Lírica Nº 46
Tocada de ventos
carregado de estranhas eletricidades,
me aproximo de ti, como uma nuvem...
De repente
desço como uma chuva
para intumescer os córregos e as fontes
e despertar a terra...
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Lírica Nº 47
Desfolhada rosa
é o coração do poeta
tocado por tua ausência.
Estás no ar, como uma essência...
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Lírica Nº 48
Dou a impressão, como toda gente,
de que estou me dirigindo para algum lugar.
Entretanto,
onde quer que me encontre,
meu destino é você.
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Lírica Nº 49
Ainda bem que as árvores permanecem...
Que o céu continua, entre os vultos
pesados dos arranha-céus
- muralhas cinzentas
de nosso presídio cotidiano...
Que a gente ainda pode certas horas,
velejando na madrugada
abordar a noite,
como uma ilha de ninguém...
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Lírica Nº 50
Estás muito próxima dos meus sentidos
para que possas te transformar
em poema.
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Lírica Nº 51
Ah! O sofrimento de que coisas é capaz...
Tu me feriste tanto, e tanto, e tanto,
que agora se voltasses, te admirarias de ver
como o meu coração não te conhece mais.
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Lírica Nº 52
Às vezes, quando penso no que fomos certo dia,
tenho a impressão de que andamos vivendo
duas vidas emprestadas.
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Lírica Nº 54
E porque eu te via até de olhos cerrados,
meus olhos abertos não percebiam
o que fazias de mim...
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Lírica Nº 55
Onde estarás? Que braços te colherão
sem que um estremecimento me perturbe?
E dizer que morria
se teus olhos não estavam nos meus…
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Lírica Nº 57
Meu Deus! - como estão longe aqueles instantes
que foram o mais belo amor do mundo...
..
"Viveste realmente? Ou te deixas como um louco
a imaginar coisas,
oh, pobre coração insano?"
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Lírica Nº 59
Afinal, agradeço-te por todas as mentiras
com que me fizeste acreditar no amor...
Por que haveria de desejar a verdade,
se com ela, nada teríamos colhido,
nada restaria de nós?
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Lírica Nº 60
Afinal, nem Deus, poderá mesmo nos tirar
aqueles instantes que vivemos...
Para que mais?
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Lírica Nº 62
E quando tivemos que dizer adeus,
já tínhamos partido.
Não encontramos mãos, nem lenços,
nem mesmo lágrimas,
não me chamaste: amor,
nem te chamei: querida...
- Já estávamos realmente muito longe
um do outro,
quando chegou a hora da despedida.
Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou. vol. 3. SP: Ed. Theor, 1965.
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