sábado, 12 de setembro de 2009

Dicionário do Folclore (Letra S)


SÁ-DONA. Tratamento que os homens do interior, camponeses, dão às senhoras casadas (Nordeste).

SABÃO. É uma dança do fandango no Rio Grande do Sul, São Paulo e Pernambuco, bastante popular nos meados do século XIX.

SABER-ONDE-O-CALO-APERTA. Saber, a pessoa, as suas dificuldades, os seus problemas.

SABONGO. É um doce feito com coco ralado e com mel de engenho ou de rapadura até o ponto apertado, para ser comido puro ou com farinha de mandioca. A mesma coisa que cocada, com um ponto mais brando.

SACI-PERERÊ. É um duende conhecido em diversas regiões brasileiras do sul, é um negrinho que só tem uma perna, ágil, astuto, atrevido, traquinas, gosta de fumar cachimbo, tem as mãos furadas, usa uma carapuça vermelha que tem poderes mágicos e que lhe cobre a carapinha. À noite, ele assobia, inquietando as pessoas, criando-lhes dificuldades, apagando o fogo, queimando os alimentos, assustando os viajantes durante a noite. O Saci é associado ao Diabo entre os mestres de folias de reis. Tudo faz crer que o Saci tenha nascido no século XIX.

SACOLÉ. É um picolé feito em casa, mas acondicionado em pequenos sacos plásticos, amarrados com linha, sem o pauzinho. Para saboreá-los só é preciso cortar uma das extremidades do saquinho e puxá-la para baixo.

SAGUIM. É um macaquinho que anda aos bandos. Dizem que o saguim morre se alguém lhe fizer uma careta. Também é conhecido como saguí, sauí e sauim.

SAIA-SAIÁ. Dança do fandango, do Paraná.

SAIA-VERDE. As meninas da saia verde são entidades que se manifestam no catimbó nordestino. São incontáveis, moram no fundo do mar, um dos reinos invisíveis.

SAIDEIRA. É como se diz do último copo de bebida na despedida de um dos parceiros ou quando a farra se acaba.

SAIETA. É um doce tradicional em Minas Gerais, feito da polpa de coco da palmeira buriti.

SAL. Usado no batismo da Igreja Católica, com aplicação universal para afastar os malefícios sobre a criança. Um dos feitiços que se possa fazer para maltratar uma pessoa é misturar sal com areia na pegada de uma criatura tendo, no meio, uma unha, um cabelo e um pedaço de roupa íntima. O contra feitiço é diluir o sal na água do mar. Pôr sal à porta de uma rival, obriga-a a deixar o namorado. Derramar sal na mesa é agouro. A sabedoria popular diz que para se conhecer um amigo, a pessoa tem que comer sal com ele, isto é, conviver algum tempo. O sal era a moeda circulante entre alguns povos antigos e dizem até que entre os indígenas brasileiros. Por isso a palavra salário é derivada de sal.

SALA-DE-DANÇA. Nome que se dá, na Bahia, aos candomblés que não seguem a tradição autenticamente africana.

SALGAR-O-GALO. É tomar a primeira dose do dia. É matar o bicho.

SALIVA. Com a saliva Jesus curou cegos e surdos-mudos. Na década de 40 andou pelo Agreste e Zona da Mata de Pernambuco um cidadão que se dizia médico e que aplicava injeções de saliva para curar determinadas doenças. A saliva tinha que ser de uma criança. Já na feitiçaria, a saliva pode até matar. Na medicina popular vamos encontrar a saliva usada para combater o mau-olhado. A saliva não deve ficar exposta, mas, coberta com areia ou esmagada com os pés para que o diabo não se apodere dela, hábito muito nordestino na zona rural.

SALTAR FOGUEIRA. Acontece por ocasião das festas do ciclo junino, quando as fogueiras são acesas; saltá-las, é um folguedo tradicional, como prova de coragem e agilidade de quem assim procede.

SAMBA. É baile popular nas cidades e na zona rural, sinônimo de função, pagode, fobó, arrasta-pé, balançar-o-esqueleto, balança-flandre. A palavra samba vem de semba e significa umbigada na língua dos escravos de Luanda que aqui chegaram. Somente em 1916 apareceu, pela primeira vez, a primeira música impressa mencionando a palavra samba: "Pelo telefone", de Donga, compositor carioca.

