A CAMINHO DO HAITI TEM UMA PEDRA (*)
tem uma jangada de pedra
a caminho do Haiti
a esperança se avizinha
pois navegar é preciso
ou como diz o velho Mago
uma obrigação todos temos.
E agora, que fazer?
A caminho tem uma pedra
e uma jangada se recria
pois não há mais tempo a perder
________
(*) Fiz este poema, pensando em Carlos Drummond de Andrade, autor do poema “No meio do caminho” e empreguei o termo Mago para homenagear SaraMAGO e a sua solidariedade ao povo do Haiti.
ALMAS PEREGRINAS
Entre as histórias mais belas
do Rio Grande do Sul
é impossível esquecer
a canção de amor e morte
de Pulquéria e Tiaraju.
Na antiga São Miguel
com a lua por testemunha
em meio a flores silvestres
e os cantares dos pássaros
se encontram os amantes.
É um amor tão bonito
que Ñanderu nos faz ver
o que há de mais sagrado
na história de Pulquéria
e o seu amor por Sepé.
Foi na Guerra das Missões
que o amado parente
enfrentou as duras penas
que as lágrimas de Pulquéria
deram luz a uma nascente
Diz a lenda que Pulquéria
no rio ainda se banha
enquanto o guerreiro amado
segue o Cruzeiro do Sul
quando a noite é mais pituma.
CRAVOS DE ABRIL
Do outro lado do Atlântico
a liberdade é uma flor
a liberdade é vermelha.
Do outro lado do Atlântico
os prantos se foram
e o canto agora é de paz
à Grândola, Vila Morena
onde é possível encontrar
um amigo em cada esquina
e em cada jardim um sonho
de alegria e esperança
pois há um cravo a brotar
DEMASIADO
(para Hideraldo Montenegro)
humano
é poder apalpar o universo,
ainda que de longe
e sem fronteiras.
Consciente desta possibilidade,
o poeta expõe a solidão
tatuada em seu silêncio.
ESCRITURA FERIDA
à Florbela Espanca
Atiram mil pedras
na charneca em flor.
Ossos do ofício:
no mais fundo do poço
retirar o poema
encharcado de mágoas
MANIFESTO
...fragmento que sou
da fúria no choque cultural,
aqui, manifesto o meu receio
de não conhecer mais de perto
o que ainda resta
do cheiro da mata
da água
do fogo
da terra e do ar
Torno a dizer:
manifesto o meu receio
de não conhecer mais de perto
o cheiro da minha aldeia
onde ainda cunhantã
aprendi a ler a terra
sangrando por dentro
MIRAGENS
À meia luz
escudados nos sonhos
despistaram o medo de amar
e só diante do espelho admitiram
que a nudez é um perigo
capaz de intimidar o Amor
...depois do amor a espera
sem pressa, sem dor
depois do amor
o desejo natural
de repousar entre lençóis
e continuar a loucura
que não se vê em jornais.
Escudados nos sonhos
beberam a angústia do ser
na boca molhada de suor e sexo
seguindo o infinito
neste sopro de adeus…
O GUARANI
Sepé Tiaraju foi um guerreiro
defendeu com a vida o rincão
a caça, a pesca e o plantio
do guarani contra a invasão
Da real história poucos sabem
o que se deu no século dezoito.
Sepé Tiaraju morto em combate
em nome da cultura do seu povo.
Junto a mil e quinhentos guaranis
afirmando que “esta terra já tem dono”.
na luta contra o mal ele morreu
Mas contam lá em São Miguel
quando a noite parece mais pituma
o guerreiro Sepé vira uma estrela
UMA CHANCE À PAZ
(pensando em John Lennon)
O silêncio nos acompanha
resmunga
diz que envelheceu
e que só alguns loucos tentam escutá-lo.
O silêncio reclama
diz que são raros
os que ousam tocá-lo
e continuam se perguntando:
— todos dormem ou fingem que estão mortos?
