A. A. de Assis nos dá esta explicação em seu livro Vida, Verso e Prosa, lançado pela EDUEM.
Aproveito o espaço para recomendar o livro: cronicas, trovas, triversos, poesias, contos, documento histórico, enfim, um livro para todos os gostos, escrito por um dos maiores escritores vivos de nossa literatura.
Vamos então à explicação:
A. A. de Assis
A poucos metros de nossa casa havia uma gráfica onde se imprimia O Fidelense ("um hebdomadário independente a serviço da coletividade"). O jornal pertencia ao deputado Gouveia de Abreu (Doutor Dó), mas quem o dirigia era o Doutor Jacy Seicas. O impressor era o Fidélis Subieta. Um dia criei coragem, escrevi um artigo e entreguei ao Subieta, dizendo: "Peça ao Doutor Jacy que dê uma olhada e veja se dá para publicar".
Eu tinha 16 anos de idade. Não falei a mais ninguém sobre bo tal escrito. No domingo seguinte, fui logo cedinho comprar o jornal... Tremi nas pernas: lá estava, ainda com aquele delicioso cheirinho de tinta, o texto que inaugurava minha vida de jornalista. Estranhei, porém, um pequeno detalhe: em vez de Antonio Augusto de Assis, como assinei no original, o nome que saiu embaixo do título foi A. A. de Assis.
Na segunda-feira perguntei ao Subieta o que acontecera. Fácil de entender: naquela época as gráficas trabalhavam com tipos móveis. Cada fonte de tipos ficava numa caixa e o tipógrafo ia catando letra por letra para compor a matéria. E havia o costume de escrever os nomes dos autores de artigos utilizando os tipos chamados "itálicos", aqueles inclinadinhos. Deu-se, todavia, que a caixa de itálicos estava desfalcada, faltando a letra "t", daí a impossibilidade de escrever tanto Antonio quanto Augusto. E foi assim que, por conta e arte desse genial tipógrafo, virei A. A. de Assis.
Animado pela publicação do artigo, procurei pessoalmente o Doutor Jacy, que generosamente me aceitou como coloaborador permanente d'O Fidelense. Fiquei todo prosa, claro. Mas surgiu um problema. Como em São Fidélis todos me conheciam pelo apelido de Gutinho, os leitores começaram a indagar quem era aquele tal A. A. de Assis. Assim que descobriram, começou a fofoca. Duvidavam que eu, tão menino ainda, pudesse escrever aquelas coisas. Havia quem dissesse que o verdadeiro autor era outro Augusto Assis, meu primo monsenhor Augusto José de Assis Maia, pároco local. Fiquei fulo da vida com aquilo. Para não deixar dúvida, publiquei no domingo seguinte um artigo falando de carnaval, rebolado, etc., e com um vocabulário bem apimentado, coisa que ninguém jamais iria atribuir a um padre. Deu certo: acabou a fofoca.
Fontes:
ASSIS, A. A. De. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010. p.34-35.
Vamos então à explicação:
A. A. de Assis
A poucos metros de nossa casa havia uma gráfica onde se imprimia O Fidelense ("um hebdomadário independente a serviço da coletividade"). O jornal pertencia ao deputado Gouveia de Abreu (Doutor Dó), mas quem o dirigia era o Doutor Jacy Seicas. O impressor era o Fidélis Subieta. Um dia criei coragem, escrevi um artigo e entreguei ao Subieta, dizendo: "Peça ao Doutor Jacy que dê uma olhada e veja se dá para publicar".
Eu tinha 16 anos de idade. Não falei a mais ninguém sobre bo tal escrito. No domingo seguinte, fui logo cedinho comprar o jornal... Tremi nas pernas: lá estava, ainda com aquele delicioso cheirinho de tinta, o texto que inaugurava minha vida de jornalista. Estranhei, porém, um pequeno detalhe: em vez de Antonio Augusto de Assis, como assinei no original, o nome que saiu embaixo do título foi A. A. de Assis.
Na segunda-feira perguntei ao Subieta o que acontecera. Fácil de entender: naquela época as gráficas trabalhavam com tipos móveis. Cada fonte de tipos ficava numa caixa e o tipógrafo ia catando letra por letra para compor a matéria. E havia o costume de escrever os nomes dos autores de artigos utilizando os tipos chamados "itálicos", aqueles inclinadinhos. Deu-se, todavia, que a caixa de itálicos estava desfalcada, faltando a letra "t", daí a impossibilidade de escrever tanto Antonio quanto Augusto. E foi assim que, por conta e arte desse genial tipógrafo, virei A. A. de Assis.
Animado pela publicação do artigo, procurei pessoalmente o Doutor Jacy, que generosamente me aceitou como coloaborador permanente d'O Fidelense. Fiquei todo prosa, claro. Mas surgiu um problema. Como em São Fidélis todos me conheciam pelo apelido de Gutinho, os leitores começaram a indagar quem era aquele tal A. A. de Assis. Assim que descobriram, começou a fofoca. Duvidavam que eu, tão menino ainda, pudesse escrever aquelas coisas. Havia quem dissesse que o verdadeiro autor era outro Augusto Assis, meu primo monsenhor Augusto José de Assis Maia, pároco local. Fiquei fulo da vida com aquilo. Para não deixar dúvida, publiquei no domingo seguinte um artigo falando de carnaval, rebolado, etc., e com um vocabulário bem apimentado, coisa que ninguém jamais iria atribuir a um padre. Deu certo: acabou a fofoca.
Fontes:
ASSIS, A. A. De. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010. p.34-35.
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