terça-feira, 10 de dezembro de 2019

J. G. de Araújo Jorge (Líricas) 2


LÍRICA Nº 13
   
Afinal me surpreendo
de que ainda insista,
ainda tente.
O que? Se nada adianta.
Se tudo se desfigura
nem bem arranco do coração
e exponho em palavras...
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LÍRICA Nº 14
   
Exatamente neste instante, que farás? Estarei em ti,
envolvendo-te e conduzindo-te, como estás em mim
neste halo de angústia que é a tua falta ao meu redor?
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LÍRICA Nº 15
   
Ficaste nua em meus sentidos.

Lembro-me que eras friorenta
e sinto frio por ti.

Em vão tento cobrir-te com a saudade,
falta o amor.
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LÍRICA Nº 17
   
Se não mentes, como não minto
quando te tenho nos braços
- chega! Para que mais "por quês"?

Para que culpar a Deus
se do mesmo barro nos fez?
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LÍRICA Nº 18

Não. Não te entenderei. E na verdade
já nada mais importa.

A vida para mim é um intérmino solo...

Como poderei te entender, se me trazes agora
morto, nos braços,
o mesmo amor que há pouco, em beijos, embalavas,
e aconchegavas ao colo?
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LÍRICA Nº 21

I
Difícil compreender
como se acidulou o que era puro mel...
Tu que eras toda amor, ternura e sonho,
num momento te tornaste
fria, cruel.

II
(Em vão tento gritar ao sofrimento
que me suplicia: basta!)

Até hoje me pergunto a razão por que tu, que eras
a crente humilde e fiel,
de repente, te tornaste a iconoclasta?
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LÍRICA Nº 23
   
E quem diria, amor, que ao amanhecer
não nos reconheceríamos,
nós que até como cegos
antes nos encontrávamos…
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LÍRICA Nº 26
                                                      
Não te desejo a felicidade.

Resta-me a inútil convicção
de que já a colhemos.
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LÍRICA Nº 27
   
Mereço tudo. Tinha de acontecer.
curvei-me tanto a este amor

que passaste por cima,
sobranceira,
e acabaste por nem me perceber...
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LÍRICA Nº 28
   
Desmemoriados, enterramos este amor
em que lugar?

E ainda bem. Era amor que nasceu só para se viver,
não, para se lembrar.
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LÍRICA Nº 29
   
No fundo, não acredito que nos despedimos.

Apenas nos afastamos um do outro
por algum tempo,
para darmos ao destino a alegria de nos reencontrar.
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LÍRICA Nº 30
   
Em vão tento vingar em outras
o amor perdido.

Só consigo ir multiplicando
a tua falta.

Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou. vol. 3. SP: Ed. Theor, 1965.

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