiçosos, um poema decantando a semana, o belo ócio e a leitura dos jornais: “as manchetes nos alimentam mais do que o pão; porém quando chega ao fim do dia/ vemos que havia muita coisa errada nas manchetes”. E arremata: “a filosofia é esta, conversar é bom e beber é melhor”. No Último poema, a profissão de fé do poeta, seu compromisso primordial – com “o homem e sua vida; sua sobrevida/ sua suada subvida”.
Obras:
Alguns poemas (poesia), 1938.
Os hóspedes (poesia), 1946.
Novos poemas (poesia), 1950.
30 poemas para ajudar (poesia, com Cláudio Martins e Otalício Colares), 1968.
Universos (poesia), 1972.
Modernismo e concretismo no Ceará (história e crítica), 1978.
Dois tempos (miscelânia com Inácio A. Almeida), 1981.
Poesia incompleta (poesia), 1994.
Participou de antologia e colaborou em periódico.
Fonte:
Eleuda de Carvalho, do Jornal O POVO. http://www.giraofamilia.com/biografia_39.html
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