sábado, 28 de maio de 2011

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poetas de Ontem e de Hoje I)


Apresentamos neste projeto os seguintes Poetas de Ontem e de Hoje:

Poetas de ontem

Vicente de Carvalho
Hermes Fontes
Humberto de Campos
Olegário Mariano
Paulo Setúbal

Poetas de Hoje

Antonio Manoel Abreu Sardenberg
Maria Nascimento Santos Carvalho
Theca Angel
Maria Luiza Bonini
Amilton Monteiro Maciel
Professor Garcia
Diamantino Ferreira

Felicidade
VICENTE DE CARVALHO
1866 - 1924


Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim : mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

Biografia
Vicente de Carvalho (V. Augusto de C.), advogado, jornalista, político, magistrado, poeta e contista, nasceu em Santos, SP, em 5 de abril de 1866, e faleceu em São Paulo, SP, em 22 de abril de 1924. Eleito em 1o de maio de 1909 para a Cadeira n. 29, na sucessão de Artur Azevedo, foi recebido na sessão de 7 de maio de 1910, por carta.

Era filho do major Higino José Botelho de Carvalho e de Augusta Bueno Botelho de Carvalho. Fez o primário na cidade natal e, aos 12 anos, seguiu para São Paulo, matriculando-se no Colégio Mamede e, depois, no Seminário Episcopal e no Colégio Norton, onde fez os preparatórios. Aos 16 anos matriculou-se na Faculdade de Direito. Em 1886, com 20 anos, era bacharel em Direito. Republicano combativo, cursava ainda o 4o ano quando foi eleito membro do Diretório Republicano de Santos. Em 1887, era delegado a Congresso Republicano, reunido em São Paulo. Em 1891, era deputado ao Congresso Constituinte do Estado. Em 1892, na organização do primeiro governo constitucional do Estado, foi escolhido para a Secretaria do Interior. Por ocasião do golpe de estado de Deodoro, abandonou o cargo que vinha exercendo. Mudou-se, então, para Franca, município do interior paulista, e tornou-se fazendeiro. Em 1901, regressou a Santos, dedicando-se à advocacia. Em 1907, mudou-se para São Paulo, onde foi nomeado juiz de direito. Em 1914, passou a ministro do Tribunal da Justiça do Estado.

Vicente de Carvalho foi, durante toda a sua vida, um jornalista combativo. Até 1915, sua atuação na imprensa foi quase ininterrupta. Em 1889, era redator do Diário de Santos, fundando, no mesmo ano, o Diário da Manhã, de Santos. Ali manteve ainda colaboração em A Tribuna e fundou, em 1905, O Jornal. Até 1913 colaborou no Estado de S. Paulo. No fim da vida, cansou-se do jornalismo, mas continuou em contato com seus leitores através dos versos que publicava nas páginas de A Cigarra.

Poeta lírico, ligou-se desde o início ao grupo de jovens poetas de tendência parnasiana. Foi grande artista do verso, da fase criadora do Parnasianismo. Da sua produção poética ele próprio destacou poemas que são de extrema beleza, como: "Palavras ao mar", "Cantigas praianas", "A ternura do mar", "Fugindo ao cativeiro", "Rosa, rosa de amor", "Velho tema", "O pequenino morto".

Obras: Ardentias (1885); Relicário (1888); Rosa, rosa de amor (1902); Poemas e canções (1908); Versos da mocidade (1909); Verso e prosa, incluindo o conto "Selvagem" (1909); Páginas soltas (1911); A voz dos sinos (1916); Luizinha, contos (1924); discursos e obras políticas e jurídicas.

Solenemente
HERMES FONTES
1888 - 1948


Juro por tudo quanto é jura...Juro,
Por mim, por ti, por nós...por Jesus Cristo,
Que hei de esquecer-te! Vê-me ...Estou seguro
Contra teu sólio cuja dor assisto.

E visto que dúvidas tanto...visto
Que ris do que é solene, te asseguro,
Juro mais: pelo ser em que consisto!
Por meu passado! Pelo teu futuro!

Juro pela Mãe Virgem Concebida!
Pelas venturas de que vou ao encalço!
Por minha vida...Pela tua vida!

