Francisca Clotilde Barbosa Lima nasceu no Sertão dos Inhamuns, Tauá, CE, aos 19 de outubro de 1862. Filha de João Correia Lima e Ana Maria Castelo Branco. Viveu sua adolescência em Baturité e Fortaleza, nesta última foi aluna do Colégio Imaculada Conceição, onde se fazia notar pelo seu espírito lúcido e suas inclinações poéticas. Aos quatorze anos, teve seu primeiro poema publicado na Imprensa (Horas de Delírio, O Cearense, 1877).
Aos vinte e dois anos, através de Concurso tornou-se a primeira professora do sexo feminino a lecionar na Escola Normal de Fortaleza. Pelo seu convívio passaram as primeiras professoras “formadas” do Estado do Ceará na década de 1880, tais como Emília de Freitas, Serafina Pontes, Alba Valdez, Ana Facó, etc.
Concomitante ao trabalho de professora, Francisca Clotilde participou ativamente do Movimento Abolicionista, inclusive tomando parte da Sociedade das Senhoras Libertadoras, ao lado de Maria Tomázia Figueira Lima, Elvira Pinho, Joana Antonia Bezerra, Serafina Pontes e outras senhoras. Nese tempo, escreveu o poema: A Liberdade, o Soneto: Livre. É dela, as palavras que se seguem, proferidas na comemoração dos vinte anos da libertação dos escravos: “Todas as vezes que sobre o dorso agitado dos mares vejo passar a jangadinha veleira, repassando os episódios da mais bela das campanhas, tenho ufania de ser cearense e sinto desejos de proclamar aos quatro ventos as glórias imorredouras de minha terra”.
Francisca Clotilde teve intensa participação na Imprensa, tendo inclusive tomado parte como membro no Clube Literário; nas Sessões da Agremiação teve seus contos lidos e, posteriormente publicados n’A Quinzena. Tais contos abordam aspectos de vida real e/ou imaginários, através dos quais a autora denuncia as desigualdades sociais da época e convida o leitor a prática do bem e do belo. E é justamente graças a essa capacidade de fazer com que seus tipos e situações sejam sentidos pelos leitores de todas as épocas, que os contos de Francisca Clotilde cativam.
Sobre sua participação jornalística recorro a Otacílio Colares (1993): “Seu nome esteve em evidência, a partir da última década passado, já nas páginas de jornais e revistas, assinando versos, de teor romântico confessional, ou paisagístico, já em prosa, nesta incluída a dramática, a de ficção e também a de um ativo e atrevido jornalismo ideológico e político”.
Provavelmente “esse ativo e atrevido jornalismo” haja sido o motivo principal que ocasionou a sua demissão da Escola Normal (1891). Francisca Clotilde não é a única nem a última professora a ser perseguida em nosso País.
De cabeça erguida Francisca Clotilde funda seu próprio Externato - Externato Santa Clotilde - situado à rua Marquez de Herval nº 06, que segundo Antonio Bezerra de Meneses foi fundado no ano de 1893 contando com 52 alunos, sendo 46 meninas e 6 meninos.
No final do Século volta a morar em Baturité, nessa cidade entre tantos foi seu aluno o beletrista Mário Linhares que se reportando à mestra em sua História Literária do Ceará, diz: “Conheci-a como professora pública em Baturité, em minha meninice, aí por 1904. Minha mãe era muito sua amiga, aproximou-nos. Foi ela quem corrigiu os meus primeiros versos e me ensinou os segredos da metrificação. Sua modéstia e a obscura vida de educadora no interior cearense estiolaram-lhe o vigor da inteligência, que não teve a projeção que a faria um dos nomes mais queridos das nossas letras femininas”.
De Baturité Francisca Clotilde continua a colaborar em vários jornais, dentro e fora do Ceará. Como por exemplo, Almanack do Ceará, Almanach dos Municípios do Estado do Ceará, Almanack das Senhoras alagoanas, A Violeta, do Rio de Janeiro, etc.
Em 1902 vem a público seu único romance A DIVORCIADA. Pioneira no tema “divórcio” na Literatura Brasileira.
Amélia de Freitas Beviláqua, esposa do jurisconsulto Clóvis Beviláqua, redatora de O LYRIO em Recife-PE, assim de reporta: “A conhecida escritora cearense, Francisca Clotilde, teve a gentileza de oferecer-nos o seu romance - A Divorciada, que forma um belo volume de duzentas e trinta e três páginas. A urdidura do romance é simples, mas bem travado com a concepção, corre suavemente, sem sobressalto, sem rebuscamento, despreocupado e natural. Com esses elementos, arquitetou a simpática escritora um romance muito interessante, onde a emoção sem muito se elevar, distribui-se com arte, dando relevo às cenas e prendendo continuamente a atenção do leitor até o desenlace. Agradecemos a oferta, felicitamos a distinta romancista”.