SAMBA-DE-LENÇO. O samba-de-lenço tem sua origem africana. Homens e mulheres, em fila, todos com um lenço na mão acenando para os cavalheiros e, homens e mulheres, formando pares, se dirigem ao centro, dançam ao som de uma caixa e, às vezes, pandeiros e guaiás.

SAMBOCA. É uma mistura de água de coco com açúcar.

SAMBURÁ. É um cesto feito de cipó, de tamanho pequeno, preso por um cordão grosso, para se trazer a tiracolo. Os pescadores botam no samburá os peixes que pescam. Na linguagem popular barriga de samburá é a pessoa que tem barriga grande. Pescar para o seu samburá é cuidar de seus negócios, de seus interesses.

SANFONA. É o mesmo que acordeona ou acordeon, fole, harmônica. No Rio Grande do Sul este instrumento musical é conhecido como gaita.

SANGRIA. 1. É uma mistura de vinho tinto com água e açúcar, aconselhada às mulheres que dão à luz, para aumentar o leite; 2. É uma incisão que se faz numa das veias para soltar o sangue, tratamento de algumas doenças quando a medicina estava engatinhando.

SANGUE-DE-BARATA. Como se sabe, a barata não tem sangue. E quando se diz que uma pessoa tem sangue-de-barata significa que essa pessoa é insensível, calma demais.

SANHAÇU. Pássaro também conhecido por sanhaço, que gosta muito de comer mamão. Na linguagem popular, sanhaçu é a pessoa que gosta de beber.

SANSA. É um instrumento musical trazido pelos escravos africanos, feito com um casco de jabuti no qual são presas tiras metálicas. Toca-se como um instrumento de corda.

SANTA RADI. É uma santa popular canonizada pela população do Alto Madeira, Amazonas, onde nasceu, viveu e morreu. Era uma moça de uma beleza sem igual, que ensinava catecismo às crianças, tocava violino sem saber música e vivia sempre rezando. Restabelecia a paz doméstica quando os casais brigavam e curava as pessoas quando estavam com paralisia, erisipela e outras doenças.

SANTA VITÓRIA. Era o nome dado à palmatória nas escolas, antigamente. Os alunos, às escondidas da professora, escondiam ou mesmo davam fim à palmatória para não serem castigados quando se comportavam mal ou não sabiam as lições.

SANTO-DO-PAU-OCO. Frase irônica aplicada a um menino travesso, traquinas, com ares de bonzinho. A explicação desta expressão é a seguinte: as imagens de santos, esculpidas em madeira, eram ocas, e vinham de Portugal, cheias de dinheiro falso.

SANTOS SEM DIA. Todo dia tem seu santo. Acontece que os 365 dias do ano não acomodam todos os santos da Igreja Católica que, para corrigir tal deficiência, determinou que o primeiro domingo do ano depois de Pentecostes, fosse o Dia de Todos os Santos. Hoje o Dia de Todos os Santos tem data fixa: 1° de novembro. O povo, para se ver livre de obrigações, criou um santo que não tem dia: é o Dia de São Nunca. Inventou, também, o Dia São Pagomião, que é o dia móvel em que os assalariados recebem seus salários e pagam suas contas.

SÃO JORGE. É um santo muito popular, também conhecido por Ogum nos ritos afro-brasileiros, patrono de corporações militares, escolas de samba, clubes de futebol. Justiceiro, protetor dos oprimidos e injustiçados, São Jorge é cultuado não somente nas igrejas católicas como também em terreiros de todas as linhas. Como Ogum-beira-mar, comanda o povo do mar. Como Ogum-ronda, cuida da segurança das pessoas, dos veículos, das casas de residência e comerciais. É conhecido como o Santo Guerreiro e festejado no dia 23 de abril, com procissões católicas e atividades nos terreiros. A espada-de-são jorge é uma planta usada nos banhos e libações. É bom ter um pé de espada-de-são jorge plantado no jardim das casas que ficam, assim, protegidas de todo o mal.

