Andando a filha da onça muito namorada pelo lagarto e pelo homem, que desejavam desposá-la, o jabuti jurou que havia de vencer aos dois. Pensou um plano. "Achei, achei!" — disse de repente.
Foi a uma aguada e pegou um punhado de sapinhos, que soltou no bebedouro, com ordem, quando qualquer bicho viesse beber, de cantar uma coisa assim:
Turi, turi...
Quebrar-lhe as pernas...
Furar-lhe os olhos...
E recomendou:
— Mas se eu aparecer com a minha gaita vocês ficam logo caladinhos, ouviram?
Logo depois apareceu o macaco, que vinha beber. Ao ouvir a cantiga da água, deu um pulo de medo e sumiu-se.
Outros bichos vieram, acontecendo a mesma coisa.
Veio o lagarto — e fugiu no galope.
Veio o homem — e fugiu fazendo o pelo-sinal.
Faltava só o jabuti. Foram buscá-lo.
— Pois vou, porque não tenho medo nenhum, mas quero que todos os animais me acompanhem de perto.
A bicharia toda o seguiu. Quando chegou em certo ponto, disse o jabuti:
— Bem, agora vocês parem. Eu vou só. Aproximou-se do bebedouro e deu um toque de gaita. Os sapinhos emudeceram como peixes.
O jabuti bebeu sossegadamente e foi ter com os animais, que estavam assombrados de tanta valentia. A onça, muito alegre, deu-lhe a filha em casamento.
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— O que achei mais graça — disse Narizinho — foi aparecer um homem disputando com o jabuti a mão da filha da onça.
— E mesmo assim, mesmo em luta com o rei dos animais — observou Pedrinho — foi o cágado quem venceu. Isso mostra que os índios punham o jabuti até acima do homem, em matéria de esperteza.
— Que pena não termos um cágado aqui! — suspirou a menina. — Gosto cada vez mais desse bichinho.
— E é gostoso mesmo — disse tia Nastácia. — Ensopado, com bastante tempero e um bom pirão de farinha de mandioca, é gostoso da gente comer e lamber as unhas.
Emília fulminou-a com os olhos.
— E agora? — perguntou Narizinho. — Ainda sabe mais alguma coisa do jabuti?
— Arre, menina. Que tanto quer? — respondeu a preta. — Não sei mais nada, não. Chega. Tenho de ir cuidar do jantar. Até logo.
— Então vovó que conte mais algumas. Dona Benta respondeu:
— Eu sei centenas de histórias. O difícil está na escolha. Sei histórias do folclore de todos os países.
— Então conte uma do folclore da Índia! — pediu o menino. — Da índia, não. Da China — pediu Narizinho.
— Da China, não. Do Cáucaso — pediu a boneca, que andava com mania de coisas russas.
E dona Benta contou uma história do folclore do Cáucaso.
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Continua… XXXVIII – A Raposa Faminta
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
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