N’A Divorciada – palpita uma das mais singelas criações femininas – A Nazareth. Considerada “a primeira Samaritana da Literatura Brasileira”.
Seus Sonetos cantam o amor, a saudade, a Pátria, a Natureza. Ao ler seus versos a mente devassa mundos desconhecidos, o coração palpita, a alma sonha e os versos estremecem sob as mais doces e agradáveis sensações.
Suas peças para o teatro variam de monólogo, diálogo ou dramas em 2 ou 3 atos. Em – Devaneio – drama, desenrolam-se os as situações vividas e aspirações da mulher.
A poesia, o romance e o teatro enriqueceram-se com as jóias do cofre precioso de sua inteligência e com o poder irresistível da sua imaginação.
Exímia colaboradora de A ESTRELLA, revista fundada em Baturité (28/10/1906), tendo como redatoras Antonieta Clotilde e Carmem Thaumaturgo. Com raras exceções, essa revista sempre trouxe na capa, um soneto inédito de Francisca Clotilde.
A convite de intelectuais da “terra dos bons ares”, Francisca Clotilde muda-se com toda família (Antonieta, Aristóteles e Angelita) para Aracati, onde funda o Externato Santa Clotilde, e de onde A ESTRELLA passa a ser editada até o ano de 1921, tendo como redatora Antonietta Clotilde, contando com colaboradores e correspondentes espalhados por vários estados do Brasil. Segundo o historiador Abelardo Fernando Montenegro, O Aracaty, órgão da imprensa da mesma cidade, citando os intelectuais da terra na edição de 25 de março de 1909, diz que “merecem verdadeiras apoteoses de aplausos, as primorosas quão modestas poetisas as Clotildes, mãe e filha”.
Uma ex-aluna do Externato Santa Clotilde que elevou o nome de Francisca Clotilde foi a aracatiense Stela Barbosa Araújo, a tomando para Patrona na Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno em 1952, seu discurso veio a público no livro MULHERES DO BRASIL (1971 pp.231-251), assim iniciado: “Francisca Clotilde – alma de anjo, coração de jovem num corpo alquebrado pelas lides do ensino, torturado por vagas rugidoras de tantas injustiças – eu a conheci de perto, intimamente, filialmente, porque ela foi minha mestra por alguns anos, ensinando-me, guiando-me aperfeiçoando-me”. E depois de mostrar as várias faces de sua ex-mestra finaliza: “E eu, humilde e pequenina, deixo-lhe aqui o meu tributo de reconhecimento e gratidão, numa corbeile de doloridas saudades e suspiros chorados que traduzirão, embora mui palidamente, o elevado conceito em que nós, os seus alunos, sempre a colocamos com admiração e respeito”.
Filgueiras Lima dando Parecer ao discurso de Stela Barbosa Araújo assim se reporta a Francisca Clotilde: “Tão esquecida das atuais gerações, a suavíssima poetisa Francisca Clotilde encontro afinal uma biógrafa capaz de levantar o seu nome do pó do olvido fazê-lo admirado pelas novas correntes literárias do Ceará. Nós que a conhecemos na nossa adolescência, quando tivemos de residir por algum tempo na amorável cidade Jaguaribana, a que ela dedicou o melhor de sua fina inteligência e do seu imensurável coração, podemos dizer que nestas páginas evocativas encontramos Francisca Clotilde. A mestra infatigável, com acento montessoriano em suas atividades educacionais, a poetisa de alma sempre aberta para a harmonia do cosmos e os ritmos da vida; a mulher superior que, colocada embora acima do meio em que viveu, soube amá-lo com enternecido afeto, a doce e santa velhinha que um povo inteiro ouvia, seguia e amava. Nós a vimos agora e de novo, após tantos anos de distância da época em que tivemos a alegria de conhecê-la”.
Pelas notas recolhidas, vê-se que Francisca Clotilde foi precursora educacional e literária, a águia altaneira cujos vôos se elevaram aos parâmetros da imortalidade, a grande poeta, a inimitável escritora, a gigante da literatura, tem, pois, direito a mais perfeita e esplêndida apoteose.
Sobre o seu túmulo (08 de dezembro de 1935), “caíram as lágrimas de todos que lhe conheciam a grandeza do gênio e a beleza do coração”, afirma Stella Barbosa.
Mediante o exposto, é, portanto, impossível fazer-se uma análise completa de suas preciosidades literárias. Seria o mesmo que tentar contra todas as estrelas ou apanhar todas as pérolas do mar. Uma heroína forte e ao mesmo tempo suave e misteriosa, uma figura iluminada.