SÃO SEBASTIÃO. São Sebastião nasceu na Narbônia e foi legionário do Imperador Carino. Era o chefe dos Pretorianos que, na antiga Roma, se encarregavam de distribuir a justiça. Como ele era cristão, e foi denunciado ao imperador, ele, depois de amarrado numa árvore, foi crivado de setas até a morte. É um santo muito popular no Brasil. É o padroeiro da cidade do Rio de Janeiro e dá seu nome a dois municípios fluminenses: São Sebastião do Rio de Janeiro e São Sebastião do Alto. Conta a lenda que, na batalha final que expulsou os franceses que ocupavam o Rio de Janeiro, São Sebastião foi visto, de espada na mão, entre os portugueses, mamelucos e índios, lutando contra os franceses calvinistas. O dia da batalha coincidiu, exatamente, com o dia do santo, celebrado no dia 20 de janeiro. São Sebastião é o protetor da humanidade contra a fome, a peste e a guerra.

SAPATOS. Os sapatos estão ligados às crendices do povo. O povo acredita que deixar um sapato emborcado, isto é, de solado para cima, está chamando a morte do dono. É comum o uso de sapatinhos feitos de madeira, osso ou metal, como adorno, para a pessoa ter boa saúde, boa sorte e situação financeira equilibrada. Tem também a estória daquele homem que era tão econômico que os filhos só usavam um sapato para não gastar o par, de uma só vez.

SAPOS. O sapo é muito usado nas bruxarias, nos feitiços. Escrever o nome de uma pessoa na boca de um sapo, costurando-a, em seguida, traz muito mal à pessoa que é dona do nome. Acontece, também, que os sapos chamam a chuva e são seus guardiães. Diz-se que a pessoa tem a boca de sapo quando tem a boca muito grande. Uma das cantigas de ninar mais conhecidas no Brasil é a do sapo-cururu, com a qual as mães embalam seus filhos: "Sapo-cururu/Da beira do rio,/Quando o sapo canta, ó maninha,/Diz que está com frio!..."

SARABAGUÉ. É uma dança da Santa Cruz, em Carapicuíba-SP, ao som de uma viola de dez cordas, pandeiros, cuíca e reco-reco.

SARAPATEL. O sarapatel foi trazido da Índia pelos portugueses. É uma comida que conta com os seguintes ingredientes: sangue de porco, uma garrafa de vinagre, uma colher de sopa de sal, todos os miúdos do porco, temperos secos e verdes, duas folhas de louro, meio quilo de banha. É uma comida considerada como pesada, significando que, depois de comer sarapatel, uma pessoa não pode dormir nem tomar banho. Para cortar o peso do sarapatel o povo costuma tomar, depois de saborear um gostoso sarapatel, um cálice de cachaça ou de batida.

SARARÁ. É uma formiga vermelha, de asas. É o mulato de cabelos vermelhos, como a formiga de igual nome.

SARNA. É uma dança do Rio Grande do Sul. Enquanto dançam, os pares fingem que se coçam, como se estivessem com sarna, uma coceira que ataca as pessoas e que só passa com enxofre.

SARRABULHO.1. O mesmo que SARAPATEL; 2. Diz-se que uma pessoa leva um sarrabulho quando é derrubado por uma onda do mar quando está brabo.

SARUÉ. É uma dança que mistura a quadrilha francesa com a americana e também com passos do sertão. É a corrutela de soireé ou sarau.

SAUÍ. Veja SAGUIM.

SAUIM. Veja SAGUIM.

SAÚVA. Também conhecida como saúba, carregadeira, formiga-de-roça e sobitu. As fêmeas são as tanajuras, um prato tradicional, e fazem parte do molho do tucupi. Há um antigo slogan que diz: "Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil."

SEGREDO-DE-ABELHA. Diz-se quando qualquer coisa é muito cheia de mistério impenetrável.

SEIXEIRO. É a pessoa que engana, passa calote, não paga a dívida contraída.

SEIXO. É uma pedra que de tanto percorrer a correnteza dos rios ficou arredondada, perdendo as quinas.

SEM-PÉ-NEM-CABEÇA. Diz-se de tudo que não tem nexo, não tem sentido, não tem começo nem fim.

SENTINELA. É o mesmo que velório, em Pernambuco, Alagoas e Ceará. Na Paraíba, no Rio Grande do Norte e também no Ceará, é quarto ou guarda. Em São Paulo, é guardamento.

