sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Olivaldo Júnior (A flor na montanha)

O rapaz amava aquela flor. Tanto que, dia após dia, subia a montanha mais alta do vilarejo onde morava, só para regá-la e dar a ela os cuidados que o Pequeno Príncipe dava a sua rosa.
 
Fizesse sol, fizesse chuva, de sua flor mais cara cuidava. Dava gosto àquele jovem a textura das pétalas, o verdinho das folhas, o pólen mais fresco da flor na montanha, sua amada flor.
 
Sua família o criticava ao vê-lo chegar do trabalho e correr para o alto da montanha em que a flor, calada, sem aparente expressão, esperava seu doce jardineiro, seus carinhos.

Quando ficava bem tarde, dava um beijo em sua flor e, sozinho, ligeiro (pois, para baixo, todo santo ajuda), voltava para casa e, em sua cama, sob as cobertas, sonhava com sua querida.
No sonho, era um pé de flor ao lado da sua e, quando o vento batia, encostava-se na amada e, contente, vertia seu pólen sobre ela, que, sorrindo, ficava mais linda e mais cheirosa, viva.

Sua rotina vinha de muito. Era menino quando, com o pai, subiram a montanha e, de repente, lá estava ela: uma flor arroxeada, de pétalas viçosas, tão bonita que o encantou.

Tudo estaria bem se não fosse um triste fato que ele vinha percebendo. Sua amada vinha murchando, ficando sem cor e sem o mesmo perfume de outrora. Não sabia o que lhe faltava.

Certo dia, ao voltar para casa, vindo do trabalho, trocou de roupa e sentiu uma dor. Não sabia o que era. Ficou sem graça, sem jeito, sem ânimo, mas, como sempre, subiu a montanha.

Durante a subida, foi ficando mais velho, e os fios de barba em seu rosto foram miraculosamente crescendo, suas costas se envergando um pouco, era um homem. Sua flor morrera.

Fontes:
O Autor
Imagem - http://www.horoscopovirtual.uol.com.br

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