(Francisca Clotilde há de fulgurar sempre como Estrela de primeira grandeza no céu das Letras).
Fontes:
Anamélia Custódio Mota. In Jornal de Poesia. Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.
Aos vinte e dois anos, através de Concurso tornou-se a primeira professora do sexo feminino a lecionar na Escola Normal de Fortaleza. Pelo seu convívio passaram as primeiras professoras “formadas” do Estado do Ceará na década de 1880, tais como Emília de Freitas, Serafina Pontes, Alba Valdez, Ana Facó, etc.
Concomitante ao trabalho de professora, Francisca Clotilde participou ativamente do Movimento Abolicionista, inclusive tomando parte da Sociedade das Senhoras Libertadoras, ao lado de Maria Tomázia Figueira Lima, Elvira Pinho, Joana Antonia Bezerra, Serafina Pontes e outras senhoras. Nese tempo, escreveu o poema: A Liberdade, o Soneto: Livre. É dela, as palavras que se seguem, proferidas na comemoração dos vinte anos da libertação dos escravos: “Todas as vezes que sobre o dorso agitado dos mares vejo passar a jangadinha veleira, repassando os episódios da mais bela das campanhas, tenho ufania de ser cearense e sinto desejos de proclamar aos quatro ventos as glórias imorredouras de minha terra”.
Francisca Clotilde teve intensa participação na Imprensa, tendo inclusive tomado parte como membro no Clube Literário; nas Sessões da Agremiação teve seus contos lidos e, posteriormente publicados n’A Quinzena. Tais contos abordam aspectos de vida real e/ou imaginários, através dos quais a autora denuncia as desigualdades sociais da época e convida o leitor a prática do bem e do belo. E é justamente graças a essa capacidade de fazer com que seus tipos e situações sejam sentidos pelos leitores de todas as épocas, que os contos de Francisca Clotilde cativam.
Sobre sua participação jornalística recorro a Otacílio Colares (1993): “Seu nome esteve em evidência, a partir da última década passado, já nas páginas de jornais e revistas, assinando versos, de teor romântico confessional, ou paisagístico, já em prosa, nesta incluída a dramática, a de ficção e também a de um ativo e atrevido jornalismo ideológico e político”.
Provavelmente “esse ativo e atrevido jornalismo” haja sido o motivo principal que ocasionou a sua demissão da Escola Normal (1891). Francisca Clotilde não é a única nem a última professora a ser perseguida em nosso País.
De cabeça erguida Francisca Clotilde funda seu próprio Externato - Externato Santa Clotilde - situado à rua Marquez de Herval nº 06, que segundo Antonio Bezerra de Meneses foi fundado no ano de 1893 contando com 52 alunos, sendo 46 meninas e 6 meninos.
No final do Século volta a morar em Baturité, nessa cidade entre tantos foi seu aluno o beletrista Mário Linhares que se reportando à mestra em sua História Literária do Ceará, diz: “Conheci-a como professora pública em Baturité, em minha meninice, aí por 1904. Minha mãe era muito sua amiga, aproximou-nos. Foi ela quem corrigiu os meus primeiros versos e me ensinou os segredos da metrificação. Sua modéstia e a obscura vida de educadora no interior cearense estiolaram-lhe o vigor da inteligência, que não teve a projeção que a faria um dos nomes mais queridos das nossas letras femininas”.
De Baturité Francisca Clotilde continua a colaborar em vários jornais, dentro e fora do Ceará. Como por exemplo, Almanack do Ceará, Almanach dos Municípios do Estado do Ceará, Almanack das Senhoras alagoanas, A Violeta, do Rio de Janeiro, etc.
Em 1902 vem a público seu único romance A DIVORCIADA. Pioneira no tema “divórcio” na Literatura Brasileira.
Amélia de Freitas Beviláqua, esposa do jurisconsulto Clóvis Beviláqua, redatora de O LYRIO em Recife-PE, assim de reporta: “A conhecida escritora cearense, Francisca Clotilde, teve a gentileza de oferecer-nos o seu romance - A Divorciada, que forma um belo volume de duzentas e trinta e três páginas. A urdidura do romance é simples, mas bem travado com a concepção, corre suavemente, sem sobressalto, sem rebuscamento, despreocupado e natural. Com esses elementos, arquitetou a simpática escritora um romance muito interessante, onde a emoção sem muito se elevar, distribui-se com arte, dando relevo às cenas e prendendo continuamente a atenção do leitor até o desenlace. Agradecemos a oferta, felicitamos a distinta romancista”.
N’A Divorciada – palpita uma das mais singelas criações femininas – A Nazareth. Considerada “a primeira Samaritana da Literatura Brasileira”.
