CAÇADOR E VÍTIMA
Escrever é caçar caranguejos
à maneira do guaximim.
Enfiando o rabo no buraco
onde se aloja o crustáceo,
ele espera que este o morda
como suas impiedosas tesouras
para sacar logo em seguida
a presa cravada em sua cauda.
O próximo passo é saboreá-la
— a memória da dor em carne viva.
Enquanto espera, o guaximim chora,
sofrendo de antemão a investida.
Caçador e vítima, é sua própria isca.
Contorcendo-se nesta emboscada,
o sabor e a cicatriz ele preliba
— a água na boca é a mesma das lágrimas.
––––-
INVENTÁRIO
Ouço os sons da chuva
e de um carro que passa na rua.
Tudo me dá de ombros,
a mim e a meus escombros.
Sofro como se existisse de fato
tal esta casa e este sapato
em que, por descuido, habito
com meu vazio sem vínculos.
A noite me sonega o ser.
Pela manhã serei o homem que sai,
funcionário cumpridor de regras,
aquele que tem fome e sede
e por isso vai ao mercado
e se entusiasma com queijos,
vinho pão fresco cerveja,
fugindo de toda incerteza.
Não. Não é este o tipo
de alimento que me sustenta
e sim a sombra que me inquieta
e que, com sua mão, me inventa.
Gerado na dor e na dúvida
no duro exercício da descrença,
sou vento enchendo roupas no varal
num inventário da própria ausência.
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Escrever é caçar caranguejos
à maneira do guaximim.
Enfiando o rabo no buraco
onde se aloja o crustáceo,
ele espera que este o morda
como suas impiedosas tesouras
para sacar logo em seguida
a presa cravada em sua cauda.
O próximo passo é saboreá-la
— a memória da dor em carne viva.
Enquanto espera, o guaximim chora,
sofrendo de antemão a investida.
Caçador e vítima, é sua própria isca.
Contorcendo-se nesta emboscada,
o sabor e a cicatriz ele preliba
— a água na boca é a mesma das lágrimas.
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INVENTÁRIO
Ouço os sons da chuva
e de um carro que passa na rua.
Tudo me dá de ombros,
a mim e a meus escombros.
Sofro como se existisse de fato
tal esta casa e este sapato
em que, por descuido, habito
com meu vazio sem vínculos.
A noite me sonega o ser.
Pela manhã serei o homem que sai,
funcionário cumpridor de regras,
aquele que tem fome e sede
e por isso vai ao mercado
e se entusiasma com queijos,
vinho pão fresco cerveja,
fugindo de toda incerteza.
Não. Não é este o tipo
de alimento que me sustenta
e sim a sombra que me inquieta
e que, com sua mão, me inventa.
Gerado na dor e na dúvida
no duro exercício da descrença,
sou vento enchendo roupas no varal
num inventário da própria ausência.
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Fontes:
– BUENO, Alexei. Uma História da Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2007. ISBN 978-85-98815-06-0, p. 404
– Venho de um país obscuro”, Editora Bertrand-Brasil - Rio de Janeiro, 2005
– http://www.antoniomiranda.com.br
– BUENO, Alexei. Uma História da Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2007. ISBN 978-85-98815-06-0, p. 404
– Venho de um país obscuro”, Editora Bertrand-Brasil - Rio de Janeiro, 2005
– http://www.antoniomiranda.com.br
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