Juro por tudo que mais amo e exalço:
E depois de uma jura tão comprida
Juro...Juro qu'estou jurando falso!...

Biografia
Hermes Fontes, compositor e poeta, nasceu em Buquim SE, em 28/8/1888 e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 25/12/1930. Filho de lavradores, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais no Rio de Janeiro, para onde se mudou com a ajuda do governador da Província de Sergipe. Foi oficial de gabinete do Ministério da Viação durante o governo de Washington Luiz. Suicidou-se no Rio de Janeiro.

Em 1908, publicou Apoteoses, sua primeira obra poética. Em 1913 publicou Gênese, seu segundo livro de poesias. No mesmo ano, teve gravada pelo cantor Roberto Roldan, na Odeon, a modinha Constelações, parceria com Cupertino de Menezes. Colaborou com o jornal "O Fluminense", de Niterói (RJ), e mais tarde fundou o jornal "A Estréia", trabalhando ao mesmo tempo nos Correios e Telégrafos.

Em 1922, o cantor Baiano lançou na Odeon, o fado-tango Luar de Paquetá, composta dois anos antes, em parceria com Freire Júnior e que alcançou enorme sucesso, tornando-se no ano seguinte, título de uma revista que logrou mais de uma centena de apresentações. Regravada várias vezes, entre outros por Francisco Alves, logrou repetir o sucesso em 1944, quando foi regravada em dueto por Dircinha Batista e Déo, com acompanhamento de orquestra e coro.

Publicou ainda os livros de poesias Ciclo da perfeição, Mundo em chamas, Miragem do deserto, Epopéia da vida, Microcosmo, Despertar, A lâmpada velada e A fonte da mata.

Tu...
HUMBERTO DE CAMPOS
1886 - 1934


Quando alguém me pergunta, por ventura,
Quem me faz de outros tempos diferente,
Pensas tu que teu nome se murmura,
Que o exponho à ânsia voraz de toda gente?

Não; digo apenas o seguinte: é pura,
Casta, simples e meiga: é uma dolente
Cauta rola de tímida candura,
Flor que menos se vê do que se sente.

Mimo de graça e de singeleza;
Clara estrela arrancada a um céu profundo:
Doce apoteose da Delicadeza...

Nesse ponto, de súbito, me calo;
E, sem dizer teu nome, todo mundo
Fica logo sabendo de quem falo!

Biografia
Nasceu Humberto de Campos em Miritiba, Maranhão, em 25.10.1886, filho de Joaquim Veras e Anna de Campos. Em 1910, publica seu primeiro livro de poesias, "Poeira", ao qual se seguiram mais dois, que, em 1933, são agrupados num só volume sob o nome de "Poesias Completas".

Em 1918, publica seu primeiro livro de prosa "Seara de Booz", constituído de pequenos artigos escritos entre 1915 e 1916, sob o pseudônimo de Micromegas.

A este se seguiram, entre outros, Mealheiro de Agripa, Crítica ( em 4 volumes), Carvalho e Roseiras, Sombras que sofrem, Os Párias, Destinos, Memórias, Memórias Inacabadas, O Monstro e outros contos, Sepultando os meus mortos, Lagartas e Libélulas, À sombra das tamareiras e Notas de um diarista..

Humberto de Campos, sob o pseudônimo de "Conselheiro X.X.", exerceu a chamada literatura fescenina.

Em 1919, entra para a Academia Brasileira de Letras. Trabalhou em vários jornais, tais como "O correio da manhã", "O Diário Carioca", "A Noite" e "O Jornal" Em 1926 foi eleito deputado federal pelo Estado do Maranhão, sendo reeleito em 1926. Com a revolução de 1930, perde o mandato. Ë nomeado pelo Governo Provisório, instalado no país, Inspetor de ensino federal e é feito Diretor interino da Casa de Rui Barbosa.

Sempre teve uma saúde frágil e em 1928, é diagnosticado o seu mal, Hipertrofia da hipófise, doença progressiva que o acompanhará até seu falecimento.

"Dele, seu biógrafo Macário de Lemos Picanço diz o seguinte: "Poeta, anedotista, contista, ensaísta, cronista, autobiografista, a obra literária de Humberto de Campos apresenta altos e baixos, mas o que é alto tem a claridade da luz e a simplicidade das almas sãs. Possuidor de estilo fácil, corrente, sem as frases empoladas, qualquer pessoa podia compreendê-lo.

