Um jabuti estava em sua toca, tocando gaita. Um homem ouviu e disse: "Vou pegar aquele malandro" — e chamou: "Ó jabuti!"
— Oi! — respondeu o jabuti.
— Vem cá, jabuti.
— Já vou — disse o jabuti — e botou a cabecinha na abertura do buraco. O homem foi e agarrou-o e levou-o para casa, onde o fechou numa caixa. No dia seguinte, de manhã, antes de ir para o serviço, disse aos meninos:
— Não me vão soltar o jabuti, ouviram? — e foi trabalhar.
O jabuti pôs-se a tocar a sua gaitinha lá dentro da caixa. Os meninos aproximaram-se, curiosos. Ele parou.
— Toque mais, jabuti — pediram os meninos.
O jabuti respondeu:
— Vocês estão gostando da minha gaita. Imaginem se me vissem dançar...
Os meninos abriram a caixa para verem o jabuti dançar. O jabuti saiu e dançou pela sala.
Lé, lé, lé, lé...
Lé, ré, lé, ré...
Depois pediu para dar um pulinho ao quintal.
— Vá, jabuti, mas não fuja.
O jabuti foi ao quintal e fugiu para o mato.
— O jabuti fugiu! — gritaram os meninos. — Como será agora?
Um deles teve uma lembrança: botar na caixa uma pedra com a forma do jabuti, para enganar o pai.
Assim fizeram.
À tarde o pai voltou da roça e disse' "Ponham a panela no fogo e preparem-me o jabuti."
Os meninos obedeceram, pondo a pedra na panela. Quando chegou a hora do jantar, o homem sentou-se à mesa, lambendo os beiços. Mas ao botar o jabuti no prato, viu que era pedra.
— Vocês deixaram o jabuti fugir!
Os meninos disseram que não, mas nesse momento soou lá no mato a gaitinha do fugitivo:
Tim, tim, tim...
Olô, olô, olô...
O homem foi lá.
— Ó jabuti!
O jabuti respondeu: "Oi!" Por mais que o homem procurasse, não o achava.
— Vem cá, jabuti!
E o jabuti: "Oi!" Cada vez respondia dum lugar diferente, até que o homem danou e voltou para casa, muito desapontado.
=============
— Só isso? — gritou Emília. — É pouco...
— Não, tem mais coisas — respondeu tia Nastácia. — Há uma porção de histórinhas do jabuti, que é um danado de esperto. Ninguém logra ele.
— É verdade — disse dona Benta. — O jabuti, ou cágado, como o chamamos aqui no sul, é um animalzinho que muito impressiona a imaginação dos homens do mato — os índios; daí todo um ciclo de histórias do jabuti, onde ele aparece com umas espertezinhas muito curiosas.
— E é mesmo uma galanteza — disse Narizinho — sobretudo uns verdes, do tamanho duma bolacha Maria. Já vi dois em casa da mãe do Tônico.
— Mas são mesmo espertos como querem os índios ou é história? — indagou Pedrinho.
— O cágado parece que tem alguma inteligência e que faz mesmo umas coisinhas jeitosas. Além disso possui aquela casca onde esconde a cabeça e as pernas assim que se vê em apuros. Isso deu aos índios a idéia de esperteza.
— Arranje, vovó, arranje um jabuti para nós! — pediu a menina. — Deve ser tão interessante...
— Hei de arranjar, mas agora vamos ouvir outras histórias dele. Continue, Nastácia.
E tia Nastácia continuou.
–––––––––––––
Continua… XXXII – O Jabuti e a Caipora
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source
— Oi! — respondeu o jabuti.
— Vem cá, jabuti.
— Já vou — disse o jabuti — e botou a cabecinha na abertura do buraco. O homem foi e agarrou-o e levou-o para casa, onde o fechou numa caixa. No dia seguinte, de manhã, antes de ir para o serviço, disse aos meninos:
— Não me vão soltar o jabuti, ouviram? — e foi trabalhar.
O jabuti pôs-se a tocar a sua gaitinha lá dentro da caixa. Os meninos aproximaram-se, curiosos. Ele parou.
— Toque mais, jabuti — pediram os meninos.
O jabuti respondeu:
— Vocês estão gostando da minha gaita. Imaginem se me vissem dançar...
Os meninos abriram a caixa para verem o jabuti dançar. O jabuti saiu e dançou pela sala.
Lé, lé, lé, lé...
Lé, ré, lé, ré...
Depois pediu para dar um pulinho ao quintal.
— Vá, jabuti, mas não fuja.
O jabuti foi ao quintal e fugiu para o mato.
— O jabuti fugiu! — gritaram os meninos. — Como será agora?
Um deles teve uma lembrança: botar na caixa uma pedra com a forma do jabuti, para enganar o pai.
Assim fizeram.
À tarde o pai voltou da roça e disse' "Ponham a panela no fogo e preparem-me o jabuti."
Os meninos obedeceram, pondo a pedra na panela. Quando chegou a hora do jantar, o homem sentou-se à mesa, lambendo os beiços. Mas ao botar o jabuti no prato, viu que era pedra.
— Vocês deixaram o jabuti fugir!
Os meninos disseram que não, mas nesse momento soou lá no mato a gaitinha do fugitivo:
Tim, tim, tim...
Olô, olô, olô...
O homem foi lá.
— Ó jabuti!
O jabuti respondeu: "Oi!" Por mais que o homem procurasse, não o achava.
— Vem cá, jabuti!
E o jabuti: "Oi!" Cada vez respondia dum lugar diferente, até que o homem danou e voltou para casa, muito desapontado.
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— Só isso? — gritou Emília. — É pouco...
— Não, tem mais coisas — respondeu tia Nastácia. — Há uma porção de histórinhas do jabuti, que é um danado de esperto. Ninguém logra ele.
— É verdade — disse dona Benta. — O jabuti, ou cágado, como o chamamos aqui no sul, é um animalzinho que muito impressiona a imaginação dos homens do mato — os índios; daí todo um ciclo de histórias do jabuti, onde ele aparece com umas espertezinhas muito curiosas.
— E é mesmo uma galanteza — disse Narizinho — sobretudo uns verdes, do tamanho duma bolacha Maria. Já vi dois em casa da mãe do Tônico.
— Mas são mesmo espertos como querem os índios ou é história? — indagou Pedrinho.
— O cágado parece que tem alguma inteligência e que faz mesmo umas coisinhas jeitosas. Além disso possui aquela casca onde esconde a cabeça e as pernas assim que se vê em apuros. Isso deu aos índios a idéia de esperteza.
— Arranje, vovó, arranje um jabuti para nós! — pediu a menina. — Deve ser tão interessante...
— Hei de arranjar, mas agora vamos ouvir outras histórias dele. Continue, Nastácia.
E tia Nastácia continuou.
–––––––––––––
Continua… XXXII – O Jabuti e a Caipora
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source
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