31
É a cegonha, bem...
Tá caçando uma barriga
pra ninhar neném...
32
Tudo bem, poeta.
Minha terra tem Palmeiras,
mas sou são-paulino.
33
“Por que não te calas?”,
diz a arara ao papagaio.
– Se calo, me peias.
34
Na aguinha da bica
molha o bico o tico-tico.
Depois bica a tica.
35
Céu de “brigadeiro”.
– Aniversário de quem?,
me pergunta o neto.
36
Zunzunzum... zunzum...
É um pernilongo brincando
de fórmula um.
37
Balança o palanque.
O peso na consciência
do nobre orador.
38
Xô daqui, Seu Grilo.
Pega a tua cantoria,
pousa noutra cuca.
39
Dó-ré-mi-fá-sol,
dó-ré-mi-fá-sol-lá-si.
Sabiá-laranjeira.
40
Eram todos sábios.
Mas somente o sabiá
sabia cantar.
41
Tão simples, meu santo:
“ame e faça o que quiser”.
O resto é discurso.
42
Diz-me alegre a neta:
– Olha, vô, é a borboleta
do poeta azul.
43
Releio Bilac.
Aquele que a Via Lác-
tea ouvia e via.
44
Vaga o vagalume.
Vaga luz num vago mundo
procurando vaga.
45
Cigarra dá curso
de canto no formigueiro.
E a fábula acaba.
46
De longe o cheirinho
a que Adão não resistiu.
Festa da maçã.
47
Rodada de mate.
Negrinho do Pastoreio
passa bem no meio.
48
Quero-quero-quero,
que queres tu tanto assim?
– Quero a quera-quera.
49
Mindim, seu-vizim,
pai-de-todos, fura-bolo...
Ao sobrante, o piolho.
50
Tão meninas elas,
as meninas dos teus olhos.
Pedem colo, ainda.
51
Nobre girassol.
Como podem, no mercado,
chamá-lo commodity?
52
Toda prosa a rosa.
Vitória-régia-mirim
numa poça d’água.
53
Cubram-se as estrelas.
Tem gente capaz de ao vê-las
lhes roubar as pilhas.
54
Vovó faz a sesta
na cadeira de balanço.
Reprise de sonhos.
55
Corrija-se a tempo.
Mais de mater que magistra
necessita o povo.
56
Era um fino belga.
Fez sucesso ao transformar-se
num canário brega.
57
No ap da canária
pinta o 7 o pintassilgo.
Pinta um pintagol.
58
A abelhinha, não.
Bela e útil, não lhe assenta
ser chamada “inseto”.
59
Na Idade da Pedra
talvez já se comentasse:
– É uma pedra a idade.
60
Cada tiquetaque
leva um tiquinho da gente.
Para o céu, espero.
Fonte:
ASSIS, A. A. de. Vida, Verso e Prosa. Maringá:EDUEM, 2010.
ASSIS, A. A. de. Vida, Verso e Prosa. Maringá:EDUEM, 2010.
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