Não tinha artifícios, não tinha preocupação de retumbância. Ao contrário, escrevia com a maior naturalidade e as fantasias, as imagens, as expressões poéticas lhe vinham sem esforço. Faleceu em 5.12.1934, aos 48 anos de idade.

Você nunca está só
OLEGÁRIO MARIANO
1889 - 1958

Você nunca está só. Sempre a seu lado
Há um pouquinho de mim pairando no ar.
Você bem sabe: o pensamento é alado...
Voa como uma abelha sem parar.

Veja: caiu a tarde transparente.
A luz do dia se esvaiu... Morreu.
Uma sombra alongou-se a seus pés mansamente...
Esta sombra sou eu.

O vento ao pôr do sol, num balanço de rede,
Agita o ramo e o ramo um traço descreu.
Este gesto do ramo na parede
Não é do ramo: é meu.

Se uma fonte a correr, chora de mágoa
No silêncio da mata, esquecida de nós,
Preste bem atenção nesta cantiga da água:
A voz da fonte é a minha voz.

Se no momento em que a saudade se insinua
Você nos olhos uma gota pressentiu,
Esta lágrima, juro, não é sua...
Foi dos meus olhos que caiu...

Biografia
Olegário Mariano (O. M. Carneiro da Cunha), poeta, político e diplomata, nasceu em Recife, PE, em 24 de março de 1889, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de novembro de 1958.

Era filho de José Mariano Carneiro da Cunha, herói pernambucano da Abolição e da República, e de Olegária Carneiro da Cunha. Fez o primário e o secundário no Colégio Pestalozzi, na cidade natal, e cedo se transferiu para o Rio de Janeiro. Freqüentou a roda literária de Olavo Bilac, Guimarães Passos, Emílio de Meneses, Coelho Neto, Martins Fontes e outros. Estreou na vida literária aos 22 anos com o volume Angelus, em 1911. Sua poesia falava de neblinas, de cismas e de sofrimentos, perfeitamente identificada com os preceitos do Simbolismo, já em declínio.

Foi inspetor do ensino secundário e censor de teatro. Representou o Brasil, em 1918, como secretário de embaixada à Bolívia, na Missão Melo Franco. Foi deputado à Assembléia Constituinte que elaborou a Carta de 1934. Em 1937, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados. Foi ministro plenipotenciário nos Centenários de Portugal, em 1940; delegado da Academia Brasileira na Conferência Interacadêmica de Lisboa para o Acordo Ortográfico de 1945; embaixador do Brasil em Portugal em 1953-54. Exerceu o cargo de oficial do 4o Ofício de Registro de Imóveis, no Rio de Janeiro, tendo sido antes tabelião de Notas.

Em concurso promovido pela revista Fon-Fon, em 1938, Olegário Mariano foi eleito, pelos intelectuais de todo o Brasil, Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substituição a Alberto de Oliveira, detentor do título depois da morte de Olavo Bilac o primeiro a obtê-lo.

Além da obra poética iniciada em livro em 1911, e enfeixada nos dois volumes de Toda uma vida de poesia (1957), publicados pela José Olympio, Olegário Mariano publicou durante anos, nas revistas Careta e Para Todos, sob o pseudônimo de João da Avenida, uma seção de crônicas mundanas em versos humorísticos, mais tarde reunidas em dois livros: Bataclan e Vida Caixa de brinquedos.

Sua poesia lírica é simples, correntia, de fundo romântico, pertinente à fase do sincretismo parnasiano-simbolista de transição para o Modernismo. Ficou conhecido como o “poeta das cigarras”, por causa de um de seus temas prediletos.

Só tu
PAULO SETÚBAL
1893 - 1937

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!

Mas tu - que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu que jamais abracei,
Só tu, nest'alma, ficaste,
De todas as que eu amei.

