domingo, 22 de dezembro de 2019

Contos e Lendas do Mundo (Tribo Taulipang: A Onça e o Raio)


Lenda dos índios taulipangs, habitantes do extremo norte do Brasil:
Certa feita, a onça passeava pela mata quando encontrou o raio a fabricar um porrete. A onça não conhecia bem o raio, pois nunca tinha visto um em terra, muito menos a fabricar porretes, e por isso imaginou que se tratava de algum animal.

Então ela começou a pisar macio e, depois de dar a volta, sem ser vista, pulou sobre o raio.

O raio, porém, escapou com um pulo veloz, sem sofrer nada.

A onça, desapontada, indagou:

– Quem é você?

– Sou o raio, não vê?

– Você é muito forte, não é?

– Está enganada, não sou nada forte.

Ao escutar isso, a onça inflou o peito e engrossou a voz.

– Pois eu sou o animal mais forte destas matas! Quando estou furiosa, não sobra nada inteiro!

Então, para demonstrar a sua força, a onça trepou numa árvore enorme e começou a devastar tudo, quebrando um por um dos galhos. Depois, desceu para o solo e começou a escavá-lo, atirando para cima tufos de relva e de terra até estar tudo revirado, como se um tatu doido tivesse passado por ali.

– Muito bem, que achou disso? – disse a onça, arfante.

O raio escutou, mas não disse nada.

– Vamos, quero vê-lo fazer algo parecido! – desafiou a onça.

– Como poderia, se não tenho a sua força? – disse o raio, afinal.

Inflada ainda mais pela confissão do raio, a onça entregou-se a nova demonstração de força, revolvendo tudo outra vez até ter aberto uma clareira na parte da mata onde estavam.

Enquanto a onça sorria, esbaforida, o raio tomou o seu porrete e começou repentinamente a vibrá-lo no chão e por tudo ao redor, fazendo a onça quicar e rebolar pelo solo como um bicho de pano. Uma verdadeira tempestade, seguida de raios e ventania, tornou tudo ainda mais sério, a ponto de a onça achar que o mundo se acabaria. Quando a tempestade finalmente cessou, a onça mal encontrou forças para pôr-se novamente em pé e ir correndo esconder-se atrás de uma rocha.

Mas o raio gostara da brincadeira e arremessou uma fagulha que fez a volta na rocha, acertando com precisão o rabo da onça. A onça deu o pulo mais alto de toda a sua vida, chamuscou a cabeça no cocar do Sol e desceu à Terra outra vez, fugindo a toda a velocidade.

O raio continuou a vibrar o seu porrete e a arremessar coriscos e fagulhas com tanta intensidade para cima da pobre bichana que ela viu-se obrigada a procurar refúgio na toca de um tatu gigante.

Tudo em vão: o raio varejou a cova do tatu e acertou em cheio, outra vez, os fundilhos da onça. Não havia jeito: onde quer que a onça buscasse refúgio, ali a alcançava o braço longo do raio.

Ao mesmo tempo, começou a soprar um vento frio e a cair uma chuva gelada, e como a onça já estava quase sem pelo algum, devido às queimaduras, pouco faltou para ela congelar-se.

– Depois do fogo, o frio! – gania ela, batendo os dentes, toda enrodilhada no solo.

Somente ao ver a rival arriada e completamente vencida foi que o raio se deu por satisfeito.

– Muito bem, agora diga quem é o mais forte por aqui!

A onça tapou a cabeça para não ter de responder, enquanto o raio partia, a gargalhar.

E aqui está, segundo os taulipangs, a razão de as onças temerem tanto os temporais.
_______________________________________
Tribo Taulipang ou Taurepang – se localizam tanto na Venezuela quanto no Brasil, na região norte de Roraima, área que é fronteiriça com outras nações (Venezuela e Guiana). No Brasil, notadamente se encontram na Raposa Serra do Sol, entretanto seu território vai alem desse local, há aldeias que estão no interior da terra indígena São Marcos. São cercados por outras tribos tornando o contato quase que inevitável o que eventualmente resulta na união entre as tribos. As aldeias em questão são os Makuxi, Taurepangue e os Waxpiana que se interelacionam com frequencias diferentes, sendo os intercasamentos recorrentes entre os Waxpiana e os Makuxi e os mais raros entre os Taurepang e os Makuxi, devido a uma serie de fatores, sendo o preponderante a distribuição geografica que impossibilita uma maior interação/integração. De acordo com registros escritos do século XIX os Taurepangue eram reconhecidos pelo nome "Arekuna" ou "Jarecuna". (wikipedia)

Fonte:
Mitos e Lendas

Nenhum comentário: