terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Contos Populares Portugueses (A Gaita Milagrosa)

Havia numa terra um indivíduo que possuía uma gaita com a virtude de fazer bailar os ouvintes quando tocava. De uma ocasião, passava um sujeito com um jumento carregado de louça e o dono da gaita pôs-se a tocá-la.

Tanto o dono do jumento como este puseram-se logo a bailar, e com tantos saltos, que em pouco tempo toda a louça se fez em cacos.

Gritava o dono da louça ao tocador da gaita que não tocasse, mas este só tirou a gaita dos lábios quando já não havia uma única peça de louça inteira. Exasperado, o pobre homem foi queixar-se ao juiz e o tocador foi chamado à sua presença.

- És acusado de ter quebrado a louça deste homem - disse o juiz ao gaiteiro.

- Eu não sou culpado. Toquei a minha gaita, e esse senhor e o seu jumento puseram-se a dançar.

- Tens contigo a gaita? - Tenho.

- Toca - ordenou o juiz, sentado na sua poltrona.

O gaiteiro tirou a gaita do bolso e pôs-se a tocar. O dono da louça, que a esse tempo estava encostado a uma cadeira, pegou na cadeira e bailou com ela. O juiz, qui ia tomar uma pitada de rapé da sua caixa de ébano, começou a pular, batendo com os dedos na tampa à maneira de castanholas. A mãe do juiz, que estava entrevada na cama, no quarto próximo, levantou-se imediatamente, bailando, batendo as palmas e cantando:

Vá de folia,
Vá de folia,
Que há sete anos
Me não mexia!

E assim se converteu o escritório do juiz numa animada sala de baile, pois que até as cadeiras, os tinteiros e todos os mais móveis se puseram a saltar e a bailar.

Passados momentos, pediu o juiz ao tocador que cessasse de tocar a gaita, e o homem obedeceu imediatamente, pois viu que tanto o dono da louça como o juiz e a mãe suavam com abundância.

O juiz, depois de limpar o suor disse para o tocador:

- Podes-te ir embora sem culpa nem pena, porque és um homem que até curou a minha mãe, que há muitos anos se não podia mexer na cama.

E o tocador saiu da presença do juiz muito contente e satisfeito.

Não diz a história se a mãe do juiz voltou para a cama.

Fonte: Viale Moutinho (org.) . Contos Populares Portugueses. 2.ed. Portugal: Publicações Europa-América.

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