Biografia
Paulo Setúbal (P. S. de Oliveira), advogado, jornalista, ensaísta, poeta e romancista, nasceu em Tatuí, SP, em 10 de janeiro de 1893, e faleceu em São Paulo, SP, e, 4 de maio de 1937. Eleito em 6 de dezembro de 1934, sucedendo a João Ribeiro, foi recebido em 27 de julho de 1935, pelo acadêmico Alcântara Machado. Órfão de pai aos quatro anos, sua mãe cuidou sozinha de nove filhos pequenos. Ela colocou o pequeno Paulo como interno no colégio do seu Chico Pereira e começou a trabalhar para viver e sustentar os filhos. Transferindo-se com a família para São Paulo, o adolescente Paulo entrou para o Ginásio Nossa Senhora do Carmo, dos irmãos maristas, onde estudou durante seis anos. Aí começou o interesse pela literatura e pela filosofia. Leu Kant, Spinoza, Rousseau, Schopenhauer, Voltaire e Nietzsche. Na literatura, influenciou-o sobretudo a leitura de Guerra Junqueiro e Antero de Quental. Muitas passagens do seu primeiro livro de poesias, Alma cabocla, lembram a Musa em férias de Guerra Junqueiro.

Esse período de sua vida é de franco e desenfreado ateísmo. Fez o curso de Direito em São Paulo. Ainda freqüentava o 2o ano quando decidiu fazer-se jornalista. Era a época da campanha civilista quando foi procurar emprego no diário A Tarde. Lá ingressou como revisor; logo a seguir, a publicação de uma de suas poesias naquele jornal deu-lhe notoriedade imediata, e ele ganhou sua primeira coluna como redator. Já nessa época começava a sentir os sinais da tuberculose que iria obrigá-lo a freqüentes interrupções no trabalho, para repouso.

Concluído o curso de Direito em 1915, iniciou carreira na advocacia em São Paulo. Em 1918, devido à gripe espanhola, Paulo Setúbal partiu para Lages, em Santa Catarina, onde morava o irmão mais velho, e lá tornou-se um advogado bem-sucedido. Levava, porém, uma vida dissoluta, às voltas com mulheres e com o jogo. Cansado de tudo, voltou para São Paulo, e também lá se estabeleceu como advogado.

Iniciou-se, então, a principal fase de sua produção literária, que o levaria a ser o escritor mais lido do país. Destaca-se, especialmente, pelo gênero do romance histórico, com A marquesa de Santos (1925) e O príncipe de Nassau (1926). Sabia como romancear os fatos do passado, tornando-os vivos e agradáveis à leitura. Os sucessivos livros que escreveu sobre o ciclo das bandeiras, a começar com O ouro de Cuiabá (1933) até O sonho das esmeraldas (1935), tinham o sentido social de levantar o orgulho do povo bandeirante na fase pós-Revolução constitucionalista (1932) em São Paulo, trazendo o passado em socorro do presente.

Em 1935, Paulo Setúbal chegou ao apogeu, sendo consagrado pela Academia Brasileira de Letras. Mas, nesse mesmo 1935 ele ingressa em nova fase da crise espiritual que vinha de longe e que terá repercussão em sua literatura. O temperamento sociável, expansivo e alegre; o freqüentador de festas e reuniões dava lugar ao homem introspectivo, vivendo apenas cercado da família e dos amigos mais próximos. Aos problemas crônicos de saúde acrescentava-se a minagem psicológica ocasionada pela desilusão com os rumos da política e consigo mesmo. Entrou a freqüentar fervorosamente a igreja da Imaculada Conceição, perto de sua residência em São Paulo, e a ler a Bíblia e livros como a Psicologia da fé e A imitação de Cristo. É quando escreve o Confíteor, livro de memórias, a narrativa de sua conversão, que ficou inacabado.

Obras: Alma cabocla, poesia (1920); A marquesa de Santos, romance-histórico (1925); O príncipe de Nassau, romance histórico (1926); As maluquices do Imperador, contos-históricos (1927); Nos bastidores da história, contos (1928); O ouro de Cuiabá, história (1933); Os irmãos Leme, romance (1933); El-dorado, história (1934); O romance da prata, história (1935); A fé na formação da nacionalidade, ensaio (1936); Confíteor, memórias (1937).

Alucinação
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
São Fidélis "Cidade Poema"


Tentei em vão suavizar a vida,
Tornar mais leve o fardo tão pesado,
Fazer da volta o ponto de partida,
Buscar na ida o amor tão cobiçado!