SENZALA. Casa onde moravam os escravos nos antigos engenhos e significa morada, habitação, ambundo. A palavra é de origem africana.

SEQUILHOS. De origem portuguesa, os sequilhos são rosquinhas de massa seca, com ou sem amêndoas, castanhas de caju ou amendoim, de forma arredondada.

SER-FILHO-DO-PADRE. Diz-se de quem tem muita sorte em tudo que faz, em tudo em que se mete, negócios, mulheres, agricultura, tudo, enfim.

SER-O-CÃO-DO-SEGUNDO-LIVRO. Nas décadas de 20 e 30 o Primeiro e o Segundo Livro de Leitura, de Felisberto de Carvalho, eram adotados nas escolas primárias brasileiras. Mas era justamente no Segundo Livro de Leitura que os meninos daquela época se deparavam, a páginas tantas, com o desenho do Cão – como é mais conhecido o Diabo, o Satanás, o Demônio no Nordeste. Era uma figura terrível, de chifres, de cauda, botando fogo pelo nariz e empunhando um tridente, figura que causava medo na época em que tudo que se fazia era pecado e ainda existia o inferno. Daí a expressão popular ser-o-cão-do-segundo-livro com dois significados diferentes: a) como sinônimo de feio, horrível; b) significando danado de bom, inteligente, brabo, valente, bom em futebol, jogo de cartas, cantando, dançando, etc.

SER-UM-RAPADO. Ser um pobretão, não ter onde cair morto, nada ter de seu.

SERÁ-O-BENEDITO? Expressão popular equivalente a Será possível? É inacreditável!

SERAFIM. Santo italiano da Ordem dos Capuchinhos, canonizado pelo Papa Clemente X. Ele tinha uma das mãos tortas e as crianças costumavam brincar, assim: - "Uma esmola para São Serafim! Quem não der fica assim", diziam entortando uma das mãos.

SERENATA. Um pequeno grupo de rapazes entre os quais um toca violão ou piston e que, nas noites de lua, vão cantar à janela da moça pela qual um dos componentes do grupo está apaixonado. Alguns pais não gostam de serenatas e, às vezes, até mesmo atiravam ou derramavam urina sobre os rapazes da serenata.

SERENGA. É o canto entoado pelos romeiros por ocasião da festa do Divino Espírito Santo quando, remam, em suas canoas, para o encontro festivo das duas bandeiras, rio abaixo e rio acima.

SERENO. Ficar no sereno é o ato de quem não é convidado e fica do lado de fora, olhando, através das janelas, os bailes familiares.

SERESTA. Veja SERENATA.

SEREIA. A sereia é metade mulher muito bonita e a outra metade é peixe, que seduz os pescadores, fazendo com que eles morram afogados.

SERICÓIA. É um pássaro, uma espécie de saracura que, quando canta, está anunciando que vai chover.

SERPENTE. A serpente tem muito valor na sabedoria popular. Ela significa vida, força, mistério. O povo acredita que uma serpente cortada ao meio vira duas serpentes. Quando a serpente entra num rio, deixa o veneno fora d’água, e se morder uma pessoa, por mais venenosa que seja a serpente, a pessoa nada sofrerá. Se uma mulher grávida passar por cima de uma serpente, esta morrerá. Depois que Deus fez o mundo, o Diabo, muito invejoso e mau, pediu-lhe licença para também fazer seus bichinhos e tanto suplicou que Deus atendeu a seu pedido. O Diabo, então, fez a serpente, a cobra. O homem do interior tem seus remédios contra as picadas de cobras venenosas. Os rezadores também têm suas rezas para combater o mesmo mal.

SERRAÇÃO-DE-VELHA. Serra-a-velha é uma brincadeira muito antiga, trazida pelos colonizadores portugueses, e que consiste no seguinte: um grupo de pessoas se reunia à porta de uma velha e, chorando, gritando, com um serrote, serravam um pedaço de madeira, gritando "Serra-a-velha!". Às vezes o serra-velha terminava em tragédia quando os familiares da pessoa que estivesse sendo serrada disparava velhas espingardas contra os serradores. Pessoas até jogavam água quente ou urina sobre os serradores. A brincadeira acontece durante a Quaresma, até o Sábado de Aleluia. Em algumas cidades do interior nordestino ainda persiste esta brincadeira.

