quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Olivaldo Júnior (O Conto da Estrela)

Tinha nascido estrela. Dentre tantos bilhões de iguais, pequenina e sem graça, uma estrela. Deus não a teria feito estrela se não quisesse. Poderia tê-la feito flor, mas a quis fazer estrela. Que remédio!... Brilhava, luzia, fazia toda a força que podia para ver se conseguia algum destaque, por menor que fosse, dentre as "irmãs", mas o que conseguia era uma febre que não passava nunca, que a levava para o Hospital Via-Láctea, cinco estrelas, é verdade, porém, ainda assim, hospital. Logo que sarava, voltava para seu posto e, devagar, luzindo um pouco por dia, ganhava o céu novamente.

Lá de cima, olhando o mundo em que estamos, nossa estrela mirava os humanos, bem menores do que ela, sem saber que muitos deles tinham egos estratosféricos, que valiam por mais de quatrocentos bilhões de estrelas iguais a ela. Sem luz própria, os humanos dependiam da estrela-mor, ou seja, do sol (que nem estrela era), para terem luz e calor concretos. À noite, da lua, mais abstrata, tiravam de seus raios cada verso que acendiam numa página qualquer, numa tela do Windows, em cada olhar já sem luz que os leria depois, quando ficassem carentes dessa guia que é a poesia.

Numa noite de verão, já bem perto do Natal, decidira, aquela estrela, que se mudaria. Não queria mais o céu de suas irmãs. Cansara-se de São Jorge, com seu dragão a tiracolo, botando fogo na lua, enchendo o céu de fumaça, encobrindo um tanto a mais seu brilho, sua chance de ser vista.

Coitada daquela estrela! Se tivesse feito amizade, quem sabe, não seria ou uma das Três Marias, ou, melhor ainda, uma das cruzes do Cruzeiro do Sul... Avessa a isso, sozinha, por mais que luzisse, era ofuscada por essas grandes parcerias celestes e, como um fraco luminoso de hotel, ficava mais só.

Na noite do dia vinte e quatro de dezembro, aquela estrela alcançaria sua glória e, a sua moda, faria história. Mal se levantou de sua cama no buraco negro em que dormia, sorriu maliciosamente para as vizinhas e, pouco depois das seis da tarde, após a estrela Vésper despertar o céu para a jornada, pôs-se à beira de sua janela estelar e, meia noite em ponto, se jogou lá do alto, rumo à vida que sonhava!... Nascida estrela, não flor, luzir, mesmo que um pouco, era o que podia. Não, não era a grande Estrela-Guia, mas "Um pequenino grão de areia / Que era um pobre sonhador"...

Fontes:
O Autor
Imagem – http://
pensamentoslucena.blogs.sapo.pt

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