Seus Sonetos cantam o amor, a saudade, a Pátria, a Natureza. Ao ler seus versos a mente devassa mundos desconhecidos, o coração palpita, a alma sonha e os versos estremecem sob as mais doces e agradáveis sensações.
Suas peças para o teatro variam de monólogo, diálogo ou dramas em 2 ou 3 atos. Em – Devaneio – drama, desenrolam-se os as situações vividas e aspirações da mulher.
A poesia, o romance e o teatro enriqueceram-se com as jóias do cofre precioso de sua inteligência e com o poder irresistível da sua imaginação.
Exímia colaboradora de A ESTRELLA, revista fundada em Baturité (28/10/1906), tendo como redatoras Antonieta Clotilde e Carmem Thaumaturgo. Com raras exceções, essa revista sempre trouxe na capa, um soneto inédito de Francisca Clotilde.
A convite de intelectuais da “terra dos bons ares”, Francisca Clotilde muda-se com toda família (Antonieta, Aristóteles e Angelita) para Aracati, onde funda o Externato Santa Clotilde, e de onde A ESTRELLA passa a ser editada até o ano de 1921, tendo como redatora Antonietta Clotilde, contando com colaboradores e correspondentes espalhados por vários estados do Brasil. Segundo o historiador Abelardo Fernando Montenegro, O Aracaty, órgão da imprensa da mesma cidade, citando os intelectuais da terra na edição de 25 de março de 1909, diz que “merecem verdadeiras apoteoses de aplausos, as primorosas quão modestas poetisas as Clotildes, mãe e filha”.
Uma ex-aluna do Externato Santa Clotilde que elevou o nome de Francisca Clotilde foi a aracatiense Stela Barbosa Araújo, a tomando para Patrona na Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno em 1952, seu discurso veio a público no livro MULHERES DO BRASIL (1971 pp.231-251), assim iniciado: “Francisca Clotilde – alma de anjo, coração de jovem num corpo alquebrado pelas lides do ensino, torturado por vagas rugidoras de tantas injustiças – eu a conheci de perto, intimamente, filialmente, porque ela foi minha mestra por alguns anos, ensinando-me, guiando-me aperfeiçoando-me”. E depois de mostrar as várias faces de sua ex-mestra finaliza: “E eu, humilde e pequenina, deixo-lhe aqui o meu tributo de reconhecimento e gratidão, numa corbeile de doloridas saudades e suspiros chorados que traduzirão, embora mui palidamente, o elevado conceito em que nós, os seus alunos, sempre a colocamos com admiração e respeito”.
Filgueiras Lima dando Parecer ao discurso de Stela Barbosa Araújo assim se reporta a Francisca Clotilde: “Tão esquecida das atuais gerações, a suavíssima poetisa Francisca Clotilde encontro afinal uma biógrafa capaz de levantar o seu nome do pó do olvido fazê-lo admirado pelas novas correntes literárias do Ceará. Nós que a conhecemos na nossa adolescência, quando tivemos de residir por algum tempo na amorável cidade Jaguaribana, a que ela dedicou o melhor de sua fina inteligência e do seu imensurável coração, podemos dizer que nestas páginas evocativas encontramos Francisca Clotilde. A mestra infatigável, com acento montessoriano em suas atividades educacionais, a poetisa de alma sempre aberta para a harmonia do cosmos e os ritmos da vida; a mulher superior que, colocada embora acima do meio em que viveu, soube amá-lo com enternecido afeto, a doce e santa velhinha que um povo inteiro ouvia, seguia e amava. Nós a vimos agora e de novo, após tantos anos de distância da época em que tivemos a alegria de conhecê-la”.
Pelas notas recolhidas, vê-se que Francisca Clotilde foi precursora educacional e literária, a águia altaneira cujos vôos se elevaram aos parâmetros da imortalidade, a grande poeta, a inimitável escritora, a gigante da literatura, tem, pois, direito a mais perfeita e esplêndida apoteose.
Sobre o seu túmulo (08 de dezembro de 1935), “caíram as lágrimas de todos que lhe conheciam a grandeza do gênio e a beleza do coração”, afirma Stella Barbosa.
Mediante o exposto, é, portanto, impossível fazer-se uma análise completa de suas preciosidades literárias. Seria o mesmo que tentar contra todas as estrelas ou apanhar todas as pérolas do mar. Uma heroína forte e ao mesmo tempo suave e misteriosa, uma figura iluminada.
(Francisca Clotilde há de fulgurar sempre como Estrela de primeira grandeza no céu das Letras).
Fontes:
Anamélia Custódio Mota. In Jornal de Poesia. Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.
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