SERRANA. É uma dança dos fandangos do Rio Grande do Sul.

SEXO. Prever qual é o sexo da criança que vai nascer, é uma tradição corrente e popular na Europa. Foi o colonizador português o responsável pela divulgação dessa tradição entre nós. Vejamos como saber qual o sexo das crianças que ainda vão nascer: 1. Ferver um quiabo e, se ele se abrir depois da fervura, nascerá uma menina e, em caso contrário, será um menino; 2. Dá um talho num coração de galinha e fazê-lo cozinhar; se o coração conservar o talho aberto, nascerá uma menina e, se ficar fechado, nascerá um menino; 3. Põe-se uma folha de salsa na chapa do fogão; se a folha se encrespar, ficar encolhida com o calor, nascerá uma menina e, se não encolher, nascerá um menino; 4. Ao subir numa escada se a mulher grávida começar a subir com o pé direito, nascerá um menino e, em caso contrário, uma menina; 5. Pedir à mulher grávida que mostre a mão; se a estender com as costas da mão para cima, nascerá um menino e se mostrar a palma da mão, nascerá uma menina; 6. Se o ventre da mãe for pontudo, nascerá um menino e, se for arredondado, nascerá uma menina; 7. Se o feto for muito buliçoso, nascerá um menino e, se não for buliçoso, nascerá uma menina; 8. Manda-se, também, que a mulher fique em pé, encostada numa parede e pede-se que ela comece a andar. O sexo da criança depende do primeiro passo: se for dado com o pé direito, será do sexo masculino e, se for dado com o pé esquerdo, será do sexo feminino; 9. A primeira pessoa que bater em casa, no momento em que a mulher começa a cortar o enxoval do filho, também indicará o seu sexo; se a pessoa que bateu na porta da casa for um homem, a criança será do sexo masculino e, se for mulher, a criança será do sexo feminino; 10. Pelo bico do seio da gestante também é possível saber o sexo do futuro filho: se a coroa que se forma em seu redor for escura, nascerá um menino, e se for clara, quase natural, será uma menina.

SILÊNCIO. Lara, Mata e Tácita são a mesma deusa do silêncio, festejada no dia 18 de fevereiro. No folclore, o silêncio está nas superstições dos remédios, do tratamento das mordidas de cobra venenosa, de guarda-defuntos, do ato de desenterrar dinheiro dado por almas do outro mundo, de viagem noturna, de promessa de acompanhar procissão e outros – são coisas que a pessoa tem que fazer calada, no mais absoluto silêncio. No Brasil, alguns jogos infantis em que perde o menino que quebra o silêncio, isto é, fala, grita, chora.

SILVIO ROMERO nasceu no dia 21 de abril de 1851, na cidade de Lagarto, SE. Fez o primário com o professor Badu e, aos doze anos, estudou os preparatórios no Rio de Janeiro, onde também cursou o Ateneu Fluminense. Com 17 anos chegou ao Recife para cursar a Faculdade de Direito, bacharelando-se no dia 12 de novembro de 1873. Cursou a Faculdade, naquele tempo com Tobias Barreto, de quem se tornou amigo. Em 1871 colaborou no Correio de Pernambuco, no Diario de Pernambuco, no Jornal do Recife e na A República. Do Recife passou a residir no Rio de Janeiro, publicando ensaios, artigos e muitos livros. Na área de Folclore, salientamos: Contos populares do Brasil (1882), Etnografia brasileira (1888) e Estudos sobre a poesia popular no Brasil (1888). Pertenceu à Academia Brasileira de Letras do qual foi um dos fundadores. Faleceu no dia 18 de junho de 1914, na cidade do Rio de Janeiro.