Eu quis fazer da pauta a partitura
De um canto leve, doce e tão suave,
Cantar a vida com toda a ternura,
Voar em sonhos como uma ave!

Eu quis da luz o raio de esperança
Mas, por castigo, só me veio a treva.
Não me atrevo e guardo na lembrança
O que a serpente aprontou pra Eva...

E desse jeito fico aqui quietinho,
No meu cantinho, bem acompanhado,
Pois não será por falta de carinho
Que comerei a fruta do pecado!

Nunca mais
MARIA NASCIMENTO SANTOS CARVALHO
Rio de Janeiro


Não sei de onde é que vem tanta ansiedade
e essa angústia que me comprime o peito,
torturando, porque, na realidade,
nem de pensar em ti, tenho o direito.

E, como todo o ser mais que imperfeito,
que não doma os caprichos da vontade,
eu luto, mas sequer encontro um jeito
de me livrar das garras da saudade...

Bem sei que não entrei na tua vida,
e, mesmo tendo sido preterida,
meu amor floresceu, criou raiz...

Mas fui punida com severidade,
porque deixaste em mim tanta saudade
que nunca mais eu pude ser feliz!

Noite...quem dera...
THECA ANGEL


Quem dera meu amor
A noite chegando, trouxesse
Um pouco que fosse de teu perfume
Uma centelha de teu olhar
O som inebriante de teus sussurros
A ilusão de teu toque em minha pele...
Quem dera ela tudo isso substituísse...
E trouxesse você no embalo de sua luz...
Te fizesse presente em mim
Com a volúpia de teu ardor...
Quem dera fosse realidade
E não uma projeção desta saudade

Finjas tristeza, poeta!
MARIA LUIZA BONINI

Ao fingires a dor que, deveras, sentes
Estás revigorando a força do poeta
Se saudares a alegria, por de certo, mentes
No intento de dissimular a dor secreta

Ao fingires a dor que, deveras, sentes
À inspiração que está em ti, despertas
Alimentando o amar que há em ti, latente
Para que a tristeza e a dor fiquem alertas

Ao fingires a dor que, deveras, sentes
Abortas de dentro de ti toda a tristeza
Passas a alimentar da alegria toda beleza

Ao fingires a dor que, deveras, sentes
Asperges ao mundo um cantar tocante e uno
Eleva-nos a devaneios por misteriosos rumos

O sabiá
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP


Em minha casa tem um sabiá
Que canta sempre, desde manhãzinha,
Escondido em um lindo jatobá
Que fica logo atrás de minha cozinha.

Nem os gritos do forte carcará,
À cata de indefesa andorinha,
Na luta para ver quem vencerá,
Sobrepujam essa minha avezinha!

O seu cantar anima a minha vida,
Que vai chegando ao fim de sua corrida,
Pois apesar de triste, é uma doçura...

E consegue alegrar os dias meus!
Creio até que seu canto de ternura
Não mereço, mas ganho de meu Deus!

Sentimento
PROF. GARCIA
Caicó/RN

Quando o dia se apressa e vai embora,
num silêncio que fere e que angustia,
a tristeza me invade e me devora,
nas horas sepulcrais, do fim do dia.

Como quem diz adeus e triste chora,
vai-se o sol delirando de agonia,
e a cortina da noite, Deus decora,
com luz tênue, de vã melancolia.

Distante, bem distante, muito além,
a tristeza me acena, como quem
se despede de alguém, que já morreu,

foi apenas a luz de um dia lindo,
que cansada, acenou quase dormindo
e nos braços da noite adormeceu!

Luz
DIAMANTINO FERREIRA
Rio de J
aneiro

Como caminha um cego e de bengala
apalpa seu trajeto, não cair,
arrasto-me na vida e nem se fala
de quantos tombos mais estão por vir;

apesar do infortúnio, é prosseguir
e na estrada da vida, qual na sala,
palmilhar como sempre; e no porvir
eu não perca a esperança de encontrá-la!

Nasci feliz, aluz dentro dos olhos;
mas cresci, tropeçando nos escolhos,
chegados tão somente por te amar!

Perdida a vista, mas...Pior castigo:
nem a esperança de trazer comigo
o sonho de voltar a te enxergar!

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