Imagine
um silêncio de fel sobre o gelo fino
tem uma jangada de pedra
a caminho do Haiti
a esperança se avizinha
pois navegar é preciso
ou como diz o velho Mago
uma obrigação todos temos.
E agora, que fazer?
A caminho tem uma pedra
e uma jangada se recria
pois não há mais tempo a perder
________
(*) Fiz este poema, pensando em Carlos Drummond de Andrade, autor do poema “No meio do caminho” e empreguei o termo Mago para homenagear SaraMAGO e a sua solidariedade ao povo do Haiti.
ALMAS PEREGRINAS
Entre as histórias mais belas
do Rio Grande do Sul
é impossível esquecer
a canção de amor e morte
de Pulquéria e Tiaraju.
Na antiga São Miguel
com a lua por testemunha
em meio a flores silvestres
e os cantares dos pássaros
se encontram os amantes.
É um amor tão bonito
que Ñanderu nos faz ver
o que há de mais sagrado
na história de Pulquéria
e o seu amor por Sepé.
Foi na Guerra das Missões
que o amado parente
enfrentou as duras penas
que as lágrimas de Pulquéria
deram luz a uma nascente
Diz a lenda que Pulquéria
no rio ainda se banha
enquanto o guerreiro amado
segue o Cruzeiro do Sul
quando a noite é mais pituma.
CRAVOS DE ABRIL
Do outro lado do Atlântico
a liberdade é uma flor
a liberdade é vermelha.
Do outro lado do Atlântico
os prantos se foram
e o canto agora é de paz
à Grândola, Vila Morena
onde é possível encontrar
um amigo em cada esquina
e em cada jardim um sonho
de alegria e esperança
pois há um cravo a brotar
DEMASIADO
(para Hideraldo Montenegro)
humano
é poder apalpar o universo,
ainda que de longe
e sem fronteiras.
Consciente desta possibilidade,
o poeta expõe a solidão
tatuada em seu silêncio.
ESCRITURA FERIDA
à Florbela Espanca
Atiram mil pedras
na charneca em flor.
Ossos do ofício:
no mais fundo do poço
retirar o poema
encharcado de mágoas
MANIFESTO
...fragmento que sou
da fúria no choque cultural,
aqui, manifesto o meu receio
de não conhecer mais de perto
o que ainda resta
do cheiro da mata
da água
do fogo
da terra e do ar
Torno a dizer:
manifesto o meu receio
de não conhecer mais de perto
o cheiro da minha aldeia
onde ainda cunhantã
aprendi a ler a terra
sangrando por dentro
MIRAGENS
À meia luz
escudados nos sonhos
despistaram o medo de amar
e só diante do espelho admitiram
que a nudez é um perigo
capaz de intimidar o Amor
...depois do amor a espera
sem pressa, sem dor
depois do amor
o desejo natural
de repousar entre lençóis
e continuar a loucura
que não se vê em jornais.
Escudados nos sonhos
beberam a angústia do ser
na boca molhada de suor e sexo
seguindo o infinito
neste sopro de adeus…
O GUARANI
Sepé Tiaraju foi um guerreiro
defendeu com a vida o rincão
a caça, a pesca e o plantio
do guarani contra a invasão
Da real história poucos sabem
o que se deu no século dezoito.
Sepé Tiaraju morto em combate
em nome da cultura do seu povo.
Junto a mil e quinhentos guaranis
afirmando que “esta terra já tem dono”.
na luta contra o mal ele morreu
Mas contam lá em São Miguel
quando a noite parece mais pituma
o guerreiro Sepé vira uma estrela
UMA CHANCE À PAZ
(pensando em John Lennon)
O silêncio nos acompanha
resmunga
diz que envelheceu
e que só alguns loucos tentam escutá-lo.
O silêncio reclama
diz que são raros
os que ousam tocá-lo
e continuam se perguntando:
— todos dormem ou fingem que estão mortos?
Imagine
um silêncio de fel sobre o gelo fino
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