SIMPATIA. É uma prática muito difundida entre as diversas classes sociais, empregada com a finalidade de chamar chuva, curar doenças, afastar formigas, encontrar noivo, achar emprego, fazer chover, etc. Entre as muitas simpatias, lembramos: 1. Para menino aprender a andar: dar de beber à criança água da primeira chuva de janeiro; 2. Para câimbra: amarrar um barbante virgem na perna; 3. Para dor de dente: aplicar na cárie cera de ouvido de cachorro; 4. Para bronquite: matar uma barata, colocar num saquinho de pano e amarrar no pescoço do paciente; 5. Coceira: passar urina de vaca no lugar afetado; 6. Embriaguês: colocar um pedaço de limão no bolso do bêbado; 7. Insônia: colocar três folhas de alface na fronha do travesseiro; 8. Para dor de barriga: tomar chá feito com olhos da goiabeira; 9. Suor nas mãos: passar as mãos na parede de uma igreja; 10. Urina solta: urinar dentro de uma casca de ovo e enterrá-la num formigueiro.

SINHÁ. É como os escravos chamavam as mulheres de seus senhores. Sinhazinha eram as filhas da sinhá, também chamadas de Sinhá Moça. Com a abolição da escravatura, a palavra sinhá perdeu seu significado inicial para se tornar um apelido.

SINHÔ. Sinhô é uma corrutela de senhor e tem a mesma origem da palavra sinhá. Os filhos do sinhô eram sinhozinhos.

SIRI. 1. O siri é um crustáceo do mar e dos rios quando se encontram, das marés. Várias são as qualidades de siri: o siri de mangue, o siri mole, o siri capiba que é o maior deles. Siri também é a pessoa que carrega o facho aceso ou o lampião no bumba-meu-boi. Siri-donzelo é como se chama o rapaz tímido, palerma. Um adágio popular diz que "O siri magro carrega água para o gordo". Na culinária do Nordeste o siri é muito solicitado: a fritada, o casquinho e as patas do siri são pratos encontrados nos bares e restaurantes da orla marítima; 2. A expressão brabo-que-nem-siri-na-lata é usada para qualificar a pessoa quando está braba, fazendo barulho, encrenca, fora de si.

SIRIRI. 1. Dança popular em Mato Grosso; 2. Ronda infantil abrangendo todo o Nordeste . O siriri é o menino que fica no meio da roda, feita por meninos e meninas de mãos dadas, cantando e, em seguida, segura uma das meninas que o substitui no meio da roda e no canto.

SÓ-TER-BOCA. Diz-se de quem só é valente na boca, sem ter coragem para brigar.

SOCA. Quando a cana é plantada em terra apropriada, fértil, no fim de dez a doze meses dá o seu primeiro corte, ao qual conhecemos com o nome de planta; dos troncos nascem novos rebentos que, no ano seguinte, fornecem outra safra, que é a soca; no terceiro ano, tem-se a ressoca; e no quarto, a contra-soca. Acontece que da soca, ressoca e contra-soca já não floresce uma cana de boa qualidade.

SOGRA. No mundo todo as sogras, com raras exceções, são odiadas pelos genros. A sogra é motivo de pilhérias, de piadas, de anedotas em todas as línguas. O povo diz que: 1. Sogra não é parente. É castigo; 2. Sogra boa é a que já morreu; 3. Feliz foi Adão, que não teve sogra nem caminhão; 4. Deus fez a mãe e o Diabo fez a sogra; 5. Não mando minha sogra para o inferno porque fico com pena do Diabo; 6. Sogra e arado só prestam debaixo do chão; 7. Duas coisas matam de repente: vento pelas costas e sogra pela frente; 8. Morar com sogra é fazer vestibular para o céu; 9. Depois que minha mulher morreu casei com minha cunhada pra fazer economia de sogra; 10. Sogra, milho e feijão, só debaixo do chão. ANEDOTAS: 1. Dois professores conversavam: - conheço duas línguas que nenhum poliglota é capaz de dominar. – E quais são elas? – A língua da minha sogra e a da minha mulher... 2. Dizia um amigo: - Por que é que você tem tanta raiva dos médicos? – É porque eles salvaram minha sogra três vezes... CULINÁRIA: No que diz respeito à sogra a culinária é bastante rica: a) Beijo-de-sogra; b) Olho de sogra; c) Pudim de sogra. APELIDOS DA SOGRA: a) A cobra choca; b) A mexeriqueira; c) A caninana; d) O pára-raios; e) A besta fera; f) A intrusa; g) A maleitosa; h) A espingarda ruim.

