sexta-feira, 6 de maio de 2011

Thalma Tavares (Trovas que Falam de Mãe)


Nós, homens e mulheres de todos os tempos, de todos os credos religiosos, de todos os rincões da Terra, que aprendemos a usar as palavras, vivemos ansiosamente buscando o verso perfeito, a expressão mais sublime para externar verbalmente a grandeza do amor materno. E ao cabo de muitas buscas concluímos contrafeitos que a expressão que encontramos, quando a encontramos, por mais extraordinária que nos pareça, não tem a força nem o brilho necessário para exprimir o que sentimos em relação a esse amor. No entanto, como o presidiário ante a estreita faixa de luz que lhe cabe na minúscula abertura de sua cela, mas que não reflete totalmente a grandiosidade do Sol, nós nos conformamos com o fruto dessa busca, desde que ele traduza fielmente a essência do nosso carinho, daquilo que há de melhor em nosso coração. E o melhor que há em nós, para nossa mãe, pode estar contido num simples gesto, no respeito que lhe devotamos, na palavra que silenciamos para não magoá-la, na aceitação de suas humanas imperfeições e no esforço que fazemos para que os nossos defeitos não lhe tirem o sono, vincando-lhe prematuramente o rosto amado com as indesejáveis rugas do desgosto. E nesse contexto insére-se muito bem a Trova sincera de LUIZ OTÁVIO, quando suplica:

"Oh, mãe querida, perdoa!
O que sonhaste, não sou...
Tua semente era boa:
a terra é que não prestou."

Muitas vezes, no perfil de mãe que costumam traçar poetas e prosadores, identificamos traços e gestos daquela que nos deu o ser.

Minha mãe foi para a morada eterna quando eu contava apenas sete anos de idade. Guardo ainda em minha lembrança seu rosto suave, seus dulcíssimos olhos que nos fitavam com uma ternura e um sentimento de quem está sempre se despedindo. Ela se foi, é verdade, mas deixou na ternura de sua própria mãe a mãe que se desvelaria por mim e por minhas irmãs. E é desta outra mãe o traço humano e heróico que identifico nestas trovas do saudoso JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAUJO e de PEDRO ORNELLAS, respectivamente:

De JOSÉ MARIA:
"Na infância de minha vida,
fui pobre, mas não sabia
porque é que eu tinha comida
e a minha mãe não comia."

De PEDRO ORNELLAS:

"Ser mãe é zombar da fome,
nos olhos mantendo o brilho,
ao ver o pão que não come
matando a fome do filho."

Mas JOSÉ MARIA não parou por aí, traçou nesta bela trova um outro lado do amor de sua genitora, que fez das lágrimas o apelo maior para que o filho se tornasse um homem de bem:

“Minha mãe verteu mais pranto
que a Mãe de Nosso Senhor...
A Virgem chorou um Santo,
Minha mãe – um pecador.

Deus nos premiou generosamente ao colocar no coração de nossas mães e de nossas avós, toda essa inesgotável fonte de ternura que as vicissitudes da vida não nos deixa, às vezes, perceber em toda a sua plenitude, nem retribuir como se deve. Mas as mães não cobram atitudes, não exigem trocas ou recompensas porque não barganham com o amor. E quem nos garante isto é a poeta e trovadora MARILITA POZZOLI, quando nos diz:

"Coração de mãe, canteiro
em perene floração,
onde um Santo Jardineiro
planta as rosas do perdão"

É feliz quem pode ainda hoje olhar fundo nos olhos dessa extraordinária criatura, tomar-lhe carinhosamente as mãos, aconchegá-las ao peito e dizer-lhe enquanto bate mais forte o coração: - Escuta, mãe! Escuta como bate o meu coração! Ele está te dizendo o que as minhas palavras não conseguem...

E aquele a quem ela já não pode tocar fisicamente o peito, porque já não é deste mundo, tem-na constantemente no coração, como estrela inapagável no céu da alma. E esta certeza está comoventemente contida nos versos desta tocante Trova de SARA MARIANY KHANTER:

"Minha mãe partiu, tão linda!
Sorriu no último adeus...
E em minha tristeza infinda
eu tive inveja de Deus."

E são às mães de todos nós filhos presentes e ausentes, que nós dedicamos este trabalho em homenagem ao Dia das Mães, enriquecido pelas jóias da genialidade de nossos irmãos poetas e TROVADORES.

Entre as amorosas mães do mundo inteiro uma existe que não pode ser esquecida; destaca-se por ser, brasileiramente, a mãe dos filhos alheios. Eis como Thalma Tavares, tem-na em sua lembrança:

Foi Mãe Preta alforriada
pelo afeto do Senhor...
De tanto afeto cercada
morreu escrava do amor.

É tocante o lirismo com que o trovador JOSÉ LUCAS DE BARROS evoca a ternura materna:

“Frases de eterna pureza
mamãe sempre me revela;
porém as de mais beleza
eu leio nos olhos dela.”

A.A. DE ASSIS exalta o amor materno nesta sua trova bastante criativa, numa comparação repleta de lirismo:

“Com que suave ternura
tece a canária o seu ninho!
- Mãe é assim, dengosa e pura;
a nossa e a do passarinho...

Mas quem se emociona com os versos que falam de Mãe, não pode esquecer esta jóia da inspiração poética de MARTINS FONTES, engastada neste seu primoroso e delicado Soneto:

MINHA MÃE

Beijo-te a mão que sobre mim se espalma
Para me abençoar e proteger.
Teu puro amor o coração me acalma;
Provo a doçura do teu bem-querer.

Porque a mão te beijei, a minha palma
Olho, analiso, linha a linha, a ver
Se em mim descubro um traço de tua alma,
Se existe em mim a graça do teu ser.

E o M, gravado sobre a mão aberta,
Pela sua clareza me desperta
Um grato enlevo que jamais senti:

Quer dizer Mãe este M tão perfeito,
E, com certeza, em minha mão foi feito
Para, quando eu for bom, pensar em ti.

Ficaríamos aqui, com um prazer imenso reproduzindo incontável número de trovas e poemas que falam de mãe, se o tempo e o espaço não obstassem a nossa intenção. Mas vamos encerrar esta breve homenagem fazendo nosso o desejo de ARCHIMIMO LAPAGESSE, e nossa a gratidão de AGMAR MURGEL DUTRA, nestas duas trovas repletas de singeleza e ternura:

De ARCHIMIMO:
“Se Deus atendesse um dia
minha prece ingênua e doce,
quem fosse mãe não morria,
por mais velhinha que fosse.”

De AGMAR:

“Pelo bem que me fizeste
sem nunca exigires nada;
pela luz que tu me deste,
Minha mãe, muito obrigada.”

E nós aqui desejamos a todos

UM FELIZ DIA DAS MÃES

(Minipalestra proferida pelo autor na UBT- São Paulo, UBT-Amparo, Casa do Poeta e Escritor de Ribeirão Preto, SOS - Cultura de São Simão-SP e C.E. “A Caminho da Libertação”)

Fonte:
Texto enviado por Mifori

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