SOLEIRA. Vários povos consideram a soleira da porta de entrada das casas como um lugar de respeito e até mesmo sagrado. A pessoa, ao entrar numa casa, antes de pisar na soleira tinha que tirar o chapéu, em sinal de respeito ao reinado doméstico. Não se deve varrer a soleira, lugar onde são enterrados os umbigos dos recém-nascidos, onde são colocadas as primeiras unhas cortadas do filho e os cabelos das filhas. Um mundo de crendices está, assim, associado à soleira.

SOPA. 1. Prato comum no mundo todo, feito com caldo de carne, arroz ou macarrão, verdura, tempero verde, a gosto; 2. Também é o nome que se dava aos pequenos ônibus antigamente. Na Bahia, a sopa tinha o nome de marinete; 3. Sopa também é tudo que é fácil, bom. Fazem-se sopas de peixe, de milho verde, de macaxeira, de jerimum, de inhame, de cabeça de peixe, etc.

SOPA-DE-CAVALO-CANSADO. Em Portugal, é muito comum. A sopa é feita de vinho tinto com açúcar, canela e pão torrado.

SORORGO. Os escravos trouxeram para o Brasil esta dança africana.

SOVACO-DE-COBRA. Nos restaurantes populares está tendo muita aceitação o sovaco-de-cobra, um prato feito com charque desfiada e assada, para ser comida com macaxeira. É parecido com roupa-velha, prato feito com carne de boi desfiada e assada.

SUJO-QUE-SÓ-PAU-DE-GALINHEIRO. Diz de tudo que é demasiadamente sujo, pessoas, animais ou coisas, e também das más pessoas sem caráter, sem moral.

SUMÉ. Sumé é um homem branco que, antes do descobrimento do Brasil, aparecia aso indígenas, ensinando-lhes o cultivo da terra e regras morais. Acredita-se que o sumé seja o mesmo São Tomé, também chamado de Zomé.

SUOR. As roupas íntimas são muito usadas na feitiçaria, principalmente quando estão molhadas de suor. Coar café, chá, chocolate numa camisa suada de uma mulher e depois de bebidos faz com que a pessoa que bebeu mereça ao amor da dona da camisa. Quando as crianças estão sob a ação do quebranto, o pai ou o parente homem mais próximo faz com que passem entre suas perna abertas, estando suados.

SUPERSTIÇÃO. É um sentimento religioso baseado na ignorância ou no medo e que leva as pessoas à pratica de coisas criadas pela fantasia das crendices. A superstição é universal. Para que as pessoas se defendam das superstições devem usar amuletos. Não é bom passar por baixo de uma escada. O número 13 é azarento. Ver gato preto dá azar. Dormir com os pés na direção da porta do quarto é chamar a morte. A pessoa deve dar o primeiro passo com o pé direito. O americano quando pisou o solo lunar colocou primeiro o pé direito e, depois, o esquerdo.

SURRÃO. Pequeno saco de couro cru no qual os vaqueiros e agricultores levam a comida preparada em casa, o bode, composto de farinha, carne seca e um pedaço de rapadura.

SURUBIM. 1. Peixe de bom tamanho encontrado nos grandes rios brasileiros, considerados o bacalhau nacional; 2. Também é o nome de um boi muito famoso, cantado em verso pelos poetas populares nordestinos.

SURUCUCU. É uma cobra muito venenosa, encontrada na região amazônica. Sua carne assada é usada pelos indígenas na cura do reumatismo; e se faltar a carne, o remédio é feito com seus ossos pulverizados em infusão de cachaça ou café.

SURURU. 1. É um molusco típico da culinária alagoana. Fritadas, empadas, refogados de sururu são uma delícia. O sururu é encontrado na lama dos brejos, das lagoas; 2. Sururu também significa, na linguagem popular, confusão, brigas, barulho entre pessoas.

SUSPIRO. De origem oriental, o suspiro é um doce feito de clara de ovos batidos, com açúcar branco e limão, assado em forno brando, em forma de flores, frutos, etc.

SUSTENTAR-A-PÃO-DE-LÓ. Tratar bem as pessoas, sem que nada lhes falte.
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O Dicionário completo pode ser obtido em http://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/dicionario-de-folclore
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Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
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http://www.terracapixaba.com.br/

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